O rompimento da barragem em Mariana ocorreu na tarde de 5 de novembro de 2015 no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 km do centro do município brasileiro de Mariana, Minas Gerais. Rompeu-se uma barragem de rejeitos de mineração denominada "Fundão", controlada pela Samarco Mineração S.A., um empreendimento conjunto das maiores empresas de mineração do mundo, a brasileira Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton.
Inicialmente a mineradora Samarco informara que duas barragens
haviam se rompido - a de Fundão e a de Santarém. Porém, no dia 16 de
novembro, a Samarco retificou a informação, afirmando que apenas a
barragem de Fundão havia se rompido. O rompimento de Fundão provocou o
vazamento dos rejeitos que passaram por cima de Santarém, que,
entretanto, não se rompeu. As barragens foram construídas para acomodar os rejeitos provenientes da extração do minério de ferro retirado de extensas minas na região.
O rompimento da barragem de Fundão é considerado o desastre industrial que causou o maior impacto ambiental
da história brasileira e o maior do mundo envolvendo barragens de
rejeitos, com um volume total despejado de 62 milhões de metros cúbicos. A lama chegou ao rio Doce, cuja bacia hidrográfica abrange 230 municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, muitos dos quais abastecem sua população com a água do rio.
Ambientalistas consideraram que o efeito dos rejeitos no mar
continuará por pelo menos mais cem anos, mas não houve uma avaliação
detalhada de todos os danos causados pelo desastre. Segundo a prefeitura
do município de Mariana, a reparação dos danos causados à
infraestrutura local deverá custar cerca de cem milhões de reais.
Imagens de satélite antes e após o rompimento
Panorama do desastre
Controladas pela Samarco Mineração S.A. (um empreendimento conjunto entre a Vale S.A. e a BHP Billiton), as barragens de Fundão e Santarém fazem parte da Mina Germano, situada no distrito de Santa Rita Durão, município de Mariana, localizado na Microrregião de Ouro Preto da Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte. Foram construídas para acomodar os rejeitos provenientes da extração do minério de ferro retirado de extensas minas na região.
A barragem de Fundão passava por um processo de alteamento, quando ocorre a elevação do aterro de contenção, pois o reservatório já chegava a seu ponto limite, não suportando mais o despejo dos dejetos da mineração.
Aproximadamente às 15.30 da tarde do dia 5 de novembro de
2015, a contenção apresentou um vazamento. Neste momento, uma equipe de
funcionários terceirizados foi enviada ao local e tentava amenizar o
vazamento esvaziando parte do reservatório. Por volta das 16.20 ocorreu o
rompimento, que lançou um grande volume de lama sobre o vale do córrego
Santarém.
Os subdistritos de Bento Rodrigues, que se localiza a cerca de
2,5 quilómetros vale abaixo, e Paracatu de Baixo, foram quase
completamente inundados e destruídos pela enxurrada de lama que se
seguiu após o desastre na barragem. Outros vilarejos e distritos
situados no vale do rio Gualaxo também foram atingidos pela enxurrada.
Por conta de sua localização e dos acessos precários, contando apenas com estradas vicinais
não pavimentadas para fazer contacto com os demais distritos e a sede do
município, Bento Rodrigues ficou completamente inacessível por via
terrestre, sendo possível o acesso apenas por helicóptero, o que
dificultou em muito o acesso dos bombeiros
para os trabalhos de resgate. Havia uma escola na área onde ocorreu a
inundação e os professores conseguiram retirar os alunos antes da escola
ser atingida.
Um agravante da situação foi que o empreendimento e as comunidades vizinhas à barragem não possuíam um
plano de contingência, nem rotas de fuga que permitissem aos moradores se deslocarem a tempo para regiões seguras.
Esquema do rompimento de barragem
Danos ambientais
Por volta de 18h30 do dia 5 de novembro, os rejeitos de minério de ferro chegaram ao Rio Doce. A bacia do rio tem uma área de drenagem de cerca de 86.715 quilómetros quadrados, sendo 86% em Minas Gerais e o restante no Espírito Santo. No total, o rio abrange 230 municípios que utilizam o seu leito como subsistência.
Ambientalistas acreditavam ser incerta a possibilidade de se
recuperar o rio. Segundo o biólogo e ecólogo André Ruschi, que atua na Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi (EBMAR), no distrito de Santa Cruz, município de Aracruz, no Espírito Santo, os rejeitos só começarão a ser eliminados do mar em cem anos, no mínimo.
Os rejeitos atingiram também a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, que fica em Santa Cruz do Escalvado,
a cerca de cem quilómetros de Mariana. Segundo a concessionária que
administra a barragem, o seu funcionamento não foi prejudicado.
No dia 9 de novembro, a prefeitura de Governador Valadares interrompeu a captação de água por conta da lama que invadiu o rio Doce. No dia seguinte, foi decretado Estado de Calamidade Pública, em função da falta de abastecimento de água na cidade. No dia 13 de novembro, o Exército Brasileiro montou um ponto de distribuição gratuita de água fornecida pela Samarco, na praça dos Esportes, no centro da cidade.
No dia 16 de novembro, a onda de lama e rejeitos de minério chegou ao município de Baixo Guandu, no noroeste do Espírito Santo. A prefeitura suspendeu o abastecimento pelo Rio Doce.
