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Nasceu, no seio de uma abastada família
alto-burguesa, sendo filho e neto de militares. Órfão de mãe com apenas dois anos (
1892), ficou entregue ao cuidado dos avós, indo viver para a
Quinta da Vitória, na freguesia de
Camarate, às portas de
Lisboa, aí passando grande parte da infância.
Inicia-se na poesia com doze anos, sendo que aos quinze já traduzia
Victor Hugo, e com dezasseis,
Goethe e
Schiller. No liceu teve ainda algumas experiências episódicas como actor, e começa a escrever.
Desiludido com a
«cidade dos estudantes», segue para
Paris a fim de prosseguir os estudos superiores, com o auxílio financeiro do pai. Cedo, porém, deixou de frequentar as aulas na
Sorbonne, dedicando-se a uma vida boémia, deambulando pelos cafés e salas de espectáculo, chegando a passar fome e debatendo-se com os seus desesperos, situação que culminou na ligação emocional a uma
prostituta, a fim de combater as suas frustrações e desesperos.
Na capital francesa viria a conhecer
Guilherme de Santa-Rita (
Santa-Rita Pintor). Inadaptado socialmente e psicologicamente instável, foi neste ambiente que compôs grande parte da sua obra poética e a correspondência com o seu confidente Pessoa; é, pois, entre
1912 e
1916 (o ano da sua morte), que se inscreve a sua fugaz – e no entanto assaz profícua – carreira literária.
Entre
1913 e
1914 vem a Lisboa com certa regularidade, regressando à capital devido à deflagração do conflito entre a
Sérvia e a
Áustria-Hungria, o qual a breve trecho se tornou uma conflagração à escala
europeia – a
I Guerra Mundial. Com Pessoa e ainda
Almada-Negreiros integrou o primeiro grupo modernista português (o qual, influenciado pelo cosmopolitismo e pelas vanguardas culturais europeias, pretendia escandalizar a sociedade burguesa e urbana da época), sendo responsável pela edição da revista literária
Orpheu (e que por isso mesmo ficou sendo conhecido como a
Geração d’Orpheu ou
Grupo d’Orpheu), um verdadeiro
escândalo literário à época, motivo pelo qual apenas saíram dois números (
Março e
Junho de
1915; o terceiro, embora impresso, não foi publicado, tendo os seus autores sido alvo da chacota social) – ainda que hoje seja, reconhecidamente, um dos marcos da
história da literatura portuguesa, responsável pela agitação do meio cultural português, bem como pela introdução do
modernismo em
Portugal.
Em
Julho de
1915 regressa a
Paris, escrevendo a Pessoa cartas de uma crescente angústia, das quais ressalta não apenas a imagem lancinante de um homem perdido no «labirinto de si próprio», mas também a evolução e maturidade do processo de escrita de Sá-Carneiro.
Uma vez que a vida que trazia não lhe agradava, e aquela que idealizava tardava em se concretizar, Sá-Carneiro entrou numa cada vez maior angústia, que viria a conduzi-lo ao seu
suicídio prematuro, perpetrado no Hotel de Nice, no bairro de
Montmartre em
Paris, com o recurso a cinco frascos de
arseniato de
estricnina.
Contava tão-só vinte e cinco anos. Extravagante tanto na morte como em vida (de que o poema
Fim é um dos mais belos exemplos), convidou para presenciar a sua agonia o seu amigo José de Araújo. E apesar de o grupo modernista português ter perdido um dos seus mais significativos colaboradores, nem por isso o entusiasmo dos restantes membros esmoreceu – no segundo número da revista
Athena, Pessoa dedicou-lhe um belo texto, apelidando-o de «
génio não só da arte como da inovação dela», e dizendo dele, retomando um aforismo das
Báquides (IV, 7, 18), de
Plauto, que «
Morre jovem o que os Deuses amam» (tradução literal de
Quem di diligunt adulescens moritur).
Verdadeiro insatisfeito e inconformista (nunca se conseguiu entender com a maior parte dos que o rodeavam, nem tão pouco ajustar-se à vida prática, devido às suas dificuldades emocionais), mas também incompreendido (pelo modo com os contemporâneos olhavam o seu jeito poético), profetizou acertadamente que no futuro se faria jus à sua obra, no que não falhou.
Com efeito, reconhecido no seu tempo apenas por uma fina
élite, à medida que a sua obra e correspondência foi publicada, ao longo dos anos, tornou-se acessível ao grande público, sendo atualmente considerado um dos maiores expoentes da literatura moderna em
língua portuguesa. Embora não tenha a mesma repercussão de Fernando Pessoa, a sua genialidade é tão grande (senão mesmo maior) que a de Pessoa, mas porém muito mais próxima da loucura que a do seu amigo.
A terra que o acolheu na infância –
Camarate –, e a quem ele dedicou também algumas das suas poesias, homenageou-o, conferindo o seu nome a uma escola local. O seu poema
Fim foi musicado por um grupo português no final dos
anos 1980, os
Trovante. Mais tarde, o seu poema
O Outro foi também musicado pela cantora brasileira
Adriana Calcanhotto.