Biografia
Filho de Mário César Tamen e de sua primeira mulher Emília da Conceição de Alles.
Estudou Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde se licenciou.
Enquanto estudante universitário, foi diretor do jornal Encontro e cofundador do cineclube Centro Cultural de Cinema.
Entre 1958 e 1975 foi diretor da (extinta) editora Moraes, com o escritor António Alçada Baptista. A seguir foi vogal do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, durante 25 anos consecutivos, desde 1975 até 2000. Paralelamente presidiu ao P.E.N. Clube Português (1987 - 1990) e foi membro da direção e presidente da assembleia geral da Associação Portuguesa de Escritores. Foi, também, crítico literário.
Tamen estreou-se com a obra poética Poema para Todos os Dias em 1956, seguidos por vários edições de poemas e livros. Tradutor de poesia e prosa, recebeu o Grande Prémio de Tradução em 1990.
Poeta, recebeu vários prémios pela sua obra. Com Retábulo das Matérias (2001), publicou uma coleção dos seus poemas de 1956 a 2001.
Foi tradutor de várias obras literários de - entre outros - Gabriel Garcia Marquez, Reinaldo Arenas, Marcel Proust e Gustave Flaubert e foi condecorado com vários prémios literários.
Morreu a 29 de julho de 2021, em Setúbal, onde se encontrava hospitalizado
Vida pessoal
Em 1959, casou primeira vez com Maria Isabel Bénard da Costa (21.11.1932), irmã de João Bénard da Costa,
da qual se divorciou em 1973, com geração. Casou segunda vez em 1975
com Maria da Graça Livério Seabra Gomes, divorciada, com geração de Luís
Carlos de Assunção Brás Teixeira (1938 - 2000), sem geração.
Obras (seleção)
Entre as suas obras encontram-se:
- Poema para Todos os Dias (1956, poemas)
- O Sangue, a Água e o Vinho (1958, poemas)
- Escrito de Memória (1973, poemas)
- Os Quarenta e Dois Sonetos (1973, poemas)
- Horácio e Coriáceo (1981, livro)
- Principio de Sol (1982, poemas)
- Guião de Caronte (1997, livro)
- Retábulo das Matérias (coleção de poemas 1956-2001, 2001)
- Analogia e Dedos (2006, poemas)
- O Livro do Sapateiro (2010, poemas)
- Um Teatro às Escuras (2011)
- Rua de Nenhures (2013, poemas)
NOÉ
Pronto, pronto, eu faço. Dá um trabalhão
mas faço. Corto madeira, arranjo pregos,
gasto o martelo. E o pior também:
correr o mundo a recolher os bichos,
coisas de nada como formigas magras,
e os outros, os grandes, os que mordem
e rugem. E sei lá quantos são!
Em que assados me pões. Tu
gastaste seis dias, e eu nunca mais acabo.
Andar por esse mundo, a pé enxuto ainda,
a escolher os melhores, os de melhor saúde,
que o mundo que tu queres não há-de nascer torto.
Um por um, e por uma, é claro, é aos pares
- o espaço que isso ocupa.
Mas não é ser carpinteiro,
não é ser caminheiro,
não é ser marinheiro o que mais me inquieta.
Nem é poder esquecer
a pulga, o ornitorrinco.
O que mais me inquieta, Senhor,
é não ter a certeza,
ou mais ter a certeza de não valer a pena,
é partir já vencido para outro mundo igual.
in Analogia e Dedos (2006) - Pedro Tamen