Nikolai Vasilievich Gogol (Sorochyntsi,
Poltavska,
Império Russo, atualmente Ucrânia,
1 de abril de
1809 -
Moscovo,
4 de março de
1852), foi um proeminente
escritor do
Império Russo. A sua nacionalidade é motivo de
polémica, pois a sua cidade natal fazia parte do
Império Russo na época, mas atualmente pertence à
Ucrânia. Como consequência, tanto a
Rússia quanto a
Ucrânia reivindicam a sua nacionalidade. Apesar de muitos de seus trabalhos terem sido influenciados pela
tradição ucraniana, Gogol escreveu em
russo e a sua obra é considerada herança da
literatura russa. Toda a sua obra é fundada no
realismo, mas um realismo muito próprio, com rasgos do que viria a ser o
surrealismo.
Vida
Com vinte anos (1829), o jovem Gogol vai para São Petersburgo, onde conhece Alexandre Púchkin, o maior escritor russo de então, que lhe inspira devota amizade, fervorosa empatia e ideias novas para obras que ainda não tinham vindo à luz do dia, nomeadamente Noites na Herdade de Dikanka, sua obra de estreia, que viria a ser publicada em 1831, obtendo, então, Gogol o seu primeiro êxito. Mas, desde cedo, revela uma personalidade complexa.
Amante fervoroso da verdade, Gogol foi um homem repleto de preocupações místicas, religiosas e patrióticas.
A sua obra reflete o lado moralista das questões que dizem respeito à
condição humana, trágica e inapelavelmente prisioneira na sua jaula.
Gogol não foi político, não possuía um programa de ação contra o regime,
que fazia da Rússia da época um país "metade caserna, metade prisão".
O seu pai, antigo oficial cossaco,
desenvolveu seu gosto pela literatura, mas nunca foi um amparo na
infância de Nikolai, ainda que o jovem nutrisse, por seu pai,
verdadeira amizade. A sua mãe transmitiu-lhe a fé religiosa, que veio a
desencadear um misticismo doentio.
Depois de estudos medíocres, este jovem de fisionomia austera deixa a
Ucrânia e encontra um modesto emprego de escritório ministerial em São
Petersburgo. A distância de seu país natal e a nostalgia que dela
resulta inspiraram alguns dos seus escritos. A panóplia de obras e
romances do então "funcionário para sempre enclausurado" avivaram a sua
carreira como autor, e após haver conhecido pessoalmente o romântico
Alexandre Púchkin, sua obra despoletaria um realismo próprio - não
diremos insuflado, mas uma fonte riquíssima em artifícios paradoxais,
tal como Dostoiévski havia traçado em sua obra. Prova desse realismo típico veio a ser a novela O Capote, cujo herói se tornara arquétipo do pequeno funcionário russo.
De facto, a sua intervenção não é outra senão denunciar os vícios e
abusos no interior da alma humana, humilhada e atravancada de emoções
contraditórias. Em pleno desarranjo emocional, Gogól foge e recomeça a
viajar pela Europa. A morte de Púchkin no ano de 1837, num desinteressante duelo,
abala profundamente Gogol. "Agora tenho a obrigação de concluir a obra
cuja ideia fora do meu amigo". Referia-se, naturalmente, ao alentado
texto de Almas Mortas.
Tenta publicar a obra em Moscovo em 1841, mas o Comité Moscovita de
Censura recusa. Não é senão após uma intervenção dos amigos do autor que
o livro é publicado, em 1842.
O romance é uma descrição em detalhe das preocupações do homem russo
numa Rússia profunda; uma sátira às vezes impiedosa, que, porém, guarda,
subjacente, o profundo e natural amor de Gogol pelo país. De 1837 a 1843, vive em Roma. Regressa à Rússia, doente. Um misticismo religioso acentuado induziu-o a abandonar as antigas ideias liberais para se tornar um defensor da autocracia. Essa fase mística virá a exacerbar-se após a sua viagem à Palestina, em 1849.
As tribulações recomeçam: Itália, França, Alemanha etc. Em 1848, faz uma peregrinação a Jerusalém. A pouco e pouco, sua saúde se degrada, e ainda mais devido à sua irritável hipocondria
que em nada o recompõe; seu sentimento religioso se exalta. Gogol se
torna cada vez mais místico, impelido em ir buscar, pelo sentimento
religioso, a salvação da alma.
De volta a Moscovo, redige a segunda parte de Almas Mortas.
Mas seu estado físico se degrada incessante, mercê do sonho que o
acompanha desde jovem: mesmo homem absolutamente sadio e regrado, sua
ânsia por uma nova ordem das coisas o martiriza. No início de fevereiro
de 1852, num momento de delírio, segundo dizem, ele queima, na lareira
de seu quarto, todos os manuscritos inéditos - inclusive o fim da
segunda parte de Almas Mortas. O romance é uma belíssima e irónica ficção sobre a corrupção de uma classe decadente que domina o povo ignorante e escravo do Estado. Mas nunca fora concluída.
Morreu em 21 de fevereiro de 1852. Foram-lhe concedidas cerimónias e reconhecimento únicos: seu corpo embalsamado
segue insepulto por mais de um dia, carregado pelos estudantes, que
oferecem homenagens acaloradas em memória do grande escritor. Está
enterrado no Cemitério Novodevichy, em Moscovo.
A sua obra fez de Nikolai Gogol o maior escritor de língua russa da primeira metade do século XIX, o verdadeiro introdutor do realismo na literatura russa e o precursor genial de todos os grandes escritores russos que se lhe seguiram. Como disse Dostoiévski: "Todos nós saímos de O Capote de Gógol". Toda a literatura russa, que já muito devia a Púchkin, colherá, em Gógol, os maiores ensinamentos.