Crowley também era
mago,
hedonista, e
crítico social.
Em muita de suas façanhas ele "iria contra os valores morais e
religiosos do seu tempo", defendendo a liberdade pessoal e espiritual
baseado em sua regra de "Faz o que tu queres".
Por causa disso, ganhou larga notoriedade em sua vida, e foi
declarado pela imprensa do tempo como "O homem mais perverso do mundo."
Além das suas atividades esotéricas era também um premiado jogador de
xadrez, um
alpinista,
poeta e dramaturgo. Em 2001, um inquérito da
BBC descrevia Crowley como sendo o septuagésimo terceiro
maior britânico de todos os tempos, por influenciar e ser referenciado por numerosos escritores, músicos e cineastas, incluindo
Jimmy Page,
Alan Moore,
Bruce Dickinson,
Raul Seixas,
Marilyn Manson,
Kenneth Anger,
David Bowie,
Fernando Pessoa e
Ozzy Osbourne. Ele também foi citado como influência principal de muitos grupos e indivíduos influentes do
esoterismo ocidental da posteridade, incluindo vultos como
Kenneth Grant e
Gerald Gardner.
(...)
Os seus últimos anos, a partir de 1945, foram vividos em Hastings, onde
uma série de novos discípulos continuaram a receber instruções; assim
Kenneth Grant, John Symonds, Grady McMurty, conhecem-no. Desta época,
vem a sua última obra, consistindo numa coletânea de cartas dirigidas a
uma jovem discípula, que foram publicadas bem mais tarde, após a sua
morte, como
Magick Without Tears.
No primeiro dia de dezembro de 1947, aos 72 anos, Aleister Crowley,
serenamente segundo alguns, exultante segundo outros, e ainda perplexo,
segundo um biógrafo, falece, vítima de bronquite crónica e complicações
cardíacas.
Quatro dias depois, no crematório de Brighton, é realizada a cerimónia
que ficou conhecida como "O Último Ritual", com a leitura de trechos da
Missa Gnóstica e do seu famoso
Hino a Pã.
Hino a Pã
Vibra do cio subtil da luz,
Meu homem e afã
Vem turbulento da noite a flux
De Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Do mar de além
Vem da Sicília e da Arcádia vem!
Vem como Baco, com fauno e fera
E ninfa e sátiro à tua beira,
Num asno lácteo, do mar sem fim,
A mim, a mim!
Vem com Apolo, nupcial na brisa
(Pegureira e pitonisa),
Vem com Artêmis, leve e estranha,
E a coxa branca, Deus lindo, banha
Ao luar do bosque, em marmóreo monte,
Manhã malhada da àmbrea fonte!
Mergulha o roxo da prece ardente
No ádito rubro, no laço quente,
A alma que aterra em olhos de azul
O ver errar teu capricho exul
No bosque enredo, nos nás que espalma
A árvore viva que é espírito e alma
E corpo e mente - do mar sem fim
(Iô Pã! Iô Pã!),
Diabo ou deus, vem a mim, a mim!
Meu homem e afã!
Vem com trombeta estridente e fina
Pela colina!
Vem com tambor a rufar à beira
Da primavera!
Com frautas e avenas vem sem conto!
Não estou eu pronto?
Eu, que espero e me estorço e luto
Com ar sem ramos onde não nutro
Meu corpo, lasso do abraço em vão,
Áspide aguda, forte leão -
Vem, está fazia
Minha carne, fria
Do cio sozinho da demonia.
À espada corta o que ata e dói,
Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói!
Dá-me o sinal do Olho Aberto,
E da coxa áspera o toque erecto,
Ó Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã.,
Sou homem e afã:
Faze o teu querer sem vontade vã,
Deus grande! Meu Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Despertei na dobra
Do aperto da cobra.
A águia rasga com garra e fauce;
Os deuses vão-se;
As feras vêm. Iô Pã! A matado,
Vou no corno levado
Do Unicornado.
Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Sou teu, teu homem e teu afã,
Cabra das tuas, ouro, deus, clara
Carne em teu osso, flor na tua vara.
Com patas de aço os rochedos roço
De solstício severo a equinócio.
E raivo, e rasgo, e roussando fremo,
Sempiterno, mundo sem termo,
Homem, homúnculo, ménade, afã,
Na força de Pã.
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Aleister Crowley (tradução Fernando Pessoa)