Foi o irmão mais jovem do ministro e
linguista prussiano Wilhelm von Humboldt.
Biografia
Alexander von Humboldt foi um cientista de uma polivalência que
poucas vezes se observou e, haja visto como a ciência se desenvolveu e
especializou, certamente nunca mais será vista. Ele desenvolveu e especializou-se em diversas áreas: foi
etnógrafo,
antropólogo,
físico,
geógrafo,
geólogo,
mineralogista,
botânico,
vulcanólogo e
humanista, tendo lançado as bases de ciências como a
Geografia,
Geologia,
Climatologia e
Oceanografia. Apesar de ter pesquisado diversas coisas nos seus mínimos detalhes, sempre o fez com uma visão geral e imparcial.
Em
1789, com apenas vinte anos de idade, fez a sua primeira viagem de caráter científico, passando pelos
Países Baixos,
Alemanha e
Inglaterra, e principalmente ao longo das margens do rio
Reno, seguindo
Georg Forster, um naturalista que acompanhou o
Capitão Cook na sua viagem ao redor do mundo. O resultado de toda essa exploração científica foi uma obra intitulada
Observações Sobre os Basaltos do Reno.
A sua viagem exploratória pela
América Central e
América do Sul (
1799-
1804) e pela
Ásia Central (
1829) tornaram-no mundialmente conhecido ainda antes da sua morte. A sua principal obra é o
Kosmos, uma condensação do conhecimento científico da sua época. A sua obra
Ansichten der Natur também foi bastante popular.
A sua correspondência científica com colegas cientistas compõe-se de 35
mil cartas, das quais aproximadamente 12.500 estão arquivadas.
Espécies e lugares denominados em homenagem a Humboldt
Entre
1799 e
1804, von Humboldt viajou pela
América do Sul, explorando-a e descrevendo-a pela primeira vez sob um ponto de vista científico. Nos cinco volumes da sua obra
Kosmos, ele tentou elaborar uma descrição física do mundo. Humboldt apoiou (e colaborou com) outros cientistas, entre os quais
Justus von Liebig e
Louis Agassiz.
Como resultado de suas explorações, von Humboldt descreveu diversos
aspetos geográficos e espécies que eram até então desconhecidos dos
europeus. Espécies denominadas em sua homenagem incluem:
A Fundação Alexander von Humboldt
Após a sua morte, seus amigos e colegas criaram a
Fundação Alexander von Humboldt (
Stiftung em
alemão) para manter o generoso apoio de Humboldt a jovens cientistas. Apesar de a dotação inicial ter sido perdida durante a
hiperinflação alemã dos
anos vinte, e novamente após a
Segunda Guerra Mundial,
a fundação tem recebido apoio do governo alemão e tem um papel
importante na atração de pesquisadores estrangeiros à Alemanha,
possibilitando também a pesquisadores alemães trabalharem no estrangeiro
por um determinado período.
Vida e viagens de Humboldt
Com nove anos de idade, após a morte de seu pai, Alexander e seu irmão
Wilhelm, dois anos mais velho, são criados pela mãe, Maria Elizabeth
von Colomb, no
castelo de Tegel, nos arredores de Berlim.
O segundo tutor dos Humboldt, Gottlob Christian Kunth, tem um papel
importante na vida de Alexander. Ele transmite aos irmãos Humboldt
sólidas bases de
História,
Matemática e línguas. Alexander demonstra grande interesse pela
História Natural.
Enquanto Wilhelm demonstra uma robusta constituição, grande facilidade
de aprendizagem e se orienta para a alta função pública, Alexander aprende
com dificuldade, orientando-se para uma formação em Economia, que ele
estuda durante seis meses na universidade de
Frankfurt (Oder). Um ano mais tarde, em
25 de abril de
1789, ele matricula-se na universidade de
Göttingen.
Em Göttingen tem aulas de
Física e
Química com
G. C. Lichtenberg,
C. G. Heyne e
J. C. Blumenbach. Durante as suas férias de
1789 ele deu uma demonstração das suas proezas posteriores numa excursão científica que subiu o
Reno, que originou o estudo
Mineralogische Beobachtungen über einige Basalte am Rhein (Brunswick, 1790) (Observações mineralógicas sobre alguns basaltos do Reno).
