Mikhail Botvinnik nasceu no
Grão-ducado da Finlândia, então parte do
Império Russo na localidade de Kuokkala, hoje chamada Repino, no
Óblast de Leningrado. Apareceram notícias suas no mundo do xadrez quando tinha apenas catorze anos e derrotou o campeão mundial
José Raúl Capablanca. Progredindo de forma rápida, aos vinte anos de idade já Botvinnik era
um mestre soviético de mérito firmado, tendo vencido pela primeira vez o
Campeonato Soviético em
1931. Este feito repetiu-se nos anos de
1933,
1939,
1941,
1945 e
1952. Aos 24 anos, Botvinnik competia de igual para igual com a elite
mundial, acumulando sucessos em torneios internacionais em alguns dos
torneios mais fortes da época. Podemos referir as vitórias em
Moscovo em
1935 (empatado com
Salo Flohr e deixando para trás
Emanuel Lasker e Capablanca) e em
Nottingham em
1936, para além do prestigioso terceiro lugar (atrás de
Reuben Fine e Paul Keres) no torneio AVRO em
1938.
Sem surpresa, Botvinnik
continuou a sua senda de sucesso e deteve o título de Campeão do Mundo
em três períodos distintos (1948-57, 1958-60 e 1961-63). A sua longa
permanência na elite mundial do xadrez é atribuída à sua impressionante
dedicação ao estudo. A preparação dos jogos e a sua análise posterior
não eram armas que os seus antecessores esgrimissem, sendo contudo este
estudo que conferia a Botvinnik muita da sua força. A técnica em vez
da tática, perícia no final em vez das armadilhas nas aberturas.
Adoptou e desenvolveu linhas sólidas de aberturas na
Nimzo-Indiana,
Defesa Eslava e
Defesa Francesa, que se aguentaram perante vários testes, sendo-lhe possível concentrar-se num pequeno repertório de aberturas durante os seus
match’s
mais importantes, permitindo-lhe frequentemente encaminhar o jogo para
temas bem preparados. Por várias vezes defrontou, em encontros de
treino "secretos", mestres do calibre de Flohr, Yuri Averbakh e
Viacheslav Ragozin. Foi o desvendar, muitos anos depois, dos detalhes
destes encontros, que proporcionou aos historiadores do xadrez uma
abordagem inteiramente nova ao reinado de Botvinnik.
É
talvez surpreendente que Mikhail Moiseyevich Botvinnik não seja
solidamente apontado como um concorrente ao título de melhor jogador de
todos os tempos.
Sem surpresa,
Botvinnik continuou a sua senda de sucesso e deteve o título de Campeão
do Mundo em três períodos distintos (1948-57, 1958-60 e 1961-63). A
sua longa permanência na elite mundial do xadrez é atribuída à sua
impressionante dedicação ao estudo. A preparação dos jogos e a sua
análise posterior não eram armas que os seus antecessores esgrimissem,
sendo contudo este estudo que conferia a Botvinnik muita da sua força. A
técnica em vez da tática, perícia no final em vez das armadilhas nas
aberturas.
Por um lado, os seus
feitos foram indubitavelmente impressionantes e deve ser recordado que
muitos dos seus rivais, os mais jovens Paul Keres, David Bronstein,
Vasily Smyslov,
Mikhail Tal e
Tigran Petrosian
eram, por mérito próprio, jogadores formidáveis. Ele ainda iniciou uma
nova forma de encarar o xadrez, com a sua forma de treino e profunda
preparação das aberturas.
Por outro lado, os críticos apontam o facto de raramente aparecer em torneios após a
Segunda Guerra Mundial e o seu registo fraco em
match’s
do campeonato do mundo – duas derrotas, das quais conseguiu recuperar o
título na desforra, tendo lutado para conseguir empatar os outros dois
match’s. Muitos consideram ainda que o jogo de Botvinnik era
baseado na precisão dos movimentos, em vez de o ser nas jogadas
intuitivas ou espetaculares – embora o jogador, de classe mundial,
Reuben Fine tenha escrito que a coleção dos melhores jogos de Botvinnik era uma das "três mais belas".
Três
fatores contribuíram para o seu registo algo inconsistente. A Segunda
Guerra Mundial rebentou exatamente quando Botvinnik entrou no seu
melhor período – ele poderia ter sido campeão mundial cinco anos mais cedo,
se a guerra não tivesse interrompido as competições internacionais de
xadrez. Ele foi o único xadrezista de classe mundial que tinha, em
simultâneo com a sua atividade no xadrez, uma distinta e longa carreira
noutro área – o governo soviético condecorou-o pelos seus feitos em
engenharia, e Fine contava uma história que mostrava que Botvinnik
estava igualmente comprometido com a engenharia e o xadrez. Finalmente,
os campeões do mundo anteriores estavam livres para evitar os seus
concorrentes mais fortes, da mesma forma que se passa com os pesos
pesados do boxe atualmente – Botvinnik foi o primeiro campeão a ter de
enfrentar os seus concorrentes mais fortes de três em três anos, e ainda
assim conservou o título mais tempo que qualquer um dos seus
sucessores excetuando
Garry Kasparov.
Dos
anos 60 em diante, Mikhail Botvinnik preferiu, em vez da competição,
dedicar-se ao desenvolvimento de programas de xadrez para computador e
assistir e treinar jogadores mais novos – os três famosos
K’s soviéticos,
Anatoly Karpov,
Garry Kasparov e
Vladimir Kramnik foram três dos seus muitos estudantes.