O seu pai, Franz Strauss, era primeiro trompetista da orquestra da Ópera de Munique, tendo participado da estreia de
Tristão e Isolda e
Die Meistersinger, sendo muito elogiado pelo próprio
Wagner, que gostava de ouvi-lo tocar solos das partes de
trompa das suas óperas e pediu-lhe que revisse as partes desse instrumento na partitura de
Siegfried. Ainda criança, Strauss estudou
violino e
harpa com membros dessa mesma orquestra, e antes de completar dez anos, já havia escrito uma serenata para instrumentos de sopro.
Em
1885 Richard Strauss tornou-se assistente do célebre regente Hans von Bülow em
Meiningen e, um mês mais tarde, tornou-se regente titular daquela orquestra. Foi também diretor da Ópera de
Weimar (
1886),
Berlim (
1898), e
Viena (
1919-
1924).
Em
1894 ele foi convidado por Cosima Wagner a reger
Tannhäuser em
Bayreuth, tornando-se amigo da viúva de Wagner.
Entre 1886 e 1898 Richard Strauss assombrou o mundo com uma série de poemas sinfónicos e sinfonias. Em 1893 ele se casou com a
soprano Pauline de Ahna, a primeira a cantar o papel de Freihild na sua primeira ópera,
Guntram. Mas quando ele conheceu o poeta
Hugo von Hofmannsthal por volta de 1909, uma nova fase se abriu na produção musical de Richard Strauss, dedicada principalmente à ópera.
Durante a
Primeira Guerra Mundial Richard Strauss foi ardente partidário da dinastia dos
Hohenzollern. Apesar disso, durante a década que se seguiu à derrota da Alemanha o músico foi acolhido internacionalmente com calor e respeito.
Após a subida ao poder de
Hitler (
1933), Richard Strauss aceitou ser nomeado diretor do
Reichsmusikkammer (1934). Isso tem levado a suspeitas de simpatia com os nazis, o que fez com que o compositor sofresse o desdém de outros músicos que protestaram veementemente contra o regime nazi, entre os quais
Toscanini,
Arthur Rubinstein e
Otto Klemperer. É sabido que Strauss dedicou uma canção a
Joseph Goebbels, ministro da propaganda da
Alemanha Nazi. Richard Strauss não seria antissemita
. Isso pode ser provado pelo facto de ele ter colaborado com um escritor
judeu,
Stefan Zweig, autor do libreto de uma de suas óperas,
Die Schweigsame Frau (Stefan Zweig foi para o Rio, onde cometeu
suicídio), e pelo facto de que ele fez tudo para defender a sua nora, que era judia. Após a derrota de Hitler em
1945 os Aliados instalaram na Alemanha um comité de desnazificação, e Richard Strauss foi chamado a depor, mas o tribunal inocentou-o de qualquer filiação ou apoio ao partido nazi. Convidado a reger os seus concertos em
Londres, em
1947, foi recebido entusiasticamente.
Pouco depois Richard Strauss compôs sua última obra,
Vier Letzte Lieder ("Quatro Últimas Canções"). Morreu pacificamente em sua casa em Garmish-Partenkirchen, a 8 de setembro de 1949. Encontra-se sepultado em
Richard Strauss Villa,
Garmisch,
Baviera na
Alemanha.
Strauss era
ateu, duvidava de todas as religiões, exceto talvez a religião da razão. "Eu nunca me converterei, e eu permanecerei fiel a minha velha religião clássica até o fim de minha vida", declarou pouco tempo antes de sua morte.
Óperas
Como compositor de óperas, pode-se dizer que a maioria das óperas de Richard Strauss tem por título um nome de mulher e está centrada numa personagem feminina. O mesmo acontece com
Puccini, mas há uma diferença. As heroínas de Puccini são criaturas dóceis e submissas, inteiramente dedicadas aos seus amantes, a quem são fiéis até à morte, com excepção de
Turandot. Já nas óperas de Richard Strauss há todo os tipos de mulher: a revoltada como
Elektra; a perversa, protótipo da
femme fatale (
Salomè); a doçura, a sabedoria e a delicadeza da Marechala de
Der Rosenkavalier; a mulher doente de amor (
Ariadne auf Naxos); o bom gosto e o refinamento da Condessa Madeleine em
Capriccio, incapaz de escolher entre um poeta e um músico - e Strauss aproveita para fazer a apologia da poesia e da música, as duas artes irmãs nesta ópera. Um subtítulo geral para as óperas de Richard Strauss poderia ser "a mulher no divã" ou
psicanálise feminina. O poeta
Hugo von Hofmannsthal, amigo do compositor, compartilhava dos mesmos gostos e das mesmas tendências, eis por que a colaboração entre os dois foi tão frutífera.
Musicalmente, Richard Strauss levou a
atonalidade a paroxismos de histeria em
Salomè e, principalmente, em
Elektra, a mais atonal das partituras do compositor. No entanto, em
Der Rosenkavalier, ele resolveu voltar atrás, misturando
valsas e suaves melodias tonais com todo o arrojo das tendências musicais contemporâneas, e este foi mais ou menos o caminho que ele trilhou até o fim. Strauss nunca escondeu que seus compositores favoritos eram
Wagner e
Mozart, e de facto encontramos forte influência de ambos nas partituras de Richard Strauss, o que não impede que ele seja uma personalidade musical única.
Strauss deixou estas reflexões, através das quais penetramos na sua mente e nas ideias que o norteavam, especialmente no que se refere à composição operística:
- Quando somos jovens, imagina-se que um libreto só é interessante se contém cenas violentas e assassinatos terríveis. Depois começa-se a compreender que também nos pequenos acontecimentos da vida quotidiana há coisas que merecem ser notadas e exaltadas com intenso lirismo. É preciso aprender a descobrir quanto existe de profundo nos factos e nas coisas que parecem humildes. Debaixo de um manto de púrpura muitas vezes vive uma mesquinha criatura; sob a roupa desalinhada de um pequeno burguês dos nossos dias palpita às vezes um coração de herói. Temos que nos curar da mania do heroísmo cenográfico, e especialmente renunciar aos venenos, aos punhais e aos incestos.