Encontrou a morte em
Missolonghi, onde estava lutando ao lado dos
gregos pela sua independência da opressão turca. Segundo consta, a causa da morte parece ter sido
uremia, complicada por febre reumática. Sua filha,
Ada Lovelace, colaborou com
Charles Babbage para o
engenho analítico, um passo importante na
história dos computadores.
A família Byron e a sua maldição
Ameaçado de excomunhão, pelo assassinato de
Thomas Becket, o Rei
Henrique II
prometeu ao Papa fazer penitência e donativos aos mosteiros. Ordenou
que árvores fossem tombadas e que se construíssem no local abadias,
dedicadas à Virgem, que receberam o nome de Newstead.
Os monges que viviam em Newstead obedeciam a regras simples, tais
como: não possuir nada, amar a Deus e ao próximo, vencer as tentações
carnais e não fazer nada que provocasse escândalos. Além disso,
distribuíam aos pobres esmolas anuais em memória de seu Fundador.
Os abades sucederam-se durante três séculos, até o reinado de
Henrique VIII. Este, com a intenção de se casar com
Ana Bolena, pediu ao Papa para que anulasse seu casamento com
Catarina de Aragão. O Papa recusou.
Foi então, decretado o esbulho de todos os conventos religiosos que
não dispusessem de renda maior que 200 libras. A abadia de Newstead foi
atingida pelo decreto e, os frades que ali viviam, foram expulsos com
mínimos benefícios concedidos pelo Rei.
Os camponeses, frustrados, viram partir os monges. Imaginaram que
eles iriam assombrar as celas vazias e que a abadia causaria desgraças a
quem ousasse comprá-la. Um ano depois, o Rei Henrique VIII vendeu o
mosteiro ao seu fiel súbdito Sir John Byron, conhecido como o “Pequeno
Sir John da Barba Grande”.
Sir John pertencia a uma família que possuía inúmeras terras. Ele
transformou a abadia num imenso e belo castelo e seus descendentes
apegaram-se àquela casa. Ninguém, excepto os camponeses, imaginava que a
influência dos monges viesse a afetar tanto a família Byron.
O quarto lorde Byron, que viveu no
século XVII,
teve dois filhos que iriam marcar pela eternidade as influências
negativas dos monges sobre a família: O mais velho, quinto lorde Byron,
teve seu destino marcado pelo assassinato que cometeu. Ele estava num
pub, conversando sobre caça, quando iniciou uma ignóbil discussão
com Mr. Chaworth, que havia gozado o quinto lorde por seus azares de caça.
Ambos enfrentaram-se, e Mr. Chaworth foi rasgado pela espada de
Byron. O quinto e desgraçado lorde Byron foi julgado e absolvido. Porém
carregou consigo o eterno peso de ser encarado como um assassino.
Talvez, por isso, tenha desenvolvido um comportamento estranho durante
sua vida, o mesmo comportamento que o qualificou com o apelido de “lorde
mau”.
Durante a noite, ele abria as represas dos rios para destruir as rodas de moinhos das fábricas de fiação; esvaziava os lagos dos vizinhos; mandou construir na
margem de seu lago dois pequenos fortes de pedra, e mantinha uma frota
de barcos de brinquedo, os quais fazia flutuar no lago; organizava sobre
seu próprio corpo corridas de grilos que, segundo seus criados,
obedeciam-no.
Já seu irmão (avô do poeta Byron) não conseguia fugir da semelhante
sina. “Jack Mau-Tempo”, como era chamado, era um azarado almirante, que
morreu como vice-almirante em
1786.
Seu apelido não era ocasional. Diziam que toda vez que Byron preparava o
barco e posicionava-se sobre ele, uma forte tempestade armava-se. “Jack
Mau-Tempo” teve dois filhos: o mais velho, John, pai do Byron poeta,
era soldado. O segundo, Georges Anson, marinheiro.
Vida familiar antes de nascer
John Byron era um soldado violento e que acumulava monstruosas
dívidas, facto que o apelidou de “Jack o Louco”. Casou-se com a, até
então, Marquesa de Carmarthen, uma linda jovem que abandonou seu marido,
Lord Carmarthen, para ficar com Byron, tornando-se assim, a Baronesa
Conyers.
Com Lady Conyers, Byron teve uma filha: Augusta Byron. Logo após o
nascimento de Augusta, Lady Conyers morre. Alguns dizem que ela foi
vítima de maus-tratos de John Byron. Os Byron se defendem, alegando que
sua morte foi ocasionada por imprudência da mesma, ao caçar a cavalo
ainda de repouso do parto.
Logo depois da morte de Lady Conyers, John Byron foi “afogar suas
mágoas” em Bath, um balneário em moda na época. Lá conheceu Catherine de
Gight, uma órfã e herdeira escocesa. Catherine era feia: pequena,
gorda, com pele corada demais e nariz comprido. Porém, possuía algo em
que John Byron se interessava: era herdeira de 23 mil libras, destas,
três mil liquidas e o resto representado pela propriedade de Gight,
direitos de pescas de salmão e ações de um banco em Aberdeen.
