Faltavam apenas 17 dias para o fim do ano letivo. Com 1.965 alunos,
Columbine tinha uma tão boa escola que muitas famílias se mudaram para Littleton, perto
de Denver, com o objetivo de matricular os filhos na escola, pois 82% de
seus alunos são aceites em universidades (nos Estados Unidos não há
exames, o que conta é o desempenho do aluno no ensino secundário).
Columbine também se orgulhava de não registar casos de violência. O
polícia da escola limitava-se a multar alunos que estacionavam os
carros nos lugares destinadas a professores. Não há, como nas escolas de
Nova York,
Los Angeles e
Chicago,
detectores de metais
na entrada. Nas festas de formatura, os alunos costumavam aceitar o
pedido dos pais para proibir o consumo de bebidas alcoólicas. Columbine
era famosa por ser conservadora e privilegiar os jogadores das equipas
de
futebol americano,
basebol e
basquetebol.
Possíveis motivações
Harris e Klebold, ótimos alunos de boas famílias, não eram populares
na escola. Preferiam os computadores aos desportos. Encontraram o seu enquadramento num grupo chamado a
Máfia da Capa Preta. Ridicularizados pelos atletas, remoíam planos de vingança e extravasavam o seu ódio na
Internet.
Harris, principal cabeça por trás do ataque, tinha um website, agora
desativado, no qual colecionava suásticas e sinistros vídeos
neonazis
e até dava esquemas para a fabricação de bombas. No seu auto-retrato,
escreveu: "Mato aqueles de quem não gosto, deito fora o que não quero e
destruo o que odeio". Já Klebold dizia que seu número pessoal era "420",
possivelmente uma referência à data de nascimento de Hitler, 20 de abril.
Os diários dos jovens foram encontrados, mas não se chegou a
uma conclusão sobre o motivo do ataque. «Não eram rapazes comuns que
foram importunados até retaliarem», escreveu o psicólogo Peter Langman
no seu livro, "Why Kids Kill: Inside the Minds of School Shooters" ("Por
que Crianças Matam: Dentro das Mentes dos Atiradores Escolares") «Não
eram rapazes comuns, que jogavam jogos de jogos de vídeo demais», «Não eram
rapazes comuns que queriam apenas ser famosos», «Eles simplesmente não
eram rapazes comuns», «Eram rapazes com problemas psicológicos sérios».
No seu diário Harris mostrava toda a sua revolta e o seu "desejo de ser Deus", enquanto Klebold mostrava grande depressão.
Harris escreveu certa vez: "Eu me sinto como Deus, e gostaria que
fosse assim, para que todos estivessem OFICIALMENTE abaixo de mim"
Enquanto Klebold escreveu "Eu sou um deus, um deus da tristeza".
Planeamento
Eric Harris e Dylan Klebold conseguiram o seu arsenal comprando-o na
Internet - duas caçadeiras, uma pistola semi-automática e uma
espingarda de assalto de
9mm,
acharam também na Internet o esquema para fabricar as bombas. Um
vizinho viu os dois, na segunda-feira, véspera do fuzilamento, partindo
garrafas com um taco de basebol. Os cacos seriam usados como estilhaços
nas bombas, mas o vizinho não desconfiou de nada. Harris escreveu num
diário os planos do ataque à escola. Um diagrama mostra como as armas
seriam escondidas sob as longas capas de couro preto. Num exemplar do
livro de formatura do colégio, Harris escreveu sobre as fotos, quem ia
morrer e quem seria poupado: "Morto", "Morrendo" e "Salvo".
Depois pairou a suspeita de que os atiradores
tinham contado com a ajuda de cúmplices no ataque. Duvidando de que
pudessem carregar sozinhos mais de 30 bombas para dentro do colégio, a
polícia investigava outros membros da Máfia da Capa Preta. Entre a
invasão da escola, às 11.30 da manhã, e a descoberta dos corpos pela
polícia, às 04.00 da tarde, os cúmplices podem ter deixado o prédio
misturados à multidão que conseguiu escapar. A equipe da
SWAT ordenava que todos levassem as mãos à cabeça, mas não tinha como separar supostos atacantes de vítimas.
Centenas de alunos e um professor trancados nas salas, ouviam os
tiros e explosões sem saber o que estava acontecendo. Muitos ligaram
para casa pelos celulares, sussurrando, para pedir por socorro. Harris e
Klebold acompanhavam tudo pela
TV da
biblioteca,
vendo a transmissão ao vivo do cerco à escola. No final, depois de meia
hora de silêncio, a SWAT invadiu a biblioteca e encontrou os corpos dos
dois, cercados de outros, alguns irreconhecíveis. O sangue era tanto que
a polícia divulgou a estimativa de 25 mortos. Só no dia seguinte,
desativadas todas as bombas, puderam retirar e contar os corpos.
Passado
Os dois tinham antecedentes criminais. Em janeiro do ano anterior,
foram presos depois de arrombar um carro e roubar equipamento eletrónico
avaliado em 400 dólares. Condenados, tiveram de prestar 45 horas de serviço
comunitário e fazer um tratamento psicológico destinado a pessoas que
cometem infrações menores. No mês anterior ao crime completaram com
sucesso o programa de recuperação.
No ano letivo de
1997-
98,
houve 42 homicídios em escolas americanas. O pior, até então, havia
acontecido em março de 1998, quando dois meninos de 11 e 13 anos mataram
quatro colegas e uma professora numa escola do
Arkansas. Nos
anos 80, as escolas das grandes cidades, Nova York, Los Angeles e Chicago, eram campo de batalha de
gangues. Nos
anos 90,
a violência migrou para subúrbios ricos e pequenas cidades rurais, e os
assassinos passaram a ser jovens solitários e desequilibrados. "Eu não
tinha outra saída", explicou o adolescente de 16 anos que, em outubro de
1997, no
Mississippi, matou a mãe em casa e depois, na escola, assassinou dois colegas e feriu sete.
Cronologia
A cronologia do ataque à
Columbine High School foi montada a partir
de informações captadas pelas câmaras internas da escola, chamadas de
emergência e as reportagens locais: