Biografia
Eça de Queirós foi batizado como «filho natural de José Maria
d'Almeida de Teixeira de Queirós e a mãe era Carolina Augusta Pereira de
Eça».
Uma das teses para tentar justificar o facto dos pais do escritor não
se terem casado antes do nascimento deste sustenta que Carolina Augusta
Pereira de Eça não teria obtido o necessário consentimento da parte de
sua mãe, já viúva do coronel José Pereira de Eça. De facto, seis dias
após a morte da avó que a isso se oporia, casaram-se os pais de Eça de
Queirós, quando o menino tinha quase quatro anos.
Eça, por sua vez, apresenta episódios incestuosos em criança
relatados no diário de sua prima. Por via dessas contingências foi
entregue a uma ama, aos cuidados de quem ficou até passar para a
casa de Verdemilho em
Aradas,
Aveiro, a casa da sua avó paterna. Nessa altura, foi internado no
Colégio da Lapa, no
Porto, de onde saiu em 1861, com dezasseis anos, para a
Universidade de Coimbra, onde estudou
Direito. Além do escritor, os pais teriam mais seis filhos.
O pai era magistrado, formado em Direito por Coimbra. Foi juiz instrutor do célebre processo de
Camilo Castelo Branco, juiz da Relação e do Supremo Tribunal de Justiça, presidente do Tribunal do Comércio, deputado por
Aveiro,
fidalgo cavaleiro da Casa Real, par do Reino e do Conselho de Sua Majestade. Foi ainda escritor e
poeta.
Em Coimbra, Eça foi amigo de
Antero de Quental.
Os seus primeiros trabalhos, publicados na revista "Gazeta de
Portugal", foram depois coligidos em livro, publicado postumamente com o
título
Prosas Bárbaras.
Em 1866, Eça de Queirós terminou a Licenciatura em Direito na Universidade de Coimbra e passou a viver em Lisboa, exercendo a
advocacia e o
jornalismo. Foi diretor do periódico
O Distrito de Évora e colaborou em publicações periódicas como a
Renascença (1878-1879?),
A Imprensa (1885-1891),
Ribaltas e gambiarras (1881) e postumamente na
Revista de turismo iniciada em 1916 e na
Feira da Ladra
(1929-1943). Porém, continuaria a colaborar esporadicamente em jornais e
revistas ocasionalmente durante toda a vida. Mais tarde fundaria a
Revista de Portugal.
Em 1869 e 1870, Eça de Queirós fez uma viagem de seis semanas ao
Oriente
(de 23 de outubro de 1869 a 3 de janeiro de 1870), em companhia de D.
Luís de Castro, 5.º conde de Resende, irmão da sua futura mulher, D.
Emília de Castro, tendo assistido no
Egito à inauguração do
canal do Suez: os jornais do Cairo referem
Le Comte de Rezende, grand amiral de Portugal, et chevalier de Queirós. Visitaram, igualmente, a
Palestina. Aproveitou as notas de viagem para alguns dos seus trabalhos, o mais notável dos quais o
O mistério da estrada de Sintra, em 1870, e
A relíquia, publicado em 1887. Em 1871, foi um dos participantes das chamadas
Conferências do Casino.
Tendo ingressado na
carreira diplomática, em 1873 foi nomeado
cônsul de Portugal em
Havana. Os anos mais produtivos de sua carreira literária foram passados em
Inglaterra, entre 1874 e 1878, durante os quais exerceu o cargo em
Newcastle e
Bristol. Escreveu então alguns dos seus trabalhos mais importantes, como
A Capital, escrito numa prosa hábil, plena de realismo. Manteve a sua atividade jornalística, publicando esporadicamente no
Diário de Notícias, em
Lisboa, a rubrica «Cartas de Inglaterra». Mais tarde, em 1888 seria nomeado cônsul em Paris.
O seu último livro foi
A Ilustre Casa de Ramires, sobre um
fidalgo
do século XIX com problemas para se reconciliar com a grandeza de sua
linhagem. É um romance imaginativo, entremeado com capítulos de uma
aventura de vingança bárbara que se passa no século XII, escrita por
Gonçalo Mendes Ramires, o
protagonista. Trata-se de uma novela chamada
A Torre de D. Ramires,
em que antepassados de Gonçalo são retratados como torres de honra
sanguínea, que contrastam com a lassidão moral e intelectual do rapaz.
