segunda-feira, agosto 10, 2015

Né Ladeiras - 56 anos

Foto rara da cantora.
Né Ladeiras, é o nome artístico da cantora portuguesa Maria de Nazaré de Azevedo Sobral Ladeiras (Porto, 10 de agosto de 1959).
Nasceu numa família com grandes afinidades com a música. A mãe cantava em programas de rádio, o pai tocava viola e o avô materno tocava guitarra portuguesa, braguesa, cavaquinho e instrumentos de percussão. Com 6 anos participa no Festival dos Pequenos Cantores da Figueira da Foz. Durante a sua adolescência integra vários projectos musicais, entre os quais um duo acústico formado com uma amiga da escola.

A sua carreira musical começou realmente com a fundação, em 1974, com diversos amigos, da Brigada Victor Jara, projecto no qual tocavam sobretudo música latino-americana tendo participado em diversas campanhas de animação cultural do MFA (Movimento de Forças Armadas) e de trabalho voluntário. O interesse do grupo pela música tradicional portuguesa só se manifesta nos últimos meses de 1976, após realizarem diversos espectáculos pelo país e aí "descobrirem" as potencialidades e qualidade da nossa tradição musical.
Em 1977, na sequência de uma actuação na FIL (Feira Internacional de Lisboa), mantêm contactos com a editora Mundo Novo (associada à editorial Caminho), para a qual gravam, durante dois dias, o álbum Eito Fora, que é editado nesse mesmo ano. Né Ladeiras interpreta, neste disco, um dos temas mais conhecidos, Marião com base num tradicional de Trás-os-Montes.
No ano seguinte, Né Ladeiras participa ainda nas gravações do segundo álbum da Brigada Victor Jara intitulado Tamborileiro. Em 1979, após se separar da Brigada, Né Ladeiras junta-se ao agrupamento Trovante, ainda antes de este alcançar sucesso, com o qual grava o single Toca a Reunir.
Na altura da gravidez do seu primeiro filho, Né Ladeiras fica em casa e é nessa altura que é convidada pelos Trovante que já andavam há muito tempo à procura de uma voz feminina. Fizeram alguns espectáculos e toda a preparação de Baile do Bosque. Quase todas as músicas da maqueta apresentada às editoras eram cantadas por Né Ladeiras.
Entre 1980 e 1982, integra um dos projectos mais inovadores da música portuguesa, a Banda do Casaco, fundada em 1973 por Nuno Rodrigues e António Pinho (ex- Filarmónica Fraude). Né Ladeiras participa na gravação dos álbuns No Jardim da Celeste (em 1981) e Também Eu (em 1982) que incluíam alguns dos maiores sucessos do grupo, como sejam Natação Obrigatória e Salvé Maravilha.
O primeiro trabalho a solo de Né Ladeiras, Alhur, é editado em 1982 pela Valentim de Carvalho. O disco, um EP (ou máxi-single) composto por quatro temas da autoria de Miguel Esteves Cardoso (letras) e Né Ladeiras (músicas), regista a participação de Ricardo Camacho na produção e dos Heróis do Mar como músicos de estúdio. Alhur é um disco que fala de águas, desde as águas régias do pensamento às águas salgadas dos oceanos e das lágrimas.
Né Ladeiras retribuiu, nesse mesmo ano, a colaboração com os Heróis do Mar, participando no maxi-single de Amor, que se tornou um grande êxito comercial.
Colabora com Miguel Esteves Cardoso num duplo álbum intitulado Hotel Amen que não chega a ser gravado.
Em 1984 é editado pela Valentim de Carvalho o álbum, Sonho Azul, com produção de Pedro Ayres Magalhães (membro dos Heróis do Mar e futuro mentor dos Madredeus e Resistência), que também assina as letras e partilha, com Né Ladeiras, a composição das músicas. O disco é dedicado a todas as pessoas que fizeram do cinzento um "Sonho azul" e ao filho Miguel. Dos oito temas, os que obtém maior notoriedade são: Sonho Azul, Em Coimbra Serei Tua e Tu e Eu.
Participa no Festival RTP da Canção de 1986 com Dessas Juras que se Fazem, um inédito de Carlos Tê e Rui Veloso.
Em 1988 integra o projecto Ana E Suas Irmãs, idealizado por Nuno Rodrigues - seu colega na Banda do Casaco e então director da editora Transmédia. O grupo concorre ao Festival RTP da Canção de 1988 com o tema Nono Andar, sendo apresentado como um conjunto mistério. No entanto, Né Ladeiras não participa no certame, colaborando apenas na edição em single.
Em 1989 lança um álbum dedicado à atriz sueca Greta Garbo, Corsária, fruto de um projecto de pesquisa, o que, aliás, é bem característico do trabalho a solo de Né Ladeiras. A produção e arranjos estiveram a cargo de Luís Cília. As músicas são compostas por si, sendo as letras da autoria de Alma Om. O disco não obtém uma grande divulgação, principalmente porque a editora abre falência pouco tempo após a edição do disco.