Alexander von Humboldt estudou ainda o
Comércio e línguas estrangeiras em
Hamburgo,
Geologia em
Freiberga com
A. G. Werner,
Anatomia em
Jena com
J. C. Loder,
Astronomia e o uso de instrumentos científicos com
F. X. von Zach e J. G. Köhler. As suas pesquisas sobre a vegetação das minas de Freiberg levaram à publicação, em
1793, do seu
Florae Fribergensis Specimen;
e os resultados de uma prolongada série de experiências sobre o
fenómeno da irritabilidade muscular, então recém descoberta por
Galvani, foram condensados no seu
Versuche über die gereizte Muskel- und Nervenfaser (Berlin, 1797), enriquecido de uma tradução
francesa com notas de
Blumenbach.
Em
1794, ele foi admitido na intimidade da famosa sociedade de
Weimar, e desde junho de
1795 contribuiu para o novo periódico de
Schiller,
Die Horen, uma alegoria
filosófica intitulada
Die Lebenskraft, oder der rhodische Genius. No verão de
1790 fez uma visita rápida à
Inglaterra em companhia de
Forster. Em
1792 e
1797, esteve em
Viena; em
1795, realizou uma viagem de caráter geológico e botânico na
Suíça e na
Itália. Durante este tempo, obteve um posto público como assessor de Minas em Berlim, em
29 de fevereiro de
1792.
Diante da ignorância dos mineradores, que não sabem distinguir um
mineral de uma
rocha
sem valor, Humboldt abre uma escola de formação de mineradores, que
ele financia com seu próprio dinheiro. Ele recusará o dinheiro que o
Ministro von Heinitz lhe enviará para reembolsar as suas despesas. Humboldt
realiza também pesquisas para melhorar a segurança das minas.
Apesar de o serviço público ser por ele considerado como um aprendizado
ao serviço da ciência, ele cumpriu as suas tarefas com tanta habilidade e
zelo que não somente foi promovido a postos superiores no seu
departamento, como também recebeu diversas missões diplomáticas
importantes.
Em
1795, von Heinitz propõe a Humboldt o cobiçado posto de Diretor de Minas da
Silésia, no sudeste da
Prússia. Humboldt recusa e abandona o serviço público.
A morte de sua mãe, em
19 de novembro de
1796, deixa-o livre para seguir o seu destino, no que aguarda uma oportunidade de pôr em prática os seus planos de viagem.
O
botanista Aimé Bonpland
deveria, como Humboldt, participar da expedição de Baudin. Eles
tornam-se amigos e decidem se juntar à expedição científica que segue as
tropas de
Napoleão no
Egito. O barco que deveriam tomar jamais aportou em
Marselha, aonde eles tinham ido para esperá-lo. Decidem, então, ir para a
Espanha para embarcar num navio para
Esmirna. Durante as seis semanas de viagem, Humboldt realiza meticulosas medidas
geográficas.
Humboldt é apresentado ao rei e à rainha da Espanha, obtendo um
passaporte com o selo real, que garante aos viajantes a assistência das
autoridades que eles encontrarem. Bonpland torna-se oficialmente
secretário de Humboldt. Os dois são os primeiros a efetuar uma
exploração científica digna deste nome. A ambição de Humboldt durante
essa viagem às Américas é
descobrir a interação das forças da Natureza e as influências que o ambiente geográfico exerce sobre a vida vegetal e animal. Com essas poderosas recomendações, eles embarcam no
Pizarro na
Corunha em
5 de junho de
1799.
Fazem uma escala de seis dias em
Tenerife para a ascensão do pico do
Teide e chegam em
Cumaná (Venezuela) em
16 de julho. Lá, na noite de 11-12 de novembro, Humboldt observa uma extraordinária chuva de
meteoros
(as Leónidas), que constitui o ponto inicial da nossa perceção da
periodicidade do fenómeno; depois disso, ele segue com Bonpland para
Caracas. Na América, sente uma revolta pela maneira com que se vendem e se avaliam os
escravos, mesmo sendo mais bem tratados nas possessões espanholas.
