Revoltado com a aliança, Marco António acusa publicamente Otaviano de
planear o seu assassinato. Otaviano publica então uma resposta
ridicularizando a acusação. Otaviano une-se a
Bruto dos Júnios contra António, que simplesmente junta todas as tropas que pode e fecha
o cerco sobre
Décimo Bruto em
Modena.
Enquanto Marco António se ocupava com a guerra, Otaviano marcou uma audiência no
Templo de Castor. O
tribuno Tito Canúcio
falou primeiro, atacando Marco António. Logo depois, Otaviano começou
seu discurso, que foi muito mal-aceito. Otaviano, que derrotara António
em Modena, exige o
consulado (a que não tinha direito, dada sua pouca idade).
Agripa
contornou a situação, mas os senadores romanos deixaram de apoiar
Otaviano. Na mesma noite, Otaviano foi obrigado a fugir de Roma.
Temporariamente estabeleceu-se na
Sabina, onde reuniu o seu estado-maior e logo depois foi para
Arezzo, onde recrutou tropas para invadir Roma pela força das armas.
Otaviano marchou sobre Roma e impôs a própria investidura como
cônsul (
19 de agosto de
43 a.C.). Fez a Corte sancionar a sua adoção (ver
adopção em Roma) por
Júlio César, tornando-se Caio Júlio César Otaviano (
Gaius Julius Caesar Octavianus) e passou a ser conhecido como Otaviano. António, entrementes, aliara-se ao general
Marco Emílio Lépido, governador da
Gália.
O segundo triunvirato
Otaviano sela a paz com António e Lépido e formaram, no final de
43 a.C. o
segundo triunvirato para governar as
províncias romanas,
que o senado reconheceu (por cinco anos). Seguiu-se a repressão: os
trezentos senadores e dois mil cavaleiros, oponentes dos triúnviros,
foram proscritos e numerosas propriedades confiscadas. Entre eles,
estava o orador
Cícero.
Otaviano e Marco António começaram uma campanha contra os líderes do assassinato de César, os republicanos
Marco Júnio Bruto e
Caio Cássio Longino, que culminou com o
suicídio de ambos em
42 a.C., depois da sua derrota na
Macedónia (
batalha de Filipos). Para recompensar as
legiões,
Otávio confiscou as terras de 18 cidades italianas. O descontentamento
resultante foi explorado pelos amigos de António. Ajudado por Agripa,
grande chefe militar, Otaviano tomou
Perugia (
40 a.C.) e silenciou os seus adversários.
Aproximadamente no ano
40 a.C., o controle do mundo romano foi dividido entre os triúnviros com os os acordos de
Brindisi. Otaviano assumiu a maior parte das províncias ocidentais, Marco António as orientais e Lépido, a
África. Marco António e Otávio, que disputavam o controle da
Itália, resolveram suas diferenças e, para selar o acordo, no ano
37 a.C., o segundo entregou sua irmã Otávia em matrimónio ao primeiro. Inaugurou-se, então, uma era de paz e em
37 a.C., o triunvirato foi renovado por mais cinco anos. Restava a ameaça de
Sexto Pompeu, filho de
Cneu Pompeu Magno e o último opositor importante do triunvirato. Com uma
esquadra fornecida por António, Otávio derrotou-o em
Nauloque, na
Sicília (
36 a.C.). Pouco depois, sem consultar António, que estava no Oriente lutando contra o
Império Parta, Otaviano afasta Lépido do poder, deixando-lhe apenas a dignidade pontifícia.
Finalmente, o triunvirato foi dissolvido quando Marco António devolveu
Otávia a Roma e pouco depois desposou
Cleópatra, a quem
Júlio César tinha nomeado rainha do
Egito. Mediante o reconhecimento de
Cesarión -
Ptolomeu XV - filho de Cleópatra e César, como seu co-dirigente, Marco António, que
permanecera no Egito e se instalara como potentado oriental, ameaçou a
posição de Otaviano como único sucessor de César e a guerra tornou-se
inevitável. Otaviano consolidou a sua situação, pacificou a
Ilíria e contribuiu para a prosperidade romana, com o desenvolvimento da
agricultura.