Colabora igualmente com a rádio, outra das suas paixões, em rádios de Coimbra, Antena 1 e TSF. E, posteriormente, em resultado de algum desencantamento com a música, retira-se da actividade musical.
Em 1993 participa nas gravações de Matar Saudades,tema bónus incluído na edição em CD do disco Banda do Casaco com Ti Chitas.
Entre Janeiro de 1993 e Outubro de 1994, Né Ladeiras grava, com produção de Luís Pedro Fonseca, o seu terceiro álbum, Traz-os-Montes, uma produção da Almalusa com edição da EMI-Valentim de Carvalho, que resulta de dois anos de pesquisa de material relacionado com a música e a cultura tradicionais transmontanas (onde veio a descobrir raízes na família), nomeadamente as recolhas efectuadas por Michel Giacometti e por Jorge e Margot Dias. O disco recebeu o Prémio José Afonso.
A qualidade de temas como Çarandilheira e Beijai o Menino fazem deste disco, que é a revisitação de temas tradicionais transmontanos interpretados em dialecto mirandês, a sua obra-prima e um dos melhores discos de sempre da música portuguesa.
No Natal de 1995 é editado o disco Espanta Espíritos, disco de natal idealizado e produzido por Manuel Faria (seu colega nos tempos dos Trovante), no qual participam diversos artistas, entre os quais se destaca Né Ladeiras que interpreta o tema "Estrela do Mar" com letra de João Monge e música de João Gil.
Em 1996 participa na compilação A Cantar com Xabarin, Vol. III e IV, proposta pelo programa da TV Galiza, com o tema Viva a Música! composto por Né Ladeiras e Bruno Candeias, no qual participam, nos coros, os seus filhos Eduardo e João.
O álbum Todo Este Céu, editado em (1997), é inteiramente dedicado às canções de Fausto, compositor popular português.
No álbum-compilação A Voz e a Guitarra faz incluir o tema As Asas do brasileiro Chico César e uma nova versão de La Molinera que conta com a participação do guitarrista Pedro Jóia.
Durante a Expo '98 partilha Afinidades com Chico César numa iniciativa que "desafia cantoras nacionais a conceberem um espectáculo para o qual convidam um ou uma vocalista que seja para elas uma referência." Os dois intérpretes participam igualmente no programa Atlântico da RTP/TV Cultura.
Em 1999 inicia no Castelo de Montemor-o-Velho as gravações de um disco de cantares religiosos e pagãos com a produção de Hector Zazou. Nele participam músicos portuguesas como os Gaiteiros de Lisboa, Pedro Oliveira, João Nuno Represas, passando por um grupo de adufeiras do Paul e ainda a colaboração, em algumas faixas, de Brendan Perry, Ryuichi Sakamoto e John Cale. Por divergências de reportório com o mítico produtor, Né Ladeiras decide não continuar com as gravações e dá por finda a sua realização. Meses mais tarde outros nomes são indicados para a produção do disco Tim Whelan e Hamilton Lee dos Transglobal Underground e novos arranjos são elaborados pelos músicos britânicos. Apesar dos esforços da cantora e dos novos produtores o álbum não chega a ser gravado.
Colabora no disco Sexto Sentido que marcou o regresso da Sétima Legião. Em 2000 é editada a colectânea Cantigas de Amigos com produção de João Balão e Moz Carrapa.
Anamar, Né Ladeiras e Pilar Homem de Melo juntaram-se em concerto, por iniciativa de Tiago Torres da Silva, em dois concertos realizados no mês de Novembro de 2000.
O álbum Da Minha Voz, de (2001), têm várias músicas do brasileiro Chico César e teve lançamento no Brasil em espetáculos realizados em São Paulo, com a orquestra do Teatro Municipal de São Paulo e com o grupo Mawaca. A imprensa brasileira teceu críticas positivas e elogiou, sobretudo, a voz grave e segura de Né Ladeiras. O disco conta com a participação de Ney Matogrosso, curiosamente cantando sozinho o tema "Sereia".
Ao mesmo tempo foi delineando outros projectos: um disco inspirado nas pinturas de Frida Kahlo e um outro disco de homenagem à escritora Isabelle Eberhardt (escritora convertida ao Islão, autora de "Escritos no Deserto") contando, para isso, com as letras de Tiago Torres da Silva.
É editada uma compilação com os discos "Alhur" e "Sonho Azul".
Em abril de 2010 iniciou a gravação de um novo disco com composições suas e letras de Tiago Torres da Silva na alcaidaria do castelo de Torres Novas. Conta com as participações de Vasco Ribeiro Casais (Dazkarieh), Nuno Patrício (Blasted Mechanism), Francesco Valente (Terrakota), Corvos, Lara Li e Mísia.


