Vida
Gabriele D'Annunzio era de origem dálmata. Nasceu em Pescara, região dos Abruzos,
filho de um rico proprietário de terras cujo nome era originalmente
Francesco Rapagnetta, ao qual legalmente adicionou D'Annunzio. O seu
talento precoce foi logo reconhecido, e foi enviado à escola no Liceo
Cicognini em Prato, Toscana.
Em 1883 D'Annunzio casou-se com Maria Hardouin di Gallese e teve
três filhos, mas o casamento acabou em 1891. Em 1894 começou um célebre
caso de amor com a famosa atriz Eleonora Duse. Conseguiu papéis importantes para ela em suas peças, tais como La Città morta ("A cidade morta") (1898) e Francesca da Rimini (1901), mas o tempestuoso relacionamento terminou em 1910.
Em 1897 D'Annunzio foi eleito para a Câmara dos Deputados
para um mandato de três anos, onde atuou como independente de esquerda.
Por volta de 1910 seu estilo de vida dispendioso o forçou a contrair
dívidas, e fugiu para a França para escapar aos credores. Lá colaborou com o compositor Claude Debussy numa peça musical Le martyre de Saint Sébastien ("O martírio de São Sebastião"), 1911, escrito para Ida Rubinstein.
Depois do início Primeira Guerra Mundial, D'Annunzio retornou à Itália e fez discursos públicos a favor do ingresso da Itália ao lado dos Aliados.
Apresentou-se como voluntário, alcançou celebridade como piloto de
caça, e perdeu a visão de um olho num acidente aéreo. Em fevereiro de
1918, tomou parte num ataque, militarmente irrelevante, ao porto de Bukar, hoje na Croácia (conhecido na Itália como La beffa di Buccari), ajudando assim a levantar o ânimo do público italiano, ainda abatido pelo desastre de Caporetto, hoje Kobarid, na Eslovênia. Em 9 de agosto de 1918, como comandante do 87º esquadrão de caça La Serenissima, organizou um dos grandes feitos da guerra, liderando 9 aviões em um voo de 700 milhas para lançar panfletos de propaganda sobre Viena. A guerra reforçou seu nacionalismo e o irredentismo italiano, e pregou ardorosamente para que a Itália assumisse um papel ao lado de seus Aliados, como uma potência europeia.
Animado com a proposta de que a Itália assumisse o controle da cidade de Fiume (hoje Rijeka na Croácia) na Conferência de Paz de Paris,
em 12 de setembro de 1919, liderou um exército nacionalista voluntário
de 2.000 italianos e tomou a cidade, forçando a retirada das tropas
aliadas americanas, britânicas e francesas
que a ocupavam. O objetivo era forçar a Itália a anexar Fiume, mas, em
vez disso, o governo italiano iniciou um bloqueio, exigindo a rendição
dos golpistas.
D'Annunzio então declarou Fiume um Estado independente, a Regência Italiana de Carnaro com uma constituição "social", D’Annunzio proclamando-se "Duce" (caudilho). Tentou organizar uma alternativa para a Liga das Nações para nações oprimidas selecionadas no mundo (tal como os italianos de Fiume), e começou a fazer alianças com vários grupos separatistas nos Balcãs (especialmente grupos de italianos, e também alguns grupos eslavos, embora sem muito sucesso). D'Annunzio ignorou o Tratado de Rapallo
e declarou guerra à Itália. Finalmente, em 25 de dezembro de 1920,
depois de um bombardeamento da cidade pela marinha italiana, ele e suas
tropas renderam-se.
Depois do incidente de Fiume, D'Annunzio retirou-se para a sua casa no lago de Garda e passou seus últimos anos escrevendo e fazendo campanhas. Embora tenha tido uma forte influência na ideologia de Benito Mussolini, nunca se envolveu diretamente com a política do governo fascista na Itália.
Em 1937 foi eleito presidente da Academia Real Italiana. D'Annunzio morreu de um acidente vascular cerebral em sua casa em 1 de março de 1938. Benito Mussolini deu-lhe funeral de Estado.
Pode encontrar-se colaboração literária da sua autoria na revista Atlantida (1915-1920).
Política
D’Annunzio é considerado, um pouco indevidamente, um precursor dos ideais e técnicas do fascismo italiano. Seu ideário nasceu em Fiume (hoje Rijeka na Croácia) quando escreveu junto a Alceste de Ambris sua constituição (Carta del Carnaro).
De Ambris se encarregou da parte legal enquanto que D’Annunzio
contribuiu com suas habilidades como poeta. A constituição estabelecia
um estado corporativista, com nove corporações para representar
diferentes setores da economia (empregados, trabalhadores,
profissionais), bem como uma "décima" (invento de D’Annunzio),
representação dos "humanos superiores" (heróis, poetas, profetas,
super-homens). A constituição declarava também que a música era o princípio fundamental do Estado.
Benito Mussolini imitou apenas alguns aspetos externos de D’Annunzio:
seu método de governo em Fiume, a economia do estado corporativo,
grandes e emotivos rituais nacionalistas, a saudação romana. Contudo,
D'Annunzio nunca proclamou respostas brutais e uma forte repressão
contra a dissidência politica interna ; também, a formula corporativa na
Carta del Carnaro está internamente conectada com artigos de inspiração absolutamente socialistas.
As Mulheres
Houve mulheres serenas,
de olhos claros, infinitas
no seu silêncio,
como largas planícies
onde um rio ondeia;
houve mulheres alumiadas
de ouro, émulas do Estio
e do incêndio,
semelhantes a searas
luxuriantes
que a foice não tocou
nem o fogo devora,
sequer o dos astros sob um céu
inclemente;
houve mulheres tão frágeis
que uma só palavra
as tornava escravas,
como no bojo de uma taça
emborcada
se aprisiona uma abelha;
outras houve, de mãos incolores,
que todo o excesso extinguiam
sem rumor;
outras, de mãos subtis
e ágeis, cujo lento
passatempo
era o de insinuar-se entre as veias,
dividindo-as em fios de meada
e tingindo-as de azul marinho;
outras, pálidas, cansadas,
devastadas pelos beijos,
mas reacendendo-se de amor
até à medula,
com o rosto em chamas
entre os cabelos oculto,
as narinas como
asas inquietas,
os lábios como
palavras de festa,
as pálpebras como
violetas.
E houve outras ainda.
E maravilhosamente
eu as conheci.
Gabriele d’Annunzio