Político de profissão e vocação, co-fundador do
Partido Socialista, a
19 de abril de
1973, Mário Soares iniciou na juventude o seu percurso político, integrando grupos de oposição ao
Estado Novo, primeiro ligado ao
Partido Comunista Português -
MUNAF e
MUD - e depois na oposição não comunista -
Resistência Republicana e Socialista, que funda com dissidentes do
PCP e através do qual entrará para o
Diretório Democrato-Social. Pela sua atividade oposicionista foi detido 12 vezes pela
PIDE - cumprindo cerca de três anos de cadeia (
Aljube,
Caxias e
Penitenciária) - e, posteriormente, deportado para
São Tomé. Permaneceu nessa ilha até o governo de
Marcello Caetano lhe permitir o regresso a
Portugal, sendo, posteriormente às eleições de
1969 - nas quais Soares foi cabeça-de-lista pela
CEUD em
Lisboa - forçado a abandonar o país, optando pelo exílio em
França.
No processo de transição democrática subsequente ao
25 de abril de 1974 Mário Soares afirmou-se como líder partidário no campo democrático, contra o
Partido Comunista,
batendo-se pela realização de eleições. Foi ainda Ministro de alguns
dos governos provisórios - Ministro dos Negócios Estrangeiros, logo no
I Governo Provisório,
ficou associado ao processo de descolonização, defendendo de forma
intransigente a independência e autodeterminação das províncias
ultramarinas.
Vencedor das primeiras eleições legislativas realizadas em democracia,
foi Primeiro-Ministro dos dois primeiros governos constitucionais, o
I e
II governos constitucionais, este último de coligação com o
CDS. A sua governação foi marcada pela instabilidade democrática - nomeadamente, pela tensão entre o
Governo e o
Presidente da República -
Conselho da Revolução - pela crise financeira e pela necessidade de fazer face à paralisação da economia ocorrida após o
25 de abril, que levou o Governo a negociar um grande empréstimo com os
EUA.
Ao mesmo tempo, foi um período em que o Governo, e Soares em
particular, se empenhou em desenvolver contactos com outros líderes
europeus, tendentes à adesão de
Portugal às
Comunidades Europeias.
Foi, de novo, Primeiro-Ministro do
IX governo, do chamado
Bloco Central, num período marcado por uma nova crise financeira e pela intervenção do
FMI em
Portugal.
Posteriormente, foi
Presidente da República durante dois mandatos, entre
1986 e
1996, vencendo de forma tangente, e à segunda volta, as eleições presidenciais de
1986, e com larga maioria as de
1991, em que contou não só com o apoio do
PS como do
PSD, de
Cavaco Silva. Sendo o primeiro civil a exercer o cargo de
Presidente da República, deixou patente um novo estilo presidencial, promovendo a proximidade com as populações e a projeção de
Portugal no estrangeiro; sendo marcado ao mesmo tempo pela tensão política com os governos de
Cavaco Silva e pelo polémico caso TDM (Teledifusão de Macau).
Biografia
Nascido em
Lisboa, foi o segundo filho de
João Lopes Soares, ex-padre e pedagogo, ministro na
I República e combatente do
Salazarismo, e de Elisa Nobre Baptista. Co-fundador do
Partido Socialista de
Portugal, a 19 de abril de 1973, Mário Soares foi um dos mais famosos resistentes ao
Estado Novo, pelo que foi preso doze vezes (num total de cerca de três anos de cadeia) e deportado sem julgamento para a
ilha de São Tomé, em 1968, até se exilar em
França, em 1970.
Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na
Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, em 1951, e em
Direito, na
Faculdade de Direito
da mesma universidade, em 1957. Foi nos tempos de estudante que, com
apoio do pai, iniciou o seu percurso político - pertenceu ao MUNAF -
Movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista, em maio de 1943, integrou a Comissão Central do MUD -
Movimento de Unidade Democrática, sob a presidência de
Mário de Azevedo Gomes,
em 1946, foi fundador o MUD Juvenil e membro da primeira Comissão
Central, no mesmo ano. Em 1949, ano em que, a 22 de fevereiro, se casou
na prisão, com registo na 3.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa,
com
Maria Barroso foi secretário da Comissão Central da candidatura do General
Norton de Matos à Presidência da República, em 1955 integrou o
Directório Democrático-Social, dirigido por
António Sérgio,
Jaime Cortesão e
Azevedo Gomes e, em 1958, pertenceu à comissão da candidatura do General
Humberto Delgado à
Presidência da República. Foi militante do
Partido Comunista Português e, como advogado, defensor do Dr. Alvaro Cunhal.
