Mostrar mensagens com a etiqueta suicídio. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta suicídio. Mostrar todas as mensagens

domingo, novembro 10, 2024

Torquato Neto partiu há cinquenta e dois anos...

(imagem daqui)
 
 
 
Era um pacato cidadão de roupa clara

   

era um pacato cidadão de roupa clara

seu terno, sua gravata lhe caíam bem

seu nome, que eu me lembre, era ezequias

casado, vacinado e sem ninguém.

brasileiro e eleitor, seu ezequias

reservista de terceira e com família

três filhos, prestações e alguns livros

(enciclopédias e biografias).

era um pacato cidadão de roupa clara

era um homem de bem que eu conhecia

cumpria seus deveres, trabalhava

chegava cedo em casa de madrugava

lutando pelo pão de cada dia.

era um pacato cidadão de roupa clara

e todo dia passava e me dizia

que o mundo estava andando muito mal

eu perguntava por que, eu perguntava

seu ezequias nunca me explicava

apenas repetia

lá dentro do seu puro tropical

este mundo vai seguindo muito mal

este mundo, meu filho, vai seguindo muito mal.

ah, seu ezequias!

que pena, que desastre, que tragédia

que coisa aconteceu naquele dia

seu ezequias, ah, seu ezequias

saiu do emprego e foi tomar cachaça

e apenas de manhã voltou pra casa

batendo na mulher, xingando os filhos

seu ezequias, ah seu ezequias

era um pacato cidadão de roupa clara

era um homem de bem que eu conhecia

e agora é a vergonha da família.

 

Torquato Neto

sábado, novembro 02, 2024

Keith Emerson, teclista dos Emerson, Lake & Palmer, nasceu há oitenta anos...

      
Keith Emerson (Todmorden, 2 de novembro de 1944 - Santa Monica, 10 de março de 2016) foi um pianista e compositor britânico. Ex-membro das bandas The T-Bones, V.I.P.s e P.P. Arnold (que se acabou por tornar nos The Nice), ficou mais conhecido depois de fundar a banda Emerson, Lake & Palmer (ELP), um dos primeiros supergrupos, em 1970. Quando os ELP acabaram, por volta de 1979, Emerson teve sucesso modesto noutras bandas como Emerson Lake & Powell, 3 e algumas reuniões do ELP no começo da década de 90. Em 2002, ele reuniu os The Nice e foram em turnê e, em 2006, foi em turnê com a The Keith Emerson Band
    
(...)
    
Keith Emerson cometeu suicídio, com um tiro na cabeça, na sua casa em Santa Monica, no dia 10 de março de 2016, aos 71 anos. De acordo com sua namorada, Mari Kawaguchi, vinha apresentando um comportamento depressivo e ansioso em virtude de críticas que vinha recebendo pela Internet, uma vez que um problema no nervo da mão direita vinha limitando as suas performances musicais.

 

terça-feira, outubro 29, 2024

A terça-feira negra do capitalismo norte-americano foi há 95 anos

29 de outubro de 1929: uma  multidão à porta da Bolsa de Valores de Nova Iorque 

 

A terça-feira negra, como é chamado o dia 29 de outubro de 1929, marcado pela série de suicídios ocorridos, por causa do desespero dos acionistas que faliram com a queda da New York Stock Exchange (Bolsa de Valores de Nova Iorque), em Wall Street e que e marca o início da Grande Depressão.
  

A poetisa Ana Cristina Cesar deixou-nos há 41 anos...


(imagem daqui)
   
Ana Cristina Cruz Cesar (Rio de Janeiro, 2 de junho de 1952 - Rio de Janeiro, 29 de outubro de 1983) foi uma poetisa e tradutora brasileira, conhecida como Ana Cristina Cesar (ou Ana C.). É considerada um dos principais nomes da geração mimeógrafo da década de 70 e tem o seu nome muitas vezes vinculado ao movimento de Poesia Marginal.

Biografia
Filha do sociólogo e jornalista Waldo Aranha Lenz Cesar e de Maria Luiza Cruz, Ana Cristina nasceu numa família culta e protestante, de classe média. Tinha dois irmãos, Flávio e Filipe.
Antes mesmo de aprender a ler, aos seis anos de idade, já ditava poemas para a sua mãe. Em 1969, Ana Cristina Cesar viajou para a Inglaterra em intercâmbio e passou um período em Londres, onde travou contacto com a literatura em língua inglesa. Quando regressou ao Brasil, com livros de Emily Dickinson, Sylvia Plath e Katherine Mansfield nas malas, dedicou-se a escrever e a traduzir, entrando para a Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), aos dezanove anos.
Cesar começou a publicar poemas e textos de prosa poética na década de 70 em coletâneas, revistas e jornais alternativos. Os seus primeiros livros, Cenas de Abril e Correspondência Completa, foram lançados em edições independentes. As atividades de Ana Cristina não pararam: pesquisa literária, um mestrado em comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), outra temporada na Inglaterra para um mestrado em tradução literária (na Universidade de Essex), em 1980, e a volta ao Rio, onde publicou Luvas de Pelica, escrito na Inglaterra. Em suas obras, Ana Cristina Cesar mantém uma fina linha entre o ficcional e o autobiográfico.
Cometeu suicídio aos trinta e um anos, atirando-se pela janela do apartamento dos pais, no oitavo andar de um edifício da Rua Tonelero, em Copacabana.
Armando Freitas Filho, poeta brasileiro, que foi o seu melhor amigo, foi a quem deixou a responsabilidade de cuidar postumamente das suas publicações. O acervo pessoal da autora está sob tutela do Instituto Moreira Salles. A família fez a doação, mediante a promessa dos escritos ficarem no Rio de Janeiro. Contudo, sabe-se que muitas cartas de Ana Cristina Cesar foram censuradas pela família, principalmente as recebidas do escritor Caio Fernando Abreu.


