domingo, março 30, 2008

Ética e Política

Nestes tempos em que se ouve tanto falar em ética republicana (...haverá também ética monárquica...?) seria interessante reflectirmos um pouco sobre algumas decisões de S.ª Ex.cia a Ministra da Educação, pois às vezes isto da ética (ou falta dela...) é uma chatice, até porque os professores e os cidadãos têm memória.

1. Na 6ª-feira passada, numa sessão de esclarecimento em Viseu do Secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, para membros dos Órgãos de Gestão de Escolas públicas da zona, houve um protesto, comandado pelo secretário-geral da FENPROF. Para além do problema da avaliação dos docentes, foi abordado um assunto (pelos dois Secretários, o da Ministra e o do Sindicato) que me mereceu uma pesquisa que queria partilhar convosco - o triste caso dos professores doentes que o Ministério da Educação quer que passem a ex-professores - vulgo "mobilidade especial dos professores declarados incapazes para dar aulas".

2. Por diversos motivos sempre houve professores que, momentaneamente ou ad aeternum, ficaram incapazes de dar aulas. Porque tiveram problemas de foro oncológico, ou ficaram com doenças infecto-contagiosas, ou tiveram problemas vocais, ou se desequilibraram psicologicamente (a profissão, neste aspecto, é muito dura) ou por qualquer outra causa de foro médico, alguns precisam por vezes de parar um certo tempo. A resposta do Ministério da Educação a estes casos era retirar a componente lectiva (total ou parcialmente) a estes professores e dar-lhes outras actividades na Escola - Biblioteca, Clubes Escolares, aulas de apoio, salas de estudo, colaboração com o Órgão de Gestão, apoio na gestão de material escolar e preparação de material experimental, etc. Quem deu tudo o que tinha à Escola não devia ser posto fora dela, até porque apesar dos seus problemas podia ainda ser útil a esta instituição...

3. Quando o Governo (esquecendo as suas promessas eleitorais) começou a falar em pôr na rua alguns Funcionários Públicos - os supranumerários... - a Ministra da Educação teve a gentileza de dizer, em Novembro de 2006, na discussão do Orçamento de Estado, na Assembleia da República, que os professores não seriam afectados por essa ameaça:
"Não tencionamos colocar um único professor no quadro de supranumerários", assegurou Maria de Lurdes Rodrigues no debate do Orçamento de Estado para 2007 na especialidade, adiantando que o seu ministério está a preparar soluções alternativas, que permitam aos docentes desempenhar outras funções nas escolas, nomeadamente de carácter técnico. - texto completo AQUI
4. Mas a memória dos políticos é curta, e a sua boca diz coisas que o cérebro não mandou dizer - só pode ser esta a explicação para o que o Secretário de Estado Valter Lemos colocou num novo diploma, em que aquilo que disse a Ministra da Educação, seu superior hierárquico, se tornou letra morta. Numa notícia do Público, de 10.10.2007, o SE dizia o seguinte:
A mobilidade especial torna-se uma solução de fim de linha, só quando todas as outras estão esgotadas, designadamente a aposentação, a reclassificação ou reconversão ou a vontade do próprio docente pedir uma licença sem vencimento", explicou o secretário de Estado Adjunto e da Educação. - ler texto completo AQUI
Dava novo sentido à expressão "o que hoje é verdade amanhã é mentira"... De tal maneira que um partido político chamou ao Parlamento a ME, porque:
«Na discussão do Orçamento de Estado do ano passado, a ministra disse no Parlamento que não havia a intenção de colocar um único professor no quadro dos supranumerários», recordou o líder parlamentar do CDS-PP, Diogo Feio, em declarações aos jornalistas na Assembleia da República.

(...)

Para o líder parlamentar democrata-cristão, «não está por enquanto em causa o conteúdo da medida» mas a contradição entre a posição de Maria de Lurdes Rodrigues e a medida agora anunciada.

«Como achamos que a palavra de um político tem imenso peso, consideramos essa mudança de posição pública muito grave», criticou Diogo Feio.