Em fevereiro de
1800 ele deixa a costa com o intuito de explorar o curso do rio
Orinoco.
Essa viagem, que durou quatro meses e cobriu mais de 2.750 km de uma
terra inabitada, selvagem e inóspita, teve como resultado a descoberta
da existência de uma comunicação entre os sistemas
hidrográficos do Orinoco e do
rio Amazonas, (o
canal Casiquiare, que liga o Orinoco ao Amazonas), e a determinação exata do ponto de bifurcação. Humboldt e Bonpland não são os primeiros
europeus
a tomar essa rota, mas o rigor dos seus dados e das descrições que
realizaram fez com que não existissem mais dúvidas sobre a existência de
uma passagem navegável entre os dois rios.
Recolhem diversos espécimens de animais e plantas desconhecidos, e
Humboldt anota meticulosamente a temperatura do rio, do solo e do ar,
assim como a
pressão atmosférica, a inclinação magnética, a
longitude e a
latitude. Em
Calabozo, algumas
enguias elétricas foram capturadas por Alexander von Humboldt (com Aimé Bonpland) por volta de
19 de março de 1800. Os pesquisadores receberam choques elétricos violentos durante as suas experiências.
Humboldt descobre que Baudin deixou a França e deve chegar em
Lima, no
Peru. Para evitar a ausência dos
alíseos, Humboldt e Bonpland decidem continuar por via terrestre ao longo dos
Andes,
passando doze meses em altitude através dos vulcões. Eles têm os pés
em sangue, mas recusam fazer como a aristocracia local: serem
transportados em cadeiras fixas nas costas de índios.
Humboldt ganha um renome mundial ao escalar o Chimborazo, pico considerado na época como o mais alto do mundo.
Em
Callao, Humboldt observa o trânsito de
Mercúrio em
9 de novembro, e estuda as propriedades fertilizantes do
guano, cuja introdução na Europa muito se deveu às suas obras. Uma viagem tumultuada, sob uma tempestade, levou-os para o
México, onde residiram durante um ano.
Humboldt e seus companheiros passaram o ano de
1803 a percorrer o
México. Humboldt escreverá seu
Ensaio político sobre o reino da Nova Espanha, o primeiro ensaio geográfico regional, no qual ele relata sumariamente suas viagens. No México, estuda o
calendário azteca.
Ele embarca em seguida para a
Havana, a fim de recuperar suas coleções lá depositadas havia mais de três anos.
Estimando ser seu dever saudar o presidente
Thomas Jefferson, Humboldt prolonga a sua viagem e vai para
Filadélfia, até à pouco capital do país, onde é acolhido pela Sociedade Americana de Filosofia, criada sobre o modelo da
Royal Society
de Londres. Humboldt passa a maior parte do seu tempo com os membros
da sociedade. Bonpland e Montufar, não falando o inglês, têm um papel
de figurantes. Humboldt encontra Jefferson, com quem discute sobre
história natural, costumes diferentes de acordo com o país e as
maneiras de melhorar o nível de vida. Os dois homens entendem-se tão
bem que Jefferson convida Humboldt a passar sua estadia na Filadélfia
na casa dele.
A expedição de Humboldt e Bonpland, com uma duração de cinco anos,
custou a Humboldt um terço de suas economias. Foi uma das mais notáveis
expedições científicas de todos os tempos, com uma massa de dados de um
valor científico inestimável, ainda mais valiosa que os espécimens que
eles puderam recolher.
Humboldt e Bonpland percorreram, durante sua expedição através das
Américas, um total de 9.650 km, tanto a pé, como a cavalo ou em canoas. A
expedição atravessou as terras dos atuais
Venezuela,
Colômbia,
Equador,
Peru,
Cuba e
México (foi impedido de permanecer no
Brasil,
pois os portugueses consideraram-no um possível espião alemão, após
encontrarem-no em terras brasileiras perto da fronteira venezuelana). A
característica que torna essa expedição absolutamente excecional é que
ela foi levada a cabo sem nenhum interesse comercial; a sua única
motivação foi o desejo de conhecimento e a curiosidade.
