Minerais escondidos em diamantes revelam segredos do funcionamento da Terra

Um diamante das profundezas da Terra com impurezas
Os diamantes formados no manto inferior da Terra contêm
fragmentos de minerais que estão a ajudar os cientistas a compreender o
funcionamento interno do nosso planeta.
Nos diamantes, até as impurezas têm valor – é o que diz, à New Scientist, o investigador do Museu Americano de História Natural, em Nova Iorque, Nester Korolev.
Essas impurezas têm um valor inestimável devido à informação que
contêm sobre os processos geológicos em curso nas profundezas da Terra.
Além disso, algumas delas não se parecem sequer com nada que se tenha encontrado antes.
“Nestas impurezas, espero que venhamos a descobrir um novo mineral“, disse Korolev, mostrando o diamante.
Este diamante em particular formou-se a cerca de 600 quilómetros
abaixo da superfície, perto da fronteira entre o manto superior e o
manto inferior. Isto faz com que seja um dos objetos de formação mais profundos que regressaram à superfície do planeta e às mãos dos geólogos.
Este diamante foi desenterrado de uma mina no Brasil. Sabe-se que se
formou no manto inferior porque contém inclusões de um mineral de
perovskite de silicato chamado davemaoite, que só ocorre a essas profundidades.
O mineral misterioso nele escondido pode revelar mais sobre as
condições existentes nas profundezas do solo. Para descobrir, os
geólogos enviaram um fragmento do pequeno diamante para França, onde
está a ser bombardeado com poderosos raios X de sincrotrão para determinar a estrutura cristalina precisa do mineral misterioso.
Os resultados ainda não são conhecidos, mas não seria o primeiro mineral novo a ser descoberto num diamante.
Quando a resposta chegar, os investigadores poderão descobrir, por
exemplo, a quantidade de água que estas placas de crosta oceânica
transportam para o manto inferior. Mas isso depende da estrutura cristalina exata dos novos minerais formados quando a crosta oceânica atinge a zona de transição entre o manto superior e o inferior e é transformada pela pressão e pelo calor.
Caça aos minerais desconhecidos
Korolev e os seus colegas do Museu estão a utilizar estes raros diamantes para estudar diretamente o material que constitui o interior da Terra – um reino subterrâneo sobre o qual ainda sabemos surpreendentemente pouco.
Como já referido, o trabalho poderá revelar novas informações
importantes, tais como a quantidade de água que é transportada para o
manto inferior quando as placas da crosta rochosa da Terra são
arrastadas para o interior do planeta nas zonas de subducção. Além
disso, poderemos também saber como, ou se, esta água profunda influencia
o comportamento das placas tectónicas da Terra.
Como escreve a New Scientist, poder-se-á também criar imagens do
interior da Terra estudando o comportamento das ondas sísmicas que
atravessam o planeta, enquanto as experiências de alta pressão em
laboratório e os modelos de computador podem simular as condições no
subsolo.
Os diamantes são o grande aliado destas investigações, porque são suficientemente fortes para manter a sua estrutura cristalina – bem como a estrutura dos minerais presos no seu interior
– através das mudanças extremas de pressão e temperatura que se
verificam no percurso das regiões mais profundas até à superfície.
“A forma exata como estes diamantes profundos fazem estas viagens continua a ser enigmática”, reflete Kate Kiseeva, petrologista do museu e conselheira de Korolev.
Kiseeva é fã da teoria que diz que os diamantes são transportados
para cima com material em convecção no manto inferior, demorando
centenas de milhões de anos a chegar às raízes rochosas dos continentes.
A partir daí, podem ser projetados para a superfície através de vulcões
de kimberlito profundamente enraizados.
Uma teoria alternativa é que os diamantes são transportados para a
base dos kimberlitos em colunas de rocha quente e flutuante, conhecidas
como plumas do manto.
in ZAP