D. Carlos era um apreciador das tecnologias que começavam a surgir no princípio do
século XX. Instalou luz
eléctrica no
Palácio das Necessidades e fez planos para a electrificação das ruas de Lisboa. Embora fossem medidas sensatas, contribuíram para a sua impopularidade visto que o povo as encarou como extravagâncias desnecessárias. Foi ainda um amante da
fotografia e autor do espólio fotográfico da
Família Real. Foi ainda um
pintor de talento, com preferências por
aguarelas de
pássaros que assinava simplesmente como "Carlos Fernando". Esta escolha de tema refletia outra das suas paixões, a
ornitologia. Recebeu prémios em vários certames internacionais e realizou ensaios notáveis na área de
cerâmica.
Para além da ornitologia, era um apaixonado pela
oceanografia, tendo adquirido um iate, o
Amélia, especificamente para se dedicar a campanhas oceanográficas. Estabeleceu uma profunda amizade com
Alberto I, Príncipe do Mónaco, igualmente um apaixonado pela oceanografia e as coisas do mar. Desta relação nasceu o
Aquário Vasco da Gama, que pretendia em
Portugal desempenhar papel semelhante ao
Museu Oceanográfico do Mónaco. Alguns trabalhos oceanográficos realizados por D. Carlos, ou por ele patrocinados, foram pioneiros na oceanografia mundial. Honrando esta faceta do monarca, a
Armada Portuguesa opera atualmente um navio oceanográfico com o nome de
D. Carlos I.
Jaz no
Panteão dos Braganças, no
mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa, ao lado do filho que com ele foi assassinado. As urnas com tampas transparentes ficaram aí depositadas durante 25 anos. Só em
1933 é que uma comissão privada abriu uma subscrição nacional que levou à inauguração de dois belos túmulos, concebidos pelo arquiteto Raúl Lino, junto dos quais está uma figura feminina, representando "A Dor", esculpida por Francisco Franco, conjunto esse que ainda hoje pode ser visto.
Esta frase estava entre as suas últimas palavras:
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Quero bem a todos os portugueses, mesmo àqueles que me fizeram mal.
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D. Amélia passou parte da infância em Inglaterra, onde nasceu, devido ao exílio a que a sua família estava sujeita desde que
Napoleão III assumira o trono da França, em
1848. Somente após a queda do império, em
1871,
os Orleães puderam regressar ao país. A princesa teve então a esmerada
educação reservada às princesas, embora o seu pai apenas fosse
pretendente à coroa.
A princesa cresceu em grandes casas e frequentemente viajava para a
Áustria e
Espanha, onde visitava seus parentes da família real espanhola (sua avó materna era filha de
Fernando VII). D. Amélia adorava
teatro e
ópera. Uma ávida leitora, escrevia para seus autores favoritos e, ademais, tinha dons para
pintura.
O matrimónio de D. Amélia de Orleães com o
Príncipe Real D.
Carlos, Duque de Bragança, ocorreu após falharem várias hipóteses de uma união com a família imperial austríaca e a família real espanhola.
Apesar do casamento arranjado, D. Amélia e D. Carlos apaixonaram-se um pelo outro. A
18 de maio de
1886, a futura Duquesa de Bragança partiu de França. Ao chegar a
Pampilhosa, terá descido do
comboio com o pé esquerdo. No dia seguinte, em
19 de maio, às 5 horas da tarde, a princesa conheceu a corte em
Lisboa, que estava à sua espera. Foi bem recebida pelos sogros, o rei
Luís I e a rainha
Maria Pia.
Em outubro de
1889, com a morte do sogro, D. Amélia, então com apenas vinte e quatro anos, tornou-se
rainha de Portugal. Contudo, o reinado de seu marido, titulado
Carlos I, enfrentava crises políticas, tais como o
Ultimato britânico de 1890, e a insatisfação popular; crescia o ódio à família real portuguesa. Em janeiro de
1891, em
Porto, houve uma rebelião
republicana, mas foi sufocada.
A propaganda republicana, que estava ganhando força, apelidava-a de "beata gastadora e leviana".
Como mãe, a rainha soube dar uma excelente
educação aos seus dois filhos, alargando-lhes os horizontes culturais com uma viagem pelo
Mediterrâneo, a bordo do
iate real
Amélia, mostrando-lhes as antigas civilizações romana, grega e egipcía.
O
regicídio de 1 de fevereiro de 1908 lançou-a num profundo desgosto, do qual D. Amélia jamais se recuperou totalmente. Retirou-se então para o
Palácio da Pena, em
Sintra, não deixando porém de procurar apoiar, por todos os meios, o seu jovem filho, o rei
D. Manuel II,
no período em que se assistiu ao degradar das instituições monárquicas.
Encontrava-se justamente no Palácio da Pena, quando eclodiu a revolução
de outubro de 1910.
Após o fim da guerra, em
8 de junho de
1945, regressou a Portugal, numa emocionante jornada, visitando o
Santuário de Fátima e todos os lugares que lhe estavam ligados, com exceção de
Vila Viçosa, apesar da grande afeição que sentia por esta vila alentejana.
Pouco antes da sua visita a Portugal, D. Amélia aceitara ser madrinha de baptismo de Dom
Duarte Pio de Bragança, confirmando a reconciliação dos dois ramos da família Bragança.
No dia
25 de outubro de
1951,
a rainha D. Amélia faleceu em sua residência em Versalhes, aos oitenta e
seis anos. Tinha sido atingida por um fatal ataque de
uremia, morrendo às 09.35 horas da manhã. O corpo da rainha foi então trasladado pela
fragata Bartolomeu Dias para junto do marido e dos filhos, no panteão real dos Bragança, na
Igreja de São Vicente de Fora.
Esse foi o seu último desejo na hora de sua morte. O funeral teve
honras de Estado e foi visto por grande parte do povo de Lisboa.