Biografia
O pai de Rossini simpatizava com a
Revolução Francesa, e deu as boas-vindas às tropas de
Napoleão quando elas invadiram o
norte da Itália. Isto tornou-se um problema quando os
austríacos restauraram o antigo regime, em
1796. O pai de Rossini foi preso, e sua mãe o levou a
Bolonha, onde ela passou a ganhar a vida como cantora nos diversos
teatros da região da
Romanha,
onde seu pai eventualmente pode juntar-se a eles. Durante todo este
tempo, Rossini frequentemente foi deixado sob os cuidados de sua avó,
já idosa, que não podia controlar efetivamente o garoto.
Após o retorno de seu pai, Rossini permaneceu em Bolonha, sob os cuidados de um
talhante de
porcos, enquanto seu pai tocava a
trompa nas orquestras dos mesmos
teatros em que Anna cantava. O garoto teve aulas de
cravo por três anos com
Giuseppe Prinetti, de
Novara;
este seu professor, que costumava tocar as escalas com apenas dois
dedos. Paralelamente à sua profissão musical tinha um emprego como
vendedor de
bebidas alcoólicas, e uma propensão para adormecer de pé; tais qualidades tornaram-no objecto de ridicularização por parte de seu
pupilo.
Aos catorze anos (idade que ele tinha no ano de
1806), Rossini inscreve-se no liceu musical da cidade e apaixona-se pelas composições de
Haydn e
Mozart, mostrando grande admiração pelas
óperas de
Cimarosa. Estuda
violoncelo com Cavedagni no
Conservatório de Bolonha. Em
1807 é admitido na classe de
contraponto do padre Stanislao Mattei. Aprende a tocar
violoncelo
com facilidade, mas a pedante gravidade de Mattei nas suas opiniões
sobre o contraponto só serviu para impulsionar o jovem compositor em
direcção a uma escola de composição mais liberal. Sua visão sobre
recursos orquestrais não é geralmente atribuída às regras de composição
estritas que ele aprendeu com Mattei, mas aos conhecimentos adquiridos
independentemente ao seguir as sinfonias e quartetos de Haydn e
Mozart. Em
Bolonha, ele era conhecido como "il tedeschino" ("o alemãozinho") por conta de sua devoção a
Mozart.
Início da carreira
Através da amigável interposição do Marquês Cavalli, a sua primeira ópera,
La cambiale di matrimonio, foi produzida em
Veneza quando ele era um jovem de apenas 18 anos. No entanto, dois anos antes, já tinha recebido o prémio no
Conservatório de Bolonha para sua cantata
Il pianto de Armonia sulla morte de Orfeo.
Entre 1810 e 1813, em
Bolonha,
Roma,
Veneza e
Milão, Rossini seguiu produzindo óperas de sucesso variável. A memória destas obras foi suplantada pelo enorme sucesso de sua ópera
Tancredi.
O
libreto foi uma adaptação feita por
Gaetano Rossi da tragédia
Tancrède de
Voltaire. Vestígios de
Ferdinando Paër e
Giovanni Paisiello
estão inegavelmente presentes em alguns fragmentos da música.
Contudo, qualquer sentimento crítico por parte do público foi afogado
pela apreciação de tais melodias como
"Di tanti palpiti … Mi rivedrai, ti rivedrò", que se tornou tão popular que os italianos cantavam-na em multidões nos tribunais até que o juíz ordenasse que parassem.
Rossini continuou a escrever óperas para Veneza e Milão durante os anos
seguintes, mas a sua recepção era fria e, em alguns casos,
insatisfatória após o sucesso de
Tancredi. Em 1815 retira-se para a sua casa em
Bolonha, onde
Domenico Barbaia, o empresário do teatro de Nápoles, concluiu um acordo com ele para a tomar a direcção musical do
Teatro San Carlo e do
Teatro Del Fondo em Nápoles, escrevendo para cada um deles uma
ópera por ano. Seu vencimento deveria ser 200
ducados por mês; a este valor juntar-se-ia uma parte dos lucros das mesas de jogo instaladas no
ridotto
do teatro, que se elevava a cerca de 1000 ducados por ano. Este era
um acordo extremamente lucrativo para qualquer músico profissional
nessa altura.
Alguns compositores mais velhos, em Nápoles, nomeadamente
Zingarelli e
Paisiello,
estavam inclinados à intriga contra o sucesso do jovem compositor,
mas toda essa hostilidade foi fútil face ao entusiasmo com que foi
recebida a execução na corte de
Elisabetta, regina d'Inghilterra, na qual
Isabella Colbran, que posteriormente se tornou a esposa do compositor, desempenhou um papel principal. O libreto da ópera feito por
Giovanni Schmidt, foi em muitos aspectos uma antecipação do que seria apresentado ao mundo alguns anos mais tarde, em
Kenilworth de Sir
Walter Scott. Esta ópera foi a primeira em que Rossini escreveu os ornamentos das
árias em vez de deixá-los a cargo dos cantores, e também a primeira em que o
recitativo secco foi substituído por um
recitativo acompanhado de um
quarteto de cordas.