A esta contradição, o presidente da bancada democrata-cristã acrescentou outras como a promessa de não fechar escolas com menos de dez anos ou a garantia de que a repetição dos exames nacionais era legal, o que foi depois desmentido por decisões judiciais.

«Porque achamos que a palavra é importante (...) vamos requerer com urgência a vinda da ministra da Educação à comissão para explicar estas contradições», anunciou. - ler texto completo AQUI


5. Infelizmente esta estória não tem moral - aliás, quod erat demonstrandum, como alguns dos nossos políticos que nos desgovernam e se vão governando a eles próprios. A minha única mágoa nesta tristeza fica com os mais de 2.000 professores a quem o Ministério das Avaliações, perdão, da Educação, tirou a saúde, a vida e os melhores anos da vida e que agora chuta para fora como se fazia antigamente a um cão velho...

sábado, março 29, 2008

A Escola que estamos a construir

Antigamente (eu entrei para a Escola quando o Presidente do Conselho era o Doutor Marcello Caetano...) o paradigma de Escola passava por uma instituição que era para quase todos mas muito poucos chegavam aos seus últimos patamares, em que o mérito era reconhecido mesmo aos que pertenciam a estratos sociais mais baixos mas, dada a estreiteza da peneira, poucos avançavam nos estudos. Podia haver falta de liberdade, haveria injustiças (mas sempre as houve e as haverá em qualquer instituição...) contudo a Escola era um local de aprendizagem, de educação e de promoção social dos que nela empenhavam o seu tempo e esforços.

Depois com a democracia e a liberdade (por vezes confundida com libertinagem, problema do qual ainda hoje se sentem as consequências) o paradigma de Escola mudou, paulatinamente. Chegou ao ponto que a seguinte estória relata...

Os patos preferem a escola

O TEMPO em que os animais falavam, os bichos constataram que o meio em que viviam começava a tornar-se cada vez mais complexo e havia que impor novas hierarquias, estabelecer novos parâmetros de comportamento, uma vez que já não chegavam os seus instintos inatos para enfrentar as modificações do meio. Esta necessidade deu lugar à ideia de ESCOLA: uma estrutura social, que os habilitaria, A TODOS, para enfrentar as crescentes modificações a que assistiam. Foram escolhidos os melhores animais para a docência, isto é, os reconhecidos como mais experientes, alta profissionalização nos seus domínios específicos, grandes títulos em competições. O reconhecimento destas qualificações envaideceu-os, naturalmente, e a maioria esqueceu, desde logo, a razão por que estava ali. Com muitas reuniões gerais de professores, muitas reuniões de grupo, reuniões de conselho pedagógico, de departamento, de secções, reuniões de conselho executivo, etc… escolheram o seguinte currículo: Nadar, Correr, Voar, Galgar montes e Saltar obstáculos.

Os primeiros alunos foram o Cisne, o Pato, o Coelho e o Gato.

Começadas as aulas, cada professor, altamente preocupado com a sua disciplina, preparava primorosamente a matéria, dava sem perder tempo, procurando cumprir o programa e a planificação do mesmo. Faziam, assim jus aos seus títulos e competências. Mas os alunos iam-se desencantando com a tão sonhada escola. Vejam o caso particular de cada aluno:
  • O Cisne, nas aulas de correr, voar e galgar montes era um péssimo aluno. E mesmo quando se esforçava, ao ponto de ficar com as patas ensanguentadas das corridas e calos nas asas, adquiridos na ânsia de voar, tinha notas más. O pior era que, com o esforço e desgaste psicológico despendido nessas disciplinas, estava a enfraquecer na natação, em que era o máximo.
  • O Coelho, por sua vez padecia nas matérias de nadar e voar. Como poderia voar se não tinha asas? Em se tratando de nadar, a coisa também não era fácil não tinha nascido para aquilo. Em contrapartida, ninguém melhor do que ele, corria e galgava montes.
  • O Gato tinha problemas idênticos ao do coelho, nas disciplinas de natação e voo. Ele bem insistia com o professor que, se o deixasse voar de cima para baixo, ainda poderia ter êxito. Só que o professor não aceitava essa ideia louca: não estava contemplada no programa aprovado e o critério de selecção era igual para todos.
  • O Pato, finalmente, voava um pouquinho, corria mais ou menos, nadava bem mas muito pior do que o cisne, e desastradamente, embora com algum desembaraço, até conseguia subir montes e saltar obstáculos. Não tinha reprovações a nenhuma disciplina, como os seus restantes colegas o que fazia sumamente brilhante nas pautas finais.
Os professores consideraram-no o aluno mais equilibrado, deram-lhe a possibilidade de prosseguir estudos e, com tantos “atributos”, até fomentaram nele a esperança de um dia, poder vir a ser professor.

