Nasceu na fazenda Cabaceiras, a sete léguas (42 km) da vila de Nossa Senhora da Conceição de "Curralinho", hoje
Castro Alves, no estado da
Bahia.
Início de vida
Era filho de Antônio José Alves e Clélia Brasília Castro, a sua mãe faleceu em 1859. No colégio, no lar por seu pai, iria encontrar uma atmosfera literária, produzida pelos oiteiros, ou saraus, festas de arte, música, poesia e declamação de versos. Aos 17 anos fez as primeiras poesias.
O pai casou por segunda vez em
24 de janeiro de
1862 com a viúva Maria Rosário Guimarães. Temendo que seu filho fosse acometido pelo
Mal do Século, Antônio José Alves embarca, no dia seguinte ao do seu casamento, o poeta e seu irmão Antônio José para o
Recife.
Em maio de 1863, submeteu-se à prova de admissão para o ingresso na
Faculdade de Direito do Recife mas foi reprovado. Mas seria no Recife tribuno e poeta sempre requisitado nas sessões públicas da Faculdade, nas sociedades estudantis, na plateia dos teatros, incitado desde logo pelos aplausos e ovações, que começava a receber e ia num crescendo de apoteose. Era um belo rapaz, de porte esbelto, tez pálida, grandes olhos vivos, negra e basta cabeleira, voz possante, dons e maneiras que impressionavam a multidão, impondo-se à admiração dos homens e arrebatando paixões às mulheres. Ocorrem então os primeiros romances, que nos fez sentir em seus versos, os mais belos poemas líricos do Brasil.
Em 1863 a atriz portuguesa
Eugénia Câmara apresentou-se no
Teatro Santa Isabel. Influência decisiva em sua vida exerceria a atriz, vinda ao Brasil com
Furtado Coelho. No dia 17 de maio, Castro Alves publicou no primeiro número de
A Primavera seu primeiro poema contra a escravidão:
A canção do africano. A
tuberculose se manifestou e em 1863 teve uma primeira
hemoptise.
Em 1864 o seu irmão José Antônio, que sofria de distúrbios mentais desde a morte de sua mãe, suicidou-se em Curralinho. Ele consegue enfim matricular-se na
Faculdade de Direito do Recife e em outubro viaja para a Bahia. Só retornaria ao Recife a
18 de março de
1865, acompanhado por
Fagundes Varela. A 10 de agosto, recitou
O Sábio na Faculdade de Direito e se ligou a uma moça desconhecida, Idalina. Alistou-se a 19 de agosto no Batalhão Académico de Voluntários para a
Guerra do Paraguai. Em 16 de dezembro, voltou com
Fagundes Varela a Salvador. O seu pai morreu no ano seguinte, a
23 de janeiro de
1866. Castro Alves voltou ao Recife, matriculando-se no segundo ano da faculdade. Nessa ocasião, fundou com
Rui Barbosa e outros amigos uma sociedade abolicionista.
Teve fase de intensa produção literária e a do seu apostolado por duas grandes causas: uma, social e moral, a da abolição da escravatura; outra, a república, aspiração política dos liberais mais exaltados. Data de 1866 o término de seu drama
Gonzaga ou a Revolução de Minas, representado na Bahia e depois em
São Paulo, no qual conseguiu consagrar as duas grandes causas de sua vocação. No dia 29 de maio, resolveu partir para Salvador, acompanhado de Eugénia. Na estreia de
Gonzaga, dia 7 de setembro, no Teatro São João, foi coroado e conduzido em triunfo.
No Rio de Janeiro e em São Paulo
Continuou principalmente a produção intensa dos seus poemas líricos e heróicos, publicados nos jornais ou recitados nas festas literárias, que produziam a maior e mais arrebatadora repercussão. Tinha 21 anos e uma nomeada incomparável na sua geração, que deu entretanto os mais formosos talentos e capacidades literárias e políticas do Brasil. Basta lembrar os nomes de Fagundes Varela,
Ruy Barbosa,
Joaquim Nabuco,
Afonso Pena,
Rodrigues Alves,
Bias Fortes, Martim Cabral, Salvador de Mendonça, e tantos outros, que lhe assistiram aos triunfos e não lhe disputaram a primazia. É que ele, na linguagem divina que é a poesia, lhes dizia
a magnificência de versos que até então ninguém dissera, numa voz que nunca se ouvira, como afirmou
Constâncio Alves. Possuía uma voz dessas que
fazem pensar no glorioso arauto de Agamenon, imortalizado por Homero, Taltibios, semelhante aos deuses pela voz…, como disse
Rui Barbosa. Pregava o advento de uma "era nova", segundo
Euclides da Cunha.
