Astronautas simulam ambiente lunar na Gruta do Natal nos Açores
Sete astronautas, de diferentes nacionalidades, vão estar isolados no local durante sete dias.
A Gruta do Natal, na ilha Terceira, Açores, composta por túneis de lava,
vai ser palco de um treino de sete astronautas, que durante sete dias
vão lá estar isolados a simular o ambiente lunar, foi revelado esta
quinta-feira.
"O que vai acontecer é uma simulação lunar. Ou seja, é um treino
espacial. Vamos passar sete dias, seis noites nesta gruta vulcânica a
simular um ambiente lunar", explicou à agência Lusa Ana Pires,
investigadora do INESC TEC - Instituto de Engenharia de Sistemas e
Computadores, Tecnologia e Ciência e comandante da missão.
Trata-se da primeira missão análoga lunar, que vai decorrer de 22 a
28 de novembro, integrando uma equipa de sete pessoas, de diferentes
nacionalidades.
O projeto é promovido pela Associação 'Os Montanheiros', que gere a
Gruta, e pelo INESC TEC e será oficialmente apresentado em 8 de
novembro, nas instalações do Laboratório de Robótica e Sistemas
Autónomos do instituto.
"É um orgulho enorme para a região oferecermos este local de
experiência para termos finalmente em Portugal, nos Açores, e em
concreto na ilha Terceira, um sítio para a comunidade nacional e
internacional desenvolver missões análogas lunares", destacou Ana Pires.
A investigadora adiantou que se trata da "primeira missão análoga
lunar em Portugal", explicando que a Gruta do Natal, que está aberta ao
público, "oferece todas as condições e segurança" para o treino e a
expectativa é que, em 2024, a Gruta do Natal seja um novo local para
missões análogas.
"E, ao fazermos estes treinos, ao estarmos num ambiente confinado,
conseguimos testar tecnologias, fazer ciência, realizar imensas
experiências, mas também testarmos os nossos próprios limites como
humanos", explicou à Lusa.
Esta é a primeira missão do projeto CAMões -- Caving Analog Mission
for Ocean, Earth and Space Exploration -- que "irá permitir tornar os
Açores "num 'test bed' para astronautas de todo o mundo", realçou ainda a
coordenadora da missão.
"A gruta é um tubo de lava fantástico que oferece todas as condições
de segurança e logística. E, em termos geológicos e científicos, vai ser
fantástico viver durante sete dias lá dentro", vincou.
Segundo a investigadora, "os astronautas de diversas agências
espaciais como a ESA e a NASA têm procurado este tipo de estruturas e
cenários para realizar os seus treinos de geologia planetária, isto
porque existem similaridades com os tubos de lava existentes em Marte e
na Lua".
A tripulação desta primeira missão é composta por uma equipa de sete pessoas, de cinco países e que falam oito idiomas.
Serão realizados estudos em vários setores, treinos, testes de
tecnologias, recolhas de dados, entre outras atividades científicas.
Do lado de fora, uma equipa de especialistas em espeleologia,
vulcanismo, microbiologia, geoquímica e medicina espacial atuará como
'mission control'.
Em permanência estará uma equipa médica multidisciplinar, voluntária no projeto.
Ana Pires revelou também que esta primeira missão será "comandada por duas mulheres".
"Das sete pessoas na gruta, três são mulheres", precisou a
investigadora, revelando que o projeto tem "uma forte componente
pedagógica" pois levará esta missão "às escolas do continente, Açores e
Estados Unidos", através de videoconferência, "a partir da gruta".
Citado num comunicado enviado à agência Lusa, João Claro, CEO do
INESC TEC, frisa que "este será um marco no posicionamento de Portugal
nesta área", considerando que se trata de uma iniciativa de "grande
envergadura que demonstra o potencial do país, não só em termos de
recursos naturais e geológicos, com altos níveis de fidelidade, mas
também ao nível da capacidade das instituições e dos nossos
investigadores"
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