Dia da Vida Selvagem
O que faz falta é mais rewilding? Associações destacam importância da renaturalização no plano de restauro
Portugal tem que apresentar em 2026 o Plano Nacional de Restauro da Natureza. A propósito do Dia Mundial da Vida Selvagem, associações Zero e Rewilding Portugal defendem espaço para renaturalização.
Manada de cavalos de raça Sorraia vivem na natureza sem necessitarem de gestão humana no Ermo das Águias, gerido pela Rewilding Portugal no Grande Vale do Côa
Duas organizações ambientalistas apelam a que no futuro Plano Nacional de Restauro da Natureza a renaturalização, uma abordagem de conservação também conhecida como rewilding, seja considerada como "opção válida", "de baixo custo e muito eficaz" para "restaurar ecossistemas à escala de paisagens".
A propósito do Dia Mundial da Vida Selvagem, que se assinala na segunda-feira, as associações Zero e a Rewilding Portugal destacam em comunicado a importância da promoção do rewilding, a renaturalização, que "coloca o foco em restaurar processos naturais − ciclos de nutrientes, ciclos naturais do fogo, predação − e deixar que estes deem forma às paisagens terrestres e marinhas de forma dinâmica".
A União Europeia aprovou no ano passado a Lei do Restauro da Natureza, que determina que os países apresentem até agosto de 2026 os seus planos nacionais de restauro.
As duas associações recordam que o regulamento aprovado determina metas e medidas para a recuperação de habitats degradados e o combate à perda de biodiversidade no espaço europeu, "com o objetivo de abranger, conjuntamente, pelo menos 30% das áreas terrestres e das áreas marinhas até 2030 e, até 2050, todos os ecossistemas que necessitam de restauro".
Natureza a cuidar dela própria
A abordagem rewilding, defendem, "reconhece a capacidade que a natureza tem para regenerar quando lhe é permitido o tempo e o espaço necessários para tal", trabalhando com as comunidades locais e criando economias baseadas na natureza "que tragam novas oportunidades para os territórios", incluindo a remuneração dos serviços de ecossistemas aos proprietários rurais.
Por isso, justificam as associações, era necessário testar e avaliar um novo modelo de co-gestão das áreas protegidas, em que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) atue como "promotor, avaliador e fiscalizador das ações de conservação da biodiversidade, recorrendo à contratualização de entidades externas para executar a gestão".
A Zero e a Rewilding Portugal citam estudos sobre a forma como algumas "espécies-chave" podem realizar funções na paisagem que evitam custos de gestão humana, como é o caso do potencial económico do regresso da cabra-montesa (Capra pyrenaica), que só se encontra no Parque do Gerês, a novas regiões de Portugal. Um estudo concluiu que "os benefícios associados à presença da espécie na paisagem superam os custos, e que os efeitos globais sobre a paisagem são positivos, favorecendo outras espécies ao mesmo tempo que criam novas oportunidades de ecoturismo".
Outro exemplo é a reintrodução de castores: ao fim de um ano, uma colónia de castores poderia fazer intervenções de restauro fluvial "que poupariam às entidades públicas e aos contribuintes valores entre os 240 mil euros e os três milhões de euros".
Grande Vale do Côa
As associações dizem que em Portugal o Grande Vale do Côa é um exemplo de paisagem que está em processo de renaturalização, um exemplo que poderia ser replicado noutros locais, incluindo áreas marinhas: "É urgente avaliar o potencial de rewilding em outras áreas de Portugal, Madeira e Açores, identificando oportunidades para dar resposta às metas da Lei de Restauro.
"Perante o contexto nacional, em que a degradação da qualidade dos habitats e declínio do estatuto de conservação e da abundância de múltiplas espécies continua sem abrandamento visível", o "rewilding traz benefícios claros para recuperar paisagens degradadas e reforçar a qualidade de vida das populações locais, hoje prejudicada pelas políticas públicas", afirmam.
Esta abordagem, contudo, exige uma visão diferente dos decisores políticos: é preciso deixar de encarar os territórios "predominantemente como espaços de extração de recursos naturais (água, madeira, massas minerais) e de produção de energia, sem a devida preocupação com os impactes ambientais resultantes da artificialização dos solos ou com a qualidade de vida das populações locais no longo prazo".
"É, pois, necessária uma mudança de atitude face à conservação dos valores naturais e um olhar mais crítico ao que é, de facto, sustentabilidade", apelam as organizações.
O dia 3 de março foi proclamado pela ONU como Dia Mundial da Vida
Selvagem, em 2013, para assinalar a adoção da Convenção sobre o Comércio
Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de
Extinção (CITES). A CITES foi aprovada a 3 de Março de 1973 e a ONU
criou o dia quando dos 40 anos da convenção. Pretende destacar a
importância das espécies de animais e plantas selvagens.