Foi professor do Ensino Secundário Particular e chegou a dirigir o
Colégio Moderno,
fundado pelo pai. Como advogado defensor de presos políticos,
participou em numerosos julgamentos, realizados no Tribunal Plenário e
no Tribunal Militar Especial. Representou a família de
Humberto Delgado na investigação do seu alegado assassinato e, juntamente com
Adelino da Palma Carlos, defendeu também a causa dinástica de
Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança. Ainda na década de 1950 foi membro da
Resistência Republicana e Socialista,
redactor e signatário do Programa para a Democratização da República em
1961, candidato a deputado pela Oposição Democrática, em 1965, e pela
CEUD, em 1969.
Aquando do seu exílio em
França, em 1970, foi
chargé de cours nas universidades de Paris VIII (
Vincennes) e Paris IV (
Sorbonne), e igualmente professor convidado na Faculdade de Letras da Universidade da Alta Bretanha, em
Rennes, que lhe atribuiu o grau de Doutor
Honoris Causa. Em 1973, foi o primeiro fundador do
Partido Socialista, de que foi secretário-geral e ainda hoje é militante.
Estando ainda aí, em 1972, foi à loja à loja maçónica parisense "Les Compagnons Ardents", da "
Grande Loge de France", pedir apoio para a luta política contra o
Estado Novo e ingressou na
maçonaria, segundo ele próprio, optando depois por ficar "
adormecido".
A 28 de abril de 1974, três dias depois da
Revolução de 25 de Abril, regressou do exílio em
Paris, no chamado "Comboio da Liberdade". Dois dias depois, esteve presente na chegada a Lisboa de
Álvaro Cunhal. Ainda que tivessem ideias políticas diferentes, subiram de braços dados, pela primeira e última vez, as ruas da
Baixa Pombalina e a
avenida da Liberdade.
Durante o período revolucionário que ficou conhecido como
PREC foi o principal líder civil do campo democrático, tendo conduzido o
Partido Socialista à vitória nas eleições para a
Assembleia Constituinte de 1975.
Foi Ministro dos Negócios Estrangeiros, de Maio de 1974 a Março de
1975, e um dos impulsionadores da independência das colónias
portuguesas, tendo sido responsável por parte desse processo.
A partir de março de 1977 colaborou no processo de adesão de Portugal à
CEE, vindo a subscrever, como
primeiro-ministro, o Tratado de Adesão, em 12 de julho de 1985.
Presidente da República entre 1986 e 1996 (1.º mandato de 10 de março de 1986 a 1991, 2.º mandato de 13 de janeiro de 1991 a 9 de março de 1996).
Deputado ao
Parlamento Europeu entre 1999 e 2004, foi candidato a presidente do parlamento, mas perdeu a eleição para
Nicole Fontaine, a quem não teve problema em chamar «dona de casa» (no sentido pejorativo do termo).
Foi, em 2005, aos oitenta anos, o segundo candidato - após
Jerónimo de Sousa pelo
PCP - a assumir a candidatura à Presidência da República (o que seria um inédito terceiro mandato) após algumas crispações no
PS, principalmente com o seu amigo de longa data
Manuel Alegre. Na eleição, a
22 de fevereiro de
2006, obteve apenas o terceiro lugar, com 14% dos votos.
Em 2007 foi nomeado presidente da Comissão de Liberdade Religiosa. Também presidia ao Júri do Prémio Félix Houphouët-Boigny, da
UNESCO, desde 2010, e era patrono do International Ocean Institute, desde 2009 e até à sua morte. Era patrono do
International Ocean Institute, desde 2009.
Com 89 anos foi eleito a personalidade do ano de 2013 pela imprensa estrangeira radicada em Portugal. É pai de
João Soares e Isabel Soares.