(...)
Devido aos seus ideais comunistas e à sua assumida e militante oposição ao
Estado Novo, esteve preso em
1937,
1940 e
1949-
1960,
num total de 13 anos, 8 dos quais em completo isolamento sem nunca,
incrivelmente, ter perdido a noção do tempo. Mesmo sob violenta tortura,
nunca falou. Na prisão, como forma de passar o tempo, dedicou-se à
pintura e à escrita. Uma das suas produções mais notáveis aquando da sua
prisão, foi a tradução e ilustração da obra
Rei Lear, de
William Shakespeare. A
3 de janeiro de
1960, Cunhal, juntamente com outros camaradas, todos quadros destacados do PCP, protagonizaram a célebre "
fuga de Peniche", possível graças a um planeamento muito rigoroso e a uma grande coordenação entre o exterior e o interior da prisão.
Teve como atores os chamados "dez de Peniche", a saber:
Desse modo, na data aprazada, ao final da tarde, um automóvel parou
em frente ao forte, com o porta-bagagens aberto. Esse era o sinal
combinado para que, no interior da prisão se soubesse que, no exterior,
estava tudo a postos para a fuga. O sinal foi transmitido pelo ator, já
falecido, Rogério Paulo.
O carcereiro foi então neutralizado com o emprego de um produto
anestésico e, com a ajuda de um sentinela – o guarda José Alves
– que fazia parte do plano de fuga, os prisioneiros atravessaram, sem
serem percebidos pelos demais sentinelas, o trecho mais exposto do
percurso. Encontrando-se no piso superior, descem para o piso inferior
com o recurso a uma árvore. Aqui correram para o pano exterior da muralha,
tendo descido o mesmo com o auxílio de uma corda feita com lençóis até
alcançarem o fosso exterior. Dele, tiveram ainda que saltar um muro para
chegar à vila, onde já se encontravam à espera os automóveis que os
haviam de transportar para as casas clandestinas onde deveriam passar a
noite.
Cunhal passou a noite na casa de Pires Jorge, em
São João do Estoril, onde ficou a viver clandestinamente durante algum tempo.
Desenho a carvão de Álvaro Cunhal feito em Peniche
NOTA: o guarda José Alves apenas colaborou na operação porque, sendo de condição humilde, foi
iludido com promessas financeiras que nunca foram cumpridas. Cometeu suicídio num
jardim de Bucareste, Roménia,
para onde fugiu, sentindo-se enganado por aqueles que ajudou a fugir,
sozinho num país que não era o seu e onde nenhuma porta se lhe abriu. A
sua viúva, após o 25 de Abril, contactou pessoalmente Álvaro Cunhal
(então ministro de um dos governos provisórios) pedindo ajuda (pois
vivia de graças à generosidade de amigos e familiares), de quem obteve a
resposta de que "José Alves não era um comunista, não desempenhou um serviço ao partido, por isso não carece de qualquer ajuda."
ADENDA: Roma não pagava a traidores - o PCP não paga a traidores e às suas viúvas.