Tu Queres Sono: Despe-te dos Ruídos


Tu queres sono: despe-te dos ruídos, e
dos restos do dia, tira da tua boca
o punhal e o trânsito, sombras de
teus gritos, e roupas, choros, cordas e
também as faces que assomam sobre a
tua sonora forma de dar, e os outros corpos
que se deitam e se pisam, e as moscas
que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor (não ouças)
que se prepara para carpir tua vigília, e os cantos que
esqueceram teus braços e tantos movimentos
que perdem teus silêncios, o os ventos altos
que não dormem, que te olham da janela
e em tua porta penetram como loucos
pois nada te abandona nem tu ao sono.
 


Ana Cristina Cesar

quarta-feira, outubro 23, 2024

O poeta Antonio Cicero morreu hoje...

 

Antônio Cícero Correia Lima (Rio de Janeiro, 6 de outubro de 1945Zurique, 23 de outubro de 2024) foi um compositor, poeta, crítico literário, filósofo e escritor brasileiro. Em 10 de agosto de 2017 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, tomando posse em 16 de março de 2018.

 

Biografia

É filho dos piauienses Amélia Correia Lima e Ewaldo Correia Lima. Seu pai foi um dos intelectuais fundadores do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), tendo sido também diretor do BNDE durante o governo JK. Em 1960, Ewaldo assume um cargo executivo no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que então acabava de ser criado, e toda a família se transfere para Washington, D.C.. Lá, Antonio Cicero fará os seus estudos secundários.

De volta ao Brasil, Cicero começa a estuda Filosofia na PUC do Rio de Janeiro e, depois, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Em 1969, devido a problemas políticos, vai para Londres, onde conclui o curso de Filosofia na Universidade de Londres. Em 1976, Cicero vai fazer pós-graduação na Georgetown University, nos Estados Unidos, onde estuda grego e latim, o que lhe permitirá ler no original clássicos como Homero, Píndaro, Horácio e Ovídio. Posteriormente lecionará Filosofia e Lógica, em universidades do Rio de Janeiro.

Antonio Cicero escreve poesia desde jovem, mas seus poemas só apareceram para o grande público quando sua irmã, a cantora e compositora Marina Lima, passou a musicá-los. Antes, porém, já eram suas canções como Fullgás, Para Começar e À Francesa - as duas primeiras em parceria com sua irmã, e a última com Cláudio Zoli. A partir de então, Cicero tornar-se-ia um dos mais próximos parceiros de Marina. Entre outras parcerias, destacam-se aquelas com Waly Salomão, João Bosco, Orlando Morais, Adriana Calcanhotto e Lulu Santos (co-autor, junto com Antonio Cicero e Sérgio Souza, do hit O Último Romântico, de 1984).

De 1991 a 1992, Antonio Cicero coordenou, em colaboração com o poeta e professor de Filosofia da Universidade Federal Fluminense Alex Varella os cursos de Estética e Teoria da Arte do Galpão do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ).

Em 1993, concebeu, em colaboração com o poeta Waly Salomão e com o patrocínio do Banco Nacional, o projeto "Banco Nacional de Ideias", através do qual, nesse ano e nos dois anos subsequentes, promoveu ciclos de conferências e discussões de artistas e intelectuais de importância mundial, como João Cabral de Melo Neto, Haroldo de Campos, John Ashbery, Derek Walcott, Caetano Veloso, Richard Rorty, Tzvetan Todorov, Hans Magnus Enzensberger, Peter Sloterdijk, Ernest Gellner, Bento Prado Júnior e Darcy Ribeiro, entre outros.

Em 1994, organizou, em parceria com Waly Salomão, o livro O relativismo enquanto visão do mundo, que reúne as conferências realizadas pelo projeto Banco Nacional de Ideias nesse ano.

Em 1995, publicou O Mundo Desde o Fim, uma reflexão filosófica sobre a modernidade.

Em 1996, lançou o livro de poemas Guardar, vencedor do Prémio Nestlé de Literatura Brasileira na categoria estreante. Lançou também um CD em 1996, Antonio Cicero por Antonio Cicero, onde recita seus poemas.

Em 2001, seu poema "Guardar" foi incluído na antologia Os cem melhores poemas brasileiros do século, organizada por Ítalo Moriconi.

Em 2002, lançou o livro de poemas A cidade e os livros. No mesmo ano participou, junto com outros artistas como Gabriel o Pensador, Chico Buarque, Ronaldo Bastos e Fernando Brant, entre outros, de uma coletânea de quatro CDs em homenagem ao poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. Ainda em 2002, participou, junto a personalidades como José Saramago, Hermeto Pascoal e Wim Wenders, do documentário Janela da alma, de João Jardim e Walter Carvalho.

Em 2005, lançou o livro de ensaios filosóficos Finalidades sem fim, que foi finalista do Prémio Jabuti na categoria "Teoria / Crítica literária".

Em 2010, lançou, em parceria com o artista plástico Luciano Figueiredo, o Livro de sombras: pintura, cinema e poesia.