O escritor Carlos de Oliveira nasceu há 94 anos

(imagem daqui)

Carlos de Oliveira (Belém do Pará, 10 de agosto de 1921 - Lisboa, 1 de julho de 1981) foi um escritor português

Nascido no Brasil, filho de imigrantes portugueses, veio aos dois anos para Portugal. A família fixa-se em Cantanhede, mais precisamente na vila de Febres, onde o pai exercia Medicina. Em 1933 muda-se para Coimbra, onde permanece durante quinze anos, a fim de prosseguir os estudos. Em 1941 ingressa na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde estabelece amizade com Joaquim Namorado, João Cochofel e Fernando Namora. Em 1947 licencia-se em Ciências Histórico-Filosóficas, instalando-se definitivamente em Lisboa, no ano seguinte. Periodicamente volta a Coimbra e à Gândara. Em 1949 casa-se com Ângela, jovem madeirense que conhecera nos bancos da Faculdade, sua companheira e futura colaboradora permanente.
Data de 1942 o seu primeiro livro de poemas, intitulado "Turismo", com ilustrações de Fernando Namora e integrado na colecção poética de 10 volumes do "Novo Cancioneiro", iniciativa colectiva que, em Coimbra, assinalava o advento do movimento neo-realista. Porém, em 1937, já publicara em conjunto com Fernando Namora e Artur Varela, amigos de juventude, um pequeno livro de contos "Cabeças de Barro". Em 1943 publica o seu primeiro romance, "Casa na Duna", segundo volume da colecção dos Novos Prosadores (1943), editado pela Coimbra Editora. No ano de 1944 surge o romance "Alcateia", que viria a ser apreendido pelo regime. No entanto é desse mesmo ano a segunda edição de "Casa na Duna".
Em 1945 publica um novo livro de poesias, "Mãe Pobre". Os anos seguintes serão, para Carlos de Oliveira, bem profícuos quanto à integração e afirmação no grupo que veicula e auspera por um novo humanismo, com a participação nas revistas Seara Nova e Vértice, além da colaboração no livro de Fernando Lopes Graça "Marchas, Danças e Canções", uma antologia de vários poetas, musicadas pelo maestro.
Em 1953 publica "Uma Abelha na Chuva", o seu quarto romance e, unanimemente reconhecido, uma das mais importantes obras da literatura portuguesa do século XX, tendo sido integrado no programa da disciplina de português no ensino secundário.
Em 1957 organiza, com José Gomes Ferreira, os Contos Tradicionais Portugueses, alguns deles posteriormente adaptados ao cinema por João César Monteiro.
Em 1968 publica dois novos livros de poesia, "Sobre o Lado Esquerdo" e "Micropaisagem", e colabora com Fernando Lopes na adaptação de "Uma Abelha na Chuva". Em 1971 sai "O Aprendiz de Feiticeiro", colectânea de crónicas e artigos, e "Entre Duas Memórias", livro de poemas, que lhe vale o Prémio da Casa da Imprensa.
Em 1976 reúne toda a sua poesia em dois volumes, sob o título de "Trabalho Poético", juntando aos seus poemas anteriores, os inéditos reunidos em "Pastoral", publicado autonomamente no ano seguinte.
O seu último romance, "Finisterra", sai em 1978, tendo como fundo a paisagem gandaresa. A obra proporciona-lhe o Prémio Cidade de Lisboa, no ano seguinte.
Morre na sua casa em Lisboa, com 60 anos, incompletos.


