A 15 de março de 1961,
cinco a seis mil portugueses foram assassinados em Angola. Esses mortos
nunca estiveram no lugar certo. Antes do 25 de Abril de 1974 eles
foram inconvenientes porque, numa primeira fase, atestavam a
imprevidência do regime que não acautelara a segurança daquelas pessoas
como era sua obrigação, e posteriormente porque a vontade de mostrar
que a guerra estava reduzida à Guiné e a algumas zonas de Moçambique
levava a que estes mortos fossem esquecidos.
Após
o 25 de Abril estes portugueses continuaram a ser omitidos, pois os
seus corpos repetidamente violados, empalados e queimados atestavam na
brutalidade de que tinham sido vítimas que aquilo a que se chamava
movimentos de libertação não tinham nada de libertadores nem de
civilização. Antes pelo contrário. E sobretudo porque esses cadáveres de
brancos, pretos e mulatos não se coadunavam com o decálogo
revolucionário que transformava os fazendeiros brancos em opressores
contra os quais se tinham levantado os seus trabalhadores negros.
A
forma como gerimos a memória da guerra do Ultramar entre 1961 e 1975 e
como escamoteámos os outros períodos de guerra nesses mesmos
territórios durante o século XX são sintomáticas de um dos nossos
erros mais trágicos como país: identificamos quem governa com o povo.
Confundimos o regime com o país. Em resumo, não distinguimos a política
da História. Dos Descobrimentos aos Lusíadas, sem esquecer Aljubarrota ou a Mensagem de Pessoa, tudo é sujeito a essa captura da História pela política.
in Blasfémias - ler o
resto aqui
A
Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) é um movimento político de
Angola. Foi fundada em
1957 com o nome de
União das Populações do Norte de Angola (UPNA), assumindo em 1958 o nome de
União das Populações de Angola (UPA). Em 1961, a UPA e um outro grupo anti-colonial, o Partido Democrático de Angola (PDA), constituíram conjuntamente a FNLA.
O FNLA foi um dos movimentos nacionalistas angolanos durante a
guerra anticolonial de 1961 a 1974, juntamente com o
MPLA e a
UNITA. No processo de descolonização de Angola, em 1974/1975, bem como na
Guerra Civil Angolana
de 1975 a 2002, combateu o MPLA ao lado da UNITA. Desde 1991 é um
partido político cuja importância tem vindo a diminuir drasticamente, em
função dos seus fracos resultados nas eleições legislativas de 1992 e
2008.
A UPA, enraizada principalmente entre os
Bakongo mas com aderentes também entre os
Ambundu e os
Ovimbundu, iniciou a sua luta armada na região do norte de Angola em
15 de março de
1961, nomeadamente no
concelho do
Uíge estendendo-se mais tarde para o sul, até à actual província do
Bengo. Ela teve como retaguarda de luta o ex-
Congo Belga, actual
República Democrática do Congo, a seu tempo liderada pelo falecido General
Mobutu Sese Seko que - no quadro da sua política regional - manteve boas relações com o líder da UPA/FNLA,
Holden Roberto. Este apoio possibilitou a constituição em
Léopoldville (hoje
Kinshasa), imediatamente depois da formação da FNLA, do GRAE (
Governo Revolucionário Angolano no Exílio), cujos vice-presidentes eram de proveniência Ambundu, e cujo secretário geral era
Jonas Savimbi,
Ocimbundu e posteriormente fundador da
UNITA.
O braço armado do GRAE era o ELNA (Exército de Libertação Nacional de
Angola) cujos comandantes provinham de várias partes de Angola,
inclusive de
Cabinda. Nem o MPLA nem a
FLEC
quiseram participar do GRAE, o que viria a ser decisivo para a
complexa e contraditória configuração da luta anti-colonial em Angola.