Em 2012, lançou o livro de poemas Porventura, o livro Poesia e filosofia (ensaio filosófico) e, como organizador, o livro de ensaios estéticos Forma e sentido contemporâneo: poesia. No mesmo ano, lançou o livro de entrevistas, organizado por Arthur Nogueira, Antonio Cicero por Antonio Cicero.

Antonio Cicero foi, de abril de 2007 a novembro de 2010, colunista do jornal Folha de S. Paulo.

Em junho de 2007, Antonio Cicero apresentou em Lisboa a palestra "Da atualidade do conceito de civilização", no encontro intitulado O Estado do Mundo, organizado pela Fundação Gulbenkian, publicada, em Portugal, no livro A urgência da teoria (Lisboa: Gulbenkian, 2007) e, na Inglaterra, traduzido por "On the concept of civilization", no livro The urgency of theory (Manchester: Carcanet, 2007). Em novembro de 2008, pronunciou a palestra de encerramento do Congresso Internacional Fernando Pessoa, em Lisboa, publicada, com o título de "Fernando Pessoa: poesia e razão", em Pessoa. Revista de ideias, em dezembro de 2010.

O escritor Antonio Cicero foi eleito no dia 10 de agosto 2017 para a cadeira 27 da Academia Brasileira de Letras (ABL), sucedendo Eduardo Portella, morto no dia 3 de maio deste ano. "Antonio Cicero é um dos escritores mais representativos da literatura brasileira contemporânea", declarou o presidente da ABL, acadêmico Domício Proença Filho. Cicero foi eleito por 30 votos. Concorreram na eleição 22 acadêmicos - 12 por cartas. Antes de Cicero, os ocupantes anteriores da cadeira 27 foram: Joaquim Nabuco – fundador da cadeira e que escolheu como patrono Maciel Monteiro, Dantas Barreto, Gregório da Fonseca, Levi Carneiro e Otávio de Faria.

Após ser diagnosticado com mal de Alzheimer, o poeta tomou a decisão de praticar morte assistida, por esse motivo transferindo-se para a Suíça, onde tal prática é legalizada. Lá, o procedimento foi realizado, sendo o falecimento do escritor anunciado em 23 de outubro de 2024.
 

in Wikipédia


 

O FIM DA VIDA



Conhece da humana lida
a sorte:
o único fim da vida
é a morte
e não há, depois da morte
mais nada.
Eis o que torna esta vida
sagrada:
ela é tudo e o resto, nada.



Antonio Cicero

segunda-feira, outubro 14, 2024

Soares dos Reis nasceu há 177 anos

Retrato de Soares dos Reis (1881), por Marques de Oliveira
   
António Manuel Soares dos Reis (Mafamude, Vila Nova de Gaia, 14 de outubro de 1847 - Santa Marinha, Vila Nova de Gaia, 16 de fevereiro de 1889) foi um ilustre escultor portuense, considerado um dos maiores escultores portugueses do século XIX
 
O Desterrado
 

Rommel morreu há oitenta anos...

  

Erwin Johannes Eugen Rommel (Heidenheim, 15 de novembro de 1891Herrlingen, 14 de outubro de 1944) (conhecido popularmente como A Raposa do Deserto) foi um marechal-de-campo do exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial.
Rommel ficou mundialmente famoso pela sua intervenção na África do Norte entre 1941 e 1943, no comando do Afrika Korps, um destacamento do exército alemão destinado a auxiliar as forças italianas que então batiam em retirada frente ao exército britânico. Pela sua audácia e domínio das táticas de guerra com blindados, obteve a alcunha de A Raposa do Deserto e entre os árabes como O Libertador, sendo temido e respeitado tanto por seus comandados quanto por seus inimigos.
  
(...)
  
Em 17 de julho de 1944, 41 dias após o início dos desembarques aliados do Dia D, Rommel foi gravemente ferido por um caça Spitfire canadiano e permaneceu hospitalizado vários dias. Nesse período, Claus von Stauffenberg executou o atentado de 20 de julho de 1944 contra Hitler, que escapou por pouco, com ferimentos leves (a mesa da conferência acabou por lhe servir de escudo). Sem nunca ter feito parte do partido nazi, Rommel tornara-se cada vez mais crítico do governo do Führer.

Morte
Implicado no atentado, pelas suas ligações com os oficiais conspiradores membros da resistência alemã, Rommel, ainda em recuperação médica, recebe na sua casa a visita de dois oficiais generais, a 14 de outubro de 1944.
Devido ao seu prestígio nacional, estes oficiais, leais a Hitler, trazem os termos do Führer a Rommel: ir para Berlim, passar por um julgamento popular e inevitavelmente ser condenado à morte, condenando também a sua família a ser confinada num campo de concentração ou, sozinho, acompanhar os dois oficiais e ingerir veneno para suicidar-se, opção esta que garantiria a integridade dos seus familiares. Rommel, sem dúvidas, escolhe a segunda alternativa, despede-se da família e acompanha os dois oficiais, embarcando no seu automóvel.
Às 13.25 horas os Generais Burgdorf e Maisel fizeram a entrega do cadáver de Rommel ao Hospital de Ulm. O médico-chefe, que se dispunha a proceder a autópsia, foi prontamente interrompido por Burgdorf que lhe disse: "Não toque no corpo. Em Berlim já se tomaram todas as providências." Talvez jamais se venha a saber o que exatamente se passou no caminho de Ulm. Burgdorf pereceu com Hitler, no subterrâneo da Chancelaria do Reich. Maisel, que ao final da guerra foi condenado, juntamente com o motorista das SS, afirmam terem recebido ordens de abandonar o carro durante alguns momentos, quando regressaram, encontraram Rommel agonizando.
     

domingo, outubro 13, 2024

Saudades de Cristovam Pavia...

