Biografia
Infância e juventude
Estudou no
Liceu Passos Manuel, antes de partir, com 15 anos de idade, para a
Suíça. Neste país frequentou o
Institut auf dem Rosenberg, um colégio alemão situado em
São Galo, durante três anos,
tendo oportunidade de estudar línguas estrangeiras, tornando-se fluente em
francês,
inglês,
alemão,
italiano e
espanhol. Depois, já em
Genebra, obteve um diploma em
Gestão Hoteleira.
Anos 60 — a carreira artística
Empregado na
Companhia Nacional de Navegação, a morte do pai, em
1962, levou Carlos do Carmo a assumir a gerência d'
O Faia, que, com o passar dos anos, se tornara numa concorrida casa de
Fados da capital. N'
O Faia começou a atuar para os amigos e clientes mais frequentes da casa, até que em
1964 abraçou definitivamente a carreira artística.
O surgimento de Carlos do Carmo como fadista dá-se após gravar com
Mário Simões uma versão de
Loucura, fado de
Júlio de Sousa, interpretado também por
Lucília do Carmo.
O fadista afirma que escolheu o
Loucura porque era o único fado de que sabia a letra.
Se bem que habituado a ouvir o
fado desde criança, quer na voz de sua mãe, quer na voz de outros intérpretes, como os fadistas populares que ouvia nas
verbenas de
Lisboa ou dos artistas que passavam pel'
O Faia -
Alfredo Marceneiro,
Maria Teresa de Noronha ou
Carlos Ramos, para citar os que mais admirava
- o fadista viria a confessar que, nessa época, andava afastado da canção tradicional de
Lisboa. Ganhara gosto, no limiar da adolescência, pela música de
Luiz Gonzaga e
Dorival Caymmi, até se deixar fascinar, pouco mais tarde, por
Frank Sinatra e
Jacques Brel.
De resto, também o facto de passar vários anos no estrangeiro, contribuíra para que Carlos do Carmo se afastasse do
Fado.
A interpretação gravada com o quarteto de
Mário Simões é um desafio à forma tradicional de interpretação do
Fado. Carlos do Carmo canta este tema acompanhado de piano, baixo, guitarra elétrica e um coro de vozes femininas.
A faixa começa a passar regularmente na rádio e, em consequência do sucesso que tem, o fadista estreante lança, logo no ano seguinte, um EP em nome próprio:
Carlos do Carmo com Orquestra de Joaquim Luiz Gomes.
Em
1967, a Casa da Imprensa distingue-o com o prémio
Melhor Intérprete e, em
1970, atribui-lhe o prémio Pozal Domingues de
Melhor Disco do Ano, para o seu primeiro álbum, intitulado
O Fado de Carlos do Carmo, editado pela Alvorada em
1969.
Seria o início de uma das mais exemplares carreiras do panorama musical português, em geral, e do
fado, em particular.
À entrada da década de
1970, Carlos do Carmo grava diversos EPs e LPs, como
O Fado em Duas Gerações, Carlos do Carmo e Lucília do Carmo,
Por Morrer uma Andorinha ou
Carlos do Carmo.
Entretanto, depois de algumas aparições na televisão, surge em
1972 como produtor e apresentador de um programa semanal na
RTP: o
Convívio Musical, por onde passam alguns dos grandes nomes da canção portuguesa e internacional.
Subsequentemente ao
25 de abril, no
Festival RTP da Canção de
1976, em que esta adotou um modelo diferente do habitual, foi o único intérprete. Cantou oito canções, previamente selecionadas por um júri de dois elementos:
Manuel da Fonseca e
Pedro Tamen. As canções foram
No teu poema (
José Luís Tinoco),
Novo Fado alegre (
José Carlos Ary dos Santos/
Fernando Tordo),
Os lobos e ninguém (
José Luís Tinoco),
Maria-criada, Maria-senhora (
Tozé Brito),
Flor de verde pinho (
Manuel Alegre/
José Niza),
Onde é que tu moras (
Joaquim Pessoa/
Paulo de Carvalho) e
Estrela da tarde (
Ary dos Santos/
Fernando Tordo) - de entre estas, seria
Flor de Verde Pinho, poema de
Manuel Alegre e música de
José Niza, a canção mais votada pelo público e, por consequência, aquela que interpretou em representação de
Portugal no XXI Festival
Festival Eurovisão da Canção.
