Davies começou a aprender música aos 12 anos, na sua cidade natal, na
banda marcial da Associação Britânica de Estradas de Ferro, como
percussionista. Numa entrevista de 2002 ele contou: "Quando criança, a
percussão das bandas marciais chamava-me a atenção quando aconteciam
desfiles cívicos na minha cidade, na Inglaterra. Para mim, era um som
fantástico. Pouco tempo depois, arranjei uma bateria e fiz aulas do
instrumento. Eu levava-as a sério... por isso, imaginava como
prosseguir, tornar-me profissional, um baterista de verdade, mas também
ser capaz de ler partituras e tocar com big bands, bandas de
rock, música clássica, música latina. Quis definir o que eu queria
fazer, tornar-me requisitado e com isso estabelecer-me na vida. Nesse
momento, comecei a arranhar nos teclados e por alguma razão as pessoas
reagiram melhor do que o que fazia na bateria. Por isso, investi mais
naquilo a que as pessoas reagiam melhor".
Em 1959 a atenção de Rick Davies voltou-se para o
rock'n'roll e entrou para uma banda chamada
Vince and the Vigilantes. Em 1962, enquanto estudava Artes na Faculdade de Swindon, formou a primeira banda da qual foi líder,
Rick's Blues, e agregou às suas referências musicais o blues, rhythm and blues e jazz, que desde então são os seus estilos favoritos. No
Rick's Blues Davies tocava um piano elétrico
Hohner, em vez da bateria. Quando o seu pai adoeceu, Rick acabou com os
Rick's Blues,
deixou a faculdade e conseguiu um emprego como soldador numa fábrica
de sistemas de controle de larga escala. Então, durante algum tempo,
as suas aspirações artísticas foram colocadas de lado em nome da
sobrevivência da sua família.
Em setembro de 1966, entretanto, Rick recebeu uma oferta para integrar um grupo profissional chamado
The Lonely Ones, que tocava basicamente
soul e foi um dos primeiros grupos de que o baixista
Noel Redding
fez parte. Rick foi admitido como organista, embora não soubesse
tocar o instrumento, aceitou o posto para se livrar do trabalho na
fábrica.
The Lonely Ones apresentaram-se na Europa continental,
passando pela Suíça e pela Itália. Em julho de 1967, o grupo foi
renomeado para "The Joint". Daí em diante, a Suíça e a Alemanha
passaram a ser países em que a nova banda sempre fazia shows. Datam
dessa época as gravações de bandas sonoras que o The Joint fez para
filmes de baixo orçamento, como
What's Happening,
Der Griller,
Jet Generation e
Lieber und so Weiter.
Em 1968, The Joint conheceu o milionário holandês Stanley August
Miesegaes (apelidado Sam), que morava em Genebra, na Suíça. Após alguns
shows, participações na TV suíça, contatos e novos equipamentos, os
outros membros desinteressaram-se. Rick Davies era o mais talentoso, e
Sam sabia disso, tanto que se dispôs a financiar testes para novos
integrantes. Davies então decide voltar para a Inglaterra e reunir
músicos para uma nova banda.
Em agosto de 1969 é publicado um anúncio no jornal Melody Maker, ao qual respondem muitos aspirantes, mas foram escolhidos
Roger Hodgson (baixo e vocal de apoio),
Richard Palmer-James (guitarra e vocal principal) e
Keith Baker (bateria). O resultado foi nomeado como
Daddy
e a banda tocou principalmente em Munique, na Alemanha, no famoso
clube PN, com Rick Davies mais concentrado como organista. Lá
conheceram o cineasta checo Haro Senft, que teve a ideia de fazer um
documentário musical que não desse
glamour aos músicos, mas que valorizasse mais a música em si. Os
Daddy
mostraram-se a banda ideal para esse projeto e, em 14 de dezembro de
1969, foi filmada a apresentação deles com a música "All Along the
Watchtower", de Bob Dylan.
Em janeiro de 1970, os Daddy decidem mudar seu nome para Supertramp,
por sugestão do guitarrista Richard Palmer-James, que lia àquela
altura o livro "The Autobiography of a Supertramp", do poeta galês W.
H. Davies. À essa altura, o documentário de Senft já havia sido editado
e recebeu o título de "Supertramp Portrait 1970", que não pode ser
lançado comercialmente pois Bob Dylan não autorizou o uso da sua
música. No entanto, os membros do Supertramp sempre se mostraram gratos a Senft por esse documentário, pois divulgou bem o seu nome nos locais em que foi exibido.
Enquanto isso, Keith Baker saiu e foram abertos testes em fevereiro de
1970 para um novo baterista. O escolhido foi o inglês Robert Millar.
Com essa formação, o Supertramp foi ao estúdio para gravar seu primeiro
disco, o epónimo Supertramp, patrocinado pelo mecenas Sam. O
estilo musical predominante foi o psicadélico, marcado por longos
instrumentais e um clima bastante introspectivo. Rick Davies e Roger
Hodgson encabeçaram as composições, todas feitas em parceria. Em
relação às letras, ambos estavam relutantes, pois nunca haviam feito
isso. Depois de muitos desentendimentos entre os integrantes, o
guitarrista Richard Palmer-James assumiu a tarefa e compôs as letras,
ainda que ele também fosse inexperiente nessa área.
