Otelo assume bigamia
Na
biografia Otelo, o Revolucionário, o cérebro do 25 de abril assume a sua
bigamia. De segunda a quinta-feira, vive com Filomena. De sexta a
domingo, mora com Dina. As múltiplas facetas de um ícone.
Figura proeminente do Movimento dos Capitães, cérebro do plano
operacional do 25 de Abril, importante chefe militar no período do PREC,
todo poderoso comandante do Comando Operacional do Continente (COPCON)
nesse período, duas vezes candidato à Presidência da República, duas
vezes preso, uma das quais por envolvimento na rede terrorista Forças
Populares 25 de abril (FP-25), idolatrado por uns, odiado por outros,
Otelo Saraiva de Carvalho, 75 anos, é o grande ícone vivo da revolução
portuguesa.
Para figurar nas t-shirts das gerações do pós-revolução, falta-lhe,
talvez, apenas, uma foto tão feliz como a que Alberto Korda captou de
Che Guevara. E, depois, algum espírito empreendedor de uma qualquer
marca comercial de vestuário... Mas a maior surpresa da sua biografia,
agora dada à estampa, em livro, pela pena do jornalista Paulo Moura
(Otelo, o Revolucionário, da D. Quixote, a lançar no próximo dia 25) é,
afinal, uma história de amor.
Excessivo, inconvencional, indisciplinado, romântico, Otelo levou para a
vida pessoal a transgressão que, nos anos da Revolução, o tornaram
célebre. Na página 13 do livro de Paulo Moura, logo a abrir, o autor
revela-nos a outra faceta do revolucionário: "Sente-se bem em família.
Tanto, que tem duas. Casou cedo, com uma colega de liceu. Mais tarde, na
prisão, teve outro amor. Não foi capaz de abandonar a primeira mulher,
nem a segunda. (...) Otelo assume as suas duas mulheres. Aparece em
público com elas, não mente a nenhuma, trata-as por igual. Também nisso é
organizado. De segunda a quinta vive numa casa; sexta, sábado e domingo
passa-os na outra."
Boca do Inferno - Ricardo Araújo Pereira
'Otelo, o Revolucionário': recensão crítica da primeira página
A higiene pessoal desvenda a personalidade do biografado. Na de Otelo, reconhecemos o ímpeto transformador do revolucionário
Só li ainda a primeira página da nova biografia Otelo, o
Revolucionário, de Paulo Moura. Não por falta de tempo, mas porque a
primeira página do livro oferece tanto material para reflexão que ainda
não me sinto preparado para avançar na leitura. A primeira frase é
esta: "Otelo demora, todos os dias, cerca de duas horas na casa de
banho, a tratar da higiene pessoal." Sou um velho apreciador de
biografias que investigam os hábitos de higiene do biografado. Gostei
de saber, por Walter Isaacson, que Steve Jobs cheirava tão mal que foi
colocado no turno da noite, quando trabalhava na Atari, para incomodar
menos. Ou que gostava de andar descalço e enfiar os pés na sanita da
casa de banho privada do seu gabinete, para refrescar. É natural que
uma pessoa desenvolva capacidades especiais para inventar aparelhos que
permitem comunicar à distância quando percebe que os outros evitam
aproximar-se. Era tomar banho ou inventar o iPhone. Jobs optou pela
segunda. Também descobri com interesse que os dentes de Mao Tse Tung,
de tão sujos, se revestiam de uma película verde e as suas gengivas
vertiam pus. Percebi então que a autocrítica maoísta não abrangia a
higiene oral, facto que nenhum manual de ciência política ensina.
Otelo rompe com esta tradição de biografados badalhocos - e de que
maneira. De acordo com o relato de Paulo Moura, que exibe marcas
extremamente inquietantes de testemunho ocular, Otelo começa por tomar
um "duche demorado e meticuloso. Depois limpa-se, com igual minúcia, e
dá início ao tratamento capilar integral. Com um curto ancinho de
plástico, uma pequena carda adequada, remove as pilosidades corporais
que vão caindo. A seguir escova os abundantes pelos do peito, costas,
pernas, etc. Usa uma vassourinha própria (...). Após esta operação,
certas zonas da pele podem estar a precisar de uma limpeza adicional.
