Franz era o mais velho de seis filhos. Ele tinha dois irmãos mais
novos, Georg e Heinrich, que morreram com a idade de 15 meses e 6 meses,
respectivamente, antes de Franz completar 7 anos, e três irmãs mais
novas: Gabriele ("Elli") (1889-1944), Valerie ("Valli") (1890-1944) e
Ottilie ("Ottla") (1892-1943). Em dias úteis, os pais estavam ausentes
em casa. A mãe de Franz ajudou a administrar os negócios do marido e
trabalhou neles até 12 horas por dia. As crianças foram criadas em
grande parte por uma série de governantas e funcionários. A relação de
Kafka com seu pai foi gravemente perturbada, conforme explicado na
carta ao seu pai, em que ele se queixou de ser profundamente afetado
pelo exigente caráter autoritário deste.
Educação
Kafka aprendeu
alemão como primeira língua, contudo era quase fluente em
checo.
Considerava-se incapaz nos estudos, tanto que em uma carta a Felice
Bauer declarou que não acreditava que conseguiria concluir o ensino
médio. No momento de escolher a carreira, optou pelo curso de Filosofia,
no entanto foi impedido pelo seu pai, com quem não tinha uma relação
de afetividade. Tendo de decidir entre Química e Direito, Franz opta
pela faculdade de Química, juntamente com o seu grande amigo, Max Brod.
Permanece 15 dias no curso e desiste, entrando de vez para a faculdade
de Direito, que será tema de boa parte de suas obras. Formado em
Direito em
1906, trabalhou como advogado a princípio na companhia particular
Assicurazioni Generali e depois no semiestatal
Instituto de Seguros contra Acidentes do Trabalho.
Solitário, com a vida afetiva marcada por irresoluções e frustrações,
Kafka atingiu pouca fama com seus livros, na maioria editados
postumamente. Mesmo assim era respeitado nos círculos de literatura que
frequentava.
ObraA Metamorfose (novela escrita em
1912 em uma noite em claro conforme descreve, e publicado em
1915)
narra o caso de Gregor Samsa, que após acordar de um pesadelo, vê seu
corpo transformado em um inseto daninho. Conforme a história se
desenvolve o filho se vê inferiorizado com relação a figura paterna.
Franz Kafka trata da condição humana, da humilhação, com uma linguagem
rica em ironias e
metáforas, e que se aprofunda nas relações de poder dentro do ambito familiar. Um conflito similar entre pai e filho ocorre em
O Veredicto, nesta história dedicada a
Felice Bauer, o pai exerce o papel de juiz diante do filho. Mas é em
Carta ao Pai que a relação com seu pai é exposta de maneira chocante e em detalhes. A
Carta ao Pai foi escrita em 1919, mas nunca chegou a ser enviada a seu pai, embora houvesse cogitado como revela em carta a
Milena Jesenská.
O Processo (
1925)
é um romance, que conta o caso de Josef K., ele se encontra envolto a
um nebuloso processo sobre um crime que lhe é desconhecido. A condição
humana e sua relação nesta obra, já ultrapassa a dimensão da família, e
passa a englobar as relações de dominio do Estado sobre o indivíduo.
Em
O Castelo (
1926), o
agrimensor
K. é convidado a exercer sua atividade a convite dos senhores de um
castelo, mas ao lá chegar é recepcionado com espanto pelos aldeões, ao
mesmo tempo em que o acesso ao castelo se torna mais e mais distante. Em
A Construção,
uma de suas ultimas obras, retrata o medo absurdo de uma criatura, e
todas as precauções para manter sua vida preservada diante de um perigo
que se aproxima de modo inevitável.
O livro
A Colónia Penal (
1914)
fala sobre uma máquina que tem o poder de executar sentenças. Trata-se
de uma história absurda sobre uma Colónia que usa esta máquina para
torturar e matar pessoas, sem que estas sequer saibam o porquê da sua
morte. O livro é uma crítica aos sistemas
despóticos
de poder. Essas quatro obras-primas definem não apenas boa parte do
que se conhece até hoje como "literatura moderna", mas o próprio
carácter do século:
kafkiano.