A participação daria o mote para a gravação do disco
Uma Canção Para a Europa.
Referência obrigatória na história do
Fado e na carreira de Carlos do Carmo é o disco
Um Homem na Cidade, editado em
1977 pela Trova. Neste álbum, interpreta poemas de
José Carlos Ary dos Santos, aliados a um conjunto de composições musicais inovadoras, de autorias tão diversas como
José Luís Tinoco,
Paulo de Carvalho,
António Victorino de Almeida,
Frederico de Brito,
Fernando Tordo,
Joaquim Luís Gomes,
Mário Moniz Pereira ou
Martinho d'Assunção.
Com efeito, Carlos do Carmo deve grande parte dos seus êxitos a
Ary dos Santos, entre eles
Um homem na cidade (letra de
Ary dos Santos e música de
José Luís Tinoco),
Lisboa, menina e moça (letra de
Ary dos Santos,
Joaquim Pessoa e
Fernando Tordo, e música de
Paulo de Carvalho),
Estrela da Tarde (
Ary dos Santos/
Fernando Tordo),
Novo Fado alegre (
Ary dos Santos/
Fernando Tordo),
O homem das castanhas (
Ary dos Santos/
Paulo de Carvalho),
O amarelo da Carris (
Ary dos Santos/
José Luís Tinoco),
Sonata de Outono (
Ary dos Santos/
Fernando Tordo),
Fado varina (
Ary dos Santos/
Mário Moniz Pereira),
Fado do Campo Grande (
Ary dos Santos/
António Victorino de Almeida),
Balada para uma velhinha (
Ary dos Santos/
Martinho d'Assunção) ou
Menor maior (
Ary dos Santos/
Fado das Horas).
Mas o fadista irá trazer, ao longo da sua carreira, diversos novos autores para o
Fado, como
José Luís Tinoco (
No teu poema,
Os lobos e ninguém),
António Lobo Antunes (
Canção da Tristeza Alegre),
José Saramago (
Aprendamos o rito),
Manuela de Freitas (
Fado Penélope),
Vasco Graça Moura (
Nasceu assim, cresceu assim),
Nuno Júdice (
Lisboa Oxalá),
Maria do Rosário Pedreira (
Pontas soltas,
Vem, não te atrases),
Fernando Pinto do Amaral (
Fado da Saudade) ou
Júlio Pomar (
Fado do 112).
Anos 80 - atuações ao vivo e carreira internacional
Desde as suas atuações n'
O Faia, inicialmente de forma informal para amigos, que se sucedem as apresentações ao vivo de Carlos do Carmo. As suas primeiras digressões foram realizadas ainda no início da década de
70, com espectáculos em
Angola,
EUA e
Canadá e, em
1973, estreou-se no
Brasil, cantando ao lado de
Elis Regina, no
Copacabana Palace,
Rio de Janeiro.
A partir do ano de
1979, quando abandona a gerência d'
O Faia, intensifica as suas apresentações fora do país. As suas passagens no
Olympia de Paris, na Ópera de
Frankfurt, na Ópera de
Wiesbaden, no
Canecão do
Rio de Janeiro, no Hotel Savoy de
Helsínquia, no Teatro da Rainha em
Haia, no Teatro de São Petersburgo, no Place des Arts em
Montreal, no Tivoli de
Copenhaga ou no
Memorial da América Latina em
São Paulo, são momentos muito altos na carreira do fadista. Em
Portugal, salienta as suas apresentações em locais como os Coliseus de
Lisboa e do
Porto, o
Casino Estoril, o
Centro Cultural de Belém, o
Mosteiro dos Jerónimos ou a
Fundação Calouste Gulbenkian. Em entrevista ao jornal
A Capital, revela que: (...)
cantar é um ato de prazer, mas sobretudo no palco, que é um constante jogo de sedução, uma troca indescritível de sentimentos e emoções (...).