A sua mais famosa ópera foi apresentada em
20 de fevereiro de
1816, no
Teatro Argentina, em Roma. O libreto de
Cesare Sterbini, uma versão da polémica peça de
Beaumarchais,
Le Barbier de Séville, era o mesmo que havia sido utilizado por Giovanni Paisiello no seu próprio
Barbiere,
uma ópera que tinha beneficiado de popularidade na Europa durante
mais de um quarto de século. Mais tarde, Rossini afirmou ter escrito a
ópera em apenas doze dias. Foi um estrondoso fracasso quando fez a
sua estreia como
Almaviva;
os admiradores de Paisiello ficaram extremamente indignados,
sabotando a produção assobiando e gritando durante todo o primeiro
acto. Contudo, pouco tempo depois da segunda apresentação, a ópera
tornou-se tão bem sucedida que a fama da ópera de Paisiello foi
transferida para a de Rossini, para quem o título
O Barbeiro de Sevilha passou como um património inalienável.
Casamento e fim de carreira
Entre
1815 e
1823 Rossini produziu 20 óperas. Destas,
Otello
foi o clímax da sua reforma da ópera séria, e oferece um sugestivo
contraste com o tratamento do mesmo assunto numa altura semelhante de
desenvolvimento artístico pelo compositor
Giuseppe Verdi.
No tempo de Rossini o desfecho trágico foi tão mal recebido pelo
público que tornou-se necessário inventar um final feliz para
Otello.
As condições de produção em palco em
1817 são ilustradas pela aceitação por Rossini do tema da
Cinderela para um libreto apenas na condição de que o elemento sobrenatural fosse omitido. A ópera
La Cenerentola foi tão bem sucedida como
Il Barbiere. A ausência de uma precaução semelhante na construção de sua
Mosè in Egitto levou ao desastre na cena que retrata a passagem dos
israelitas através do
Mar Vermelho,
na qual os defeitos nos mecanismos de palco sempre suscitavam uma
gargalhada geral, de tal modo que, após algum tempo, o compositor foi
obrigado a introduzir o coro
"Dal tuo stellato Soglio" para desviar a atenção da partição das ondas.
Em 1822, quatro anos após a elaboração deste trabalho, Rossini casou com a soprano
Isabella Colbran. No mesmo ano, dirigiu a sua
Cenerentola em
Viena, onde
Zelmira também foi apresentado. Após isto, voltou a Bolonha; contudo um convite do
príncipe Metternich para ir a
Verona
e "auxiliar no restabelecimento da harmonia" era muito tentador para
ser recusado; ele chegou ao Congresso em tempo útil para a sua
abertura em 20 de Outubro de 1822. Aqui fez amizade com
Chateaubriand e
Dorothea Lieven.
Em 1823, por sugestão do gerente do
King's Theatre, em
Londres, foi para
Inglaterra, sendo muito festejado na sua passagem por
Paris. Em Inglaterra, foi agraciado com um generoso acolhimento, que incluiu ser apresentado ao Rei
Jorge IV e a recepção de £7000 após uma permanência de cinco meses. Em
1824 tornou-se director do
Théâtre italien de Paris
em Paris, com um salário de £800 por ano, e quando o acordo chegou ao
fim, foi recompensado com o gabinete de Compositor Chefe do Rei e
Inspector-Geral da Canção em França, cargo a que foi anexado o mesmo
rendimento. Com a idade de 32, Rossini entrou em semi-aposentadoria, com
independência financeira.
A produção de seu
Guilherme Tell em
1829 marca o final da sua carreira como escritor de óperas. O libreto foi escrito por
Étienne Jouy e
Hippolyte Bis, e posteriormente revisto por
Armand Marrast.
A música é notável pela sua liberdade relativamente às convenções
descobertas e utilizadas por Rossini nas suas obras anteriores, e marca
uma fase de transição na história da ópera. Embora seja uma boa ópera,
hoje em dia raramente é ouvida na íntegra, pois a sua versão original
tem uma duração superior a quatro horas.
Em 1829 Rossini voltou para Bolonha. A sua mãe tinha morrido em
1827,
e ele estava ansioso por estar com seu o pai. Diligências com vista
ao seu regresso a Paris, com um novo acordo, foram afectadas pela
abdicação de
Carlos X e pela
Revolução de julho de
1830. Rossini, que considerava o tema de
Fausto para uma nova ópera, regressou a Paris em novembro daquele ano.
Seis movimentos do seu
Stabat Mater
foram escritos em 1832 e os restantes em 1839, o ano da morte de seu
pai. O sucesso desta obra é comparável com os seus sucessos em óperas;
mas seu comparativo silêncio durante o período de 1832 até sua morte
em
1868
faz a sua biografia parecer quase a narrativa de duas vidas - uma vida
de rápido triunfo, e a longa vida de reclusão, da qual os biógrafos nos
dão imagens na forma de histórias da sagacidade cínica do compositor,
as suas especulações na cultura de peixes, a sua máscara de humildade
e indiferença.
Fim da vida
A sua primeira esposa morreu em 1845, e em
16 de agosto de
1846, casou com
Olympe Pélissier, que havia posado para
Vernet no seu quadro de
Judite e Holofernes. Distúrbios políticos levaram Rossini a abandonar Bolonha, em
1848. Depois de viver durante um tempo em
Florença, instalou-se em Paris em
1855, onde a sua casa era um centro da sociedade artística. Ele morreu na sua casa de campo em
Passy numa sexta-feira,
13 de novembro de 1868 e foi sepultado no
cemitério Père Lachaise, em Paris, França. Em 1887, os seus restos mortais foram transferidos para a
Basílica da Santa Cruz, em Florença, onde agora repousam.