Distinto parlamentar e par do Reino, procurador-geral da Coroa,
ministro das obras públicas, das finanças e dos negócios estrangeiros e
líder incontestado do
Partido Regenerador, por três vezes assumiu o cargo de
presidente do Conselho
(equivalente hoje ao lugar de primeiro-ministro). Foi um dos políticos
dominantes da fase final da Monarquia Constitucional, ocupando a
presidência do ministério mais tempo que qualquer outro naquele período.
A ele se devem importantes reformas, algumas das quais ainda perduram, tais como as
autonomias insulares
(1895), o regime das farmácias e a criação do regime florestal (1901). O
Decreto de 24 de dezembro de 1901, que regula o regime florestal, ainda
está em vigor. Feito Conselheiro de Estado efetivo em 1891, recebeu
múltiplas condecorações, entre as quais a grã-cruz da Torre e Espada.
(...)
Novamente foi encarregado de constituir gabinete, tomando posse a 19
de março de 1906, sendo o Presidente do Conselho e Ministro do Reino.
O governo iniciou funções num ambiente de forte agitação popular, com
o crescimento da propaganda republicana e com a insubordinação das
guarnições do cruzador D. Carlos (a 8 de abril de 1906) e do
couraçado Vasco da Gama
(a 13 de abril de 1906), ambos surtos no Tejo e os mais poderosos vasos
de guerra da armada portuguesa de então, o que colocou a população de
Lisboa em alvoroço e criou um ambiente pré-insurreccional.
Apesar disso, o governo apresentou ao parlamento a lei que resolvia a
questão dos tabacos, questão que motivara a queda do ministério
progressista e a cisão dada nesse partido, de onde se formou o grupo dos
dissidentes.
À crescente popularidade dos republicanos e à instabilidade política e
social que se vivia, o governo de Hintze Ribeiro respondeu com dureza,
recorrendo à repressão policial. Tais factos, a que se juntou o
resultado desfavorável das eleições de 29 de abril de 1906, os graves
incidentes que rodearam a manifestação organizada à chegada do líder
republicano
Bernardino Machado à Estação do Rossio, na noite de 4 de maio de 1906 (com uma carga policial cuja brutalidade o próprio rei
D. Carlos I,
em carta enviada a Hintze Ribeiro, considerou excessiva) e a recusa de
assentimento real para o adiamento das Cortes, acabaram por resultar na
demissão de Hintze Ribeiro, após apenas 57 dias de governo. A 19 de maio
de 1906 era substituído por um ministério presidido por João Franco.
A carta de demissão enviada por Hintze Ribeiro ao rei é ainda hoje
considerada como um dos mais importantes documentos políticos da época.
Após o abandono da vida política ativa, Hintze Ribeiro viajou pelo
estrangeiro e, ao regressar a Portugal ainda participou em alguns
debates parlamentares atacando a política do seu ex-correlegionário João
Franco.
Por esse tempo Hintze Ribeiro era um dos vultos mais prestigiosos do
campo monárquico. Depois de deixar o poder, sentindo-se doente, fez uma
viagem ao estrangeiro para se distrair, mas a vida já se lhe ia
extinguindo. Tendo falecido o conde de
Casal Ribeiro,
que era seu amigo íntimo, quis, apesar do seu estado de saúde,
acompanhá-lo ao cemitério, mas pouco depois do cadáver ter entrado no
jazigo, Hintze Ribeiro caiu fulminado ao encaminhar-se para a porta do
cemitério.
A imprensa política de todos os partidos, até mesmo os que lhe eram
mais adversos, prestaram-lhe as maiores homenagens, publicando artigos
elogiosos, lastimando tão grande perda para a política portuguesa.
Falecendo com apenas 57 anos de idade, Hintze Ribeiro possuía já as
mais altas distinções e condecorações nacionais e estrangeiras, entre
elas o Tosão de Ouro e as grã-cruzes da Torre e Espada, da Legião de
Honra, e da ordem dos Serafins.