O Archaeopteryx pode deixar de ser considerado como a primeira ave, mostra um estudo da Nature, que defende que a espécie é um dinossauro igual a tantos outros.
Artigo publicado na Nature
O Archaeopteryx pode deixar de ser uma ave
O fóssil da nova espécie (Xu/Nature)
O primeiro fóssil do Archaeopteryx foi descoberto em 1861 e
tornou-se no achado perfeito para dar impulso à teoria evolutiva de
Darwin. O vertebrado viveu durante a era dos dinossauros e, apesar das
semelhanças com os répteis, tinha características aladas e foi definido
como a mais antiga ave de sempre, tornando-se num exemplo académico da
passagem evolutiva dos répteis para os vertebrados alados. Passado 150
anos, um artigo da Nature publicado nesta quinta-feira que descreve uma nova espécie parente do Archaeopteryx, sugere que “a primeira ave” não passa de um dinossauro com penas, iguais a tantos outros que existiam na altura.
O Archaeopteryx é um género que incluí várias espécies que
viveram há cerca de 150 milhões de anos, no final do período Jurássico. A
primeira espécie foi descoberta no Sul da Alemanha, dois anos depois de
Charles Darwin publicar o livro revolucionário do século XIX, Na Origem das Espécies, onde defendeu a teoria da evolução através de uma colecção robusta de exemplos que sustentavam a tese.
Quando
se encontrou o fóssil do animal pré-histórico, o que se conhecia do
mundo dos dinossauros era um deserto comparado com o que se sabe hoje.
As penas, as asas, a parte superior do osso esterno parecido com as
aves, eram tão diferentes dos outros fósseis de dinossauros da época,
que mesmo havendo várias características de réptil, o Archaeopteryx foi não só considerado a primeira ave, como toda a teoria da evolução das aves foi construída a partir deste grupo.
Ao
longo do último século e meio, vários autores puseram em causa “a
primeira ave” e a partir de meados da década de 1990, quando vários
fósseis mostraram que existiu uma proliferação de penas e asas em
dinossauros, o aspecto do Archaeopteryx passou a ser muito mais
vulgar. O artigo de Xing Xu, investigador da Universidade de Linyi, da
província de Shandong, China, é mais um argumento contra esta
classificação com 150 anos.
No estudo, os autores descrevem a espécie Xiaotingia zhengi.
O fóssil do animal foi encontrado na formação geológica de Tiaojishan,
que fica na província chinesa de Liaoning, no Nordeste. A placa de rocha
onde está incluído tem a marca de penas à volta dos ossos. O animal,
que viveu há cerca de 155 milhões de anos, teria asas, penas e seria
capaz de planar.
Comparar a árvore da evolução
A equipa
de Xu decidiu fazer uma análise comparativa das características
morfológicas destas duas espécies e de mais algumas dezenas de
dinossauros e aves que estão próximos para compreender quais é que serão
as relações familiares na árvore da evolução.
O que descobriram, é que quando juntavam a nova espécie, o Archaeopteryx
saltava do ramo evolutivo que hoje é representado pelas aves para o
ramo do grupo de dinossauros chamado Deinonychosauria, que inclui, por
exemplo, os famosos velociraptors, e que se extinguiu no final do
Cretácico, juntamente com o resto dos dinossauros. Mas quando a análise
excluía o Xiaotingia zhengi, o Archaeopteryx permanecia no ramo evolutivo das aves.
“Há muitas, muitas características que sugerem que o Xiaotingia e o Archaeopteryx
sejam dois tipos de dinossauro chamados Deinonychosauria e não aves.
Por exemplo, ambos têm um grande buraco em frente aos olhos, estes
buracos só é visto nestas espécies e não está presente noutras aves”,
disse Xu citado pela BBC News. O investigador também aponta para a garra
do segundo dedo do pé, muito extensível nos Deinonychosauria, e que
“tanto o Archaeopteryx como o Xiaotingia apresentam o desenvolvimento inicial desta característica”.
Lawrence Witmer, um paleontólogo da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, que escreveu um artigo na < i="">
a acompanhar o estudo, afirma que esta descoberta vai “arrebatar a
comunidade de paleontólogos simplesmente porque, no último século e
meio, estes fósseis familiares [do Archaeopterix] guiaram todos os pensamentos científicos sobre o inicio das aves”.
Para Xing Xu, esta definição feita quando a teoria da evolução ainda era
jovem “foi o resultado da História e das poucas amostras que existiam
da transição de dinossauros para pássaros”, disse citado numa notícia da
Nature. Mas há quem discorde. “Acho que isto não vai ser a última palavra sobre este assunto”, disse à Nature
Thomas Holtz, paleontólogo da Universidade de Maryland, Estados Unidos.
“Se tiramos esta espécie chinesa do conjunto de espécies analisadas, os
argumentos caem por terra, por isso esta nova localização é na melhor
das hipóteses precária até que haja mais descobertas que a
comprovem.”Entretanto, os autores chineses avançaram com outras três
espécies da era dos dinossauros, descobertas recentemente, para
substituirem o lugar de ave mais antiga: o Epidexipteryx, o Jeholornis e o Sapeornis. Quanto ao Archaeopterix,
apesar da discussão continuar e de uma resposta conclusiva para o seu
lugar na evolução das aves esperar por mais investigação, o seu lugar na
história da vida ficou comprometido. “Talvez tenha chegado a altura de
aceitarmos finalmente que o Archaeopterix era somente outro pequeno terópode com aspecto de ave, que esvoaçava por aí, durante o Jurássico”, defendeu Lawrence Witmer.