
Diques de seis metros para conter a força da lava: como a Islândia preparou defesas para o vulcão Grindavik
As imagens da erupção do vulcão Grindavik, na Islândia, têm
impressionado em todo o mundo, depois de intensa atividade sísmica,
sentida na região, a península de Reykjanes, a sul de Reiquiavique, no
inicio de novembro. Apesar do cenário aterrador, e da preocupação
levantada com diversas populações, as autoridades admitem que estavam
preparadas para este cenário. Uma das soluções encontradas foi a
construção de barreiras para travar o avanço da lava do Grindavik.
“A questão não era se iria explodir. A questão era quando, diz Ármann
Höskuldsson, vulcanologista da Universidade da Islândia, citado pelo El
Confidencial. O quando foi esta segunda-feira à noite, com o vulcão a
expelir uma quantidade de lava suficiente para encher uma piscina
olímpica a cada 13 segundos (100 a 200 metros cúbicos de lava por
segundo).
A preparação foi feita ao longo dos últimos meses. Para além das
medidas ‘tradicionais’ de evacuação das populações e formação destas
para situações de emergência, a Islândia encetou a construção de diques
de contenção com cerca de seis a oito metros de altura e vários
quilómetros de comprimento, de forma a conter a lava e impedi-la de
chegar a infraestruturas, como a central energética próxima, e casas.
“As fortificações defensivas que recentemente começamos a construir
terão um impacto significativo ao lidar com a erupção vulcânica”, disse a
primeira-ministra Katrín Jakobsdóttir.
O país está, aliás, habituado a lidar com este tipo de problema,
tendo trinta e três sistemas vulcânicos considerados ativos, a região
mais vulcânica da Europa.
A erupção mais significativa aconteceu em 2010, quando o vulcão
Eyjafjallajokull causou enormes nuvens de cinza que durante dias
afetaram o ar e os voos em toda o continente.
Depois da atividade sísmica de novembro, vila mais próxima, com 4
mil habitantes, foi logo evacuada, esperando-se erupção, mas até já
estavam a ser feitos pedidos para as famílias poderem regressar a casa
no Natal. Vieram a concretizar-se as previsões.
Foi depois declarado o estado de emergência, e lançados avisos da
proteção civil para a população, pedindo a evacuação de Grindavík, pela
estrada junto à costa “para sair da cidade”.
Já no início do ano, a Proteção Civil tinha apresentado o plano para a
construção das ‘barragens’ para lava com até quatro quilómetros de
comprimento e entre seis a oito de largura, em forma curva, desenhadas
para proteger concentrações populacionais e infraestruturas essenciais.
A ideia não é “parar” realmente a lava (a força da Natureza não o
permite), explica o geólogo Mendez Chazarra ao mesmo jornal, mas sim
“desviá-la para outros locais”.
Outras tentativas, como a construção de enormes buracos, como trincheiras, não resultaram: a lava continua a o seu caminho.
O projeto começou a ser pensado logo em 2021, com a erupção do
Fagradalsfjall, criado por uma equipa de especialistas de várias
universidades, da Proteção Civil, engenheiros e elementos do Instituto
Meteorológico e Geológico local, que estudaram cenários de futuras
erupções, apurando quais as que poderiam ser mais prováveis de sofrer
uma erupção, e atualizando a localização das potenciais barragens a
construir, com os dados apurados.
O plano, portanto, tem um horizonte a longo-prazo. “As recomendações
dos cientistas indicam para um período prolongado de terramotos e
erupções vulcânicas em Reykjanes, e as barragens não serão apenas
construídas para o cenário que estamos agora a ver, mas seriam sim
construídas para parte de todos os cenários que foram propostos.
Pensamos no longo prazo”, disse Víðir Reynisson, diretor de Segurança
Pública da Polícia Nacional,
Vários vulcanólogos islandeses apontam que “foi bom a instalação destas defesas” e que “com ‘sorte’ se demonstrarão úteis”.
Fica no entanto o dilema de para onde ‘desviar’ o fluxo de lava.
Dependendo do tempo que a erupção durar, a prioridade para as
autoridades islandesas é proteger a Central Elétrica de Svartsengi e a
zona da Blue Lagoon (Lagoa Azul), uma dos pontos turísticos mais
visitados do país.
No entanto, nem todas as construções do ambicioso projeto estão já
concluídas. O período, de apenas 45 dias, revelou-se curto, e estavam os
trabalhadores no local quando a erupção começou. No entanto, segundo
comunicado oficial “não estiveram em perigo e saíram da zona em
segurança”.
Espera-se agora, com ansiedade para ver os diques de desvio de lava
em ação e ver se os que já estão concluídos cumprem o seu efeito, numa
altura em que as autoridades islandesas já indicaram que “a potência da
erupção está a diminuir com o tempo, bem como a sismicidade”.
in Executive Digest