Google Doodle de 18.04.2012 - 170º aniversário do nascimento de Antero de Quental
Nascido na
Ilha de São Miguel,
Açores, filho do combatente liberal Fernando de Quental (Solar do Ramalho - do qual mandou tirar a
pedra de armas da família -, 10 de maio de 1814 - Ponta Delgada,
Matriz, 7 de março de 1873) e de sua mulher Ana Guilhermina da Maia (
Setúbal,
16 de julho de 1811 - Lisboa, 28 de novembro de 1876), durante a sua
vida, Antero de Quental dedicou-se à poesia, à filosofia e à política.
Iniciou seus estudos na cidade natal, mudando para
Coimbra aos 16 anos, ali estudando Direito e manifestando as primeiras ideias
socialistas. Fundou em
Coimbra a
Sociedade do Raio, que pretendia renovar o país pela literatura.
Em
1861, publicou seus primeiros
sonetos. Quatro anos depois, publicou as
Odes Modernas, influenciadas pelo
socialismo experimental de
Proudhon, enaltecendo a
revolução. Nesse mesmo ano iniciou a
Questão Coimbrã, em que Antero e outros poetas foram atacados por
Antônio Feliciano de Castilho, por instigarem a revolução intelectual. Como resposta, Antero publicou os opúsculos
Bom Senso e Bom Gosto, carta ao Exmo. Sr. António Feliciano de Castilho, e
A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais.
Em
1873 herdou uma quantia considerável de dinheiro, o que lhe permitiu viver dos rendimentos dessa fortuna. Em
1874, com
tuberculose, descansou por um ano, mas em
1875, fez a reedição das
Odes Modernas.
Em
1879 mudou-se para o
Porto, e em
1886 publicou aquela que é considerada pelos críticos como sua melhor obra poética,
Sonetos Completos, com características autobiográficas e
simbolistas.
Em
1880, adoptou as duas filhas do seu amigo, Germano Meireles, que falecera em
1877. Em Setembro de
1881 foi, por razões de saúde e a conselho do seu médico, viver em
Vila do Conde, onde fixou residência até Maio de
1891, com pequenos intervalos nos
Açores e em
Lisboa.
O período em Vila do Conde foi considerado pelo poeta o melhor período
da sua vida: "Aqui as praias são amplas e belas, e por elas me passeio
ou me estendo ao sol com a voluptuosidade que só conhecem os poetas e os
lagartos adoradores da luz."
Em
1886 foram publicados os
Sonetos Completos, coligidos e prefaciados por Oliveira Martins. Entre março e outubro de
1887, permaneceu nos Açores, voltando depois a Vila do Conde. Devido à sua estadia em Vila do Conde, foi criada nesta cidade, em
1995, o "Centro de Estudos Anterianos"
Em
1890, devido à reacção nacional contra o ultimato inglês, de
11 de janeiro, aceitou presidir à Liga Patriótica do Norte, mas a existência da Liga foi efémera. Quando regressou a Lisboa, em maio de
1891, instalou-se em casa da irmã, Ana de Quental. Portador de
Distúrbio Bipolar, nesse momento o seu estado de depressão era permanente. Após um mês, em junho de
1891, regressou a Ponta Delgada, suicidando-se no dia
11 de setembro de
1891, com dois tiros, num banco de jardim junto ao
Convento da Esperança, no Campo de São Francisco.
Os seus restos mortais encontram-se sepultados no Cemitério de São Joaquim, em Ponta Delgada.
A poesia de Antero de Quental apresenta três faces distintas:
- A das experiências juvenis, em que coexistem diversas tendências;
- A da poesia militante, empenhada em agir como “voz da revolução”;
- E a da poesia de tom metafísico, voltada para a expressão da angustia de quem busca um sentido para a existência.
A oscilação entre uma poesia de combate, dedicada ao elogio da acção e
da capacidade humana, e uma poesia intimista, direcionada para a
análise de uma individualidade angustiada, parece ter sido constante na
obra madura de Antero, abandonando a posição que costumava enxergar uma
sequência cronológica de três fases.
Antero atinge um maior grau de elaboração em seus sonetos,
considerados por muitos críticos uns dos melhores da língua e comparados
aos de
Camões e aos de
Bocage.
Há, na verdade, alguns pontos de contato estilísticos e temáticos entre
esses três poetas: os sonetos de Antero têm inegável sabor clássico,
quer na adjetivação e na musicalidade equilibrada, quer na análise de
questões universais que afligem o homem.
Ignoto Deo
Esperemos no Senhor! Ele há tornado
Em suas mãos a massa inerte e fria
Da matéria impotente e n'um só dia,
Luz, movimento, ação, tudo lhe há dado.
Ele ao que é pobre d'alma há tributado
Carinho e amor; Ele conduz à via
Segura quem lhe foge e se extravia,
Quem um momento só não o há lembrado.
E a mim, que aspiro a Ele, a mim que o amo,
Que tenho vida em mim, que anseio o brilho,
Há de negar-me o termo d'este anseio?
Buscou quem o não quis; é a mim, que o chamo,
Há de fugir-me, como a ingrato filho?
Oh Deus! Senhor! meu Pai! espero! eu creio!
in Sonetos de Antero (1861) - Antero de Quental