Em julho de
2012, foi Reeleito um dos "100" maiores brasileiros de todos os tempos" em concurso realizado por
SBT com a
BBC de
Londres.
Biografia
Filho do migrante cearense, Francisco Alves Mendes e de Maria Rita Mendes, começou no ofício de
seringueiro
ainda criança, acompanhando o pai em excursões pela mata. Só aprendeu a
ler aos 19 e 20 anos, já que na maioria dos seringais não havia
escolas, nem os proprietários de terras tinham intenção de criá-las em
suas propriedades. Chico Mendes afirmou que só aprendeu a ler quando ensinado pelo militante comunista
Euclides Távora, que participara no
levante comunista de 1935 na sua cidade, Fortaleza e na
Revolução de 1952 na Bolívia. Em seu regresso ao Brasil pelo Acre, Euclides Távora, fixa residência em
Xapuri, tornando-se aí o
alfabetizador de Chico Mendes.
Iniciou a vida de líder sindical em 1975, como secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Brasiléia. A partir de 1976 participou ativamente das lutas dos seringueiros para impedir o desmatamento através dos "
empates" - manifestações pacíficas em que os seringueiros protegem as
árvores com seus próprios corpos. Organizava também várias ações em defesa da
posse da terra pelos habitantes nativos.
Em 1977 participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Xapuri, e foi eleito
vereador pelo
MDB local. Recebe então as primeiras ameaças de
morte, por parte dos fazendeiros, e começa a ter problemas com seu próprio
partido, que não se identificava com as suas lutas.
Em 1979 Chico Mendes reúne lideranças sindicais, populares e religiosas na Câmara Municipal, transformando-a em um grande
foro de debates. Acusado de subversão, é submetido a interrogatórios. Sem apoio, não consegue registar a denúncia de
tortura que sofrera em dezembro daquele ano.
Chico Mendes foi um dos fundadores do
Partido dos Trabalhadores e um dos seus dirigentes no
Acre, tendo participado de
comícios com
Lula na região.
Em 1980 foi enquadrado na
Lei de Segurança Nacional
a pedido de fazendeiros da região, que procuraram envolvê-lo no
assassinato de um capataz de fazenda, possivelmente relacionado ao
assassinato do presidente do Sindicato dos Trabalhadores de
Brasiléia,
Wilson Sousa Pinheiro.
Em 1981 Chico Mendes assume a direção do Sindicato de Xapuri, do qual foi presidente até sua morte. Candidato a
deputado estadual pelo PT nas eleições de 1982, não consegue ser eleito.
Acusado de incitar posseiros à violência, foi julgado pelo Tribunal Militar de
Manaus, e absolvido por falta de provas, em 1984.
Liderou o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, em outubro de 1985, durante o qual foi criado o
Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), que se tornou a principal referência da categoria. Sob sua
liderança,
a luta dos seringueiros pela preservação do seu modo de vida adquiriu
grande repercussão nacional e internacional. A proposta da "
União dos Povos da Floresta" em defesa da
Floresta Amazónica busca unir os interesses dos
indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco
babaçu e populações ribeirinhas, através da criação de reservas extrativistas. Essas reservas preservam as
áreas indígenas e a floresta, além de ser um instrumento da
reforma agrária
desejada pelos seringueiros: Chico Mendes formou uma aliança entre sua
gente e os índios amazónicos, o que persuadiu o governo a criar reservas
florestais para a colheita não predatória de produtos como o
látex e a
castanha do pará.
Em 1986, concorre às eleições pelo PT (
Acre) como candidato a deputado estadual ao lado de outros candidatos, entre eles
Marina Silva, para deputada federal,
José Marques de Sousa, o Matias, como senador, e
Hélio Pimenta para governador, não sendo eleitos.
Em 1987, Chico Mendes recebeu a visita de alguns membros da
ONU,
em Xapuri, que puderam ver de perto a devastação da floresta e a
expulsão dos seringueiros causadas por projetos financiados por bancos
internacionais. Dois meses depois leva estas denúncias ao
Senado norte-americano e à reunião de um banco financiador, o
BID.