Desfaz-se em
28 de agosto de
1868 sua ligação com Eugénia Câmara. Castro Alves foi aprovado nos exames da Faculdade de Direito e a 11 de novembro - tragédia de grandes consequências - feriu-se no pé, durante uma caçada. Tuberculoso, aventara uma estadia na cidade de
Caetité, onde moravam seus tios e morrera o avô materno (o
Major Silva Castro, herói da
Independência da Bahia), dois grandes amigos (Otaviano Xavier Cotrim e
Plínio de Lima), de clima salutar. Mas, antes, ainda em São Paulo, na tarde de 11 de novembro, resolveu realizar uma caçada na Várzea do Brás e feriu o pé com um tiro. Disso resultou longa enfermidade, cirurgias, chegando ao Rio de Janeiro no começo de 1869, para salvar a vida, mas com o martírio de uma
amputação. Os cirurgiões e professores da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Andrade Pertence e Mateus de Andrade, amputaram seu membro inferior esquerdo sem qualquer anestesia.
Em março de 1869, matriculou-se no quarto ano do curso jurídico, mas a 20 de maio, tendo piorado seu estado, decidiu viajar para o Rio de Janeiro, onde seu pé foi amputado em junho. No dia 31 de outubro, assistiu a uma representação de
Eugénia Câmara, no
Teatro Fênix Dramática. Ali a viu por última vez, pois a 25 de novembro decidiu partir para
Salvador. Mutilado, estava obrigado a procurar o consolo da família e os bons ares do sertão.
O retorno à Bahia
Em fevereiro de 1870 seguiu para Curralinho para melhorar a tuberculose que se agravara, viveu na fazenda Santa Isabel, em Itaberaba. Em setembro, voltou para Salvador. Ainda leria, em outubro, A cachoeira de Paulo Afonso para um grupo de amigos, e lançou Espumas flutuantes. Mas pouco durou.
Os seus escritos póstumos incluem apenas um volume de versos: A Cachoeira de Paulo Afonso (1876), Os Escravos (1883) e, mais tarde, Hinos do Equador (1921).
Homenagem
O trabalho de resgate e preservação de suas obras foi fruto da dedicação do antigo colega e amigo
Ruy Barbosa e fruto da campanha abolicionista, que tomou corpo a partir de 1881. Posteriormente,
Afrânio Peixoto, ex-presidente da Academia, reuniu em dois volumes toda a produção do poeta, bem como escritos diversos (sob os títulos de "Relíquias" e "Correspondência").
Em 1947 o Instituto Nacional do Livro, do Ministério da Educação e Cultura, comemorou o centenário do nascimento do poeta com uma grande exposição, da qual resultou um livro comemorativo, trazendo importantes documentos que fizeram parte do evento.
O aspecto social da poesia de Castro Alves, em poemas como "O Navio Negreiro" e "Vozes d'África", ambos publicados no livro
Os Escravos, foi um dos motivos principais para a sua popularização. Nesse sentido, autores como
Mário de Andrade, no modernismo, dedicaram-lhe inúmeros ensaios.
Na literatura latino-americana
Numa das obras mais belas da literatura de nosso continente, "Canto Geral", do poeta chileno
Pablo Neruda, é dedicado um poema a Castro Alves. O poeta
condoreiro é lembrado por Neruda como aquele que, ao mesmo tempo em que cantou às flores, às águas, à formosura da mulher amada, fez com que sua voz batesse "
em portas até então fechadas para que, combatendo, a liberdade entrasse". Portanto, termina o poeta chileno, "
tua voz uniu-se à eterna e alta voz dos homens. Cantaste bem. Cantaste como se deve cantar". Como dá para perceber, Neruda reverencia Castro Alves por ter cantado àqueles que não tinham voz: os escravos. O poema chama-se "Castro Alves do Brasil".
A Duas Flores
São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu…
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bom como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar…
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas… Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rodas da vida,
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
Castro Alves