Carta a Ângela

Para ti, meu amor, é cada sonho
de todas as palavras que escrever,
cada imagem de luz e de futuro,
cada dia dos dias que viver.

Os abismos das coisas, quem os nega,
se em nós abertos inda em nós persistem?
Quantas vezes os versos que te dou
na água dos teus olhos é que existem!

Quantas vezes chorando te alcancei
e em lágrimas de sombra nos perdemos!
As mesmas que contigo regressei
ao ritmo da vida que escolhemos!

Mais humana da terra dos caminhos
e mais certa, dos erros cometidos,
foste de novo, e sempre, a mão da esperança
nos meus versos errantes e perdidos.

Transpondo os versos vieste à minha vida
e um rio abriu-se onde era areia e dor.
Porque chegaste à hora prometida
aqui te deixo tudo, meu amor!

 

in Poesias (1962) - Carlos de Oliveira

Rui Knopfli nasceu há 83 anos

(imagem daqui)

Rui Manuel Correia Knopfli (Inhambane, Moçambique, 10 de agosto de 1932 - Lisboa, 25 de dezembro de 1997) foi um poeta, jornalista e crítico literário e de cinema.
Fez os seus estudos na África do Sul e iniciou uma carreira muito activa na então cidade de Lourenço Marques (actual Maputo).
Publicou a sua obra muitas vezes marcada pela vivência tropical africana em Moçambique. Integrou o grupo de intelectuais locais. Conviveu com muitos dos artistas, críticos literários, etc. da capital moçambicana, como Eugénio Lisboa, Carlos Adrião Rodrigues, Craveirinha, António Quadros (pintor), etc. Como fotografo publicou um livro sobre a Ilha de Moçambique (A Ilha de Próspero, 1972). Com António Quadros (pintor) fundou os cadernos de Caliban. Deixou Moçambique em 1975. A nacionalidade portuguesa não impediu que a sua alma fosse assumidamente africana. Mas a sua desilusão pelos acontecimentos políticos estão expressos na sua poesia publicada após a saída da sua terra. Tem colaboração dispersa por vários jornais e revistas e publicou alguns livros. Desempenhou funções de adido cultural na Embaixada Portuguesa em Londres.
  
  
ARDE UM FULGOR EXTINTO

Arde um fulgor extinto
no longe da tarde agoniada.
Não me pesaria tanto
a caminhada se, em lugar do dia,
no seu extremo achasse a noite.

Exacta e concisa é a claridade.
Não mente à luz o que a noite
ilude. Terrível destino
o de quem é nocturno à luz solar.

Não vos ponha em cuidado,
porém, este meu penar:

são palavras e não sangram.

Ian Anderson, dos Jethro Tull, faz hoje 68 anos!

