Biografia
Philby era filho do diplomata John Philby e nasceu na
Índia,
à época uma colónia britânica, onde o pai servia como magistrado.
Ganhou o apelido de Kim, porque, tal como o herói do romance de
Rudyard Kipling, começou a falar
punjabi, a língua local, antes do inglês.
Entrou para o serviço secreto soviético em
1933, depois de ter estudado em Westminister e no
Trinity College, em
Cambridge,
instituições que recebiam os filhos da elite britânica. Foi recrutado
quando estava na universidade, juntamente com mais quatro colegas, que
ficaram conhecidos como
Os 5 de Cambridge (
The Cambridge Five).
Conforme revelaria em entrevista, no ano de sua morte, Philby e seus
colegas acreditavam que as democracias ocidentais não teriam condições
de se opor ao
nazi-
fascismo. Na opinião deles, somente o
comunismo era forte o suficiente para enfrentá-lo.
Através do jornalismo, ingressou no Serviço Secreto Inglês (SIS) e, sob a cobertura de sua profissão, espionou para os
ingleses na
Espanha, no período da
Guerra Civil (
1936-
1939).
Em
1944,
estabeleceu e chefiou o serviço de contraespionagem para descobrir
agentes soviéticos em solo inglês, portanto foi designado para se descobrir
a si mesmo. Passou para os soviéticos os planos dos aliados para
subverter os governos comunistas no Leste europeu durante o período da
Guerra Fria,
permitindo ao governo de Moscovo neutralizar a operação. O governo
britânico, no entanto, o considerava um funcionário exemplar e o
agraciou com sua mais importante condecoração, a
Ordem do Império Britânico.
Enviado para os
Estados Unidos em
1949, passou a chefiar a delegação dos serviços secretos britânicos, e serviu de oficial de ligação com o
Federal Bureau of Investigation (
FBI) e a recentemente criada
Central Intelligence Agency (
CIA). Para esta chegou a trabalhar diretamente.
Em
1951,
a deserção de seus colegas de Cambridge, Burgess e Maclean, para o lado
russo tornou-o alvo de suspeitas. Mesmo submetido a intenso
interrogatório, nada revelou a seu respeito, mas, apesar disso, foi
afastado do SIS. Foi para o
Líbano, onde atuou como espião
freelance, novamente sob a cobertura de sua profissão de jornalista.
Em
1963, um desertor da
KGB ofereceu evidências contra Philby. Agentes do SIS viajaram para o
Líbano para convencê-lo a confessar, mas Philby embarcou num avião de carga com destino a
Moscovo. Era o fim de uma carreira de mais de 30 anos como agente duplo.
Foi recebido inicialmente com desconfiança, pois Moscovo duvidava de
sua lealdade, acreditando que suas informações eram "boas demais". Mas
no início dos anos 80 obteve a cidadania soviética e foi admitido como
consultor da KGB. Foram-lhe concedidas diversas honrarias e prémios.
Contou sua história como agente duplo no livro de sua autoria
Minha Guerra Silenciosa, que teve prefácio de
Graham Greene, com quem trabalhou durante a
Segunda Guerra Mundial.
Em Moscovo, após manter um romance com a ex-esposa de seu colega
Maclean, casou-se com a russa Rufina Pukhova, com quem viveu até sua
morte. Foi seu quarto casamento. Teve uma filha, Anne, de seu segundo
matrimónio.
Morreu em
1988, de complicações decorrentes do
alcoolismo, antes, portanto, do colapso do regime comunista que tanto admirava.
Os 5 de Cambridge
Nos anos 20, a agência de espionagem soviética NKVD, antecessora da
KGB, formulou um plano para se infiltrar no serviço de espionagem
britânico. Para tanto, era necessário identificar e avaliar jovens
estudantes da elite britânica, destinados a seguir carreira no serviço
diplomático ou nos órgãos de segurança e que se manifestassem marxistas
ou, ao menos, anti fascistas. Aliás, membros declarados do
Partido Comunista eram de imediato descartados, pois já atraíam a atenção das autoridades de segurança britânicas.
A estratégia deu resultado. Os chamados espiões de Cambridge foram
recrutados durante seus anos na universidade. Dois deles, Blunt e
Burgess, eram membros dos
Apóstolos de Cambridge, uma venerável sociedade secreta que, nos anos 30, abraçou o marxismo com entusiasmo.
Philby e Graham Greene
Trabalhando sob as ordens de Philby, o escritor inglês Graham Greene ajudou a desmontar a rede de espionagem nazi na
Península Ibérica. Decidiu deixar o serviço secreto em 1944, quando estava para ser promovido.
Esta saída inesperada do serviço secreto, quando sua carreira estava no auge, causou surpresa. No livro Escritores e Espiões — A Vida Secreta dos Grandes Nomes da Literatura Mundial, o escritor espanhol Fernando Martínez Laínez tem uma tese para esta demissão abrupta.
Segundo Laínez, Greene descobriu o papel duplo de seu chefe, mas como
era seu amigo preferiu deixar o serviço secreto para não denunciá-lo.
Depois que Philby foi para Moscovo, Greene visitou-o várias vezes. O
personagem principal de seu romance O Terceiro Homem foi inspirado nele.