Os restantes alunos estavam inconformados. Nada tinham contra o pato, gostavam dele, compreendiam o seu grau mínimo de suficiência a todas as disciplinas, mas, perguntavam-se: a espantosa capacidade do Coelho em saltar obstáculos, correr e galgar montes não poderia ser aproveitada para enfrentar as tais novas situações sociais, que os levaram a ter a ideia de ESCOLA? E o Gato? De nada lhe serviria correr e saltar melhor do que o Pato? E que utilidade teria, para o Cisne, nadar como nenhum outro? Cada um tinha, de facto, a sua queixa justificada. Escola, pensavam eles era o local onde aperfeiçoariam as capacidades que tinham, de modo a po-las ao serviço da sociedade. Se as coisas já estavam difíceis, que fazer agora com a tremenda frustração de não servirem para nada? Foram falar com os professores. As limitações de cada um eram um facto, eles sabiam que jamais seriam polivalentes, de modo a terem grandes escolhas. Contudo, se reprovassem no ano seguinte estariam exactamente na mesma situação.

Os professores lamentaram muito. Havia um programa, superiormente estabelecido e a questão era só esta: Ninguém tinha média igual ao do Pato e, por isso, na sua mediocridade, ele era, estatisticamente superior a todos.

Os outros alunos abandonaram a escola. Desde então por razões óbvias a escola atrai mais os patos e, na sociedade são eles que dominam.


in Noesis, nº20, Setembro de 1991

Só assim se entende, no âmbito da Escola de Patos, que tenhamos um primeiro ministro que se auto-intitula, generosamente, Engenheiro, com um currículo invejável (eu, com estes olhos que a terra há-de comer, garanto que já vi a obra de engenharia do senhor José, pois como guardense de nascimento já vi muitas das obras primas com que ele honrou as terras onde os seus projectos foram construídos...).

Hoje há a tentativa de mudar novamente o paradigma da Escola: agora esta instituição vai nivelar tudo por baixo - vai reconhecer os saberes ocultos das pessoas, vai dar novas oportunidades aos que nunca as mereceram, vai passar os absentistas, vai fazer surgir miraculosamente o sucesso para europeu ver, vai castigar os professores que se atrevem a reprovar os alunos, vai dar mérito a quem o nunca mereceu nem sabe o que é isso...

E agora Vossas Excelências irão perguntar "então e outros...?". Os outros, os que trabalham, os que merecem, os que querem saber mais...? Esses sempre se safaram, dirá o governo - logo não têm interesse nenhum...

A prova disto? Ora leiam esta notícia do Público para perceberem para onde está a ir a Escola:

Pais preocupadas com o que dizem ser um retrocesso
Vazio legal não permite que crianças sobredotadas possam matricular-se no 1.º ano
29.03.2008 - 11h26 Bárbara Wong

António (nome fictício) sabe ler desde os quatro anos. É também desde essa idade que efectua operações matemáticas que não se aprendem no jardim-de-infância. António tem cinco anos e só faz os seis em 2009, mas poderia entrar no 1.º ciclo já no próximo ano lectivo, não fosse o vazio legal que o Decreto-Lei n.º 3/2008 criou para as crianças sobredotadas.

Actualmente, não existe legislação que possibilite a antecipação da entrada no 1.º ciclo às crianças que revelam ter capacidades acima da média. Só que, até agora, era possível fazê-lo, desde que a criança revelasse maturidade e que essa fosse tecnicamente comprovada por um psicólogo.

