Era filho de António Ambrósio Pereira Freire de Andrade e Castro,
embaixador de Portugal na corte
austríaca, e de Elisabeth,
Condessa Schaffgotsch genannt Semperfrei von und zu Kynast und Greiffenstein, vinda de uma antiga e ilustre família
nobre da
Boémia.
Teve a educação que na época se costumava dar aos filhos da nobreza.
Seu pai, Ambrósio Freire de Andrade, fora um óptimo colaborador do
marquês de Pombal na campanha contra a
Companhia de Jesus,
sendo o filho Gomes Freire enviado para Portugal com 24 anos de idade,
em Fevereiro de 1781, já com o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo.
Destinado à carreira militar, assentou praça de cadete no regimento de
Peniche, sendo em
1782 promovido a alferes. Passou à Armada Real, embarcando em
1784 na esquadra que foi auxiliar as forças navais espanholas de
Carlos III de Espanha no bombardeamento de
Argel.
Regressou a Lisboa em setembro, promovido a tenente do mar da Armada
Real, e em abril de 1788 voltou ao antigo regimento no posto de
sargento-mor. Tendo alcançado licença para servir no exército de
Catarina II, em guerra contra a Turquia, partiu para a Rússia. Em
São Petersburgo terá conquistado as maiores simpatias na corte e da própria imperatriz. Na campanha de
1788-
1789, comandada pelo príncipe Potemkin, ter-se-á distinguido nas planícies do
rio Danúbio, na
Guerra da Criméia e sobretudo no cerco de
Oczakow, alegadamente o primeiro a entrar na frente do regimento quando a praça se rendeu em
17 de outubro de
1788
depois de cerco prolongado. Na hora das condecorações esqueceram-se
dele, negando-lhe a Comenda de S. Jorge. Mas ele protesta, pede
atestados de heroísmo ao coronel Markoff, e a imperatriz condescende atribuindo-lhe o posto de coronel do seu exército, que em
1790 lhe foi confirmado no exército português, mesmo ausente. Foi iniciado na
Maçonaria
antes de 1785, provavelmente em Viena na Loja
Zur gekrönten Hoffnung (À
Esperança Coroada), a cujo quadro pertencia, juntamente com
Wolfgang Amadeus Mozart, em 1790. Tinha então o grau de
Mestre. Ocupa o cargo de
Venerável da
Loja Regeneração.
Depois, na esquadra do
príncipe de Nassau, salva-se milagrosamente durante a
batalha naval de Schwensk,
quando os canhões suecos fazem ir a pique a "bateria flutuante" que ele
comandava. Perdeu-se toda a tripulação, mas Gomes Freire conseguiu
salvar-se, acabando por receber o hábito de São Jorge, uma das Ordens
mais importantes da
Rússia, não das mãos da imperatriz, como se tem dito, mas sim das do príncipe de Nassau, em nome da imperatriz.
Houve rumores de simpatia e entusiasmo da imperatriz por Freire de
Andrade, aparentemente confirmado pelas desinteligências entre ele e o
príncipe de Potemkin, favorito conhecido.
Voltou a Lisboa, nomeado coronel do regimento do
marquês das Minas, prestes a embarcar para a
Catalunha, na divisão que Portugal enviava auxiliar a Espanha contra a
República francesa e a que chegou em
11 de novembro de
1793, seguindo por terra. Nesta expedição iam estrangeiros no
Estado-Maior:
o duque de Northumberland, general e par de Inglaterra, o príncipe de
Luxemburgo Montmorency, o conde de Chalons, o conde de Liautaud. O
Regimento de Freire de Andrade e o de
Cascais
ocuparam a povoação de Rebós, na sua linha de batalha, correndo logo às
trincheiras da ponte de Ceret, onde o exército espanhol estava a ponto
de capitular. A acção do Regimento terá sido brilhante, apesar do mau
desempenho de Gomes Freire de Andrade, carregando os franceses com brio em combate a
26 de novembro de
1793. Em
Arles, acampou em quartéis de inverno seu Regimento e o de Cascais, que constituíam a 2° Brigada, comandada por ele. Segundo
Latino Coelho, começa aí a evidenciar-se o espírito indisciplinado e irrequieto de Gomes Freire; desordeiro e intrigante, "
o animo altivo do coronel, avesso, como era a toda a sujeição, difundia na divisão auxiliar o fermento da indisciplina".
Mas apesar das vitórias do exército hispano-português sobre os
republicanos da Convenção, a guerra do Roussillon ia-se tornar
armadilha, os espanhóis tinham 18 mil feridos em hospitais e os
portugueses mil homens fora de combate, enquanto os franceses recebiam
constantes reforços. Em
29 de abril de
1794
o general Dugommier atacou a esquerda do exército espanhol, composta de
corpos da divisão portuguesa, que sustentou o fogo do romper da manhã
às 14.00 horas, salvando o exército espanhol.
Em 1801 reúne-se em sua casa a assembleia que levou à organização definitiva da
Maçonaria Portuguesa, com a posterior criação do Grande Oriente Lusitano em 1802, sendo eleito como um dos seus principais dignatários.
Regressado a Portugal, veio a integrar a "
Legião Portuguesa" criada por Junot e que, sob o comando do
marquês de Alorna, partiu para França em Abril de
1808,
onde vem a ser recebida por Napoleão Bonaparte no dia 1 de Junho.
Entretanto, fez parte da Loja Militar Portuguesa Chevaliers de la Croix
(Cavaleiros da Cruz), em
Grenoble, entre 1808 e 1813. Participou na campanha da Rússia.
Libertado Portugal da ocupação das tropas francesas, e após a derrota
de Napoleão, Freire de Andrade regressa a Portugal, onde vem a ser 5.º
Grão-Mestre do
Grande Oriente Lusitano de 1815 ou 1816 a 1817. Veio a ser implicado e acusado de liderar uma conspiração em 1817 contra a monarquia de
Dom João VI, em Portugal continental representada pela Regência, então sob o governo militar britânico do
marechal William Carr Beresford. Foi detido, preso, condenado à morte e enforcado junto ao
Forte de São Julião da Barra, em
Oeiras,
por crime de traição à Pátria junto com outras onze pessoas: o coronel
Manuel Monteiro de Carvalho, os majores José Campelo de Miranda e José
da Fonseca Neves e mais oito oficiais do Exército. Essa data, 18 de
Outubro, foi, durante mais de um século, dia de luto na Maçonaria
Portuguesa. Ainda hoje o seu nome é venerado como um dos grandes maçons e
mártires da Liberdade de todos os tempos, tendo sido numerosas as lojas
crismadas com o seu nome e abundantes os iniciados que o escolheram
como nome simbólico.
Após o julgamento e execução do tenente-general e outros,
Beresford
deslocou-se ao Brasil para pedir mais poderes. Havia pretendido
suspender a execução da sentença até que fosse confirmada pelo soberano
mas a Regência, "melindrando-se de semelhante insinuação como se
sentisse intuito de diminuir-se-lhe a autoridade, imperiosa e arrogante
ordena que se proceda à execução imediatamente".
Este procedimento da Regência e de Lord Beresford, comandante em chefe
britânico do
Exército português e regente
de facto do reino de Portugal, levou a protestos e intensificou a tendência antibritânica, o que conduziu o país à
Revolução do Porto
e à queda de Beresford (1820), impedido de desembarcar em Lisboa ao
retornar do Brasil, onde conseguira de D. João VI maiores poderes.