Onze anos após suicídio, quadros de Van Gogh são exibidos em Paris
Em 17 de março de 1901, quadros do pintor holandês Vincent van Gogh são
exibidos na galeria Bernheim-Jeune em Paris. Os 71 quadros, que
capturavam seus objetos com fortes pinceladas e cores expressivas,
causaram viva sensação no mundo da arte. Onze anos antes, enquanto vivia
em Auvers-sur-Oise, arredores de Paris, van Gogh cometeu suicídio sem
ter qualquer noção de que seus trabalhos teriam um destino: o de
conquistar a consagração, muito além de seus enlouquecidos sonhos.
Em vida, van Gogh tinha conseguido vender apenas um quadro por
míseros francos. Recentemente, uma de suas pinturas – Os Girassóis da
Yasuda – foi vendida num dos leilões da Casa Christie de Londres em 1987
por exatos 40 milhões de dólares.
Nascido em Zundert, Holanda, em 1853, van Gogh trabalhou como
vendedor numa galeria de arte, como professor de idioma, como vendedor
de livros e como evangelizador entre mineiros belgas, antes de se fixar
em sua verdadeira vocação como artista plástico.
O que é conhecida como sua “década produtiva” começou em 1880,
tendo se limitado nos primeiros anos quase que inteiramente em desenhos e
aguarelas enquanto ia adquirindo competência técnica. Ele estudou
desenho na Academia de Bruxelas e em 1881 estabeleceu-se na Holanda para
trabalhar tendo como motivo a natureza.
Fase pós-impressionista
O seu mais famoso quadro do período holandês foi o sombrio e pouco
sofisticado “Os comedores de batatas” (1885), que não escondia a
influência de Jean-Francois Millet, um pintor francês famoso por seus
temas campestres.
Em 1886, van Gogh passou a viver com seu irmão, Theo, em Paris.
Lá, van Gogh encontrou-se com os mais destacados pintores franceses do
período do pós-impressionismo como Henri de Toulouse-Lautrec, Paul
Gauguin, Camille Pissarro e Georges Seurat. Foi bastante influenciado
pelas teorias desses artistas e a conselho de Pissarro adotou o estilo
de cores primárias bastante fortes, como o amarelo, para as quais o
pintor atribuía significados próprios e pelo qual se tornou famoso. Seu
quadro “Retrato do Pai Tanguy (1887) foi a sua primeira obra de sucesso
em sua nova fase pós-impressionista.
Em 1888, van Gogh, mentalmente exausto e sentindo estar se
tornando um fardo para Theo, deixou Paris e passou a residir em Arles,
no sudeste da França. O ano que se seguiu marcou seu primeiro grande
período. Trabalhando com grande velocidade e intensidade, produziu um
conjunto de obras magistrais como a série de Girassóis e o “Café à Noite”.
Orelha
Esperava formar uma plêiade de pintores com a mesma visão
artística em Arles. Gauguin juntou-se a ele para dois tensos meses que
culminaram quando van Gogh ameaçou Gauguin com uma lâmina de barbear
para em seguida, subitamente, cortar um pedaço de sua própria orelha.
Foi seu primeiro acesso de doença mental, diagnosticado como demência.
Van Gogh passou duas semanas no Hospital de Arles e em abril de
1889 internou-se no asilo de Saint-Remy-en-Provence. Ali permaneceu por
12 meses, continuando a trabalhar nos interregnos dos recorrentes
ataques. Um dos grandes quadros desse período foi o visionário e em
redemoinhos “Noite Estrelada” (1889).
Suicídio
Em maio de 1890, deixou o asilo, visitando Theo em Paris antes de
passar a viver com Paul-Ferdinand Gachet, um médico homeopata, amigo de
Pissarro, em Auvers-sur-Oise. Trabalhou com entusiasmo por diversos
meses, porém, seu estado emocional e mental logo se deteriorou. No final
de julho de 1890, sentindo-se que era um peso para Theo e outros,
atirou contra si mesmo. Morreu dois dias mais tarde, em 29 de julho, nos
braços de seu irmão.
Havia exibido algumas telas no Salão dos Independentes em Paris e
em Bruxelas. Após sua morte ambos os salões realizaram uma pequena
amostra de seu trabalho como homenagem póstuma. Na década que se seguiu
um punhado de outras exibições de Van Gogh teve lugar, mas foi somente
com a mostra da galeria Bernheim-Jeune em 1901 que foi reconhecido como
um verdadeiro grande pintor. Nas décadas seguintes a sua fama cresceu
exponencialmente e hoje em dia suas obras estão entre as mais
consagradas no mundo da arte.