Autor de várias colectâneas de contos, Kafka escreveu também a avassaladora
Carta ao Pai (1919) e centenas de páginas de diários. Deixou inacabado o romance
Amerika e mesmo alguns capítulos de
O Processo
- cujos capítulos foram escritos sem ordem cronológica da obra e há
controvérsias se a edição oficial do livro é a definitiva - também
ficaram inacabados.
Kafka morreu num
sanatório perto de Viena, onde foi internado com
tuberculose. Desde então, seu legado - resgatado pelo amigo
Max Brod - exerce uma enorme influência na literatura mundial.
Espólio
Em 2012, depois de anos de disputa, a colecção de documentos, que
inclui inéditos e documentos pessoais de Franz Kafka e Max Brod vai ser
entregue à Biblioteca Nacional de Israel. A decisão do tribunal de Tel
Aviv obriga as filhas da antiga secretária de Brod a devolverem o
espólio.
Tudo começou logo após a morte de Kafka em 1924, quando o amigo e
testamenteiro literário Max Brod, também escritor, jornalista e
compositor, não queimou os manuscritos, diários e cartas e tudo o que
restava, como era a última vontade do escritor.
Max Brod emigrou para a Palestina em 1939, fugindo à perseguição nazi,
dando instruções a Esther Hoffe, secretária e amante, que quando
morresse todos os documentos fossem depositados na Biblioteca Nacional
de Jerusalém. O que nunca viria a acontecer.
Brod morreu em 1968 e Esther Hoffe não respeitou o pedido e ficou com o
espólio. Em 1998 decidiu levar a leilão o manuscrito de O Processo,
que viria a ser adquirido, pelo equivalente a cerca de milhão e meio de
euros, pelo Ministério da Cultura alemão, ficando depositado na
Biblioteca de Marbach am Neckar, uma pequena cidade no Sul do país, no
estado de Baden-Württemberg, a uns 35 km de Estugarda.
Esther, que morreu em 2007, decidiu deixar às filhas o espólio de
Kafka. Após a morte da mãe, em 2007, Eva e Ruth quiseram fazer valer os
direitos também sobre parte daquele património que entretanto foi
descoberto no apartamento de Esther, em Tel Aviv.
Foi nessa altura que o Estado de Israel decidiu intervir, reivindicando
o espólio para a Biblioteca Nacional de Jerusalém. Soube-se então que
outra parte do espólio estava depositado, desde há várias décadas e
ainda por iniciativa de Max Brod, num banco na Suíça.
Estilo literário
A escrita de Kafka é marcada pelo seu tom despegado, imparcial, atenciosa ao menor detalhe, e abrange os temas da
alienação e perseguição. Os seus trabalhos mais conhecidos são as pequenas histórias
A Metamorfose,
Um artista da fome e os romances
O Processo,
América e
O Castelo. Os seus contos são julgados como verdadeiros e realistas, em contacto com o homem do
século XXI,
pois os personagens kafkianos sofrem de conflitos existenciais, como o
homem de hoje. No mundo kafkiano, os personagens não sabem que rumo
podem tomar, não sabem dos objetivos da sua vida, questionam seriamente a
existência e acabam sós, diante de uma situação que não planearam,
pois todos os acontecimentos se viraram contra eles, não lhes oferecendo
a oportunidade de se aproveitar da situação e, muitas vezes, nem mesmo
de sair dela. Por isso, a temática da solidão como fuga, a paranóia e
os delírios de influência estão muito ligados à obra kafkiana, sendo
comum a existência de personagens secundários que espiam, e conspiram
contra o protagonista das histórias de Kafka (geralmente homens, à
exceção de alguns contos onde aparecem animais e raros onde a
personagem principal é uma mulher). No fundo, estes protagonistas não
são mais que projecções do próprio Kafka, onde ele expõe os seus medos,
a sua angústia perante o mundo, a sua solidão interior, sua
problemática em lidar com a família e o círculo social.