Ian Scott Anderson (Dunfermline, Escócia, 10 de agosto de 1947) é um cantor, compositor, guitarrista e flautista britânico, mais conhecido por ser o líder da banda de rock and roll Jethro Tull.
Biografia
Na adolescência, Anderson arranjou emprego como assistente de vendas numa loja de departamentos em Blackpool, e depois numa banca de jornal. Ele declararia mais tarde que foi lendo edições da Melody Maker e da New Musical Express durante os seus intervalos de almoço que lhe rendeu a inspiração de fazer parte de uma banda.
Em 1963, ele formou os The Blades com os seus amigos de escola Barriemore Barlow (bateria), John Evan (teclado), Jeffrey Hammond (baixo) e Michael Stephens (guitarra). Este era um grupo de soul e blues, com Anderson nos vocais e gaita.
Em 1965, a banda passou a chamar-se John Evan Smash, comportando mais integrantes e que se separou após dois anos, época em que Andersou se mudou para Luton. Ali, conheceu o baterista Clive Bunker e o guitarrista e vocalista Mick Abrahams, do grupo de blues McGregor's Engine. Juntamente com Glenn Cornick, baixista que conhecera por intermédio de John Evan, ele formou a primeira encarnação de uma banda que permaneceria durante mais de quatro décadas: o Jethro Tull.
Já então Anderson abandonara a sua pretensão de tocar guitarra elétrica, supostamente por sentir que nunca seria "tão bom quanto Eric Clapton". Como relatado pelo próprio na introdução do vídeo Live at the Isle of Wight, ele trocou a sua guitarra por uma flauta, e após algumas semanas de prática concluiu que poderia manejar o instrumento bem, principalmente em estilos como o rock e o blues. A sua experiência na guitarra não foi desperdiçada, no entanto, pois ele continuou a tocar viola, utilizando-o como instrumento tanto melódico quanto rítmico. Com o progredir de sua carreira, Anderson foi adicionando saxofone, bandolim, teclado e outros instrumentos ao seu arsenal.
Como flautista, Anderson é autodidata e a sua principal influência foi Roland Kirk.

domingo, agosto 09, 2015

you are welcome to elsinore

(imagem daqui)

you are welcome to elsinore

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar


in Pena Capital (1982) - Mário Cesariny

Mário Cesariny nasceu há 92 anos

Mário Cesariny de Vasconcelos (Lisboa, 9 de agosto de 1923 - Lisboa, 26 de novembro de 2006) foi poeta e pintor, considerado o principal representante do surrealismo português. É de destacar também o seu trabalho de antologista, compilador e historiador (polémico) das actividades surrealistas em Portugal.


Figuras de Sopro, 1947, óleo sobre cartão

Dmitri Shostakovich morreu há 40 anos

Dmitri Dmitriyevich Shostakovich (São Petersburgo, 25 de setembro de 1906Moscovo, 9 de agosto de 1975) foi um compositor russo e um dos mais célebres compositores do século XX.


O massacre de Corumbiara, na Rondónia, foi há 20 anos

(imagem daqui)