(imagem daqui)

 

Não fugir. Suster o peso da hora
ao Nuno

Não fugir. Suster o peso da hora
Sem palavras minhas e sem os sonhos,
Fáceis, e sem as outras falsidades.
Numa espécie de morte mais terrível
Ser de mim despojado, ser
Abandonado aos pés como um vestido.
Sem pressa atravessar a asfixia.
Não vergar. Suster o peso da hora
Até soltar sua canção intacta.
 
 

in 35 poemas (1959) - Cristovam Pavia

A língua portuguesa perdeu dois dos seus maiores poetas há 56 anos...

     
Considera-se que Bandeira faça parte da geração de 1922 da literatura moderna brasileira, sendo seu poema Os Sapos o abre-alas da Semana de Arte Moderna de 1922. Juntamente com escritores como João Cabral de Melo Neto, Paulo Freire, Gilberto Freyre, Clarice Lispector e Joaquim Nabuco, entre outros, representa o melhor da produção literária do estado de Pernambuco.
     
  
    
O Último Poema

Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.


Manuel Bandeira

 

(imagem daqui)

 

Cristovam Pavia, ou Cristóvam Pavia, pseudónimo de Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho (Lisboa, 7 de outubro de 1933 - Lisboa, 13 de outubro de 1968) foi um poeta português, filho do também poeta Francisco Bugalho (da geração da revista Presença), oriundo de Castelo de Vide.

Além do pseudónimo Cristovam Pavia, António Flores Bugalho assinou composições com os pseudónimos Sisto Esfudo, Marcos Trigo e Dr. Geraldo Menezes da Cunha Ferreira.

Para José Bento, "A poesia de Cristovam Pavia é a revelação de si próprio, de uma personalidade em conflito com o mundo em que vive e que procura uma fuga pela recuperação da infância morta, pela aceitação do seu conhecer-se diferente e despojado do que lhe é mais caro (a infância, o amor, o espaço e o tempo em que ambos se situavam), a transformação do seu próprio ser pelo sofrimento, num movimento de ascese e de autodestruição, quando o poeta atinge a consciência de si próprio e da sua voz."

   

 


Requiem


(ao menino morto, eu próprio)

A tarde declina com uma luz ténue.
Estou grave e calmo.
E não preciso de ninguém
Nem a luz da tarde me comove: entendo-a.
Até as imagens me são inúteis porque contemplo tudo.

Os ventos rodam, rodam, gemem e cantam
E voltam. São os mesmos.
Como os conheço desde a infância!
E a terra húmida das tapadas da quinta...
O estrume da égua morta quando eu tinha seis anos
Gira transparente nesta brisa fria...
(Na noite gotas de orvalho sumiam-se sob as folhas das ervas)
Oh, não há solidão, nas neblinas de inverno
Pela erma planície...

E foi engano julgar-te morto e tão só nas tapadas em silêncio...

Agora sei que vives mais
Porque começo a sentir a tua presença, grande como o silêncio...
Já me não vem a vaga tristeza do teu chamamento longínquo
Já me confundo contigo. 
 


Cristovam Pavia

terça-feira, outubro 01, 2024

Donny Hathaway nasceu há 79 anos...

  

Donny Hathaway (Chicago, 1 de outubro de 1945 - Nova Iorque, 13 de janeiro de 1979) foi um cantor e compositor norte-americano de soul, gospel e jazz. Tem como maiores sucessos as músicas "A Song for You", "Jealous Guy", "For All We Know" e "The Closer I Get to You".

Hathaway teve seu primeiro contrato profissional com a gravadora Atlantic Records em 1969, gravando seu primeiro single "The Ghetto, Part I". No início dos anos 70, era considerado uma nova sensação na soul music. Na sua curta carreira lançou quatro álbuns de estúdio, sendo o primeiro "Everything is everything" em 1970.

No ano de 1973 foi-lhe diagnosticada esquizofrenia paranoica, sofrendo de fases de depressão desde os anos 60. Donny suicidou-se em 1979, perto do seu quarto de hotel, no Essex House Hotel, em Nova York.

Gravou com Roberta Flack a música "The Closer I Get to You e as ótimas "You Are My Heaven" e "Back Together Again".

Considerado um dos grandes nomes da soul music americana, foi homenageado com álbuns especiais após o seu falecimento, sendo influência artística e musical para as novas gerações. 

  

in Wikipédia

 


sexta-feira, setembro 20, 2024

Pedro Alpiarça morreu há dezassete anos...

   
Pedro Francisco Antunes Alpiarça (1958 - Lisboa, 20 de setembro de 2007) foi um ator português.

