Foi
batizado Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches numa pequena aldeia do concelho do
Carregal do Sal, no sul do
distrito de Viseu.
Aristides pertenceu a uma família aristocrática rural, católica,
conservadora e monárquica (ele também católico e monárquico). Seu pai era
membro do supremo tribunal. Pelo lado materno era descendente de D.
Fernando de Almada (2º Conde de Avranches). Pelo lado familiar "Sousa", descendente de Madragana Ben-Bekar (de quem
houve filhos El-Rei D.Afonso III). Esta Senhora pertencia à Comunidade
Judaica de Faro, cuja ascendência provinha do próprio Rei David de
Israel.
Aristides instala-se em
Lisboa em
1907 após a licenciatura em Direito pela
Universidade de Coimbra,
tal como o seu irmão gémeo. Ambos enveredaram pela carreira
diplomática. Em 1909 nasceu seu primogénito, tendo ao todo 14 filhos com a
sua mulher Angelina.
Aristides ocupou diversas delegações consulares portuguesas pelo mundo fora, entre elas:
Zanzibar,
Brasil,
Estados Unidos,
Guiana, entre outras.
Em
1929 é nomeado
Cônsul-geral em
Antuérpia, cargo que ocupa até
1938. O seu empenho na promoção da imagem de Portugal não passa despercebido. É condecorado por duas vezes por
Leopoldo III,
rei da
Bélgica,
tendo-o feito oficial da Ordem de Leopoldo e comendador da Ordem da
Coroa, a mais alta condecoração belga. Durante o período em que viveu na
Bélgica, conviveu com personalidades ilustres, como o escritor
Maurice Maeterlinck,
Prémio Nobel da Literatura, e o cientista
Albert Einstein,
Prémio Nobel da Física.
Depois de quase dez anos de serviço na
Bélgica,
Salazar,
presidente do Conselho de Ministros e ministro dos negócios estrangeiros, nomeia Sousa Mendes cônsul em
Bordéus,
França.
A II Guerra Mundial
Aristides de Sousa Mendes permanece ainda cônsul de
Bordéus quando tem início a
Segunda Guerra Mundial, e as tropas de
Adolf Hitler avançam rapidamente sobre a
França.
Salazar manteve a neutralidade de
Portugal.
Pela
Circular 14, Salazar ordena aos cônsules portugueses espalhados pelo mundo que recusem conferir
vistos às seguintes categorias de pessoas: "estrangeiros de nacionalidade indefinida, contestada ou em litígio; os apátridas; os
judeus, quer tenham sido expulsos do seu país de origem ou do país de onde são cidadãos".
Entretanto, em
1940, o governo francês refugiou-se temporariamente na cidade de
Vichy, fugindo de
Paris
antes da chegada das tropas alemãs. Milhares de refugiados que fogem do
avanço Nazi dirigiram-se a Bordéus. Muitos deles afluem ao consulado
português desejando obter um visto de entrada para Portugal ou para os
Estados Unidos, onde Sousa Mendes, o cônsul, caso seguisse as instruções
do seu governo, distribuiria vistos com parcimónia.
Já no final de
1939,
Sousa Mendes tinha desobedecido às instruções do seu governo e emitido
alguns vistos. Entre as pessoas que ele tinha então decidido ajudar
encontra-se o Rabino de
Antuérpia,
Jacob Kruger, que lhe faz compreender que há que salvar os refugiados judeus.
A
16 de junho de
1940,
Aristides decide conceder visto a todos os que o pedissem: "A partir de
agora, darei vistos a toda a gente, já não há nacionalidades, raça ou
religião". Com a ajuda dos seus filhos e sobrinhos e do rabino Kruger,
ele carimba passaportes, assina vistos, usando todas as folhas de papel
disponíveis.
Confrontado com os primeiros avisos de Lisboa, ele terá dito: "Se há
que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma
ordem de Deus".
Uma vez que Salazar tomara medidas contra o cônsul, Aristides continuou a sua actividade de
20 a
23 de junho, em
Baiona (França), no escritório de um vice-cônsul estupefato, e mesmo na presença de dois outros funcionários de Salazar. A
22 de junho de
1940, a França pediu um armistício à Alemanha Nazi. Mesmo a caminho de
Hendaye,
Aristides continua a emitir vistos para os refugiados que cruzam com
ele a caminho da fronteira, uma vez que a 23 de junho, Salazar
demitira-o de suas funções de cônsul.
Apesar de terem sido enviados funcionários para trazer Aristides,
este lidera, com a sua viatura, uma coluna de veículos de refugiados e
guia-os em direção à fronteira, onde, do lado espanhol, não existem
telefones. Por isso mesmo, os guardas fronteiriços não tinham sido ainda
avisados da decisão de Madrid de fechar as fronteiras com a França.
Sousa Mendes impressiona os guardas aduaneiros, que acabariam por deixar
passar todos os refugiados, que, com os seus vistos, puderam continuar
viagem até
Portugal.
A
8 de julho de
1940,
Aristides, de volta a Portugal, é punido pelo governo de Salazar, que
priva o diplomata de suas funções por um ano, diminuindo em metade o seu
salário, antes de o enviar para a reforma. Para além disso, Sousa
Mendes perde o direito de exercer a profissão de advogado. A sua licença
de condução, emitida no estrangeiro, também lhe é retirada.
O cônsul demitido e sua família, bastante numerosa, sobrevivem graças
à solidariedade da comunidade judaica de Lisboa, que facilitou a alguns
dos seus filhos os estudos nos Estados Unidos. Dois dos seus filhos
participaram no
Desembarque da Normandia.
Frequentou, juntamente com os seus familiares, a cantina da
assistência judaica internacional, onde causou impressão pelas suas
ricas vestimentas e sua presença. Certo dia, teve de confirmar: "Nós
também, nós somos refugiados".
Em
1945,
Salazar felicitou-o por Portugal ter ajudado os refugiados, recusando-se no entanto a reintegrar Sousa Mendes no corpo diplomático.
A sua miséria será ainda maior: venda dos bens, morte de sua esposa em
1948, emigração dos seus filhos, com uma excepção. Após a morte da
mulher,
Aristides de Sousa Mendes viveu com uma amante francesa que, segundo
testemunhos da época, muito contribuiu para a sua miséria.
Aristides de Sousa Mendes faleceu muito pobre, a
3 de abril de
1954, no hospital dos
franciscanos em Lisboa. Não possuindo um
fato próprio, foi enterrado com um hábito franciscano.