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sábado, janeiro 28, 2012

António Feliciano de Castilho nasceu há 212 anos

António Feliciano de Castilho, primeiro visconde de Castilho, (Lisboa, 28 de janeiro de 1800 - Lisboa, 18 de junho de 1875) foi um escritor romântico português, polemista e pedagogo, inventor do Método Castilho de leitura. Em consequência de sarampo perdeu a visão quase completamente aos 6 anos de idade. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra. Viveu alguns anos em Ponta Delgada, Açores, onde exerceu uma grande influência entre a intelectualidade local. Contra ele se rebelou Antero de Quental (entre outros jovens estudantes coimbrões) na célebre polémica do Bom-Senso e Bom-Gosto, vulgarmente chamada de Questão Coimbrã, que opôs os jovens representantes do realismo e do naturalismo aos vetustos defensores do ultra-romantismo.


NOTA: Amália Rodrigues cantou (parcialmente) este poema de Feliciano de Castilho (ver AQUI):

Os treze anos (Cantilena)

Já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro;
madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.

Já sou mulherzinha;
já trago sombreiro;
já bailo ao Domingo,
co' as mais no terreiro.

Já não sou Anita,
como era primeiro,
sou a senhora Ana,
que mora no oiteiro.

Nos serões já canto,
nas feiras já feiro,
já não me dá beijos
qualquer passageiro.

Quando levo as patas,
e as deito ao ribeiro,
olho tudo à roda
de cima do oiteiro;

E só se não vejo
ninguém pelo arneiro,
me banho co' as patas
ao pé do salgueiro.

Miro-me nas águas
rostinho trigueiro,
que mata de amores
a muito vaqueiro.

Miro-me, olhos pretos
e um riso fagueiro,
que diz a cantiga
que são cativeiro.

Em tudo, madrinha,
já por derradeiro,
me vejo mui outra
da que era primeiro.

O meu gibaão largo
de arminho e cordeiro,
já o dei à neta
do Brás cabaneiro,

Dizendo-lhe: "Toma
gibão domingueiro,
de ilhoses de prata,
de arminho e cordeiro.

"A mim já me aperta,
e a ti te é laceiro;
tu brincas co' as outras
e eu danço em terreiro."

Já sou mulherzinha;
já trago sombreiro;
já treze anos,
que os fiz em janeiro.

Já não sou Anita,
sou a Ana do oiteiro;
madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.

Não quero o sargento,
que é muito guerreiro,
de barbas mui feras,
e olhar sobranceiro.

O mineiro é velho;
não quero o mineiro;
mais valem treze anos
que todo o dinheiro.

Tão-pouco me agrado
do pobre moleiro,
que vive na azenha
como um prisioneiro.

Marido pretendo
de humor galhofeiro,
que viva por festas,
que brilhe em terreiro.

Que em ele assomando
co' o tamborileiro,
logo se alvoroce
o lugar inteiro;

Que todos acorram
por vê-lo primeiro,
e todas perguntem
se inda é solteiro.

E eu sempre com ele,
romeira e romeiro,
vivendo de bodas,
bailando ao pandeiro.

Ai, vida de gostos!
ai, céu verdadeiro!
ai, páscoa florida,
que dura ano inteiro!

Da parte, madrinha,
de Deus vos requeiro:
casai-me hoje mesmo
com Pedro Gaiteiro.

in
Escavações Poéticas (1844) - António Feliciano de Castilho