Durante a sua expedição pelas Américas de
1799 a
1804,
ele precisou latitudes e longitudes, melhorou mapas, identificou 60.000
plantas, das quais 6.300 eram até então desconhecidas, desenvolveu a
geografia das plantas e descreveu a corrente que levou mais tarde seu
nome (
corrente de Humboldt).
Graças à sua excecional expedição, Humboldt pode ser considerado como
tendo lançado as bases das ciências físicas da geografia e da
meteorologia. Pelo seu estudo (em
1817) das
isotermas,
ele sugeriu a ideia e entreviu os métodos de comparação das condições
climáticas de vários países. Ele primeiramente investigou a taxa de
decaimento da temperatura média com o aumento da altitude acima do nível
do mar, e forneceu, pelas suas questões e pesquisas sobre a origem das
tempestades tropicais, a primeira pista para a deteção da lei, mais
complicada, governando as perturbações atmosféricas em altas latitudes. O
seu ensaio sobre a geografia das plantas foi baseado na (então) recente
ideia de estudar como as condições físicas variadas alteram a
distribuição da vida. A sua descoberta da diminuição da intensidade do
campo magnético terrestre dos polos ao equador foi comunicada ao Instituto de Paris numa dissertação por ele lida em
7 de dezembro de
1804
e a sua importância foi atestada pelo rápido surgimento de
reivindicações rivais. Os seus serviços à Geologia basearam-se
principalmente no seu atento estudo dos
vulcões
do Novo Mundo. Ele mostrou que eles se classificavam naturalmente em
grupos lineares, presumidamente correspondendo a vastas fissuras
subterrâneas; e, pela sua demonstração da origem ígnea de rochas cuja
origem era anteriormente considerada aquosa, ele contribuiu imensamente
para a eliminação dessas hipóteses falsas.
A condensação e a publicação da massa enciclopédica de materiais -
científicos, políticos e arqueológicos - coletados por ele durante a sua
ausência da Europa eram a sua preocupação mais urgente. Antes de atacar
essa tarefa gigantesca, no entanto, fez uma rápida visita à
Itália com
Gay-Lussac com o intuito de investigar a lei da declinação magnética, e uma estadia de dois anos e meio na sua cidade natal.
Com exceção de
Napoleão Bonaparte,
Humboldt era então o homem mais famoso da Europa. Aplausos acolhiam-no
em todos os lugares aonde ia. Academias, nacionais e estrangeiras,
estavam ansiosas para tê-lo entre seus membros.
Em janeiro de
1808, Humboldt é enviado a
Paris
pelo rei da Prússia, acompanhado pelo príncipe Wilhelm, para tentar
negociar uma diminuição o valor das indemnizações de guerra. Desde que a
França invadiu a Prússia, Humboldt não recebe mais as rendas dos seus
domínios. Ele vive em Paris num quarto mobilado, que divide com
Gay-Lussac, não dormindo mais do que três ou quatro horas por dia. Em
Paris, ele tem a firme intenção de assegurar a cooperação científica
necessária para publicar seu grande trabalho. Essa tarefa colossal, que
ele inicialmente estimou em dois anos, acabou durando 22 anos, e ainda
assim ficou incompleta.
Ele é espionado pela polícia francesa, pois é alemão e a sua
correspondência privada reflete as opiniões políticas dos salões
parisienses. Humboldt escreve entre mil a duas mil cartas por ano. Acaba
passando dezoito anos em Paris, durante os quais publica seu Voyage interminable sur l'Amérique du Sud (Viagem interminável pela América do Sul).
Em
1826
recebe uma carta do rei da Prússia, ordenando-lhe que deixasse Paris. Ele pode
somente passar 4 meses de férias por ano na cidade-luz. Em Berlim,
Humboldt é aparentemente detestado por suas ideias liberais.