Os financiamentos a esses projetos são logo suspensos. Na ocasião,
Chico Mendes foi acusado por fazendeiros e políticos locais de
"prejudicar o progresso", o que aparentemente não convence a opinião
pública internacional. Alguns meses depois, Mendes recebe vários prémios
internacionais, destacando-se o
Global 500, oferecido pela ONU, por sua luta em defesa do
meio ambiente e viajou aos
EUA para promover sua causa.
Ao longo de 1988 participa da implantação das primeiras reservas
extrativistas criadas no Estado do Acre. Ameaçado e perseguido por ações
organizadas após a instalação da
UDR
no Estado, Mendes percorre o Brasil, participando de seminários,
palestras e congressos onde denuncia a ação predatória contra a floresta
e as violências dos fazendeiros contra os trabalhadores da região.
Após a desapropriação do Seringal Cachoeira, em Xapuri, propriedade de
Darly Alves da Silva,
agravam-se as ameaças de morte contra Chico Mendes que, por várias
vezes, denuncia publicamente os nomes de seus prováveis responsáveis.
Deixa claro às autoridades policiais e governamentais que corre risco de
perder a vida e que necessita de garantias. No 3º Congresso Nacional da
CUT,
volta a denunciar sua situação, similar à de vários outros líderes de
trabalhadores rurais em todo o país. Atribui a responsabilidade pela
violência à UDR. A tese que apresenta em nome do Sindicato de Xapuri,
Em Defesa dos Povos da Floresta,
é aprovada por aclamação pelos quase seis mil delegados presentes. Ao
término do Congresso, Mendes é eleito suplente da direção nacional da
CUT. Assumiria também a presidência do Conselho Nacional dos
Seringueiros a partir do 2º Encontro Nacional da categoria, marcado para
março de 1989, porém não sobreviveu até aquela data.
Morte
Em
22 de dezembro de
1988,
exatamente uma semana após completar 44 anos, Chico Mendes foi
assassinado com tiros de escopeta no peito na porta da traseira da sua
casa,
quando saía desta para tomar banho. Chico anunciou que seria morto em
função de sua intensa luta pela preservação da Amazónia e buscou
proteção, mas as autoridades e a imprensa não deram atenção.
Casado com Ilzamar Mendes (2ª esposa), deixou três filhos, Angela (do
primeiro casamento), Sandino e Elenira, na época com dezanove, dois e quatro
anos de idade, respetivamente.
Após o assassinato de Chico Mendes mais de trinta entidades
sindicalistas, religiosas, políticas, de direitos humanos e
ambientalistas se juntaram para formar o "Comité Chico Mendes". Eles
exigiam providências e através de articulação nacional e internacional
pressionaram os órgãos oficiais para que o crime fosse punido.
Em dezembro de 1990, a justiça brasileira condenou os fazendeiros
Darly Alves da Silva e Darcy Alves Ferreira, responsáveis por sua morte,
a 19 anos de prisão. A principal testemunha do caso foi um empregado de
13 anos da fazenda de Darly, Genésio Ferreira da Silva. Darly fugiu em fevereiro de 1993 e escondeu-se num assentamento do
INCRA, no interior do
Pará, chegando mesmo a obter financiamento público do
Banco da Amazónia,
sob falsa identidade. Só foi recapturado em junho de 1996. A
falsificação de documentos rendeu-lhe uma segunda condenação: mais dois
anos e 8 meses
de prisão.
A pressão da imprensa e da opinião pública fizeram Darly, Darci e um
irmão do fazendeiro, Alvarino Alves da Silva (a sua participação nunca foi
comprovada), serem julgados por júri popular. Pai e filho foram
condenados à prisão em 1990, com pena de 19 anos, facto considerado
inédito na justiça rural no Brasil.