A legislação que entrou em vigor deixou os sobredotados de fora. "As situações de precocidade excepcional ficaram sem enquadramento legal", confirma a Direcção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo (DREL) aos pais de uma criança sobredotada, que colocaram a questão a este serviço do Ministério da Educação.

Nesta situação estão algumas centenas de crianças, calcula Helena Serra, presidente da Associação Portuguesa de Crianças Sobredotadas (APCS), do Porto. Mensalmente, cinco em cada 40 casos que acompanha na associação são de meninos nestas circunstâncias, revela.

Para os pais de António, "não é concebível" mantê-lo mais um ano no jardim-de-infância. "Ele lê e interpreta o que lê. Por isso, desinteressa-se do que os outros fazem. Diz que são bebés porque não sabem ler como ele e a educadora", conta a mãe, considera que, se não fosse tão pequeno, estaria apto para o 2.º ano.

Perante a resposta da DREL, a deputada independente Luísa Mesquita pergunta ao ministério qual é a solução que propõe; se estão previstas alterações legislativas que prevejam a sua inscrição antecipada e para quando.

Também a APCS e o Centro Português para a Criatividade, Inovação e Liderança (CPCIL), de Lisboa, já colocaram a mesma questão à tutela. E acusam-na de "retrocesso".

Em carta dirigida a Maria de Lurdes Rodrigues, a fundadora do CPCIL, Manuela Freitas, lembra que habitualmente, entre Fevereiro e Março, é enviado às direcções regionais uma circular para regulamentar o ingresso antecipado. "Pensamos que às crianças não devem ser retirados os direitos de aprender com o seu ritmo individual e não apenas segundo normas arbitrárias e reguladas pelo calendário", escreve Manuela Freitas.

Helena Serra, da APCS, diz que é uma "dor de alma" ver crianças com maturidade permanecerem no pré-escolar. Manuela Freitas refere o "sofrimento dos pais e das crianças por serem obrigadas a estar inseridas em grupos cujas actividades já nada lhes dizem". Algum do insucesso escolar dos sobredotados justifica-se por estarem desenquadrados na escola, explicam.

A lei esqueceu os sobredotados "de propósito" porque "dão mais trabalho na sala de aula", diz Helena Serra. Também Manuela Freitas aponta que "os professores do 1.º ciclo têm medo das crianças de cinco anos". Para Luísa Mesquita, o "vazio da lei não é intencional, é mesmo incompetência". A deputada lembra que esta questão foi colocada no Parlamento, aquando da discussão da lei, e que "o PS disse que se resolveria de outra forma". O PÚBLICO pediu esclarecimentos à tutela, mas não recebeu nenhuma resposta em tempo útil.
É uma pena que mais uma vez, por causa das modas e do eduquês que alguns gostam, seja novamente tudo posto em causa e a Escola retroceda mais uma vez...

Até quando teremos de aturar estas experiências?

sexta-feira, março 28, 2008

Uma breve explicação

Aos nossos leitores, que nos merecem todo o respeito e carinho, uma pequena explicação sobre o silêncio que tem imperado neste Blog:

1. Sendo o principal responsável pelo Blog um professor, a actual instabilidade a que o seu local de trabalho e o seu grupo profissional foram sujeitos levaram a que fosse necessário uma paragem para reflectir sobre muitas coisas - nomeadamente o que fazer com este Blog, o que estou a fazer na Escola e o que quero nos próximos tempos.

2. Tendo oportunidade de trabalhar na luta de forma mais directa nesta luta dos professores, através da participação nas múltiplas actividades do Movimento Cívico Em Defesa da Escola Pública e da Dignidade da Docência, sediado na minha cidade do Liz, houve necessidade de parar algumas coisas que o que estava a fazer ficasse bem feito.

3. Depois de profunda reflexão, decidi que era tempo de continuar com o Blog - apesar de tudo o que fizeram, fazem e provavelmente irão fazer aos professores, não me irão vergar - e note-se que este desabafo não é dirigido a ninguém da minha Escola onde, apesar de tudo o que lá se passou, continua a ser o local onde quero continuar a exercer o meu trabalho de docente...

sexta-feira, março 07, 2008

Porque o Silêncio é uma arma poderosa...