Iniciou-se como ator nas cooperativas de produção teatral independente, que marcaram a atividade cultural underground na década de 80. Ao mesmo tempo experimentava o teatro amador nas peças do Grupo de Teatro do Marítimo Atlético Clube, além do teatro universitário, enquanto estudante da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, no Curso de Pintura. Ao lado de Pedro Wilson e Rui Pisco passaria para o coletivo Máscara, dedicando-se ao teatro infanto-juvenil. Mais tarde, n' A Barraca, participou nas peças Liberdade em Bremen de Rainer Werner Fassbinder, O Avarento de Moliére, Floresta de Enganos de Gil Vicente ou A Cantora Careca de Ionesco. Nos últimos anos mantinha colaborações com O Nariz e com o Teatroesfera, além do Teatro Mínimo, de que foi um dos fundadores. A par disso desenvolveu diversas ações de animação teatral e formação de atores.
Foi ator regular na televisão, tendo participado num sem número de séries e sitcoms como Nico d' Obra (1997), Os Malucos do Riso (1998), Não és Homem Não és Nada (1999), Fábrica das Anedotas (2001), Maré Alta (2004) e O Prédio do Vasco (2006). No cinema teve participações nas longas-metragens Glória de Manuela Viegas (1999) e Dot.com de Luís Galvão Teles (2007).
Devido ao desemprego e tristeza, Pedro Alpiarça partiu uma janela do Hospital de Santa Marta, em Lisboa, e suicidou-se, atirando-se do 5º andar, devido a uma depressão. Foi velado na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, em Lisboa, no dia 21 de setembro de 2007.

quarta-feira, setembro 11, 2024

Hoje é dia de saudar Antero...

 

De pé (Saudação a Antero) - José Mário Branco

 

Força é reconhecerQue a morte, quando escolhidaÉ uma espécie de anteverA vida dentro da vidaÉ parecidaSó parecidaCom a vida por viver
 
Num jardim quadrangularÀ vista do oceanoPode perder-se o olharNa praia do desenganoÉ humanoSobre-humanoÉ ter um canto p'ra salvar
  
De pé meu canto não te rendasSaúda o mestre das oferendasCanta, canta, coraçãoQue o poeta só te dá o que lhe dão
   
De pé memória do futuroHá sempre luz ao fim do escuroNuma ilha só morre o que lá estáO que conta no que foi, é o que será
    
É bem pobre condiçãoRender-se ao desesperoE ver só morte na mãoDireita de AnteroO que eu queroPorque queroÉ negar a negação
    
Há uma ausência ferozQue veste a nossa mágoaE esquecemos que é por nósQue a fonte deita águaMas eu trago-aSim eu trago-aÉ a razão da minha voz
    De pé meu canto não te rendasSaúda o mestre das oferendasCanta, canta, coraçãoQue o poeta só te dá o que lhe dão
    
De pé memória do futuroHá sempre luz ao fim do escuroNuma ilha só morre o que lá estáO que conta no que foi, é o que será
   
Num jardim quadrangularÀ vista do oceanoPode perder-se o olharNa praia do desenganoÉ humanoSobre-humanoÉ ter um canto p'ra salvar
  
De pé meu canto não te rendasSaúda o mestre das oferendasCanta, canta, coraçãoQue o poeta só te dá o que lhe dão
   
De pé memória do futuroHá sempre luz ao fim do escuroNuma ilha só morre o que lá estáO que conta no que foi, é o que será

Antero partiu há cento e trinta e três anos...

   
Antero Tarquínio de Quental (Ponta Delgada, 18 de abril de 1842 - Ponta Delgada, 11 de setembro de 1891) foi um escritor e poeta português do século XIX que teve um papel importante no movimento da Geração de 70.
   
(...)
   
Em 1890, devido à reação nacional contra o ultimato inglês, de 11 de janeiro, aceitou presidir à Liga Patriótica do Norte, mas a existência da Liga foi efémera. Quando regressou a Lisboa, em maio de 1891, instalou-se em casa da irmã, Ana de Quental. Portador de distúrbio bipolar, nesse momento o seu estado de depressão era permanente. Após um mês, em junho de 1891, regressou a Ponta Delgada, cometendo suicídio no dia 11 de setembro de 1891, com dois tiros, num banco de jardim junto ao Convento de Nossa Senhora da Esperança, onde está na parede a palavra "Esperança", no Campo de São Francisco, cerca das vinte horas.
   
Local do suicídio de Antero, junto do Convento de Nossa Senhora da Esperança
    
  
Na Mão de Deus
  
Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depois do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

 

Antero de Quental

segunda-feira, setembro 09, 2024

Cesare Pavese nasceu há 116 anos...

undefined

Cesare Pavese (Santo Stefano Belbo, 9 de setembro de 1908 - Turim, 26 de agosto de 1950) foi um escritor e poeta italiano.

Combatente antifascista, o que lhe rendeu três anos de prisão no sul da Itália, nessa época, iniciou o seu diário "O Ofício de Viver", título original "Il Mestiere di Vivere", uma autocrítica revelada em reflexões sobre a sua arte, seus processos criativos e sobre o sentido da existência.

 

Biografia

Cesare Pavese nasceu em Santo Stefano Belbo, nas Langhe (província de Cuneo), tendo-se mudado ainda em criança para Turim, donde se ausentou sempre apenas durante pouco tempo: passou um ano na prisão em Barcaleone (Reggio Calabria), comprometido por amigos políticos; passou algum tempo em Roma em trabalho para a editora Einaudi, da qual foi um dos mais eficazes conselheiros editoriais; suicidou-se em Turim em 1950.

A sua tese de licenciatura foi sobre Walt Whitman, e já não era um desconhecido quando, em 1936, publicou Lavorare stanca: tinha já publicado e continuaria a publicar estudos sobre literatura norte-americana clássica e contemporânea, reunidos num volume (La letteratura americana e altri saggi) publicado postumamente em 1951. Traduziu Daniel Defoe (Moll Flanders), Charles Dickens, Herman Melville (Moby Dick e Benito Cereno), James Joyce (Dedalus), Sinclair Lewis, John dos Passos, Gertrude Stein e William Faulkner.
 
 
 
 
undefined
 
 
Verrà la morte e avrà i tuoi occhi
 
 
Verrà la morte e avrà i tuoi occhi
questa morte che ci accompagna
dal mattino alla sera, insonne,
sorda, come un vecchio rimorso
o un vizio assurdo. I tuoi occhi
saranno una vana parola,
un grido taciuto, un silenzio.
Cosí li vedi ogni mattina
quando su te sola ti pieghi
nello specchio. O cara speranza,
quel giorno sapremo anche noi
che sei la vita e sei il nulla.

Per tutti la morte ha uno sguardo.
Verrà la morte e avrà i tuoi occhi.
Sarà come smettere un vizio,
come vedere nello specchio
riemergere un viso morto,
come ascoltare un labbro chiuso.
Scenderemo nel gorgo muti.
 
 
 
O mesmo poeta, traduzido para português:


Virá a morte e terá os teus olhos

Virá a morte e terá os teus olhos -
esta morte que nos acompanha
de manhã até à noite, insone,
surda, como um remorso antigo
ou um vício absurdo. Os teus olhos
serão uma palavra inútil,
um grito reprimido, um silêncio.
Assim os vês todas as manhãs
quando sozinha te inclinas
diante do espelho. Ó cara esperança,
nesse dia saberemos nós também
que és a vida e és o nada.

Para todos a morte tem um olhar.
Virá a morte e terá os teus olhos.
Será como abandonar um vício,
como ver no espelho
ressurgir um rosto morto,
como escutar lábios fechados.
Mudos, desceremos ao abismo.


Cesare Pavese

sábado, agosto 31, 2024

O músico Bob Welch nasceu há 79 anos...

Bob Welch (esquerda) e o engenheiro de gravação Jimmy Robinson, na Record Plant, em Sausalito, Califórnia

 

Robert Lawrence "Bob" Welch, Jr. (Hollywood, 31 de agosto de 1945 – Antioch, Tennessee, 7 de junho de 2012) foi um cantor e compositor norte-americano de rock.

Bob tornou-se notável como vocalista e guitarrista dos Fleetwood Mac, de 1971 a 1974, na fase de transição do grupo entre a sua formação original de blues e a formação clássica, de orientação pop rock. Ao sair da banda, por problemas pessoais, foi substituído por Lindsey Buckingham e, com a colaboração de integrantes dos Mac como Buckingham e Christine McVie, teve uma carreira a solo bem-sucedida no fim dos anos 70, mas que declinou na década de 80. Os seus singles incluem "Hot Love, Cold World," "Ebony Eyes," "Precious Love" e a famosa faixa "Sentimental Lady."

Welch morreu em 2012, vítima de suicídio.

 

in Wikipédia

 


segunda-feira, agosto 26, 2024

Cesare Pavese morreu há 74 anos...

undefined

Cesare Pavese (Santo Stefano Belbo, 9 de setembro de 1908 - Turim, 26 de agosto de 1950) foi um escritor e poeta italiano.

Combatente antifascista, o que lhe rendeu três anos de prisão no sul da Itália. Nessa época, iniciou o seu diário "O Ofício de Viver", título original "Il Mestiere di Vivere", uma autocrítica revelada em reflexões sobre a sua arte, seus processos criativos e sobre o sentido da existência.

 

Biografia

Cesare Pavese nasceu em Santo Stefano Belbo, nas Langhe (província de Cuneo), tendo-se mudado ainda em criança para Turim, donde se ausentou sempre apenas durante pouco tempo: passou um ano na prisão em Barcaleone (Reggio Calabria), comprometido por amigos políticos; passou algum tempo em Roma em trabalho para a editora Einaudi, da qual foi um dos mais eficazes conselheiros editoriais; suicidou-se em Turim em 1950.

A sua tese de licenciatura foi sobre Walt Whitman, e já não era um desconhecido quando, em 1936, publicou Lavorare stanca: tinha já publicado e continuaria a publicar estudos sobre literatura norte-americana clássica e contemporânea, reunidos num volume (La letteratura americana e altri saggi) publicado postumamente em 1951. Traduziu Daniel Defoe (Moll Flanders), Charles Dickens, Herman Melville (Moby Dick e Benito Cereno), James Joyce (Dedalus), Sinclair Lewis, John dos Passos, Gertrude Stein e William Faulkner.
 
 
 
 
undefined
 
 

You, wind of March

 

És a vida e a morte.
Vieste de março
para a terra nua -
e dura ainda o teu arrepio.
Sangue de primavera
anémona ou nuvem-
o teu passo leve
violou a terra.
Recomeça a dor.

O teu passo leve
reabriu a dor.
Estava fria a terra
debaixo do triste céu,
imóvel e fechada
num sonho tórpido,
como quem já não sofre.
Também o gelo era doce
dentro do coração profundo.
Entre a vida e a morte
a esperança calava-se.

Agora tudo o que vive
tem voz e sangue.
Agora a terra e o céu
são um arrepio forte,
torce-os a esperança,
transtorna-os a manhã,
submerge-os o teu passo,
o teu hálito de aurora.
Sangue de primavera,
toda a terra treme
dum tremor antigo.

