Afinal, a Europa foi uma densa savana povoada por elefantes de presas retas (e rinocerontes)
A ideia popular de que a antiga Europa era predominantemente
coberta por florestas densas e contínuas foi desafiada por um estudo
recente.
Uma equipa de investigadores, liderada por Elena Pearce,
da Universidade de Aarhus, Dinamarca, analisou pólenes antigos e
descobriu que, contrariamente à ideia popular, metade da paisagem da
Europa ancestral era na realidade constituída por savanas ou bosques,
assemelhando-se a uma savana.
Os resultados do estudo, publicados a semana passada na revista Science Advances, altera a visão de longa data sobre a vegetação natural da Europa.
A equipa de Pearce investigou a vegetação da Europa durante o período
interglacial anterior, há cerca de 115.000 a 130.000 anos, tendo
examinado quase 100 amostras de pólen de vários locais do continente.
Os investigadores usaram um modelo de computador que leva em conta as
diferentes taxas de produção de pólen de árvores e gramíneas para obter
uma imagem mais precisa da vegetação ancestral do Velho Continente.
Esta abordagem revelou uma paisagem marcadamente diferente das florestas densas comummente imaginadas.
O estudo sugere que a megafauna, incluindo elefantes de presas retas e rinocerontes, desempenhou um papel significativo na modelação desta paisagem.
Estes animais de grande porte suprimiram a vegetação lenhosa ao comer e pisar árvores jovens, mantendo assim savanas abertas e pequenos bosques.
Esta descoberta contradiz estudos anteriores, que se concentravam principalmente nos últimos 10.000 anos e não consideravam o impacto da megafauna a esta extensão.
O estudo de Pearce também resolve uma discrepância de longa data entre a abundância de pólen de árvores encontrada em registos históricos e as evidências fósseis de grandes mamíferos, que indicavam uma paisagem mais aberta.
O estudo sugere também que os fatores climáticos e os incêndios
não foram afinal os principais influenciadores desta variabilidade da
vegetação, apontando em vez disso para a influência da megafauna.
“Não obtivemos evidências de que esta variabilidade da vegetação
possa ser explicada por fatores climáticos, ou por eventos como grandes
incêndios”, explica Pearce à New Scientist. “Então resta a influência da megafauna“.
O estudo tem implicações para os esforços de conservação modernos. Pearce defende a replicação dos processos que criaram estas paisagens antigas, em vez de tentar recriar as paisagens em si.
A investigadora realça a importância de animais como os javalis selvagens, que, através dos seus comportamentos naturais, criam habitats diversos benéficos para várias espécies.
“Os javalis passam a vida a escavar o solo, o que impede que espécies prejudiciais como as urtigas se tornem dominantes”, comenta Elena Pearce. “Eles são, basicamente… uns porcos. E toda a desordem que causam ajuda a criar habitats propícios a que certas espécies apareçam e prosperem”.