Contra a Propaganda e o Ruído, o Silêncio é uma arma poderosa e impressionante, quando partilhada por muitos milhares.

Porque mais assustador do que a estridência. Porque mais inesperado. Porque já sabem(os) todos ao que vamos.

Quem guiará amanhã os nossos passos?

Amanhã iremos mostrar que ainda podemos superar o medo, a afronta e a iniquidade. Amanhã caminharemos juntos, unidos, porque a albarda não nos fica bem (não, não somos burros ou bestas de carga, senhora Ministra...). Amanhã caminharemos juntos porque há que defender Escola Pública, os nossos alunos e os nossos direitos de cidadãos.

Muitos de nós nunca foram a uma manifestação. Por opção pessoal, pelo trabalho que se leva para casa e assim ficaria para segundas núpcias ou por simples comodismo. Mas amanhã, unidos, iremos seguir juntos para mostrar que ainda há Homens e Mulheres livres dentro das Escolas. Iremos colocar o dia 8 de Março de 2008 num lugar único dentro da história da Educação e Ensino em Portugal. E é com o desejo de fazer História que amanhã muitos irão a Lisboa - porque é fácil quebrar o ramo isolado mas o feixe que somos todos nós não vergará!

Como dizia o colega Rómulo de Carvalho, através da boca do poeta António Gedeão, tem de ser! Guie-nos a palavra do poeta no nosso caminho:

Estrela da Manhã



Numa qualquer manhã, um qualquer ser,
vindo de qualquer pai,
acorda e vai.
Vai.
Como se cumprisse um dever.


Nas incógnitas mãos transporta os nossos gestos;
nas inquietas pupilas fermenta o nosso olhar.
E em seu impessoal desejo latejam todos os restos
de quantos desejos ficaram antes por desejar.


Abre os olhos e vai.


Vai descobrir as velas dos moinhos
e as rodas que os eixos movem,
o tear que tece os linhos,
a espuma roxa dos vinhos,
incêndio na face jovem.


Cego, vê, de olhos abertos.
Sozinho, a multidão vai com ele.
Bagas de instintos despertos
ressumam-lhe à flor da pele.


Vai, belo monstro.
Arranca
as florestas com os teus dentes.
Imprime na areia branca
teus voluntariosos pés incandescentes.


Vai.


Segue o teu meridiano, esse,
o que divide ao meio teus hemisférios cerebrais;
o plano de barro que nunca endurece,
onde a memória da espécie
grava os sonos imortais.


Vai.


Lábios húmidos do amor da manhã,
polpas de cereja.
Desdobra-te e beija
em ti mesmo a carne sã.


Vai.


À tua cega passagem
a convulsão da folhagem
diz aos ecos
«tem que ser»;
o mar que rola e se agita,
toda a música infinita,
tudo grita
«tem que ser».


Cerra os dentes, alma aflita.
Tudo grita
«Tem que ser».


in Movimento Perpétuo (António Gedeão)

Post retirado do Blog Em defesa da Escola Pública

quinta-feira, março 06, 2008

8 de Março de 2008

Prece

Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.

Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!

Fernando Pessoa, Mensagem

Antes que a noite escura caia sobre as Escolas

Irei, como uma esmagadora maioria dos docentes portugueses, estar presente, pela primeira vez em corpo e alma, na Manifestação de Professores de Lisboa, no sábado, dia 8 de Março de 2008. Muitos estarão só em espírito connosco - há a família, os testes, a nova legislação para ler, os comprimidos que nunca mais fazem efeito, a lida da casa, os compromissos familiares, o medo, mas mesmo assim, no sábado, seremos todos um só.

Porque é a longa noite que nos querem impor e em que querem mergulhar a Escola Pública, há que recordar que a Escola actual, com todas as suas falhas e insuficiências, é um local democrático em que se ensina democracia ao vivo. E fartos de prepotências, de ditadorzecos, de aldrabices e de mentiras, estamos todos nós.

Assim, antes que a noite caia e nos cale a todos, permitamos que a música mostre a minha e nossa revolta...