O disco de estreia foi lançado em 14 de julho de 1970, no Clube "Revolution", de Londres. Pouco mais de um mês depois, os Supertramp apresentaram-se
no Festival da Ilha de Wight, conhecido como o "Woodstock inglês". A
formação da banda ao vivo era completada pelo flautista e saxofonista
norte-americano Dave Winthrop, radicado na Inglaterra desde os oito
anos de idade. As relações entre os membros nessa primeira fase não
eram amigáveis, e os desentendimentos predominavam.
Apesar de tudo, os iniciantes Supertramp foram convidados a gravar a
banda sonora de um filme alemão, ainda em 1970. O filme, no título
original, chama-se "
Fegefeuer"
(Purgatory, título em inglês). A banda compôs oito faixas
instrumentais para esse projeto, e o disco é uma grande raridade, pois
não foi relançado e tão pouco os Supertramp o consideram parte da sua
discografia oficial. Quanto aos problemas, chegaram a um ponto entre
os membros que Richard Palmer-James preferiu deixar os
Supertramp em
dezembro de 1970. A ele seguiu-se Robert Millar, alguns meses depois,
já em 1971, após os shows particularmente problemáticos que tentaram
fazer na Noruega. Millar sofreu um colapso nervoso que o deixou em
estado semi-vegetativo, retirou-se do mundo musical e desde então mais
nenhuma notícia se teve dele.
Com a entrada de novos membros,
Frank Farrell no baixo e
Kevin Currie na bateria, Roger Hodgson deixou o baixo em favor da guitarra e essa formação gravou o segundo álbum,
Indelibly Stamped. Ao contrário do primeiro disco, em que Hodgson foi o principal cantor,
Indelibly Stamped
teve como principal cantor o líder Rick Davies. As influências desse
disco se concentraram no R&B, jazz e blues, e o resultado foi mais
eclético do que o precedente. Outra diferença que começou com o
segundo disco foi o trabalho individual de cada compositor, música e
letra, e menos em termos de parceria, ainda que não dispensassem as
contribuições um do outro nos detalhes e finalização.
Todavia, o facto era que
Indelibly Stamped
não fez melhor nos tops de sucesso do que o álbum de estreia, as
vendas foram inexpressivas e os Supertramp continuavam em dificuldades
para agendar shows e crescer no reconhecimento dos ouvintes e até para
prover as suas necessidades básicas.
Nessa altura, em janeiro de 1973, ainda sem datas para shows e sem
ganhos suficientes, Roger Hodgson, Frank Farrell e Kevin Currie
aceitaram o convite para tocar com Chuck Berry como músicos
contratados, em alguns shows dele na Inglaterra. Em 1973, Farrell e
Currie saíram da banda, cansados de enfrentar revezes, guerras de egos
e escassez de recursos. Davies e Hodgson também estavam incertos, e
nesse período foram sondados para entrarem na banda
Free, de
Paul Rodgers e
Paul Kossov. Em vez disso, aceitaram participar de algumas faixas do primeiro disco solo de Chick Churchill, tecladista dos
Ten Years After,
chamado "You & Me". Davies tocou bateria nas faixas "You and Me",
"Reality in Arrears", "Ode to an Angel" e "You're not Listening".
Enquanto isso, insistiam junto à gravadora A&M e Sam para que não
voltassem atrás, pois estavam compondo novas músicas, mais maduras, e
precisavam de suporte para encontrar novos músicos.
Nesse período, fizeram teste para baixista e escolheram o escocês Dougie Thomson, que tocara com o
Alan Bown Set. Também em 1973 entraram em contacto com Bob C. Benberg, baterista norte-americano que tocava com o
Bees Make Honey. Depois disso, estando novamente com cinco músicos, gravaram fitas demo com canções que despontariam pouco depois, como
School e
Rudy. No final do ano, Dave Winthrop sai da banda, muito desmotivado e sem ver futuro naquela situação.
Para agravar o quadro, Sam decide retirar o seu patrocínio. O holandês
percebeu que tanto o seu protegido Rick Davies quanto Roger Hodgson
não estavam a fim de misturar música clássica com a influência pop,
aspiração que comparece, quando muito, vaga, nos dois álbuns lançados
até então. Sam deixa os Supertramp com o equipamento reunido até então,
comprado pelo holandês, paga as dívidas da banda junto da A&M e
lhes deseja sucesso dali para a frente.
A banda precisava de um tocador de instrumento de sopro, então Dougie
lembrou-se do seu colega John Helliwell, da banda anterior, Alan Bown Set.