O massacre de Corumbiara foi o resultado de um conflito violento, ocorrido a 9 de agosto de 1995, no município de Corumbiara, no estado de Rondónia. O conflito começou quando polícias entraram em confronto com camponeses sem-terra que estavam a ocupar uma área, resultando na morte de 12 pessoas, entre elas uma criança de seis anos e dois polícias.
Em agosto de 1995, cerca de 600 camponeses haviam se mobilizado para tomar a Fazenda Santa Elina, tendo construído um acampamento no latifúndio improdutivo. Na madrugada do dia 9, por volta das três horas, pistoleiros armados, recrutados nas fazendas da região, além de soldados da Polícia Militar com os rostos cobertos, iniciaram os ataques ao acampamento.
O número oficial de mortos no massacre é de 16 pessoas e há sete desaparecidos. Para os agricultores, entretanto, o número de mortos pode ter passado de 100 pois, segundo eles, muitos mais teriam sido mortos por polícias e jagunços, e enterrados sumariamente. Depois de horas de tiroteio, os camponeses não tinham mais munições para as suas espingardas. O Comando de Operações Especiais, comandado na época pelo capitão José Hélio Cysneiros Pachá, usou bombas de gás lacrimogénio e acendeu holofotes contra as famílias. A chacina ocorreu no governo do agora senador Valdir Raupp (PMDB).
Mulheres foram usadas como escudo humano pelos polícias e pelos jagunços do fazendeiro Antenor Duarte. A pequenina Vanessa, de apenas seis anos, teve o corpo trespassado por uma bala "perdida", quando corria junto com a sua família. Cinquenta e cinco posseiros ficaram gravemente feridos. Os laudos tanatoscópicos provaram execuções sumárias. O bispo de Guajará Mirim, D. Geraldo Verdier, recolheu amostras de ossos calcinados em fogueiras do acampamento e enviou a Faculté de Médicine Paris-Oeste, que confirmou a cremação de corpos humanos no acampamento da fazenda.
Desde 1985 os camponeses se organizavam, tendo criado as vilas de Alto Guarajús, Verde Seringal, Rondolândia, e mais tarde o povoado de Nova Esperança - posteriormente cidade de Corumbiara. Dez anos depois, foram vítimas da chacina. E até hoje os parentes das vítimas aguardam a indemnização. É uma das vergonhas de Rondónia e uma das vergonhas nacionais.
A assessoria jurídica da CPT RO e a CJP (Comissão Justiça e Paz de Porto Velho) acompanham o processo judicial a favor da indemnização das famílias vítimas da chacina.
A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) aprovou,em 24 de abril de 2013, proposta que concede amnistia aos trabalhadores rurais e polícias militares de Rondónia punidos no episódio conhecido como Massacre de Corumbiara. Dois camponeses foram condenados na ocasião, Claudemir Gilberto Ramos e Cícero Pereira Leite Neto, pela morte de dois polícias. O Projeto de Lei 2000/11, do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), propunha a amnistia apenas aos sem-terras.
O relator da proposta, deputado Vieira da Cunha (PDT-RS), incluiu os polícias militares, após manifestações de outros parlamentares. “A amnistia deve ser ampla e irrestrita”, afirmou.

sábado, agosto 08, 2015

The Edge - 54 anos

David Howell Evans (Londres, 8 de agosto de 1961) mais conhecido por seu nome artístico The Edge (ou apenas Edge), é o guitarrista, coros e teclista da banda de rock irlandesa U2. Em 2003, foi considerado o 38.º melhor guitarrista de todos os tempos pela revista norte-americana Rolling Stone.


sexta-feira, agosto 07, 2015

It's a long way...