Otelo procede então à lavagem localizada, servindo-se de várias águas.
Depois, nu, em frente ao espelho, com a porta aberta, faz a barba. Como é
espessa, exige várias passagens da lâmina, o que torna frequentes os
ferimentos".
Mais uma vez, a higiene pessoal desvenda a personalidade do biografado.
Na de Otelo, reconhecemos o ímpeto transformador do revolucionário,
aqui dedicado a modificar a paisagem corporal. Otelo mune-se de um
curto ancinho (utensílio próprio do campesinato) e de uma vassourinha
(ferramenta do operariado menos qualificado). Há um cheirinho a reforma
agrária no ato de desembaraçar a pelagem do corpo com um ancinho. E o
processo termina com derramamento de sangue, circunstância que um
revolucionário, por vezes, não consegue evitar.
Por outro lado, a higiene pessoal de
Otelo revela-o também como um homem do seu tempo. Recordo que "escova
os abundantes pêlos do peito, costas, pernas, etc." Ou seja, trata-se
de um homem sem tabus. Começa por dedicar a devida atenção aos pelos do
peito, costas e pernas, mas não deixa de escovar os pelos do etc. E
tudo isto é feito "com a porta aberta". Aberta para onde? Para o
futuro, digo eu.
Forças Populares 25 de Abril (FP-25) foram uma organização armada clandestina de
extrema-esquerda que operou em Portugal entre
1980 e
1987.
Parte significativa dos seus militantes procediam das antigas
Brigadas Revolucionárias e, ainda que em menor número, da
LUAR e da
ARA.
Entre 1980 e 1987, as FP 25 foram diretamente responsáveis por 13
mortes - às quais acrescem ainda as mortes de 4 dos seus operacionais -
dezenas de atentados a tiro e com explosivos e de assaltos a
bancos,viaturas de transporte de valores, tesourarias da fazenda pública
e empresas.
No plano legal o julgamento dos atos imputados à organização foi
incompleto, quer por prescrição de alguns dos processos, quer pela
dificuldade em identificar os autores materiais dos factos.
A figura mais conhecida vinculada às FP-25 foi Otelo Saraiva de Carvalho.
Cronologia das FP-25
Março de 1980 - formação da coligação Força de Unidade Popular;
20 de abril de 1980 -
apresentação pública da organização Forças Populares 25 de Abril com o
rebentamento por todo o país de dezenas de engenhos explosivos de fraca
potência contendo o documento “Manifesto ao Povo Trabalhador”;
Maio de 1980 - assalto
simultâneo a dois bancos no Cacém que resulta na morte do soldado da
GNR Henrique Hipólito durante a confrontação com elementos da
organização;
Maio de 1980 - morte do militar
da GNR Agostinho Francisco Ferreira durante a detenção de elementos de
um comando da organização em Martim Longo, Algarve;
Maio de 1980 - atentado frustrado com explosivos em Bragança;
Julho de 1980 - destruição por incêndio de viaturas da PSP;
Julho de 1980 - assalto à Conservatória do Registo Civil de Vila Nova de Gaia para roubo de impressos para bilhetes de identidade;
Setembro de 1980 - rebentamento de explosivos no consulado e na embaixada do Chile respetivamente no Porto e em Lisboa;
Outubro de 1980 - rebentamento
de explosivos nas sedes dos ex-Comandos em Faro e Guimarães; esta
associação era considerada pelas FP-25 como a tropa de choque das
desocupações de terras no Alentejo;
Outubro de 1980 - assalto
simultâneo a dois bancos na Malveira na sequência do qual são mortos
dois elementos da organização (Vítor David e Carlos Caldas) e um
cliente de um dos bancos (José Lobo dos Santos), ficando ainda feridos
dois elementos da população local;
Inicio de 1981 - atentado com explosivos na filial do Banco do Brasil em Lisboa que causa um ferido;
Março de 1981 - ferimentos
ligeiros num comerciante da Malveira (Fernando Rolo) acusado de ser o