Aos 40 anos casou com Emília de Castro, com quem teve 4 filhos: Maria, José Maria, António e Alberto.
Morreu em 16 de agosto de 1900, na sua casa de
Neuilly-sur-Seine, perto de
Paris. Teve
funeral de Estado,
foi sepultado em Cemitério dos Prazeres de Lisboa, mas mais tarde foi
transladado para o cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião.
(...)
Doença e morte
Eça de Queiroz, nunca
tendo sido de compleição robusta, ao longo da vida sofreu de diversas
maleitas de menor gravidade, sobretudo alguma neurastenia.
A partir de Fevereiro de 1900, apresentava, contudo, sintomas bastante
debilitantes — dor estomacal, diarreia, febre, nevralgias, inchaço dos
pés, falta de apetite e astenia. Consultado o Dr. Charles Bouchard, sumidade médica, que lhe diagnostica uma enterocolite
e lhe recomenda repouso e cuidados. Andou por diversas termas, mas de
pouco ou nada serviu. No final de Julho esteve na Suíça. Regressou a
Paris a 13 de Agosto, num estado lastimável, magríssimo e com má cor.
Chamado o Dr. Bouchard, que se apercebeu de que Eça estava à beira da
morte. Acamado, semi-inconsciente, a 16 de Agosto de 1900, depois de ter
recebido a extrema-unção, às 16h35, o escritor morria na sua casa de Neuilly-sur-Seine, perto de Paris.
Sepultura
Depois de ter morrido em Paris, Eça de Queiroz foi trasladado para Lisboa a 17 de setembro de 1900 no navio militar África.
As principais ruas da cidade exibiram faixas negras (oferecidas pelo
empresário Grandela) e o carro fúnebre foi ornamentado pelo amigo do
escritor Rafael Bordalo Pinheiro.
O cortejo fúnebre, com honras de Estado, foi acompanhado por milhares
de pessoas entre o desembarque no Terreiro do Paço e o cemitério do
Alto de São João. Os restos mortais foram sepultado no jazigo dos condes de Resende.
Em virtude do jazigo se encontrar abandonado e prestes a ser
vendido, por decisão da família, encabeçada por Maria da Graça Salema de
Castro (1919-2015), viúva de um neto de Eça, e fundadora da FEQ, a 13
de Setembro de 1989 procedeu-se à trasladação dos restos do escritor
para o jazigo da Fundação Eça de Queiroz no cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião.
Em dezembro de 2020, com o apoio da maioria dos bisnetos, a
Fundação Eça de Queiroz, então presidida por Afonso Eça de Queiroz
Cabral, lançou o repto para a concessão de honras de Panteão Nacional.
Em janeiro de 2021, a Assembleia da República aprovou, por unanimidade,
uma proposta para «conceder honras de Panteão Nacional aos restos
mortais de José Maria Eça de Queiroz, em reconhecimento e homenagem pela
obra literária ímpar e determinante na história da literatura
portuguesa.»
Os restos mortais do escritor deveriam ter sido trasladados para o Panteão Nacional em 27 de setembro de 2023. No entanto, dois anos e meio depois da votação e apenas a uma semana da cerimónia, foi interposta uma providência cautelar por parte de uma minoria de bisnetos do escritor para impedir a transladação. O Supremo Tribunal Administrativo, em sentença de 25 de setembro de 2023 relativamente à providência cautelar, e em sentença de 20 de junho de 2024
relativamente à ação principal depois interposta, deu como provado que
não há qualquer vontade expressa pelo próprio sobre o local de
sepultamento - dissipando assim os mitos sobre não querer ser sepultado
em Lisboa ou mesmo a suposta vontade de ser sepultado em Aveiro ou
Tormes -, e deu também como provado que uma larga maioria de bisnetos
apoia a trasladação. Face à sentença da ação principal, aguarda-se nova
data para a cerimónia.