Caetano Veloso - 73 anos

Caetano Emanuel Viana Teles Veloso (Santo Amaro, 7 de agosto de 1942) é um músico, produtor, arranjador e escritor brasileiro. Com uma carreira que já ultrapassa as quatro décadas, Caetano construiu uma obra musical marcada pela releitura e renovação e considerada amplamente como possuidora de grande valor intelectual e poético. Embora desde cedo já tivesse aprendido a tocar violão em Salvador, escreveu críticas de cinema para o Diário de Notícias entre os anos de 1960 e 1962 e tendo conhecido o trabalho dos cantores de rádios e dos músicos de bossa nova (notavelmente João Gilberto, o seu "mestre supremo" e com quem dividiria o palco anos mais tarde), Caetano iniciou o seu trabalho profissionalmente apenas em 1965, com o compacto "Cavaleiro/Samba em Paz", enquanto acompanhava a irmã mais nova Maria Bethânia nas suas apresentações nacionais do espetáculo Opinião, no Rio de Janeiro.
Nessa década, conheceu Gilberto Gil, Gal Costa e Tom Zé, participou dos festivais de música popular da Rede Record e compôs bandas de filmes. Em 1967, saiu o seu primeiro LP, Domingo, com Gal Costa, e, no ano seguinte, liderou o movimento chamado de Tropicalismo, que renovou o cenário musical brasileiro e os modos de se apresentar e criar música no Brasil, através do disco Tropicalia ou Panis et Circencis, ao lado de vários músicos. Em 1968, face ao endurecimento do regime militar no Brasil, compôs o hino "É Proibido Proibir", que foi desclassificado e amplamente vaiado durante o III Festival Internacional da Canção. Em 1969, foi preso pelo regime militar e partiu para exílio político em Londres, onde lançou o disco Caetano Veloso (1971), disco com temática melancólica e com canções compostas em inglês e endereçadas aos que ficaram no Brasil. O disco Transa (1972) representou o seu retorno ao país e sua experimentação com compassos de reggae. Em 1976, uniu-se a Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia para formar os Doces Bárbaros, grupo influenciado pela temática hippie dos anos 70, lançando um disco, Doces Bárbaros, e saindo em turnê. Na década de 1980, mais sóbrio, apadrinhou e se inspirou nos grupos de rock nacionais, aventurou-se na produções dos discos Outras Palavras, Cores, Nomes, Uns e Velô, e, em 1986, participou de um programa de televisão com Chico Buarque. Na década de 1990, escreveu o livro Verdade Tropical (1997), e o disco Livro (1998) ganhou o Prémio Grammy em 2000, na categoria World Music. Com o disco A Foreign Sound, cantou clássicos norte-americanos. Em 2006, lançou o álbum , fruto de sua experimentação com o rock e o underground. Unindo estes géneros ao samba, Zii e Zie, de 2009, manteve a parceria com a Banda Cê, que encerrou-se no disco Abraçaço, de 2012.
Caetano Veloso é considerado um dos artistas brasileiros mais influentes desde a década de 60, tendo já sido chamado de "aedo pós-moderno". Em 2004, foi considerado um dos mais respeitados e produtivos músicos latino-americanos do mundo, tendo mais de cinquenta discos lançados e canções em bandas sonoras de filmes como Hable con Ella, de Pedro Almodovar e Frida, de Julie Taymor. Ao longo da sua carreira, também se converteu numa das personalidades mais polémicas e com maior força de opinião no Brasil. É uma das figuras mais importantes da música popular brasileira e considerado internacionalmente um dos melhores compositores do século XX, sendo comparado a nomes como Bob Dylan, Bob Marley, John Lennon e Paul McCartney.
Foi eleito pela revista Rolling Stone, o 4º maior artista da música brasileira de todos os tempos pelo conjunto da obra, e pela mesma revista, o 8º maior cantor brasileiro de todos os tempos.

Bruce Dickinson - 57 anos

Paul Bruce Dickinson (Nottinghamshire, 7 de agosto de 1958) é um cantor, compositor, historiador, filósofo, esgrimista, radialista, autor, roteirista, piloto de avião e, inicialmente, diretor de marketing, mais conhecido como o vocalista da banda de heavy metal Iron Maiden.


quinta-feira, agosto 06, 2015

Música adequada à data...


A primeira execução numa cadeira elétrica foi há 125 anos

William Kemmler (9 de maio de 1860, Buffalo, Nova Iorque6 de agosto de 1890) foi a primeira pessoa a ser executada numa cadeira elétrica.
Após ter assassinado a machadadas Tillie Ziegler, a sua companheira, a 29 de março de 1889, Kemmler foi condenado à morte e executado em 6 de agosto de 1890, às 07.00 horas, na Prisão de Auburn, no estado de Nova Iorque.
No entanto, após 17 segundos com uma tensão de mais de 1.000 volts aplicada sobre o seu corpo, William Kemmler voltou a respirar, sendo a cadeira ligada novamente, dessa vez por dois longos minutos, gerando fumo na sala de execução e causando vómitos nos presentes, e assim Kemmler foi finalmente executado.

