É considerado o
símbolo religioso do
Deus encarnado, entre os adeptos do
movimento rastafári, que conta com aproximadamente 800.000 seguidores atualmente. Os rastafáris também o chamam de H.I.M., sigla em inglês para "Sua Majestade Imperial" (His Imperial Majesty),
Jah,
Ras Tafari e
Jah Rastafari.
Durante o seu governo, a repressão a diversas rebeliões entre as raças que compõem a Etiópia, além daquele que é considerado como o fracasso do país em se
modernizar adequadamente, rendeu-lhe críticas de muitos contemporâneos e
historiadores.
O seu protesto na
Liga de Nações, em
1936, contra o uso de
armas químicas contra o seu povo foi não só um prenúncio do
conflito mundial que se seguiria, mas também representou o advento do que se chamou de "refinamento tecnológico da barbárie", característica que veio a marcar as
guerras do período.
Nascido Tafari Makonnen, casou-se em
1911 com
Wayzaro Menen, filha do imperador
Menelik II, assim tornando-se príncipe, ou
Ras, em
amárico. Tafari significa, por sua vez,
indomável. O neto de Menelik II, Lij Iyasu (
Iyasu V), tornou-se imperador em
1913, mas foi deposto por uma assembleia de nobres, em conjunto com a Igreja Ortodoxa Etíope, por suspeita de ter se convertido ao
islamismo. Assumiu Zewditu, também filha de Menelik II, que morreria em
1930. Mesmo antes da morte de Zewditu, Ras Tafari já havia assumido a regência da Etiópia (em
1917), e foi investido como rei (
negus) em
1928. Finalmente, em
2 de abril de
1930, a imperatriz morreu, e em
2 de novembro do mesmo ano Ras Tafari tornou-se o 225º imperador na dinastia que remontava, segundo a crença, ao
Rei Salomão e a
Rainha de Sabá. Novamente muda de nome, para Haile Selassie (que significa
O Poder da Divina Trinidade) ou, na forma completa,
Sua Majestade Imperial, Imperador Haile Selassie, Eleito de Deus, Rei dos Reis, Senhor dos Senhores, Leão Conquistador da Tribo de Judá.
Iniciou então um governo que buscava modernizar a
Etiópia, seguindo as linhas gerais traçadas por Menelik II: principalmente trazer tecnologia para a Etiópia e inserir o país no contexto da comunidade das nações. Seu discurso na
Liga das Nações, em junho de
1936, sobre a guerra em geral e sobre a
invasão da Etiópia pela Itália (
1935), é considerado um dos mais belos e coerentes pronunciados por um líder político (o país havia sido admitido na Liga das Nações em 1923, logo após abolir a
escravatura). Selassie também deu a Etiópia a primeira
constituição de sua história, em
1931.
A
invasão da Etiópia pela
Itália em 1935 foi uma traição dos acordos celebrados entres esses países no ano de
1928. Também a Liga das Nações não fez sua parte, numa atitude muito semelhante àquela adotada pela
Inglaterra e pela
França em face a invasão alemã na
Checoslováquia - com a diferença de que o país invadido não pertencia à Europa, e sim à esquecida África.
Benito Mussolini recebeu uma condenação formal da liga, mas foi encorajado pela falta de atitudes desta para com seu ato injustificável. A invasão deflagrou a
Segunda Guerra Ítalo-Etíope. Em
1936 Selassie se viu obrigado a se retirar para o
exílio na
Inglaterra, deixando o posto de imperador.
A Itália estabeleceu um governo na Etiópia e tentou controlar os movimentos de resistência através de massacres e segregação. Selassie tentava angariar simpatia pelo seu país, e só veio a consegui-lo quando a Itália se aliou, na
Segunda Guerra Mundial, à
Alemanha. Com o apoio da
Inglaterra, mas contando essencialmente com forças de resistência etíopes e norte-africanas, Selassie retoma
Adis Abeba em
5 de maio de
1941. Aos poucos conseguiu afastar-se da influência britânica, mas ao mesmo tempo vem do exílio com novas idéias inspiradas na evolução da Inglaterra.
Com a derrota da Itália na frente etíope, já durante a
Segunda Guerra Mundial, Haile Selassie reassumiu o império. Havia tensões na
Eritréia, que não se identificava com o restante da Etiópia e rejeitava a soberania desta.
Selassie promove a reforma e recuperação da Etiópia, devastada pela guerra. Institui um imposto progressivo sobre a propriedade de terras. Em
1955 é promulgada uma nova constituição etíope, que institui, entre outras medidas, o voto universal, mas também concentra bastante o poder nas mãos do imperador.
Enquanto em missão diplomática no
Brasil, em
1960, Haile Selassie sofreu uma tentativa de golpe, organizada e dirigida por
Germane Neway que não teve sucesso, mas polarizou a Etiópia e preparou caminho para um segundo golpe alguns anos depois. Em
1963, Selassie participou da criação da
Organização da Unidade Africana.
O país enfrentou anos difíceis no início da
década de 1970. A grande fome de 1972–1973 agravou a contestação ao governo imperial, somando-se aos problemas políticos e à corrupção.
Em
12 de janeiro de
1974 registrou-se uma rebelião militar contra Selassie. Em junho, um grupo de cerca de 120 comandantes militares, formalmente fiéis ao imperador, formou um comitê para exercer o governo. Em
27 de setembro Selassie foi deposto por um golpe militar de inspiração
marxista, que instituiu um
Conselho Provisório de Administração Militar. Preso pelo novo governo, Selassié veio a falecer em
27 de agosto de
1975, oficialmente por complicações decorrentes de uma operação da
próstata. Essa versão é contestada por seus apoiadores e familiares, que entendem que o ex-imperador foi assassinado em sua cama
.
Discurso de Selassie na Liga das Nações em 1936
Enquanto a filosofia que declara uma raça superior e outra inferior não for finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada; enquanto não deixarem de existir cidadãos de primeira e segunda categoria de qualquer nação; enquanto a cor da pele de uma pessoa for mais importante que a cor dos seus olhos; enquanto não forem garantidos a todos por igual, os direitos humanos básicos, sem olhar a raças, até esse dia, os sonhos de paz duradoura, cidadania mundial e governo de uma moral internacional irão continuar a ser uma ilusão fugaz, a ser perseguida mas nunca alcançada. E igualmente, enquanto os regimes infelizes e ignóbeis que suprimem os direitos dos nossos irmãos, em condições subumanas, em Angola, Moçambique e na África do Sul, não forem superados e destruídos, enquanto o fanatismo, os preconceitos, a malícia e os interesses desumanos não forem substituídos pela compreensão, tolerância e boa-vontade, enquanto todos os Africanos não se levantarem e falarem como seres livres, iguais aos olhos de todos os homens como são no Céu, até esse dia, o continente Africano não conhecerá a Paz. Nós, Africanos, iremos lutar, se necessário, e sabemos que iremos vencer, pois estamos confiantes na vitória do bem sobre o mal.