autor dos disparos que causam a morte de um dos elementos da
organização aquando de um assalto frustrado naquela povoação em outubro
do ano anterior;
Março de 1981 - disparos nas pernas de um dos administradores da empresa SAPEC, no Dafundo, na sequência de conflitos laborais na empresa;
Março de 1981 - assalto a um banco na Trofa;
Abril de 1981 - ação de
solidariedade para com o Exército Republicano Irlandês, cuja bandeira é
hasteada numa sucursal da British Airways no Porto;
Maio de 1981 - disparo de um rocket no interior do Royal British Club em Lisboa, em solidariedade com o Exército Republicano Irlandês;
Julho de 1981 - disparos sobre o
diretor-delegado da empresa Standard Eléctrica em Cascais
causando-lhe ferimentos ligeiros; na mesma ação é ferido o seu
motorista; a ação é justificada pela organização como uma resposta aos
despedimentos e conflitos laborais que afetavam a empresa;
Julho de 1981 - roubo de explosivos de uma empresa de construção, nos arredores de Coimbra;
Julho de 1981 - assalto a um banco de Vila da Feira;
Meados de 1981 - assalto a um banco de Leça do Balio;
Outubro de 1981 - disparos nas
pernas de um administrador da empresa Carides, em Vila Nova de
Famalicão; a ação é justificada como uma resposta aos salários em
atraso e aos despedimentos efetuados na empresa;
Outubro de 1981 - morte de dois
militares (Adolfo Dias e Evaristo Ouvidor da Silva) da GNR vitimas da
explosão de um carro armadilhado em Alcaínça, arredores da Malveira; a
acção inseria-se ainda no processo de retaliação relativo às mortes de
dois elementos (Vítor David e Carlos Caldas) da organização num assalto
a um banco desta localidade;
Outubro de 1981 - morte de um
elemento da organização (António Guerreiro) na sequência de um assalto a
um banco na Póvoa de Santo Adrião; no mesmo assalto é morto um
transeunte (Fernando de Abreu) que, armado de pistola, faz frente aos
elementos da organização;
Dezembro de 1981 - atentado com explosivos ao posto da GNR de Alcácer do Sal;
Finais de 1981 - atentados com explosivos nos postos da GNR do Fundão e da Covilhã;
Janeiro de 1982 - atentado com explosivos ao posto da GNR do Cacém;
Janeiro de 1982 - atentado com explosivos à residência de um industrial no Cacém;
Janeiro de 1982 - assalto a uma carrinha de transporte de valores;
Abril de 1982- atentados com explosivos sobre o automóvel e a residência de dois administradores da empresa SAPEC;
Junho de 1982 - disparos sobre a viatura onde se deslocavam dirigentes da cooperativa “Boa Hora”;
Agosto de 1982 - atentado com explosivos colocados numa viatura, em Montemor-o-Novo;
Outubro de 1982 - assalto a um banco em Pataias;
Outubro de 1982 - assalto a um banco em Cruz da Légua;
Outubro de 1982 - assalto a uma empresa de Vila Nova de Gaia;
Dezembro de 1982 - um militante da organização evade-se da cadeia de Pinheiro da Cruz, em Grândola;
Dezembro de 1982 - atentado
mortal sobre o administrador da Fábrica de Louças de Sacavém,
Diamantino Monteiro Pereira, em Almada; a organização justifica a ação
como uma resposta aos graves conflitos laborais e despedimentos
verificados na empresa;
Janeiro de 1983 - elementos da organização libertam da prisão um militante das FP-25, em Coimbra;
Fevereiro de 1983 - assalto a um banco em Espinho;
Fevereiro de 1983 - assalto a um banco no Carregado;
Abril de 1983 - assalto a um banco no Tramagal;
Junho de 1983 - assalto a uma empresa;
Agosto de 1983 - assalto a um banco de Matosinhos;
Setembro de 1983 - assalto a uma empresa, em Pereiró;
Novembro de 1983 - atentado com explosivos ao posto da GNR de Leiria;
Novembro de 1983 - atentado com explosivos visando um administrador da empresa Cometna;
Novembro de 1983 - atentados com explosivos em residências de empresários na Cruz de Pau e Seixal;
Dezembro de 1983 - atentado com explosivos a instalações bancárias em Leiria e Caldas da Rainha;
Dezembro de 1983 - rebentamento de engenhos explosivos com difusão de panfletos em Setúbal;
Janeiro de 1984 - assalto a um banco em Caneças;
Janeiro de 1984 - atentado com explosivos visando administradores das empresas Entreposto, Tecnosado e Tecnitool;
Janeiro de 1984 - atentado a tiro contra a residência do administrador da empresa Ivima, na Marinha Grande;
Janeiro de 1984 - assalto a uma
viatura de transporte de valores na Marinha Grande que resulta em
ferimentos graves (paraplegia num dos casos) em dois dos seus
ocupantes;
Fevereiro de 1984 - atentados com explosivos visando empresários na Covilhã e Castelo Branco;
Fevereiro de 1984 - assalto a uma carrinha de transporte de valores que resulta no roubo de 108.000 contos, em Lisboa;
Abril de 1984 - atentado com explosivos em Évora;
Abril de 1984 - atentado com
explosivos na residência de um agricultor em S. Manços, Alentejo; os
efeitos da explosão provocam a morte de uma criança de 4 meses de idade
(Nuno Dionísio);
Maio de 1984 - sabotagem da Estrada Nacional nº1 através do lançamento de pregos na via;
Maio de 1984 - atentado mortal
contra o administrador da empresa Gelmar, Rogério Canha e Sá, em Santo
António dos Cavaleiros; a ação é justificada pela organização como uma
resposta aos sucessivos despedimentos e falências registados não só na
Gelmar como em outras unidades fabris onde o referido administrador
havia exercido funções;
Junho de 1984 - atentado a
tiro, causando ferimentos graves, contra o administrador Arnaldo
Freitas de Oliveira, da empresa Manuel Pereira Roldão, em Benfica; a
organização justifica a ação, que deveria resultar na morte do
referido administrador, como uma punição pelas alegadas irregularidades
e despedimentos verificados na referida empresa;
Junho de 1984 - operação
policial ‘Orion’ destinada a desmantelar a organização e da qual
resultaria a detenção de cerca de quarenta pessoas a maior parte das
quais militantes e dirigentes da Frente de Unidade Popular;
Agosto de 1984 - atentado
frustrado com explosivos numa serração de Proença-a-Nova resultando em
ferimentos graves no elemento da organização que se preparava para os
colocar;
Setembro de 1984 - disparos
sobre o posto da GNR de Barcelos na sequência de uma carga desta força
policial sobre populares que se manifestavam contra a poluição emitida
por uma fábrica de barros contígua;
Setembro de 1984 - disparos nas
pernas do proprietário da empresa Cerâmica Modelar, António Liquito,
em Barcelos; a organização justifica a ação como uma punição pela
recusa do empresário em regularizar uma situação de emissão de resíduos
que afetava a população local;
Setembro de 1984 - atentado com explosivos na residência de um agrário, no Alentejo;
Setembro de 1984 - atentados com explosivos em residências de agrários em Montemor-o-Novo;
Setembro de 1984 - atentado com explosivos na Penitenciária de Coimbra;
Janeiro de 1985 - ataque falhado com granadas de morteiro contra navios da NATO ancorados no rio Tejo, em Lisboa;
Março de 1985 - atentado mortal
sobre o empresário da Marinha Grande, Alexandre Souto, levado a cabo
no recinto da Feira Internacional de Lisboa; a organização justifica a
acção como uma resposta à morte de um sindicalista da Marinha Grande
alegadamente morto pelo empresário na sequência de uma disputa pessoal;
Abril de 1985 - na sequência de
uma operação da Polícia Judiciária perto da Maia, são detidos três
operacionais da organização e um quarto (Luís Amado) é morto a tiro;
Julho de 1985 - atentado mortal sobre um dos ‘arrependidos’ da organização (José Barradas), no Monte da Caparica, Almada;
Setembro de 1985 - fuga do Estabelecimento Prisional de Lisboa de um grupo de presos da organização;
Fevereiro de 1986 - atentado
mortal sobre o Diretor-geral dos Serviços Prisionais, Gaspar Castelo
Branco, em Lisboa; a ação é justificada pela organização como uma
resposta às duras condições de detenção dos seus militantes e à alegada
intransigência dos Serviços Prisionais na pessoa do seu
Diretor-geral;
Abril de 1986 - disparos sobre a
esquadra da PSP dos Olivais em retaliação pelos alegados maus tratos
aí sofridos por um elemento da organização aquando da sua detenção;
desta acção resulta um ferido ligeiro;
Setembro de 1986 - atentado com
explosivos a um empreendimento turístico no Algarve; esta ação é
reivindicada pela ORA (Organização Revolucionária Armada) um grupo
formado por dissidentes das Forças Populares 25 de Abril;
Agosto de 1987 - morte do agente da Polícia Judiciária Álvaro Militão durante a detenção de elementos da organização, em Lisboa;
Meados de 1992 - detenção dos últimos militantes ainda clandestinos;
1996 - É aprovada pela Assembleia da República e promulgada por Mário Soares, então Presidente da República, uma amnistia relativa ao caso FUP-FP-25, amnistia que exclui os chamados "crimes de sangue".
A
Força de Unidade Popular (
FUP), foi um
partido político português, fundado em 1980 e extinto em 2004.
Fundado pelo major
Otelo Saraiva de Carvalho
na área do "socialismo participado", defendia nos seus estatutos,
"promover a unidade popular no seio do povo português para a construção
do Socialismo" e "praticar a solidariedade com todos os povos do mundo
que lutam pela sua libertação e pelo Socialismo".
Nunca concorreu a eleições, tendo apoiado Otelo Saraiva de Carvalho às
eleições presidenciais de 1980, onde este obteve um resultado desastroso, com somente 85.896 votos (1,49%).
A ideia de criação do partido foi lançada pelo major
Otelo Saraiva de Carvalho,
em 30 de janeiro de 1980, e concretizada em 28 de março seguinte
através de um acordo constitutivo subscrito pelo mesmo, por
representantes do MES -
Movimento de Esquerda Socialista, OUT -
Organização Unitária de Trabalhadores, PCP(m-l) -
Partido Comunista de Portugal (marxista-leninista), PC(R) -
Partido Comunista (Reconstruído), PRP -
Partido Revolucionário do Proletariado, UC -
Unidade Comunista, UDP -
União Democrática Popular e quatro independentes.
O partido foi vítima própria de um certo culto de personalidade ou
otelismo. A partir de junho de 1984, após a operação "Orion" da
Polícia Judiciária, incidindo sobre as
FP25 e que levou à detenção de dezenas de militantes da FUP e do próprio
Otelo, o partido assistiu ao encerramento sucessivo das suas sedes.
Comprovada a ligação do partido às FP25 e ao "Projecto Global", por ser a sua componente da "organização política de massas" (OPM), foi decretada a sua extinção em 2004.
Óscar um assassino pouco inteligente
O Óscar fez uma revolução. Houve quem
pensasse que o fazia pelo País. Engano. Rapidamente se tornou conhecido
por emitir mandatos de captura em branco, discricionários e sem
critério. O País generoso, perdoou-lhe as loucuras do PREC, mas logo
Óscar achou que o poder era seu por direito e voltou a aterrorizar.
Desta vez contra a democracia, com mais sangue e cobardia. Com o seu
gang de revolucionários, Óscar assaltou bancos, e assassinou 17 pessoas
e chantageou o Estado de direito.
O País foi novamente magnânimo e
perdoou-lhe por algo, do qual ele nunca se arrependeu. Até o promoveu.
