Invasão
A 7 de dezembro de 1975 Timor-Leste foi
invadido pela Indonésia, que a ocupou durante os 24 anos seguintes. Timor mergulhou na violência fratricida e o governador
Mário Lemos Pires, destituído de orientações precisas de
Lisboa
e sem forças militares suficientes para reimpor a autoridade
portuguesa, abandonou a capital e refugiou-se na ilha de Ataúro, que
fica de frente para a cidade de Díli (atual capital de Timor-Leste).
A Indonésia justificou a invasão alegando a defesa contra o comunismo, discurso que lhe garantiu apoio do governo dos
Estados Unidos e da
Austrália, entre outros, mas que não impediu a sua condenação pela comunidade internacional.
A invasão indonésia seguiu-se uma das maiores tragédias do pós II
Guerra Mundial. A Indonésia recorreu a todos os meios para dominar a
resistência: calculam-se em duzentas mil as vítimas de combates e
chacinas; as forças policiais e militares usavam de forma sistemática e
sem controlo meios brutais de tortura, a população rural, nas áreas de
mais acesa disputa com a guerrilha, era encerrada em "aldeias de
recolonização", procedeu-se à esterilização forçada de mulheres
timorenses.
Simultaneamente, a fim de dar ao facto consumado da ocupação um
carácter irreversível, desenvolveu-se uma política de descaracterização
do território, quer no plano cultural (proibição do ensino do
português e a islamização), quer no plano demográfico (
javanização),
quer ainda no plano político (integração de Timor na Indonésia como
sua 27ª província). A esta descaracterização há que acrescentar a
exploração das riquezas naturais através de um acordo com a Austrália
para a exploração do
petróleo no
Mar de Timor.
Independência
No terreno, a guerrilha não se rendeu, embora com escassos recursos
materiais, humanos e financeiros e apesar de ter sofrido pesados
desaires, como a deserção de dirigentes e a perda de outros, pela morte
em combate de
Nicolau Lobato ou por detenção de
Xanana Gusmão.
Embora reduzida a umas escassas centenas de homens mal armados e
isolados do mundo, conseguiu, nos tempos mais recentes, alargar a sua
luta ao meio urbano com manifestações de massas e manter no exterior uma
permanente luta diplomática, para o que contou, em muitas
circunstâncias, com a compreensão e o apoio da
Igreja Católica local, liderada por D.
Carlos Ximenes Belo, bispo de Díli.
Para atingir a almejada independência, Timor-Leste contou antes do mais
com as suas próprias forças e capacidade de resistência, mas também
com apoios externos de ativistas em todo o mundo, bem como da
diplomacia de países amigos, em particular os de língua portuguesa. Em
Portugal, nomeadamente, além da ação do governo, muitos núcleos de
ativistas pró-Timor foram formados, culminando em 1999 com um buzinão
permanente em frente à embaixada dos Estados Unidos, e um cordão humano
gigante cercando as embaixadas de potências influentes.
Em 30 de agosto de 1999, os timorenses votaram, por esmagadora maioria,
pela independência, pondo fim a 24 anos de ocupação indonésia, na
sequência de um
referendo promovido pelas
Nações Unidas.
O resultado do referendo gerou confrontos por parte de grupos
pró-Indonésia. O conflito, que destruiu boa parte da infraestrutura do
país e matou cerca de duzentas mil pessoas (1/4 da população), só foi
resolvido com a mobilização da
Missão das Nações Unidas de Apoio no Timor-Leste (UNMISET). Em 20 de maio de 2002 a independência de Timor-Leste foi restaurada e as
Nações Unidas entregaram o poder ao primeiro Governo Constitucional de Timor-Leste.
Nos meses anteriores, o Presidente Jusuf Habibie tinha feito várias
declarações públicas em que ele mencionava que os custos de manutenção
de
subsídios
monetários para apoiar a província não foram equilibrados por qualquer
benefício mensurável para a Indonésia. Devido a esta desfavorável
análise custo-benefício, a decisão mais racional seria ser dada, à
província, que não fazia parte dos limites originais da Indonésia até
1945, a escolha democrática sobre se queria ou não permanecer na
Indonésia. Esta escolha também ficou ligada com o programa de
democratização geral de Habibie, no período pós-
Suharto.
Como etapa de acompanhamento para o pedido de Habibie, a ONU organizou uma reunião entre o governo indonésio e o governo
português (que detinha a autoridade colonial anterior sobre Timor-Leste). Em
5 de maio de
1999,
essas negociações resultaram no "Acordo entre a República da Indonésia
e a República Portuguesa sobre a Questão de Timor-Leste". O referendo
seria realizado para determinar se Timor Leste permaneceria parte da
Indonésia como uma Região Autónoma Especial, ou separar-se-ia da
Indonésia. O referendo foi
organizado e monitorizado pela Missão das Nações Unidas em Timor-Leste
(UNAMET) e 450.000 pessoas estavam aptas a votar, incluindo 13.000
timorenses fora dos limites territoriais do Timor-Leste.
O governo indonésio aceitou o resultado em
19 de outubro de
1999, revogando as leis que formalmente anexavam Timor-Leste à Indonésia. As
Nações Unidas
aprovaram uma resolução que instituía a Administração Transitória das
Nações Unidas em Timor Leste (UNTAET), que levaria à independência do
país, em maio de 2002.
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