Sun Goes Down (David Jordan)

Open your eyes coz another day is dawning,
Children of the night , can you hear them all calling.
Stars open up and an angel starts falling,
Listen to their beats, can you hear them hollering

Start in the morning, through to the evening
Dance like you’re the only one around
Move like you want it
Grove like you need it,
Dancing it up till the sun goes down

Free your mind coz tonight we’re gonna break it down
Shake make it funky down
Get so high as the toxins in your body
Are the bass and the drums and the ra, ra, ra
We’re right on time, & all is fine
If you’ve lost your senses here have mine and..

Lose yourself in the time you awake wait till the evening time
‘till the sunshine breaks.

Ahh Common
Open your eyes coz another day is dawning,
Children of the night , can you hear them all calling.
Skies open up and an angel starts falling,
Listen to the beats, can you hear them hollering

Stop in the morning, through to the evening
Dance like you’re the only one around
Move like you want it
Grove like you need it,
Dancing it up til the sun goes down.

Till the sun goes down…

Go Come on for this makes for hysteria
You feelin what we bring to y’all..
Peace and love find yourself gettin down tonight, tonight tonight, tonight

Fire is burning on and theres children in the forest playing
Just come forget this to forget the beats hunting for its prey
Yeaaah… noo noooo ..yeaaaah eeyy..

Till the sun goes down
Till the sun goes
Sun goes down
Sun goes down sun goes down
Sun goes dooooowwn!

Open your eyes coz another day is dawning,
Children of the night , can you hear them all calling.
Skies open up and an angel starts falling,
Listen to the beats, can you hear them hollering

Stop in the morning, through to the evening
Dance like you’re the only one around
Move like you want it
Grove like you need it,
Dancing it up till the sun goes down

quarta-feira, março 05, 2008

Jornadas em Leiria - Pedra, Barro e Areia: Estratégias de Conservação e Exploração Sustentável

A Oikos – Associação de Defesa do Ambiente e do Património da Região de Leiria, vai levar a cabo, nos dias 14 e 15 de Março (Sexta e Sábado) de 2008, no auditório da ESTG – Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria, as XIV Jornadas Sobre Ambiente e Desenvolvimento, subordinadas ao tema “Pedra, Barro e Areia: Estratégias de Conservação e Exploração Sustentável”.

Programa das XIV Jornadas: AQUI (documento pdf com 1Mb)



OIKOS - Associação de Defesa do Ambiente e do Património da Região de Leiria
Av. Cidade Maringá - Centro Associativo Municipal - sala 9
Apartado 2840 - 2401 - 901 Leiria

Telefone e Fax: (+351) 244 828 555
oikosambiente@mail.telepac.pt
www.oikosambiente.com

domingo, março 02, 2008

A origem dos anos bissextos

Post de Palmira F. da Silva publicado no Blog De Rerum Natura em 29.02.2008:


O dia de hoje, 29 de Fevereiro, ocorre apenas nos anos bissextos, denominação que alguns pensam reflectir o facto de os anos assim chamados terem 366 dias (com dois seis), o que não é verdade, como iremos ver. Este dia «extra» é uma correcção introduzida para acertar o que resulta de as nossas unidades de tempo dia e ano serem referidas aos movimentos da Terra: um dia (um dia solar tem 24 horas, há uma excelente explicação no Bad Astronomy sobre a diferença entre dia solar e dia sideral) é o período de rotação da Terra e um ano, o tempo que a Terra demora na translacção em torno do Sol, não é um número inteiro de dias.

Como Phil Plait explica, há algumas nuances na definição de ano e no cálculo do tempo que a Terra demora a orbitar o Sol. Na Antiguidade, os astrónomos calcularam que a Terra dava a volta ao Sol em 365.25 dias (365 dias mais 6 horas) mas a adição de um dia extra de 4 em 4 anos tentada em Alexandria por Ptolomeu III em 238 a.C. não teve sucesso. Anos de 365 dias transformavam o calendário numa dor de cabeça, agravada no tempo de Júlio César pelo corrupto pontifex maximus, o sacerdote encarregue do calendário para quem a duração do ano reflectia as compensações monetárias dos que queriam manter um determinado cargo mais tempo ou pretendiam abreviar o mandato de um inimigo.