Em
1828
obtém bastante sucesso ao dar cursos na universidade e, mais tarde,
conferências diante de um público mais vasto. Em Berlim, a comunidade
científica não costumava realizar reuniões científicas, como era o caso
de Paris, para a confrontação e discussão de ideias. Humboldt organiza
uma reunião da Associação Científica em Berlim na qual participam 600
dos mais importantes cientistas.
Em
1827, o ministro russo das finanças pede a Humboldt sua opinião sobre a emissão de moedas de
platina. Como o preço da platina era instável, Humboldt se mostra desfavorável à ideia e sugere ir estudar as minas dos
Urais. Em março de
1829, ano em que chega aos 60 anos, Humboldt viaja para a
Rússia, com as despesas pagas pelo Imperador, com
Gustave Rose, professor de química e de mineralogia,
C.G Ehrenberg, naturalista e zoólogo, e um empregado doméstico. Na
Rússia, ele é acolhido como uma importante personalidade oficial. Ele toma as suas refeições com a família do
czar. Ao deixar
Moscovo, juntam-se à expedição responsáveis da indústria mineira e burocratas das autoridades locais.
Humboldt passa um mês estudando as minas dos Urais. Graças à presença
de filões de platina e de areias auríferas, ele prediz a existência de
diamantes nos Urais. Humboldt e Rose investigam cada jazida de
ouro que encontram no
microscópio.
Foi o conde Polier, proprietário de tais jazidas, e a quem Humboldt
explicou a sua teoria, que encontrou o primeiro diamante dos Urais.
A expedição atravessa a
Sibéria até o
Altai.
Como de hábito, Humboldt realiza medições barométricas. Humboldt e
seus companheiros retornam após seis meses de expedição e após terem
percorrido aproximadamente 17.000 km. Humboldt estudou e simulou a
colocação de uma rede de estações magnéticas e meteorológicas fazendo
observações regulares e funcionando com aparelhos idênticos. Ele deixa
aos cuidados de Rose e Ehrenberg a publicação dos resultados da
expedição. Será somente anos mais tarde que será publicado o seu livro
Ásia Central (em três volumes).
Entre
1830 e
1848, Humboldt foi frequentemente utilizado em missões diplomáticas na corte de
Luís Filipe I, com quem mantinha relações pessoais cordiais. A morte do seu irmão,
Wilhelm von Humboldt, que morreu nos seus braços, em
8 de abril de
1836,
entristeceu os últimos anos de sua vida. Ao perder o irmão, Alexander
lamentou ter "perdido uma metade de si mesmo." A acessão ao trono do
príncipe
Frederico Guilherme IV, após a morte do seu pai em junho de
1840,
aumentou o seu favoritismo na corte. O novo rei solicitava-o
frequentemente como conselheiro da corte. Humboldt utiliza a sua função de
conselheiro privado do rei para militar pela emancipação dos judeus e
pela abolição do servilismo na Prússia, enquanto que o rei o utiliza
como enciclopédia ambulante. A popularidade de Humboldt permanece
grande, apesar das inimizades por si dos políticos
reacionários próximos do rei. Em
1857, a
loucura que afeta o rei permite a Humboldt ter mais tempo para os seus trabalhos.
Não é frequente que um homem adie, aos seus 76 anos, e então execute com
sucesso, a coroação da obra da sua vida. No entanto, foi este o caso
de Humboldt. Os primeiros dois volumes do
Kosmos foram publicados, e basicamente elaborados, entre os anos
1845 e
1847.
A ideia de um trabalho que deveria comunicar não somente uma descrição
gráfica, mas principalmente uma conceção engenhosa do mundo físico que
pudesse ser generalizada por detalhes e ressaltar detalhes através da
generalização preenchia o seu espírito havia mais de meio século. Tomou
uma forma definida pela primeira vez numa série de conferências por
ele proferidas na universidade de Berlim, no inverno de
1827-
1828. Essas conferências constituíram, como nota o seu último biógrafo, "o esboço para o grande
afresco do
Kosmos".
