(...)
O Tenente-Coronel Stanislav Petrov era o
oficial de dia no
bunker Serpukhov-15, perto de
Moscovo, no dia
26 de setembro de
1983, ainda na
Guerra Fria. Apenas três semanas e meia antes, os
soviéticos haviam derrubado um
avião Boeing 747 sul-coreano,
matando 269 a bordo. A responsabilidade do Tenente-Coronel Petrov era
observar a rede de alerta preventivo por satélites e notificar os seus
superiores sobre qualquer possível ataque com míssil nuclear contra a
URSS.
Caso isto ocorresse, a estratégia da União Soviética era lançar
imediatamente um contra-ataque nuclear maciço contra os Estados Unidos,
como previsto pela doutrina da
Destruição Mútua Assegurada.
Pouco após a meia-noite, os computadores do bunker indicaram que um míssil americano se movia em direção à
União Soviética. O
Tenente-Coronel
Petrov deduziu que havia ocorrido um erro do computador, já que os
Estados Unidos não lançariam apenas um míssil se estivessem atacando a
União Soviética, e sim vários ao mesmo tempo. Além disso, a
confiabilidade do sistema por satélite havia sido questionada
anteriormente. Por isso considerou o alerta como
alarme falso, concluindo que de facto não havia míssil lançado pelos
EUA.
Pouco tempo depois, os computadores indicavam que um segundo
míssil tinha sido lançado, a seguir dum terceiro, um quarto e um quinto.
Petrov ainda acreditava que o sistema computadorizado estava errado,
mas não tinha mais outras fontes de informação para poder confirmar as
suas suspeitas. O
radar terrestre da União Soviética não tinha capacidade para detectar mísseis além do
horizonte, então quando o radar terrestre pudesse positivamente identificar a ameaça, seria tarde demais.
Percebendo que se estivesse equivocado, mísseis nucleares logo estariam a chover sobre a
URSS, Petrov decidiu confiar na sua intuição e declarou as indicações do sistema como alarme falso.
Após um breve momento, ficou claro que o seu instinto estava certo. A
crise fez nele grande pressão e muito nervosismo, mas o juízo de Petrov
foi correto. Uma guerra nuclear de escala total tinha sido evitada.
Naquela noite não estava agendado para Petrov estar de guarda.
Se não estivesse lá, seria possível que um outro oficial no comando
tivesse tomado uma decisão contrária.
(...)
Apesar
de ter prevenido um potencial desastre nuclear, Petrov desobedecera
ordens e desafiara o protocolo militar. Mais tarde, ele sofreu intenso
questionamento pelos seus superiores sobre a sua atitude durante a prova
de fogo, o resultado disso foi que ele não mais foi considerado um
oficial militar confiável.
O
exército Soviético
não puniu Petrov pelas suas ações, mas não reconheceu ou honrou-o
também. Suas ações haviam revelado imperfeições no sistema militar
soviético, o que deixou seus superiores em maus lençóis. Foi-lhe feita
uma reprimenda, oficialmente pelo arquivamento improprio de papelada de
trabalho, e sua, uma vez promissora, carreira chegou ao fim. Ele foi
recolocado para um posto menos sensível e por fim retirado do serviço
militar.
Petrov continuou vivendo na
Rússia como pensionista, passando a sua reforma na pobreza, na cidade de
Fryazino. Disse que não se considera um herói pelo o que fez naquele dia, mas mesmo assim, em
21 de maio de
2004, uma associação
californiana, chamada
Association of World Citizens, deu ao Coronel Petrov o seu prémio
World Citizen Award, junto com um troféu e
US$ 1.000,00 em reconhecimento do papel exercido ao evitar a catástrofe.
Menos de dois meses após o evento de
Setembro de
1983, a
ABC, rede de TV norte americana, mostrou o controverso filme
The Day After.
O drama de ficção trata de uma guerra nuclear entre os Estados Unidos e
a União Soviética e que efeitos isto teria em famílias vivendo numa
típica cidade americana. Hoje em dia, acontecimentos envolvendo Petrov
permanecem desconhecidos do público americano. A maioria das pessoas
pensa (incorretamente) que a
Crise dos Mísseis de Cuba, vinte anos antes, foi o evento mais recente que poderia ter eclodido numa guerra nuclear.