Capablanca é referido por vários historiadores da modalidade como o
Mozart do xadrez, uma vez que o seu brilhantismo desde cedo se evidenciou.
Aos quatro anos teria aprendido as
regras do xadrez simplesmente observando o seu pai a jogar. Conta-se que Capablanca teria visto o seu pai fazer uma jogada ilegal com o
cavalo, acusando-o de fazer batota e seguidamente explicando-lhe o que teria feito.
Com doze anos de idade Capablanca derrotou o campeão de Cuba,
Juan Corzo, obtendo o resultado de 4 vitórias, 2 derrotas e 6 empates.
Em
1909, aos vinte anos, Capablanca venceu o campeão dos
Estados Unidos,
Frank Marshall,
uma vitória avassaladora com o resultado de oito vitórias, uma derrota e
catorze empates. Note-se que Marshall era um jogador com qualidade
suficiente para ter disputado um
match pelo título de campeão do mundo apenas dois anos antes.
Em
1911, persuadido por Marshall, Capablanca jogou o torneio de
São Sebastião,
Espanha,
um dos mais importantes torneios do mundo na altura, veja-se que dentre
os jogadores de topo da época apenas o campeão do mundo,
Emanuel Lasker, não estava presente.
Ossip Bernstein e
Aaron Nimzowitsch
discordaram da presença de Capablanca por este ainda não ter vencido um
torneio de relevo, a resposta de Capablanca foi vencer a primeira ronda
contra Bernstein, tendo este jogo conquistado o prémio de brilhantismo.
Após isto, Bernstein ganhou um novo respeito por Capablanca e afirmou
que não seria surpresa para ele se Capablanca viesse a ganhar o torneio.
O jovem cubano levou facilmente de vencida Nimzowitsch em alguns jogos
blitz
que disputaram. Os mestres reconheceram que não havia quem levasse a
melhor a Capablanca nas variantes rápidas do jogo. Capablanca venceu
ainda Nimzowitsch naquele que foi considerado o jogo do torneio.
Em
1911 Capablanca desafiou Lasker para disputarem o campeonato do mundo, este assentiu mas impôs dezassete condições para o
match. Como Capablanca não acordou com estas condições o
match acabou por não se disputar.
Em setembro de
1913,
Capablanca conseguiu lugar no Gabinete dos Negócios Estrangeiros
cubano, onde não tinha qualquer tarefa senão jogar xadrez. Esta posição
permitiu-lhe defrontar em vários jogos de exibição os melhores jogadores
europeus, onde provou a sua superioridade.
Em
1914,
num torneio em São Petersburgo, Capablanca encontrou Lasker no
tabuleiro pela primeira vez, e, apesar de ter estado com uma vantagem de
1,5 pontos acabou por perder para Lasker, com 13 pontos contra os 13,5
deste, embora com larga vantagem para o terceiro classificado
Alexander Alekhine.
Em
1920,
Lasker verificou que Capablanca estava demasiado forte para ele, e
desistiu do seu título em favor deste dizendo que "Você ganhou este
título não através dum desafio formal, mas através das suas brilhantes
capacidades." Apesar disso, Capablanca queria vencer num
match, mas Lasker insistiu que ele próprio é que era o desafiante, que se disputou em Havana em
1921, o resultado cifrou-se em +4 -0 =10. O feito de ganhar o título de campeão do mundo sem derrotas só tem paralelo na vitória de
Vladimir Kramnik sobre
Garry Kasparov +2 -0 =14 em
2000.
Já como campeão do mundo, Capablanca dominou absolutamente em
1922 em
Londres.
Nesta altura apareciam cada vez mais jogadores de qualidade e pensou-se
que o campeão do mundo não deveria poder evitar desafios ao seu título,
como se verificou até então. Neste torneio os grandes jogadores da
época
Alekhine,
Efim Bogoljubow,
Geza Maroczy,
Richard Réti,
Akiba Rubinstein,
Savielly Tartakower e
Milan Vidmar
encontraram-se para discutir as regras pelas quais se conduziriam os
futuros campeonatos. Entre outras condições, uma imposta por Capablanca
foi que o desafiante deveria angariar um mínimo de dez mil dólares para o
prize money. Nos anos que se seguiram Rubinstein e
Nimzowitsch
desafiaram Capablanca mas não conseguiram reunir o dinheiro suficiente.
Posteriormente Alekhine desafiou Capablanca, residindo o seu suporte
financeiro num grupo de empresários
argentinos e no próprio presidente do país.
No período em que foi campeão do mundo, Capablanca teve grandes
mudanças na sua vida pessoal, em dezembro de 1921 casou com Gloria
Simoni Beautucourt, deste casamento nasceram José Raul em
1923 e Gloria em
1925, o casal acabou, contudo, por se divorciar. Neste período os pais de Capablanca faleceram.
Em
1924 Capablanca foi o segundo classificado atrás de Lasker em
Nova Iorque, novamente com larga vantagem para o terceiro classificado Alekhine, em
Moscovo em 1925 ficou-se somente pelo terceiro lugar atrás de
Efim Bogoljubow e Lasker, mas dominou completamente o torneio de seis jogadores disputado em Nova Iorque em
1927,
ao não perder qualquer jogo e terminando com 2,5 pontos de vantagem
para Alekhine. Nestas condições Capablanca era o claro favorito à
vitória no match contra Alekhine a disputar nesse ano.