César, com o auxílio do astrónomo grego Sosígenes, reformou o calendário no ano que corresponde ao actual 45 a.C., na altura ano 709 AUC - ab urbe conditia, desde a fundação da Cidade (de Roma). Este calendário, que instituia entre outras coisas um ano bissexto de quatro em quatro anos, passou a ser conhecido por calendário juliano, adoptado pela generalidade da Cristandade em 325 d.C. e ainda usado pela Igreja Ortodoxa.

O problema não terminou aqui já que um ano não é exactamente 365 dias e 6 horas mas sim 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos. Embora a diferença possa parecer insignificante, no ano 1582, data em que o Papa Gregório XIII fez outra reforma no calendário, a diferença entre o ano astronómico e o ano sazonal já era suficiente para o pontífice ordenar o «buraco» de dez dias necessário para a corrigir. Assim, ao dia 4 de Outubro desse ano sucedeu o dia 15 de Outubro. Para evitar correcções análogas no futuro, o novo calendário gregoriano, que usamos até hoje, prevê serem bissextos os anos que sejam divisíveis por 400 e os divisíveis por 4 mas não por 100.

O mês que toma o nome do festival de purificação e limpeza denominado Februa (de Februarius que significa purificar) - ou do deus etrusco Februs mais tarde identificado com o deus romano Plutão - foi tornado ainda mais curto pelas manias de grandeza do imperador Augusto que não admitiu que o mês oitavo que tomou o seu nome fosse «inferior» ao mês sétimo que honra o seu tio-avô Júlio César.

Ao dia 29 de Fevereiro estão associadas inúmeras superstições e tradições, algumas delas bastante curiosas, o que não é de espantar dada a forma como o dia extra de Fevereiro foi introduzido. Ao adicionar o dia suplementar, Júlio César escolheu o mês de Fevereiro, o então último mês do ano considerado mês nefasto entre os romanos. Para dar a volta aos seus concidadãos mais supersticiosos, para além de decretar que o primeiro mês do ano passava a ser Janeiro e não Março, em vez de aumentar de 1 dia de quatro em quatro anos a duração do mês, César congeminou um sistema complicado: duplicou o vigésimo quarto dia de Fevereiro, que recebia na época o nome de «dia sexto antes das calendas de Março». Deste modo, o dia suplementar era o bis sextum ante diem calendas martii, que deu origem à actual designação de dia bissexto, designação que se estendeu ao ano.

sábado, março 01, 2008

A revolta dos Professores - III (Fotos de Leiria)

A Reunião em fotos




A revolta dos Professores - II (Reunião em Leiria)

Algumas considerações sobre a nossa Reunião

Ontem foi um dia memorável para quem participou e preparou a Reunião de Leiria. Muitos venceram o medo e desânimo e atreveram-se a falar. Muitos deitaram para fora a revolta que lhes roi o interior há muito tempo. Foi uma festa, triste embora, mas uma festa. Teve momentos divertidos (a catarse começa por vezes pelo riso) como aquele momento em que a colega Carmelinda Pereira, animada com o momento, quase usava a expressão "camaradas" quando queria dizer colegas. Foi engraçado ver os professores rirem das maldades que querem fazer à sua profissão e ao seu local trabalho. Foi giro ver caras conhecidas numa Televisão que ainda não foi vergada pelo Poder. Foi interessante ver que as pessoas estão sedentas de luta, de verdade e unidade, mesmo que isso implique sacrifício. Foi apenas um começo, mas até os adamastores da floresta foram um dia pequenos polegarzinhos, enfezados e indefesos.

Roubemos o poema e grito do poeta Gedeão, nosso irmão e mestre nestas coisas de ensinar, para aprender para onde ir com o nosso movimento cívico...

Poema das árvores


As árvores crescem sós. E a sós florescem.

Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.

Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.

Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.

E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.

Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.

As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.

Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.

Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores.

in Novos Poemas Póstumos, António Gedeão

A revolta dos Professores

Faz hoje uma semana começou uma revolta dentro do meu grupo profissional, motivado pelo triste estado a que está a chegar a Escola Pública. Recordemos a data com alguns posts (este e os seguintes) do Blog Em defesa da Escola Pública:

Porto, Caldas e Leiria: Mais de dois mil professores em protestos organizados por sms e email


Mais de dois mil professores concentraram-se hoje no Porto, Leiria e Caldas da Rainha, em protestos convocados por sms, correio electrónico e blogs, numa iniciativa à margem das estruturas sindicais destinada a contestar a actual política educativa do Governo.

Na baixa do Porto, a manifestação na Avenida dos Aliados chegou a reunir perto de um milhar de professores, convocados por sms, mas a chuva que caiu durante a tarde levou muitos deles a desmobilizarem pouco depois.

Empunhando lenços brancos, os professores voltaram a exigir a demissão da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues. “Chega de humilhação, com esta ministra não”, era uma das palavras de ordem gritada pelos manifestantes, numa altura em que a tutela avança com o polémico processo de avaliação dos docentes.

Já perto do final da concentração, agentes da PSP pediram a identificação de várias pessoas, alegando que estavam a tomar parte de uma concentração ilegal que não foi autorizada pelo governo civil. A iniciativa dos agentes gerou protestos dos presentes, que denunciaram o clima de intimidação promovido pelo actual executivo. “Vamos ficar na lista negra. Estão a querer queimar pessoas”, dizia uma docente a PSP pediu os documentos, enquanto um colega lamentava que a polícia não actuasse da mesma forma quando se realizam manifestações de apoio ao Governo.

Fátima Inácio, que durante a manhã estivera num protesto semelhante nas Caldas da Rainha garantia que “vai haver mais manifestações como estas” nos próximos tempos. “Está-se a criar um sentimento de desmotivação tão grande que os grupos de pessoas estão a organizar-se espontaneamente”, sublinhava.
Quatrocentos manifestantes nas Caldas

Cerca de 400 professores do ensino básico e secundário, oriundos na sua maioria das regiões Norte e Centro, reuniram-se durante a manhã num protesto idêntico na escola secundário Raul Proença, nas Caldas da Rainha.

Na reunião, convocada por meio de emails e de blogues, foi decidido avançar com a constituição de uma associação, que terá entre as suas prioridades a “contestação judicial” de medidas previstas no modelo de avaliação dos professores, nomeadamente as disposições que penalizam, em termos de progressão de carreiras, os professores que faltaram por motivos de doença, adiantou ao Público Mário Machaqueira, professor de Filosofia e um dos organizadores da reunião.

Machaqueira insistiu que a decisão de avançar para a constituição de uma associação não constitui um gesto contra os sindicatos: “Não estamos aqui para dividir, mas sim para acrescentar, para ser um complemento do trabalho dos sindicatos”, disse, embora reconhecendo que existem críticas em relação aos que estes “deviam ter feito e não fizeram”.

Em declarações ao Público, Mário Nogueira, presidente da Federação Nacional dos Professores, saudou estas últimas movimentações de professores. Segundo o dirigente sindical, estas manifestações espontâneas são demonstrativas da insatisfação que reina entre os docentes: “O importante é combater esta política educativa”, friso.

Movimento em Defesa da Escola Pública condena excessos de zelo

Em Leiria, seriam cerca de 800 os professores que esta tarde responderam à convocatória e que, à semelhança do que aconteceu na cidade vizinha, decidiram avançar para a criação de um movimento cívico.

Face às informações de que haveria escolas a prepararem grelhas para avaliar os professores em relação à política educativa do Governo, o Movimento em Defesa da Escola Pública (MDEP) comprometeu-se a denunciar estes casos ao procurador-geral da República, por violarem princípios constitucionais.

“Não posso acreditar que alguém pretenda avaliar os professores a partir das suas convicções em relação à política educativa. Isto é aviltante para quem pensa”, afirmou José Vitorino Guerra, um dos elementos que constituiu o movimento cívico. Para tal, ficou acordado constituir um fundo de maneio para criar um departamento jurídico para dar apoio aos professores e para pedir pareceres sobre a constitucionalidade da legislação promulgada.
in Publico online, 23.2.08