Passou-lhe um salvo conduto vitalício, o que lhe permite dizer as
maiores atrocidades, ter eco na imprensa, sem que haja alguém a lembrar
o seu cadastro.
Óscar não foi generoso nem tão pouco
corajoso, foi muito pouco inteligente e nunca se retratou. Óscar
continua a achar-se acima da lei. Já o Estado, não pode permitir que
haja cidadãos, mesmo que intelectualmente indigentes, mas não
inimputáveis, digam atrocidades e incitem a motins e revoluções.
Um Estado pequeno não implica que seja
fraco. Mas, se a justiça não reage e não funciona, deixa fragilidades
com marcas profundas e difíceis de curar.
PS.
Óscar - Nome de código de Otelo Saraiva de Carvalho, enquanto líder
operacional das FP-25 de Abril. Facto julgado e provado em tribunal.
Entre os crimes de que foi acusado e condenado, esteve o assassinato de
17 pessoas inocentes, de uma forma fria, brutal e cobarde. Apesar
disso, Otelo foi promovido a Coronel, por proposta do Almirante
Martins Guerreiro e despacho conjunto do Ministro da Defesa Severiano
Teixeira e das Finanças Teixeira dos Santos, com uma indemnização três vezes superior, aquela que receberam as vitimas que assassinou.
Dias contados
Uma anedota chamada Otelo
por ALBERTO GONÇALVES - 13 novembro 2011
Antes de 1974, o capitão Otelo Saraiva de Carvalho serviu
diligentemente a ditadura salazarista. Após o 25 de Abril, de que ele
próprio foi operacional destacado, ajudou a impor uma ditadura
comunista. Derrotada esta no 25 de Novembro de 1975, prosseguiu a
defesa dos macaquinhos que lhe habitam o sótão quase sozinho e
literalmente à bomba até ser preso. Hoje, seria de esperar que duas
tiranias, um golpe de Estado e uma apreciável incursão pelo terrorismo,
satisfizessem as ambições profissionais do major Otelo Saraiva de
Carvalho, que aproveitaria o Outono da vida para contemplar o passado heroico e gozar de uma reforma pacífica. Evidentemente, não satisfazem.
Há homens que não sossegam enquanto um único dos seus semelhantes
estiver privado de exercer o direito de voto. O tenente-coronel Otelo
Saraiva de Carvalho não é desses. O que o aflige é justamente a
possibilidade de os semelhantes escolherem os respetivos destinos em
liberdade. Parafraseando As Vinhas da Ira, onde houver o vestígio de um
sistema democrático, o coronel Otelo Saraiva de Carvalho lá irá tentar
acabar com ele. Ou pelo menos fica no sofá de casa a pedir a outros
que o façam.
A última do brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho é aquela espécie de
entrevista na qual explica que "os militares têm a tendência para
estabelecer um determinado limite à atuação da classe política", que o
poder político "está próximo de exceder os limites aceitáveis", que,
"ultrapassados os limites", os militares devem "fazer uma operação
militar e derrubar o Governo", e que "bastam 800 homens".
Em troca, alguém de bom senso deveria explicar ao general Otelo Saraiva
de Carvalho que, grosso modo, a coisa funciona ao contrário. Os
limites da política são decididos pela Constituição e pela lei. O poder
militar está submetido ao político. O poder político, tontinho que
seja, está submetido ao voto dos cidadãos e não aos apetites de 800
hipotéticos valentes. As sugestões em causa configuram o crime de
incitação à violência. Etc.
Pensando melhor, não vale a pena. Há muito, provavelmente desde sempre,
que o marechal Otelo Saraiva de Carvalho se encontra além da
racionalidade, da imputabilidade e da paciência. Evangelizá-lo na
exata democracia que lhe permite ostentar os delírios seria tão inútil
quanto pregar o feminismo aos aiatolas. Mais do que um déspota falhado
e arcaico, o sr. Otelo é uma anedota, só perigosa na medida em que
alguns ainda a ouvem sem se rir.