Neste match verificou-se a queda de Capablanca. Apesar de ter
tentado fazer Alekhine anular o match quando este rotundou numa série de
empates, Alekhine recusou-se e acabou por levar o título com +6 -3 =25,
contudo, apesar de acordado nas condições impostas para que o match
decorresse que haveria direito a desforra, Alekhine recusou-se a jogar a
desforra, em vez disso jogou dois matches contra Efim Bogolyubov, que
não era da mesma craveira (Capablanca tinha um registo de 5-0 contra
ele). Alekhine recusou-se mesmo a jogar os mesmo torneios que o seu
rival.
Após ter perdido o título, Capablanca venceu vários torneios fortes, e em
1931 derrotou
Max Euwe +2 -0 =8. Em seguida retirou-se do xadrez de alto nível, jogando apenas em jogos de menor responsabilidade no
Manhattan Chess Club e simultâneas.
Reuben Fine refere que neste período estava a um nível próximo do de Alekhine no
blitz, mas Capablanca vencia-o "sem misericórdia" nas poucas vezes que jogaram.
Em
1934, Capablanca voltou a jogar ao mais alto nível. Tinha encontrado uma nova companheira, Olga Chagodayev, com quem casou em
1938, que o levou a jogar novamente. Em
1935,
Alekhine perdeu o título para Euwe. Capablanca ficou com esperanças
renovadas quanto à possibilidade de recuperar o título, tendo vencido o
torneio de Moscovo em
1936, à frente de Botvinnik e Lasker. Venceu empatado com Botvinnik o super-torneio de
Nottingham
também em 1936, à frente de Euwe, Lasker, Alekhine e os jogadores
jovens mais promissores, neste torneio Capablanca e Alekhine
defrontaram-se pela primeira vez desde o fatídico
match e
Capablanca conseguiu vingar-se. A sua "raiva mútua" era ainda forte, por
isso nunca eram vistos sentados os dois junto ao tabuleiro por mais de
alguns segundos, cada um fazia a sua jogada levantando-se em seguida.
Em
1937, Euwe, ao contrário do que Alekhine fez com Capablanca, correspondeu à obrigação de permitir a Alekhine o
match
de desforra, que este ganhou sem dificuldade. Depois disto, já não
havia esperança para Capablanca recuperar o título, e Alekhine não jogou
mais nenhum
match pelo campeonato do mundo até à sua morte. O controlo absoluto que o campeão fazia do título fez com que a
FIDE
adquirisse o controlo da atribuição do título, para garantir que o
melhor concorrente tivesse a possibilidade de defrontar o campeão.
Durante o
Torneio de Xadrez AVRO 1938
ele sofreu um pequeno ataque cardíaco e também o pior resultado da sua
carreira, sétimo de oito. Ainda assim, conseguia obter grandes
resultados no tabuleiro, na Olimpíada de xadrez de
1939, em
Buenos Aires, conseguiu o melhor resultado para Cuba, vencendo Alekhine e
Paul Keres.
Na tarde de 7 de março de 1942, no Clube de Xadrez de Manhattan,
Capablanca subitamente sofreu uma severa dor de cabeça e começou a
perder a consciência. Foi levado às pressas ao hospital e na manhã
seguinte, nos braços de sua mulher Olga, morreu de hemorragia cerebral…
Havana enterrou o seu herói nacional com honras de Estado.
Capablanca ainda é considerado como um dos melhores jogadores de
todos os tempos. Ele é especialmente conhecido pela sua rapidez de
julgamento, isenção de erros, grande qualidade nos finais e estilo
posicional. É ainda conhecido pelo seu enorme talento natural e pelo
pouco tempo despendido se preparando para os torneios.
Em toda a sua carreira, Capablanca sofreu menos de cinquenta derrotas
em jogos oficiais, conseguindo ainda o feito de estar invicto durante
oito anos consecutivos, de
1916 a
1923
inclusive, uma série de 63 jogos sem perder incluindo a vitória no
campeonato do mundo. De facto, apenas Marshall, Lasker, Alekhine e
Rudolf Spielmann
ganharam dois ou mais jogos "a sério" do já amadurecido Capablanca,
embora levem desvantagem no total dos confrontos, Capablanca vs Marshall
+20 -2 =28, vs Lasker +6 -2 = 16, vs Alekhine +9 -7 =33, excepto
Spielmann que tem o resultado empatado +2 -2 =?. Dos jogadores de topo,
apenas Keres tinha vantagem nos confrontos com Capablanca +1 -0 =5,
note-se que esta vitória foi conseguida quando Capablanca já tinha
cinquenta anos de idade.
Richard Réti afirmou que "O xadrez era a língua mãe de Capablanca". E, de acordo com o sistema de classificação de Jeff Sonas, do sítio
chessmetrics, Réti não se engana muito, visto que Capablanca lidera as listas emperíodos de 1 ano, 3 anos, 5 anos e 9 anos.
Capablanca não fundou uma nova escola
per se, mas o seu estilo influenciou muito o jogo de dois campeões do mundo
Bobby Fischer e
Anatoly Karpov.
Mikhail Botvinnik
também escreveu que tinha aprendido muito com Capablanca, e até apontou
que o próprio Alekhine aprendeu muito com este em termos de jogo
posicional, antes do
match que os iria tornar rivais para sempre.
Botvinnik apontava o livro de Capablanca Chess Fundamentals
como, indubitavelmente, o melhor livro de xadrez alguma vez escrito. Nele,
Capablanca referia que apesar de o bispo ser habitualmente mais forte
que o cavalo, a combinação dama e cavalo era normalmente superior à
combinação dama e bispo. Botvinnik atribui a Capablanca os créditos por
ter sido ele o primeiro a ter esta noção.