Tenta fazer um contacto, mas Helliwell estava tocando na Alemanha,
sem se saber quando iria voltar à Inglaterra. Os testes continuam, a
gravação de demos também, assim como as tentativas de aumentar a
quantidade de shows. Em 1973, John Helliwell retorna ao país de origem e
é informado pela esposa de que o seu antigo colega entrou em
contacto. Helliwell fala então com Dougie e este é convidado para um
teste. O saxofonista agrada, tanto pela musicalidade quanto pelo bom
humor, e ficou com os Supertramp, ainda que nada tenha sido
oficializado.
Com essa formação promissora, os Supertramp reúnem-se com a
presidência da A&M, que esperava deles um pedido de rescisão de
contrato. Em vez disso, a banda pede apoio para mais um álbum. A
presidência ouve as fitas demo, fica empolgada e põe os Supertramp em
contato com o produtor Dave Margereson, que também gosta do material e
juntos tomam as providências para os ensaios e gravações do que se
tornaria o álbum
Crime of the Century, lançado em 1974. O álbum alcançou a quarta posição nos tops ingleses e a 38ª nos EUA.
No ano seguinte, a banda gravou "
Crisis? What Crisis?",
que ficou na 20ª posição nos tops ingleses e na 44ª nas
norte-americanas. Em 1977, a banda muda para os Estados Unidos e lança "
Even in the Quietest Moments", que ficou 16ª posição nos nos tops. Dois anos depois, é a vez do maior sucesso comercial da carreira dos Supertramp, com "
Breakfast in America",
que alcançou a primeira posição nos EUA e o terceiro lugar na
Grã-Bretanha. Durante o recesso do Supertramp, foi lançado em 1980 o
disco ao vivo "Paris", que faturou a 8ª posição nos EUA. Em 1982, sai "
...Famous Last Words...", que conquistou a 5ª posição nos EUA e a 6ª na Grã-Bretanha.
Rick Davies e Roger Hodgson, embora trabalhassem separadamente em suas
composições próprias, creditavam todas a ambos, no mesmo esquema que
era feito entre John Lennon e Paul McCartney, dos Beatles. A
diferenciação é feita a partir do vocal principal, pois Rick Davies
sempre cantou as suas próprias músicas, e Roger Hodgson, a mesma coisa.
Entretanto, sabe-se que algumas músicas que alcançaram o Top-20 nos
nos tops norte-americanos, como "
Bloody Well Right", "
Rudy", "
Crime of the Century, "
Ain't Nobody But Me", "
From Now On", "
Goodbye Stranger", "
Bonnie" e "
My Kind of Lady", entre outras, são de autoria de Rick Davies.
Com a saída de Roger Hodgson, em 1983, Davies assumiu o controle das
composições do Supertramp. Em 1985, foi lançado "Brother Where You
Bound", que chegou à 20ª posição no Reino Unido e 21ª nos Estados
Unidos, com críticas bastante favoráveis. Desse disco em diante, o som
dos Supertramp torna-se mais próximo do
jazz fusion,
abandonando bastante de seu lado pop. Em 1986, Rick Davies tocou
piano no disco de estreia, auto-intitulado, da dupla humorística
canadense "
Bowser and Blue".
Em 1987, os Supertramp lançam o álbum "Free as a Bird", com o novo integrante
Mark Hart
em substituição de Hodgson. O disco fica no 101ª lugar nos Estados
Unidos e é considerado pela crítica e pelos fãs como o trabalho mais
fraco da banda. Após a turnê de suporte do álbum, os Supertramp entram
em paragem.
Ao que se sabe, Rick Davies passou esse tempo compondo e guardando, e
acumulou bastante material. Em 1997, tentando reunir músicas e músicos
para uma carreira a solo, Davies já havia recrutado John Helliwell e
Bob Siebenberg, e preferiu fazer um reunião do Supertramp para esse
trabalho. O resultado, "
Some Things Never Change",
que não chamou a atenção da crítica, embora seja um trabalho de
qualidade que remonta ao que a banda fez antes de 1987. Incrivelmente, o
álbum ficou na 3ª posição dos tops alemãs e na 74ª nos Estados
Unidos.
Dois anos depois, é lançado o álbum duplo "
It Was The Best Of Times",
que registra a força da nova formação dos Supertramp, mas que só
marcou pontos nos nos tops alemães, na 29ª posição. Em 2002 sai "
Slow Motion",
que foi elogiado pela crítica, ao mesmo tempo em que ressaltada a
precariedade da produção. Três anos depois, é lançada a antologia "
Retrospectacle",
bem mais abrangente do que as similares lançadas nos anos 80. Inclui
algumas faixas dos obscuros dois primeiros álbums e também músicas
raras de alguns compactos e lados B.
Davies possui atualmente uma companhia, chamada
Rick Davies Productions, que é detentora dos direitos de
copyright e do nome da banda Supertramp.
Casou-se em 1977 com a nova-iorquina Sue, que é empresária da banda desde 1984. O casal não tem filhos.
Depois de viver nos
Estados Unidos durante mais de três décadas, Davies tornou-se
cidadão norte-americano.