As reformas da Primavera de
Praga foram uma tentativa de Dubček, aliado a intelectuais checoslovacos, de conceder direitos adicionais aos cidadãos num ato de
descentralização parcial da
economia e de
democratização. As reformas concediam também um relaxamento das restrições às liberdades de
imprensa, de
expressão e de movimento e ficaram conhecidas como a tentativa de se criar um “
socialismo com face humana”.
Dubček também dividiu o país nas duas repúblicas separadas; essa foi a
única reforma que sobreviveu no fim da Primavera de Praga.
As reformas não foram bem recebidas pelos soviéticos que, após as falhas nas negociações, enviaram milhares de
tropas e
tanques do Pacto de Varsóvia para ocupar o país. Uma grande onda de
emigração varreu o país. Apesar de ter havido inúmeros protestos pacíficos no país, inclusive o
suicídio de um estudante, não houve resistência militar. A Checoslováquia continuou ocupada até
1990.
História
O movimento da Primavera de Praga foi liderado por intelectuais
reformistas do Partido Comunista Checo, interessados em promover
grandes mudanças na estrutura política, económica e social, na
Checoslováquia. A proposta surpreendeu a sociedade checa, que em
5 de abril de
1968 soube das propostas reformistas dos intelectuais
comunistas.
O objetivo de Dubcek era "
desestalinizar" o país, removendo os vestígios de
despotismo e
autoritarismo, que considerava aberrações no sistema socialista. Com isso, o secretário-geral do partido prometeu uma revisão da
Constituição, que garantiria a liberdade do cidadão e os direitos civis. A abertura política abrangia o fim do
monopólio
do partido comunista e a livre organização partidária, com uma
Assembleia Nacional que reuniria democraticamente todos os segmentos da
sociedade checa. A liberdade de
imprensa, o
Poder Judiciário independente e a tolerância religiosa eram outras garantias expostas por Dubcek.
As propostas foram apoiadas pela população. O movimento que propôs a
mudança radical da Checoslováquia, dentro da área de influência da
União Soviética, foi chamada de
Primavera de Praga.
Assim sendo, diversos setores sociais se manifestaram a favor da
rápida democratização. No mês de junho, um texto de “Duas Mil Palavras”
saiu publicado na
Liternární Listy (Gazeta Literária), escrito por
Ludvík Vaculík
e assinado por personalidades de todos sectores sociais, pedindo a
Dubcek que acelerasse o processo de abertura política. Eles
acreditavam que era possível transformar, pacificamente, um regime
ortodoxo comunista para um regime socialista democrático em moldes
ocidentais. Com estas propostas, Dubcek tentava provar a
possibilidade de uma
economia coletivizada conviver com ampla liberdade democrática.
A União Soviética, temendo a influência que uma Checoslováquia
democrática e socialista, independente da influência soviética e com
garantias de liberdade na sociedade, pudesse passar às nações
socialistas e às "democracias populares", mandou tanques do
Pacto de Varsóvia invadirem a capital
Praga em
21 de agosto de
1968. Dubcek foi detido por soldados soviéticos e levado para
Moscovo.
Na cidade de Praga a população reagiu à invasão soviética de forma
não violenta, desnorteando as tropas. A organização quase espontânea
foi em parte liderada pela cadeia de vários pequenos transmissores,
construídos à pressa, por membros do exército checo e por aficionados
por
radio transmissores: a
Rádio Checoslováquia Livre.
Cada emissora transmitia instruções para a população por não mais
que 9 minutos e depois saia do ar, dando o espaço para uma outra,
impossibilitando assim a triangulação do sinal. As suas instruções eram
para a população manter a calma e, sobretudo, não colaborar com os
invasores. Os russos ainda tentaram trazer uma potente estação de rádio
para criar interferências nos sinais, porém, os ferroviários
checoslovacos, com uma extrema competência, atrasaram a entrega e,
quando a estação chegou ao seu destino, estava inutilizável.
Os russos conseguiram uma
ocupação total em poucas horas, porém chegaram a um impasse político: as diversas tentativas para criar um governo
colaboracionista fracassaram e a população checoslovaca foi eficiente em minar a moral das tropas. No dia 23 iniciou-se uma
greve geral e, no dia 26, foi publicado o
decálogo da
não cooperação:
Não sei, não conheço, não direi, não tenho, não sei fazer, não darei, não posso, não irei, não ensinarei, não farei!
Através de uma rede de
radioamadores,
a população era informada sobre ações que poderiam ser organizadas
para levar a cabo uma resistência não violenta. Tal reação foi
espontânea, devido à impossibilidade de utilizarem a ação violenta. De
certa forma, a população se inspirou num livro picaresco muito
popular, "O valente soldado Chveik", onde o personagem usava
travessuras para expulsar as tropas invasoras.
A paralisação dos comboios interrompeu a comunicação com os países
aliados,
e para evitar que os tanques chegassem até Praga, as placas de
sinalização foram invertidas, e depois pintadas com uma tinta fácil de
se raspar. Quando os soldados raspavam a tinta para verem a direção
correta, acabavam voltando na direção de Moscovo.
Enquanto isso, os
raptores
contavam a Dubcek que a população checoslovaca estava a ser
massacrada, como fora a população húngara, doze anos antes, o que o
levou a assinar um acordo de renúncia.
As reformas foram canceladas e o regime de partido único continuou a
vigorar na Checoslováquia. Em protesto contra o fim das liberdades
conquistadas, o jovem
Jan Palach auto-imolou-se, ateando fogo ao próprio corpo numa praça de Praga, a
16 de janeiro de
1969.
Por sua vez, os
comunistas checos mais conservadores apoiaram a invasão
soviética,
uma vez que eles acreditavam que as reformas de Dubček trariam um
precoce desastre económico e social, o que mais tarde realmente
ocorreria, em
1991, com o colapso soviético. Sinal disto, é a divisão do partido em dois lados, os
liberais (reformistas) e os
conservadores, que contariam com o apoio soviético, o poder mais influente.