Reabriste a dor.
És a vida e a morte.
Sobre a terra nua
passaste leve
como andorinha ou nuvem,
e a torrente do coração
reanimou-se e jorra
e espelha-se no céu
e reflete as coisas -
e as coisas, no céu e no coração
sofrem e contorcem-se
à tua espera.
É a manhã, é a aurora,
sangue de primavera,
tu violaste a terra.

A esperança torce-se,
e espera-te e chama-te.
És a vida e a morte.
O teu passo é leve.

 

Cesare Pavese

sábado, agosto 24, 2024

Getúlio suicidou-se há setenta anos...

    
Getúlio Dornelles Vargas (São Borja, 19 de abril de 1882 - Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1954) foi um advogado e político brasileiro, líder civil da Revolução de 1930, que pôs fim à República Velha, depondo o seu 13º e último presidente, Washington Luís, e impedindo a posse do presidente eleito, a 1 de março de 1930, Júlio Prestes.
Foi presidente do Brasil em dois períodos. O primeiro de 15 anos ininterruptos, de 1930 até 1945, e que se dividiu em 3 fases: de 1930 a 1934, como chefe do "Governo Provisório"; de 1934 até 1937 como presidente da república do Governo Constitucional, tendo sido eleito presidente da república pela Assembleia Nacional Constituinte de 1934; e de 1937 a 1945, como presidente-ditador, enquanto durou o Estado Novo implantado após um golpe de estado.
No segundo período, em que foi eleito por voto direto, Getúlio governou o Brasil como presidente da república, por 3 anos e meio: de 31 de janeiro de 1951 até 24 de agosto de 1954, quando se suicidou.
Getúlio era chamado pelos seus simpatizantes de "o pai dos pobres", frase bíblica (livro de Job-29:16) e um dos títulos de São Vicente de Paulo, e título criado pelo seu Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, enfatizando o facto de Getúlio ter criado muitas das leis sociais e trabalhistas brasileiras.
A sua doutrina e seu estilo político foram denominados de "getulismo" ou "varguismo". Os seus seguidores, até hoje existentes, são denominados "getulistas". As pessoas próximas o tratavam por "Doutor Getúlio", e as pessoas do povo o chamavam de "O Getúlio", e não de "Vargas".
Cometeu suicídio no ano de 1954, com um tiro no coração, no seu quarto, no Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, então capital federal. Getúlio Vargas foi considerado o mais importante presidente da história do Brasil. A sua influência se estende até hoje, pois a sua herança política é invocada por pelo menos dois partidos políticos atuais: o Partido Democrático Trabalhista (PDT) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Getúlio Vargas foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, em 15 de setembro de 2010, pela lei nº 12.326.
   
(...)
   
Por causa do crime da rua Tonelero Getúlio foi pressionado, pela imprensa e por militares, a renunciar ou, ao menos, licenciar-se da presidência. O Manifesto dos Generais, de 22 de agosto de 1954, pede a renúncia de Getúlio. Foi assinado por 19 generais de exército, entre eles, Castelo Branco, Juarez Távora e Henrique Lott e dizia: "Os abaixo-assinados, oficiais generais do Exército...solidarizando com o pensamento dos camaradas da Aeronáutica e da Marinha, declaram julgar, como melhor caminho para tranquilizar o povo e manter unidas as forças armadas, a renúncia do atual presidente da República, processando sua substituição de acordo com os preceitos constitucionais".
Esta crise levou Getúlio Vargas ao suicídio na madrugada de 23 para 24 de agosto de 1954, logo depois de sua última reunião ministerial, na qual fora aconselhado, por ministros, a se licenciar da presidência. Getúlio registou na sua agenda de compromissos, na página do dia 23 de agosto de 1954, segunda-feira: "Já que o ministério não chegou a uma conclusão, eu vou decidir: determino que os ministros militares mantenham a ordem pública. Se a ordem for mantida, entrarei com pedido de licença. Em caso contrário, os revoltosos encontrarão aqui o meu cadáver."
Getúlio concordou em se licenciar sob condições, que constavam da nota oficial da presidência da república divulgada naquela madrugada: "Deliberou o Presidente Getúlio Vargas.... entrar em licença, desde que seja mantida a ordem e os poderes constituídos..., em caso contrário, persistirá inabalável no propósito de defender suas prerrogativas constitucionais, com sacrifício, se necessário, de sua própria vida".
Getúlio, no final da reunião ministerial, assina um papel, que os ministros não sabiam o que era, nem ousaram perguntar. Encerrada a reunião ministerial, sobe as escadas para ir ao seu apartamento. Vira-se e despede-se do ministro da Justiça Tancredo Neves, dando a ele uma caneta Parker 21 de ouro e diz: "Para o amigo certo das horas incertas"!
A data não poderia ser mais emblemática: Getúlio, que se sentia massacrado pela oposição, pela "República do Galeão" e pela imprensa, escolheu a noite de São Bartolomeu para a sua morte. Getúlio Vargas cometeu suicídio, com um tiro no coração, nos seus aposentos no Palácio do Catete, na madrugada de 24 de agosto de 1954. Tancredo contou a Carlos Heitor Cony, em 3 de agosto de 1984, como foram os últimos minutos de Getúlio. O depoimento de Tancredo saiu na Revista Manchete de 1 de setembro de 1984:
Cquote1.svg "Por volta das sete e meia, oito horas da manhã, ouviu-se o estampido seco. Desceu o elevador, às pressas, o Coronel Dornelles, um dos oficiais de serviço na presidência. Nós subimos apressadamente para o quarto onde o presidente se achava. Os primeiros a entrar foram o General Caiado, Dona Darci, Alzira, Lutero e eu. Encontramos o presidente de pijama, como meio corpo para fora da cama, o coração ferido e dele saindo sangue aos borbotões. Alzira de um lado, eu do outro, ajeitamos o presidente no leito, procuramos estancar o sangue, sem conseguir. Ele ainda estava vivo. Havia mais pessoas no quarto quando ele lançou um olhar circunvagante e deteve os olhos na Alzira. Parou, deu a impressão de experimentar uma grande emoção. Neste momento, ele morre. Foi uma cena desoladora. Todos nós ficamos profundamente compungidos; esse desfecho não estava na nossa previsão. O presidente em momento nenhum demonstrou qualquer traço de emoção, nunca perdeu o seu autodomínio, jamais perdeu sua imperturbável dignidade, de maneira que foi um trágico desfecho, que surpreendeu a todos e nos deixou arrasados." Cquote2.svg
Tancredo Neves
   