Apesar de bem nascida, Catherine era herdeira de uma família que
carregava em sua história trágicos acontecimentos. Os Gordon,
representados pelo primeiro senhor de Gight, Sir William Gordon, eram
realmente marcados por sinas: William Gordon morreu afogado, Alexandre
Gordon assassinado, John Gordon enforcado, e por aí segue.Os membros da
família possuíam um temperamento semelhante aos bárbaros. Bastava alguém
se intrometer em seus caminhos, que de imediato eram atacados e mortos
pelos mesmos.
A ira dos Gordon não foi suficiente para impedir o casamento de
Catherine com John. Desse casamento, marcado pela desgraça, nasce George
Gordon Byron, o poeta que mudaria as vertentes dos movimentos
literários e submeteria fiéis seguidores às suas peripécias.
Não demorou muito para a rica Catherine, se submeter às perdas
irreparáveis possibilitadas pelo marido. John tratou de gastar não só a
fortuna liquida, como todos os bens de Catherine. Como se não bastasse, o
mesmo tinha amantes por todos os cantos, maltratava Catherine, era
audacioso para conquista de suas vontades e viveu muito bem! Até morrer
à míngua: John suicidou-se por causa da miséria que o mesmo construiu. Tal
miséria não era apenas uma consequência subjetiva, ela alastrou
também à vida de Catherine. Foi essa a herança deixada por John Byron,
até então.
O poeta descobre o mundo
George Gordon Byron cresceu graças ao sacrifício custoso da sofrida
mãe. Sozinha, Catherine se desdobrou para criar o pequeno Byron.
Procurou sempre as melhores referências para que Byron fosse alguém
melhor que seu pai. Porém, não era apenas de virtudes que
Catherine procurava afanosamente para seu filho. Constantemente, era abordada por um sentimento de ira e
infelicidade, os quais descontava em seu filho, batendo-lhe. Além da
mãe, o pequeno Byron contava com a ira incógnita de sua governanta, cujo
nome era May Gray.
Sob o teto de uma criação instável, Byron ainda portava uma pequena
enfermidade que o marcaria com forte veemência: ele possuía um defeito
em uma das pernas, era coxo. Tal defeito foi um obstáculo enorme no
desenvolvimento do garoto, que se sentia envergonhado perante os outros.
O tratamento, exaustivo, também o irritava muito!
Contudo, os anátemas destinados a esse Byron, não fariam tanto efeito
como pensado. O garoto possuía características peculiares que o
destacavam. Apaixonou-se por literatura ao primeiro contacto - ainda bem
novo - com a história de Caim e Abel contada por um professor de
História de sua escola. Além de tudo, foi conquistando amigos no colégio
de maneira bastante surpreendente, cito: Uma certa vez, um garoto -
primeiro amigo de Byron - apanhava de um tirano marmanjo. Byron, com a
voz trémula e os olhos cheios de lágrimas, perguntou para o autor,
quantos socos pretendia dar em seu amigo. Surpreendido, o garoto
perguntou o motivo dessa “estúpida” pergunta. Byron, disse: “Se não se
importar, gostaria de receber a metade”.
Byron conquistou, também, o diretor de seu colégio, o Doutor Joseph
Drury, que - de tanta afeição - se ofereceu para lhe ensinar latim e grego a
Byron. O Dr. Drury foi um grande condutor do menino Byron, porém ganhou
diversos momentos de enxaquecas pela ousadia disciplinar do garoto.
Poesia e Câmara dos Lords
Byron havia se irritado com as audácias malignas da mãe. Com isso, resolveu deixar a cidade de Southwell e partiu para
Londres.
Lá, enquanto esperava alcançar a maioridade, Byron decidiu ser poeta,
embalado pelos literatos que, durante toda sua adolescência, leu.
Escreveu uma série de poemas e, apoiado por uma amiga de Southwell -
cujo nome era Elizabeth - publicou o seu primeiro livro: Horas Ociosas.
Byron havia dedicado grande parte de seu tempo para concretizar o
projeto. Deixou ao encargo de Elizabeth a organização e a impressão. Os
primeiros exemplares impressos foram distribuídos a amigos e conhecidos.
Logo então, os consequentes exemplares foram entregues às livrarias e
propostos a consignação. Byron, ansioso, visitava o máximo possível de
livrarias para conferir a vendagem, que por sinal era boa! Logo,
começaram as críticas: as pessoas de Southwell não haviam gostado do
livro, faziam críticas frias ao trabalho de Byron e se sentiam ofendidas
com suas manifestações de ódio ao lugar (Southwell). Já a crítica se
ocupou da duplicidade de opinião de sempre: uns elogiavam, outros
arrasavam.
Byron recebia elogios de seus amigos e de familiares distantes.