Com efeito, a carreira internacional de Carlos do Carmo deve muito à sua passagem pelo
Olympia de
Paris, onde se apresentou pela primeira vez a
11 e
12 de outubro de
1980. A estreia foi bem sucedida e o fadista recorda o momento em que interpretou a canção
La Valse A Mille Temps, de
Jacques Brel: «
A sala veio abaixo!» (
cf. Carlos do Carmo: Um Homem no Mundo, in
RTP Play). Seguiu-se a primeira atuação na
Alte Oper de
Frankfurt, em
1982, palco onde teve tal sucesso que a gravação do espetáculo foi editada em disco e regressou para atuar nos dois anos seguintes.
Outro facto assinalável nesta década e que marca a obra discográfica de Carlos do Carmo é o lançamento de
Um Homem no País, em
1984, novamente um projeto em torno de poemas de
Ary dos Santos, que se destaca como a primeira edição em formato
CD de um artista português.
Anos 90 até à atualidade - novos originais e ligação às novas gerações do Fado
No início da década de
90, sofre um acidente durante um espetáculo em
Bordéus, caindo do palco para a primeira fila da plateia, uma queda de uma altura equivalente a um andar, que o obrigará a uma longa recuperação. Em
março de
1991, faz o seu regresso no
Casino Estoril, apresentando um espectáculo intitulado
Vim Para o Fado e Fiquei.
Regressa à televisão,com um programa como o seu próprio nome -
Carlos do Carmo - transmitido em mais de 30 emissões entre
1997 e
1998, onde conversa com diversos convidados, sobre temas que vão desde o f
ado, à música em geral, mas também a outras vertentes artísticas.
Em
2007, Carlos do Carmo apresentou, no
Museu do Fado, um álbum intitulado
À Noite, que reúne textos inéditos de
Nuno Júdice,
Fernando Pinto do Amaral,
Maria do Rosário Pedreira,
Júlio Pomar,
Luís Represas,
José Luís Tinoco e
José Manuel Mendes, para as músicas de fados tradicionais da autoria de
Armandinho,
Joaquim Campos e
Alfredo Marceneiro.
Essas ligações seriam reforçadas com a edição, em
2014, do álbum
Fado é amor, apresentado nesse ano no
Coliseu dos Recreios,
onde o fadista apresenta temas gravados com
Camané,
Mariza,
Ana Moura,
Aldina Duarte,
Cristina Branco,
Mafalda Arnauth,
Ricardo Ribeiro,
Marco Rodrigues,
Raquel Tavares e
Carminho.
Prémios e distinções
Em
2008, recebeu em
Espanha, em conjunto com o poeta
Fernando Pinto do Amaral, o prestigiado
Prémio Goya, na categoria de Melhor Canção Original, com o
Fado da Saudade. A canção faz parte da banda sonora do filme
Fados, que concorria à edição de
2008 daqueles que são considerados os
óscares espanhóis. No entanto, foram levantadas dúvidas sobre a verdadeira autoria deste fado.
Em
2014, torna-se, a par da soprano
Elisabete Matos,
no segundo artista português a ganhar um
Grammy, obtido na categoria
Lifetime Achievement, entregue apenas aos artistas pelo conjunto da obra que produziram ao longo da sua carreira e não devido ao êxito que lograram com determinada canção ou álbum. No mesmo ano, a
19 de novembro, o fadista recebe o
Grammy Latino de Carreira, no Hollywood MGM de Las Vegas.
Na sequência do prémio volta a ser homenageado pela Câmara Municipal de Lisboa, que lhe outorga, pela mão de
António Costa, uma nova Medalha de Mérito Municipal.