domingo, agosto 18, 2024

Sousa Martins morreu há 127 anos...

    
José Tomás de Sousa Martins (Alhandra, 7 de março de 1843 - Alhandra, 18 de agosto de 1897) foi um médico e professor catedrático da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, antecessora da Faculdade de Medicina de Lisboa. Formado em Farmácia e Medicina, trabalhou intensa e, na maioria dos casos, gratuitamente, sobretudo no combate à tuberculose. Orador brilhante, dotado de humor e inteligência, homem de atividade inesgotável e praticante incansável da caridade junto aos mais desfavorecidos, exerceu uma forte influência sobre os colegas de profissão, os alunos e os pacientes que tratou. Esta influência metamorfoseou-se e perpetuou-se no tempo, tendo a figura de Sousa Martins assumido contornos de santo laico, num culto atual, bem visível nos ex-votos colocados em torno da sua estátua no Campo de Santana, em Lisboa, e no cemitério de Alhandra, onde está sepultado. Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa.
     
(...)
   
Monumento em homenagem a Sousa Martins, Campo de Santana, Lisboa
   
Adoeceu quando se encontrava em Veneza, regressando a Lisboa muito debilitado. Diagnosticada tuberculose, partiu para a Serra da Estrela à procura de alívio. Aparentemente convalescendo, recolheu-se a Alhandra, onde se instalou numa quinta, propriedade de amigos, tentando recuperar.
A doença agravou-se e aos 54 anos, tuberculoso terminal e sofrendo de lesão cardíaca, Sousa Martins cometeu suicídio, com uma injeção de morfina. Pouco antes, havia confidenciado a um amigo: "A morte não é mais forte do que eu" e "Um médico ameaçado de morte por duas doenças, ambas fatais, deve eliminar-se por si mesmo".
Na mensagem que enviou ao saber da morte de Sousa Martins, o rei D. Carlos I de Portugal afirmou: Ao deixar o mundo, chorou-o toda a terra que o conheceu. Foi uma perda irreparável, uma perda nacional, apagando-se com ele a maior luz do meu reino.
Também sobre ele, António Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina, disse: Notável professor que deixou, atrás de si, um nome aureolado de preletor admirável, de clínico, de orador consagrado, sempre alerta nas justas da Sociedade das Ciências Médicas.
Por sua vez Guerra Junqueiro considerou-o:
Eminente homem que radiou amor, encanto, esperança, alegria e generosidade. Foi amigo, carinhoso e dedicado dos pobres e dos poetas. A sua mão guiou. O seu coração perdoou. A sua boca ensinou. Honrou a medicina portuguesa e todos os que nele procuraram cura para os seus males.
O principal hospital da cidade da Guarda tem o nome de Hospital Sousa Martins, em homenagem ao trabalho pioneiro de Sousa Martins sobre a tuberculose e climoterapia que conduziu à promoção da Serra da Estrela como área propícia à instalação de sanatórios para o tratamento de tuberculosos. Para além disso, existem vários sítios que homenageiam o Dr. Sousa Martins, entre os quais um concorrido monumento, de autoria de Costa Motta (tio) no Campo de Santana, em Lisboa; um jazigo no Cemitério de Alhandra, onde se encontra sepultado; a Casa-Museu Dr. Sousa Martins, em Alhandra; e o busto do Dr. Sousa Martins, no Largo 7 de Março, na baixa alhandrense. Também a toponímia da cidade da Guarda, à qual o nome de Sousa Martins está associado desde o início do século XX mercê da estrutura sanatorial que ali existiu, o recorda no nome de uma das ruas do moderno Bairro da Senhora dos Remédios. Um pequeno monumento erguido dentro dos muros do antigo Sanatório da Guarda continua, diariamente, a receber preces e agradecimentos e, à semelhança do monumento lisboeta do Campo de Santana, está quase sempre emoldurado de flores e de ex-votos diversos.
Os adeptos do espiritismo pretendem que ele tenha sido seguidor desta crença, embora não haja nenhuma prova que o confirme; muitos dos adeptos dessa crença atribuem-lhe curas milagrosas por intermédio das suas comunicações mediúnicas, como aliás fazem com outros opositores da sua crença, veja-se por exemplo o famoso Padre Miguel do Soito (Sabugal), que era um sacerdote católico. A 7 de março e a 18 de agosto de cada ano, aniversários do seu nascimento e morte, milhares de devotos visitam e rezam sobre o seu túmulo e outros locais onde está representado (como junto da sua estátua no Campo de Santana, em Lisboa).