As campanhas orientais de António serviram de pretexto para que Otávio
proclamasse a traição do adversário e sua intenção de formar um reino
independente de Roma. Esta declarou guerra ao
Egito e Otaviano foi nomeado
cônsul para combater António e Cleópatra, cujos exércitos foram vencidos na
batalha de Áccio (
31 a.C.). Depois da derrota, o território egípcio foi incorporado por Roma. No
ano seguinte, Marco António e Cleópatra suicidaram-se e Cesarión foi assassinado. No ano
29 a.C., Otaviano voltou para Roma triunfalmente como senhor único do poder e recebeu, com o nome de Augusto (
27 a.C.), os poderes repartidos até então entre os magistrados.
O primeiro cidadão
Apesar de assumir o poder, Otaviano não aceitou a
ditadura. Temendo ser vítima da mesma sorte de
Júlio César, abdicou solenemente de todos os poderes extraordinários (exceto o consulado) e propôs um novo regime, de compromisso - o
principado
- que centralizava o poder em torno de si mas mantinha as formas
tradicionais da república romana. Longe de destruir as antigas
magistraturas, assumiu-as quase todas e fez-se reeleger cônsul, sem
interrupção, até o ano
23 a.C.. Na aparência, não passava, então, de um magistrado como os outros. Era apenas o primeiro, isto é,
princeps, em autoridade.
O
senado concedeu-lhe muitos títulos e poderes de que já tinham desfrutado diferentes funcionários da
república. No ano
36 a.C., recebeu a concessão de inviolabilidade de um
tribuno plebeu e, em
30 a.C., recebeu os poderes de um
tribuno,
com o qual passou a ter o poder de veto e controle sobre as
assembleias. O senado também lhe concedeu a máxima autoridade nas
províncias.
Em
29 a.C., recebeu o título de
imperator (comandante-em-chefe das
forças armadas). Em
28 a.C., recebeu o título de
princeps senatus. No ano
27 a.C., o senado romano deu a Otaviano o título de
augusto - "consagrado" ou "santo" - que mais tarde se converteu em sinónimo de
imperador. O título passou desde então a identificar seu próprio nome e
como "augusto" tem sido reconhecido pela
história. A partir do ano
23 a.C., Augusto renunciou também ao
consulado, guardando apenas a qualidade tribunícia, que lhe foi conferida em caráter vitalício. Morto Lépido, tornou-se
máximo pontífice, com controle sobre a
religião,
a pedido do povo. O seu poder era, assim, fundado de certo modo no
consentimento geral. Apesar da sua preeminência, como bem o mostram os
títulos de príncipe ou primeiro cidadão e imperador, Augusto teve o
cuidado de não levar demasiado longe as prebendas da
monarquia, porém a sua autoridade era de facto a de um monarca absoluto.
Após a
batalha de Filipos, Otaviano conheceu o poeta
Virgílio e passou a financiar a sua arte. Além de Virgílio, o
historiador Tito Lívio, o arquiteto
Vitrúvio, os poetas
Horácio e
Ovídio foram protegidos por Augusto e pelo seu ministro
Mecenas. Por isso, no plano cultural o
século de Augusto
foi muito produtivo e cheio de promessas criadoras, inaugurando uma
época clássica para a arte europeia, um classicismo latino que, ainda na
Renascença,
mil anos depois, estava dando frutos. Augusto fundou bibliotecas
públicas; a literatura latina, primitivamente, influenciada pelos
gregos, adquiriu independência e se tornou uma das mais brilhantes do
mundo ocidental.
Conservador e austero, Augusto fez um governo de ordem e hierarquia.