Porém, um aviso sobre um artigo hostil e violento que seria publicado na
Revista de Edimburgo - principal órgão liberal escocês, lhe chegou aos
ouvidos.Ele esperava com grande ansiedade, mas não esperava tanto:
“A poesia desse jovem Lord pertence àquela cuja existência nem Deus e nem os homens admitem. Para diminuir seu crime, o nobre autor apresenta sobretudo o argumento de sua menoridade.
Provavelmente
pretende dizer: vejam como um menor pode escrever! Este poema foi feito
por um rapaz de 18 anos... e este por um de 16!...”, e por aí
prossegue, com um tom igualmente cruel. Byron ficou arrasado! Pensou em
replicar, mas decidiu calar-se - por enquanto. Relevou o fato de que
todos os escritores passam por isso em suas respectivas carreiras e
prosseguiu com a mesma empolgação.
Lord Byron decidiu partir para uma viagem incógnita, na qual ele
pretendia descobrir as belezas dos países vizinhos a Inglaterra. Visitou
vários países e despencou seu gosto à beleza contrastante entre as
obras góticas e as produzidas pela guerra. Byron achava lindas as
paisagens de uma cidade destruída pelos corpos moribundos jogados pelos
cantos. Obteve diversas experiências e voltou renovado para Inglaterra.
Foi, então, convocada sua presença na Câmara dos Lordes para tomar posse
de seu cargo. Byron agiu completamente contra as tradições que
assolavam a Câmara: primeiro, foi acompanhado apenas de um amigo,
enquanto a presença da família nunca deixou de existir como princípio
aos Lordes. Depois, agiu como um indiferente ao receber os cumprimentos
do “presidente da Câmara”. Seu amigo espantou-se ao presenciar tamanha
arrogância: Byron ofereceu ao “presidente” apenas as pontas dos dedos
como forma de, segundo ele, “não iludi-lo em relação ao seu possível
apoio, pois não o daria a ninguém deste lugar”.
O tempo se passou e o poeta resolveu lançar seu mais novo trabalho:
Childe Harold. O livro contava suas aventuras durante a viagem pela
Europa e foi concebido pela sociedade como um novo fenómeno literário.
Byron, de início, não acreditava que seu livro fosse capaz de causar
tanto
frisson; contudo, foi o que aconteceu. A obra explodiu como
uma bomba prestes a iniciar novos tempos na vida de um homem que, por
sua vez, estava prestes a viver algo bem mais explosivo que o sucesso: o
incesto.
Nasce o Dom Juan e a eterna tormenta...
A nova vida se instalava com ares de idolatria. Um rei suspenso de
seu posto por toda vida e que definitivamente tomava seu devido lugar.
Byron era aclamado em todos os cantos da grande Inglaterra.
Intelectuais, políticos, artistas e - principalmente - mulheres,
proclamavam seu nome em todas as discussões imagináveis.
O pequeno jovem coxo, antes recusado por inúmeras jovens, era então o
ideal imaginário de nove entre dez mulheres inglesas. Todas fantasiavam
suas feições, imaginavam seus dotes e deslumbravam-se aos versos de uma
literatura excêntrica e real.
Como não poderia deixar de ser, Byron enfeitiçou a alma de inúmeras
mulheres - na sua maioria, casadas - e viveu romances pitorescos, condenados ao fim
pelo desprezo e pela indiferença do poeta. Assim, diversas mulheres,
cujos casamentos estavam condenados às ruínas, se perdiam e
deixavam-se cobrir pelos braços do poeta querido.
Mas Byron, frágil e propenso à desgraça, não escaparia do peso maior
que carregaria por toda sua vida: Augusta, sua irmã, estava em condições
iguais das mulheres casadas que se renderam aos encantos de Byron. Seu
casamento não ia bem, e se refugiou na casa do irmão para aliviar a
tensão que a perseguia desde então. Byron recebeu-a de braços abertos e
toda sua admiração se legou em cordialidade. Entretanto, algo bombástico
alimentava sua ânsia. Começou a enxergar a irmã com outros olhos: via-a
como uma semelhança, um espelho raro petrificado por idêntica sina,
como uma possibilidade de encontrar o Byron escondido pelo ser
anti-social e céptico. Além, enxergava-a como uma mulher de exorbitante
beleza e que precisava de algo a mais do que os braços seguros de um
irmão. Não pensou lucidamente, quando esqueceu a semelhança sanguínea, a
hereditariedade e as anátemas profetizadas em nome de um ato incomum e
estonteante. Contudo, continuou a controlar-se, até que as asas de uma vida
errante produzirem névoas bruscas e não fornecerem apoio para a negação!
Nada propunha a Byron um caminho contrário ao do seguido. Assim,
Augusta voltou para casa grávida.
Morte
Lord Byron morreu enquanto lutava na
Guerra de independência da Grécia, em 1824, de febres contraídas no campo de batalha. Encontra-se sepultado na
Igreja de Santa Maria Madalena,
Hucknall,
Nottinghamshire na
Inglaterra.