O
IBAMA informou que, das 80 espécies de
peixes que ocorrem no rio Doce, 11 estão ameaçadas de
extinção e 12 são
endémicas, só existem nesta
bacia hidrográfica e podem ter sido extintas.
Estima-se que ocorriam mais de cem espécies de peixes na bacia do rio
Doce, das quais seis estão oficialmente ameaçadas de extinção. A
mortandade verificada logo após o desastre e o grande número de espécies
crípticas
da bacia reforçam as preocupações sobre a extinção de peixes endémicos
ainda desconhecidos e de espécies importantes para a sobrevivência das
comunidades locais que exploram a atividade pesqueira. Os efeitos sobre
as espécies que utilizam o estuário em alguma fase de seus
ciclos de vida são desconhecidos, assim como os danos em longo prazo aos peixes marinhos.
No dia 22 de novembro, a lama chegou ao mar, no Norte do Espírito Santo. A prefeitura de Linhares interditou as praias de Regência e Povoação
e emitiu um alerta para que as pessoas não entrem na água. Foram
espalhadas placas ao longo das praias informando que a água está
imprópria para o banho.
Em dois dias a mancha de lama se alastrou por mais de quinze
quilómetros ao norte da foz do Rio Doce e mais sete quilómetros rumo ao
sul. Uma das regiões afetadas foi a Reserva Biológica de Comboios, unidade de conservação costeira que protege o único ponto regular de desova de tartaruga-de-couro na costa brasileira.
Após atingir o oceano, a lama provavelmente afetará milhares de espécies da fauna e flora marinhas. O pouco estudado
cnidário Kishinouyea corbini é uma espécie emblemática desta situação, pois é extremamente rara e tem uma
distribuição geográfica restrita e que se sobrepõe com a área afetada pelo desastre.
Toxicidade dos rejeitos
Análises realizadas em Governador Valadares encontraram na massa de lama quantidades superiores aos valores aceitáveis de metais pesados como arsênio, chumbo e mercúrio. Esses metais, possivelmente utilizados em garimpos ilegais ao longo do rio Gualaxo do Norte, foram carregados pela torrente de lama.
Embora a mineradora Samarco tenha afirmado repetidamente que a
lama não é tóxica, especialistas divergem. Segundo eles, os sedimentos
que estavam depositados na barragem provavelmente contêm compostos químicos, usados pela mineradora para a remoção seletiva de sílica durante a flotação de minérios - ou seja, para remover as impurezas do minério. Compostos conhecidos como aminas de éter
são geralmente utilizados para separar sílica do minério de ferro. Pelo
menos alguns desses compostos, segundo o fabricante, Air Products and
Chemicals,Inc., não são prontamente biodegradáveis e têm elevada
toxicidade para os organismos aquáticos. São também capazes de elevar os níveis de pH da água e do solo, causando desequilíbrios nos ecossistemas.
Além disso, a lama reduz os níveis de oxigénio
na água, e, à medida que os sedimentos endurecem, podem alterar o curso
das correntes e diminuir a fertilidade do solo. Segundo Klemens
Laschesfki, professor de geociências da Universidade Federal de Minas Gerais,
com o endurecimento da lama, a agricultura será dificultada, e a grande
quantidade de lodo que irá se assentar no fundo do Rio Doce e afluentes
poderá alterar o curso da bacia hidrográfica.
De acordo com os relatórios divulgados pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) em 15 de dezembro de 2015, a grande mortandade de peixes teria sido causada não pela toxicidade dos rejeitos, mas pela concentração extremamente elevada de sedimentos (turbidez) na água, durante a passagem da lama, o que reduziu a concentração de oxigênio dissolvido na água e obstruiu as guelras dos peixes, fazendo com que morressem por asfixia.
De acordo com as análises realizadas, a água do rio Doce não está
contaminada por metais tóxicos. "As amostras de água coletadas ao longo
do rio Doce não evidenciaram a presença de metais dissolvidos em
quantidades que possam ser consideradas como contaminadas", conforme
comunicado distribuído pelas duas entidades.
Foram analisadas amostras de água e sedimentos de 25 pontos, desde o
epicentro do desastre, em Mariana, até a foz do rio Doce, em Linhares (Espírito Santo).
Os resultados dessas análises asseguram que, depois de adequadamente
tratada, a água pode ser consumida sem riscos. Quanto à presença de metais pesados dissolvidos na água (arsénio, cádmio, mercúrio, chumbo, cobre, zinco
e outros), os quantitativos são similares aos constatados em 2010 pela
CPRM. Curiosamente, as concentrações mais altas de arsénio, manganês e
ferro foram registadas no rio do Carmo, em áreas não afetadas pelos rejeitos da barragem.
Um grupo de cientistas independentes também coletou amostras de lama ao longo dos rios Doce,
Gualaxo do Norte e Carmo. O grupo constatou a presença de metais pesados em diversos trechos desses cursos de água, inclusive em pontos a
montante
do trecho atingido pela lama da barragem, indicando que tais elementos
já estavam presentes no rio antes mesmo do rompimento das barragens.
Segundo a toxicologista Vivian Santos, integrante do grupo, foi possível
observar uma quantidade muito grande de material de mineração
(provavelmente metal
inerte)
nos sedimentos. De todo modo, ela acredita que "a monitorização da
concentração de metais dissolvidos nesta bacia hidrográfica deve ser
muito mais rigoroso de agora em diante".