Nascido na
Bahia, na cidade de
Juazeiro, situada no norte do Estado, João ganhou um violão aos 14 anos de idade, e, desde então, jamais o largou. Na
década de 1940, adorava escutar de
Duke Ellington e
Tommy Dorsey até
Dorival Caymmi e
Dalva de Oliveira. Aos 18 anos decide mudar-se para
Salvador com intenção de ser cantor de rádio e
crooner. Em seguida, foi para o
Rio de Janeiro, em
1950, e teve algum sucesso cantando no grupo
Garotos da Lua. Entretanto, foi posto para fora da banda por indisciplina, passando alguns anos numa existência marginal, ainda que obcecado com a ideia de criar uma nova forma de expressar-se com o
violão. Seu esforço finalmente foi recompensado e, após conhecer
Tom Jobim - pianista acostumado à
música clássica e também compositor, influenciado pela música norte-americana da época (principalmente o
jazz) - e um grupo de estudantes universitários de
classe média, também músicos, lançaram o movimento que ficou conhecido por
bossa nova.
O ritmo da
bossa nova é uma mistura do ritmo
sincopado da percussão do
samba numa forma simplificada e, ao mesmo tempo, sofisticada, que pode ser tocada num violão (sem acompanhamento adicional), cuja técnica foi inventada por João Gilberto. Quanto à técnica vocal (parte integral do conceito de bossa nova), é uma técnica de cantar em tom de voz uniforme, com voz emitida sem
vibrato, e com um fraseado disposto de forma única e não-convencional (ora antecipando, ora depois da base rítmica), e de forma a eliminar quase todo o ruído da respiração e outras imperfeições.
Apesar da fama com a então recém-criada
bossa nova, sua primeira gravação lançada comercialmente foi uma participação como violonista no disco de
Elizeth Cardoso de
1958 intitulado
Canção do Amor Demais, composto por canções de
Tom Jobim e
Vinicius de Moraes. Pouco depois desta gravação, João Gilberto gravou seu primeiro disco,
Chega de Saudade. A faixa-título, composta por Tom e Vinicius e que também aparecia no álbum de Elizeth Cardoso, foi sucesso no Brasil, lançando a carreira de João Gilberto e, por consequência, todo o movimento da bossa nova. Além de
Chega de Saudade no lado "A", o disco trazia no outro lado a canção
Bim-bom, do próprio João Gilberto. Este disco foi seguido de outros dois, em
1960 e
1961, nos quais ele apresentou músicas novas de uma nova geração de cantores e compositores, como
Carlos Lyra e
Roberto Menescal. Por volta de
1962, a bossa nova tinha sido adotada por músicos de
jazz norte-americanos, tais como
Herbie Mann,
Charlie Byrd e
Stan Getz. A convite de Getz, João Gilberto e Tom Jobim fizeram aquele que se tornou um dos melhores álbuns de jazz de todos os tempos,
Getz/Gilberto. Com este álbum,
Astrud Gilberto esposa de João Gilberto na época, tornou-se uma estrela internacional, e a composição de Jobim "
Garota de Ipanema" (na sua versão em inglês, "The Girl from Ipanema") tornou-se um sucesso mundial, e modelo
pop para todas as idades.
João Gilberto continuou a fazer espetáculos na
década de 1960, porém não lançou outros trabalhos até
1968, quando gravou
Ela é Carioca, durante o tempo em que residiu no
México. O disco
João Gilberto, algumas vezes chamado de "o álbum branco" da bossa nova (em alusão ao álbum branco dos
Beatles) foi lançado em
1973, e apresenta uma sensibilidade musical quase mística, sua primeira mudança de estilo perceptível após uma década. O ano de
1976 viu o lançamento do disco
The Best of Two Worlds, com a participação de Stan Getz e da cantora
Miúcha, que se tornara a segunda esposa de João Gilberto em abril de
1965, com quem tem uma filha, a cantora
Bebel Gilberto.
Amoroso, de
1977, teve os arranjos de
Claus Ogerman, que buscou uma sonoridade similar à de Tom Jobim. O repertório era composto de velhos sambas e alguns padrões musicais norte-americanos da
década de 1940.
Nos
anos 80 no Brasil, João Gilberto colaborou com
Gilberto Gil,
Caetano Veloso e
Gal Costa (criadores, em fins da década de 1960, do movimento conhecido como
Tropicália). Em
1991 lançou o disco
João, que não tinha nenhuma composição de Tom Jobim. Ao invés disso, teve trabalhos de Caetano,
Cole Porter e de compositores de
língua espanhola.
João Voz E Violão, lançado em
2000, assinalou um retorno aos clássicos da bossa nova, como "Chega de Saudade" e "Desafinado". O CD, uma homenagem à música de sua juventude, foi produzido por
Caetano Veloso.
Intercaladas com estas gravações em estúdio, surgiram também gravações ao vivo, como
Live in Montreux,
Prado Pereira de Oliveira ou
Live at Umbria Jazz.
A última de raras turnês de João aconteceu em
2008 no
Brasil, em duas apresentações no Auditório Ibirapuera em
São Paulo e tiverem todos os ingressos vendidos em aproximadamente uma hora, no
Rio de Janeiro, para uma apresentação no Teatro Municipal, o mesmo aconteceu. Além disto, o artista pediu para encerrar a turnê no Teatro Castro Alves, em Salvador, capital da sua Bahia, lá o sucesso foi repetido, e o João convidou o público a cantar com ele. Nos concertos de São Paulo as grandes surpresas foram a execução de canções não antes registadas por João, como 13 de Ouro, Dor de Cotovelo, Hino Ao Sol / O Mar, Chove Lá Fora, Dobrado de Amor a São Paulo, e uma música inédita de sua própria autoria, em homenagem ao
Japão.