O objetivo desta obra notável pode ser brevemente descrito como sendo a
representação da unidade no meio da complexidade da Natureza. Nessa
obra, os grandes e vagos ideais do
século XVIII são recuperados e combinados com as necessidades científicas do
século XIX.
Apesar de inevitáveis imperfeições, a tentativa foi eminentemente
bem-sucedida. Um estilo um pouco pesado e um tratamento às vezes
pitoresco demais tornam a obra mais imponente que atraente ao leitor
casual. Mas seu valor supremo consiste no fato de representar fielmente o
reflexo da mente de um grande homem. Não existe maior elogio que possa
ser feito a Alexander von Humboldt do que dizer que, ao tentar, e não
em vão, representar o universo, ele conseguiu de maneira ainda mais
perfeita representar a sua própria inteligência compreensiva.
A última década da sua longa vida - os seus anos "improváveis", como ele
costumava chamá-los - foi dedicada à continuação da sua obra, cujos
terceiro e quarto volumes foram publicados em
1850-
1858, e um fragmento de um quinto postumamente em
1862.
Nestes volumes, ele procurou detalhar de acordo com os ramos das
ciências o que expusera de maneira geral no primeiro volume. Não
obstante o seu alto valor individual, é preciso admitir que, de um ponto
de vista artístico, essas adições foram deformações. A ideia
característica da obra, na medida em que uma ideia tão gigantesca
pudesse ser transposta em forma literária, havia sido completamente
desenvolvida nas suas partes iniciais, e a tentativa de transformá-la em
uma enciclopédia científica foi na verdade uma negação da sua
motivação inicial.
O trabalho e a precisão de Humboldt nunca foram mais visíveis do que
durante a conceção deste último troféu à sua genialidade. Tampouco
apoiou-se somente em seus próprios trabalhos; deveu grande parte do que
conseguiu à sua rara capacidade de assimilar ideias e aproveitar a
cooperação de terceiros. Humboldt estava tão pronto a receber
reconhecimento quanto a dá-lo. As notas do Kosmos são repletas de citações loquazes onde ele, de certa maneira, reconhece suas "dívidas" intelectuais.
Em
24 de fevereiro de
1857 Humboldt teve uma crise de
apoplexia leve, que não deixou traços percetíveis. Foi somente durante o inverno de
1858-
1859 que suas forças começaram a diminuir, e, em
6 de maio, morreu tranquilamente, seis meses antes de completar seus noventa anos.
As honras que lhe foram reservadas durante sua vida seguiram-no
após sua morte. Os seus restos mortais, antes de serem enterrados no
mausoléu
familiar de Tegel, foram transportados em funerais nacionais pelas
ruas de Berlim, e recebidos pelo príncipe regente, a cabeça descoberta,
na porta da catedral. O primeiro centenário do seu nascimento foi
celebrado em
14 de setembro de
1869,
com igual entusiasmo no Novo e Velho Mundo, e os numerosos monumentos
erigidos e as novas regiões descobertas denominadas em sua honra
testemunham a difusão universal de sua fama e popularidade.
Os textos sul-americanos de Humboldt compreendem trinta volumes
publicados em trinta anos. Compõem-se de livros científicos, atlas,
tratados de geografia e economia sobre Cuba e o México, uma narrativa de
suas viagens e um
Examen critique de l'histoire de la géographie du Nouveau Continent
(Exame crítico da história e da geografia do novo continente).
Humboldt escreveu os seus textos científicos em colaboração com outros
cientistas. Dedicou o volume consagrado à Geologia a seu amigo
Goethe. Em seu
Kosmos,
cujo objetivo era de comunicar a excitação intelectual e a necessidade
prática da pesquisa científica, ele descreve em cinco volumes todos os
conhecimentos da época sobre os fenómenos terrestres e celestes.
Atribui-se a Humboldt a invenção de novas expressões como
isodinâmicas,
isotermas,
isóclinas,
jurássico e
tempestade magnética. Ele lançou as bases da
geografia física e da
geofísica, nomeadamente da
sismologia. Ele demonstra que não pode haver conhecimento sem experimentação verificável.