Mensagem é o mais célebre dos livros do poeta português
Fernando Pessoa,
e o único que ele publicou em vida, se descontarmos os livros de
poemas em inglês. Composto por 44 poemas, foi chamado pelo poeta de
"livro pequeno de poemas". Publicado em
1934 pela
Parceria António Maria Pereira, o livro foi contemplado, no mesmo ano, com o
Prémio Antero de Quental, na categoria de «poema ou poesia solta», do
Secretariado da Propaganda Nacional, dirigido por
António Ferro, o jovem editor de
Orpheu, revista trimestral de literatura, de que saíram 2 números em 1915.
Publicada apenas um ano antes da morte do autor, a obra trata do glorioso passado de
Portugal
de forma apológica e tenta encontrar um sentido para a antiga grandeza
e a decadência existente na época em que o livro foi escrito.
Glorifica acima de tudo o estilo
camoniano e o valor simbólico dos heróis do passado, como os
Descobrimentos portugueses.
É apontando as virtudes portuguesas que Fernando Pessoa acredita que o
país deva se "regenerar", ou seja, tornar-se grande como foi no
passado através da valorização cultural da nação. O poema mais famoso
do livro é
Mar Português.
O título original do livro era
Portugal.
Influenciado por um amigo, Pessoa considera "Mensagem" um título mais
apropriado, pelo nome "Portugal" se encontrar "prostituído" no mais
comum dos produtos. Pessoa constrói a palavra "mensagem" a partir da
expressão
latina:
Mens agitat molem, isto é, "A mente move a matéria", frase da história de
Eneida, de
Virgílio,
dita pela personagem Anquises quando explica a Enéias o sistema do
Universo. Pessoa não utiliza o sentido original da frase, que denotava a
existência de um princípio universal de onde emanavam todos os seres.
Segundo uma carta datada de
13 de janeiro de
1935 a Adolfo Casais Monteiro,
Mensagem
foi o primeiro livro que o poeta conseguiu completar. Pessoa mesmo
explica que esse facto demonstra o porquê de não ter publicado outro
livro como a
prosa de um de seus heterónimos ou a poesia em seu próprio nome.
Foi publicado primeiramente a 1 de dezembro de
1934, com edição da Parceria António Maria Pereira, em
Lisboa. A segunda edição, de
1941, possui correções feitas por Pessoa à primeira edição e foi editada pela Agência Geral das Colónias.
Um mês após a sua primeira publicação,
ganhou o prémio na segunda categoria do Secretariado de Propaganda
Nacional (SPN) que o premiou com o mesmo valor em dinheiro da primeira
categoria.
NOTA: para uma melhor leitura on-line desta Opus Magna da literatura portuguesa, aqui fica um link:
A ÚLTIMA NAU
Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago
Mistério.
Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Voltará da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro
E breve.
Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou espaço.
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.
Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.
Sem comentários:
Enviar um comentário