Lutou contra a decadência dos costumes, reorganizou a administração e as
forças armadas,
tornando-as permanentes e fixando-as nas fronteiras. Como adepto das
virtudes romanas em tempos em que era cada vez maior a tolerância,
tentou controlar a
moral pública mediante a aprovação da
lei suntuária e do casamento. Criou organismos governamentais (
conselho do príncipe, prefeitos), dividiu Roma em 14 regiões, para facilitar o
censo e a cobrança de
impostos, reorganizou a administração das
províncias, dividindo-as em
províncias senatoriais e
províncias imperiais, medidas que tiveram como resultado o aumento da centralização. Em Roma e na
Itália
esforçou-se para fazer reviver as virtudes esquecidas das antigas
tradições e religião. Deu privilégios aos pais de família e combateu o
celibato. Construiu o
fórum de Augusto que leva seu nome e, no
campo de Marte, ergueu as primeiras termas, o
Panteão de Roma
e outros templos. O seu amor pela arquitetura foi revelado pelo seu
orgulho em "ter encontrado Roma com tijolos e a ter deixado coberta de
mármore". Elevaram-se templos à
deusa Roma e a Augusto em todo o império. No âmbito económico, fomentou o desenvolvimento da
agricultura na Itália e saneou as finanças do
Estado.
Ordenou expedições militares, geralmente bem sucedidas, à
Hispania, à
Récia, à
Panónia, à
Germânia (onde, entretanto, seu lugar-tenente
Varo foi derrotado), à
Arábia, à
Arménia, à
África. Pacificou a
Hispânia e os
Alpes, conseguiu a anexação da
Galácia e da
Judeia e conquistou, graças a
Tibério, as terras
austríacas do
Danúbio, que formaram as províncias de
Récia e
Vindelícia, mas a sua campanha na Germânia fracassou. Tibério debelou uma insurreição na
Ilíria e os
germanos, liderados por
Armínio, aniquilaram Varo e três legiões, na
Batalha da Floresta de Teutoburgo.
Augusto casou três vezes. A sua terceira esposa foi
Lívia Drusilla, que já tinha dois filhos,
Tibério e
Druso, de um matrimónio anterior. Augusto, por sua vez, tinha uma filha, Júlia, também de um matrimónio anterior.
A tentativa de Augusto de conseguir um grande sucessor fracassou,
pois o seu sobrinho Marcelo morreu jovem. Agripa, cujo casamento com sua
filha Júlia ele tinha forçado, morreu em
12 a.C. Os filhos menores de Agripa morreram em
2 e
4
da era cristã. Druso e Júlia também faleceram. Restava Tibério.
Adotando-o, Augusto deu-lhe participação cada dia mais ativa nos
negócios do Estado. A partir de
13 d.C., Tibério tinha poderes quase iguais aos do imperador. Quando Augusto morreu, em
Nola, na
Campânia, em
19 de agosto do ano
14, já era o enteado quem de facto governava Roma.
A obra de Augusto foi imensa, tanto na paz como na guerra. Os quarenta anos
do principado de Augusto marcaram uma das épocas mais brilhantes da
história romana ("
século de Augusto"). O mês Agosto foi baptizado como
Augustus em sua homenagem; até então designava-se
Sextilis. Após a morte de Augusto, o
senado romano decretou a sua
divinização, passando a ser adorado como "
Divus Augustus" ("Divino Augusto"), e abrindo um precedente em Roma, que seria seguido pela maioria dos seus sucessores.
Tanto os escritores antigos como os mais recentes discordam quanto à
importância de Augusto. Alguns condenaram a sua cruel luta pelo poder.
Outros, dentre os quais se inclui o fiel partidário da república,
Públio Cornélio Tácito,
reconhecem as suas boas ações como dirigente. Às vezes, os pesquisadores
atuais criticam os seus métodos pouco escrupulosos e o seu estilo
autoritário, mas normalmente reconhecem suas realizações no
estabelecimento de uma administração eficiente e um governo estável, bem
como na obtenção de segurança e prosperidade para o
Império Romano.