A primeira cadeira elétrica, utilizada para executar William Kemmler em 1890

A cadeira elétrica é um instrumento de aplicação da pena de morte por eletrocução inventado e utilizado essencialmente nos Estados Unidos da América, onde o condenado é imobilizado numa cadeira, sofrendo depois tensões elétricas de 2.000 volts. O seu uso foi largamente abandonado ultimamente, sendo substituída pela injeção letal.
Em 2003, ela continuava a ser um dos métodos legais de execução nos estados de Alabama, Flórida, Nebraska, Carolina do Sul, Tennessee e Virgínia. No Nebraska, é o único método utilizado. Os outros estados citados têm métodos de substituição que também podem ser empregados. Além dos Estados Unidos, a cadeira elétrica foi também utilizada nas Filipinas.

Uso da cadeira elétrica nos USA: a amarelo: estados que empregam a cadeira elétrica; e a verde: estados que a usaram no passado

Procedimento
O condenado à morte é colocado sentado e amarrado a uma cadeira especial. Colocam-se eletrodos em certas partes do corpo, normalmente uma parte do crânio, previamente rapada, e uma parte inferior do corpo. Uma melhor condutividade é obtida colocando-se esponjas molhadas numa solução condutora (eletrólitos) nos elétrodos; antigamente, os executores contentavam-se em molhar bastante a zona de contacto para uma melhor eficiência da emissão da eletricidade na área desejada, para a obtenção do resultado almejado.
Acidentes ocorreram, principalmente pela má colocação da solução condutora ou a contatos defeituosos nos eletrodos. Nestes casos, a agonia do condenado prolonga-se, e a pele e carne em contato com o eletrodo podem queimar e deitar fumo.
No estado da Flórida, as execuções fracassadas de 1990, 1997 e 1999 chamaram a atenção dos meios de comunicação. Por essas razões, o uso da cadeira elétrica, inicialmente inventada para ser um meio de execução moderno, eficaz e "humano", foi contestado e abandonado na grande maioria dos estados que o empregavam.

O bombardeamento atómico de Hiroshima foi há setenta anos

A nuvem de cogumelo sobre Hiroshima (esquerda) após a queda da Little Boy e sobre Nagasaki, após o lançamento de Fat Man

Os bombardeamentos atómicos das cidades de Hiroshima e Nagasaki foram dois bombardeamentos realizados pelos Estados Unidos contra o Império do Japão durante os final da Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1945. Foi o primeiro e único momento na história em que armas nucleares foram usadas em guerra e contra alvos civis.
Depois de uma campanha de bombardeamentos que destruiu várias cidades japonesas, os Aliados preparavam-se para uma invasão do Japão. A guerra na Europa terminou quando a Alemanha nazi assinou o acordo de rendição em 8 de maio de 1945, mas a Guerra do Pacífico continuou. Juntamente com Reino Unido e China, os Estados Unidos pediram a rendição incondicional das forças armadas japonesas na Declaração de Potsdam a 26 de julho de 1945, ameaçando uma "destruição rápida e total".
Em agosto de 1945, o Projeto Manhattan dos Aliados tinha testado com sucesso um artefacto atómico e produzido armas com base em dois projetos alternativos. O Grupo Composto 509º das Forças Aéreas do Exército dos Estados Unidos foi equipado com aeronaves Boeing B-29 Superfortress que poderiam ficar em Tinian, nas Ilhas Marianas. A bomba atómica de urânio (Little Boy) foi lançada sobre Hiroshima a 6 de agosto de 1945, seguido por uma explosão de uma bomba nuclear de plutónio (Fat Man) sobre a cidade de Nagasaki a  9 de agosto. Dentro dos primeiros 2-4 meses após os ataques atómicos, os efeitos agudos das explosões mataram entre 90 mil e 166 mil pessoas em Hiroshima e 60 mil e 80 mil seres humanos em Nagasaki; cerca de metade das mortes em cada cidade ocorreu no primeiro dia. Durante os meses seguintes, vários morreram por causa do efeito de queimaduras, envenenamento radioativo e outras lesões, que foram agravadas pelos efeitos da radiação. Em ambas as cidades, a maioria dos mortos eram civis, embora Hiroshima tivesse muitos militares.
A 15 de agosto, poucos dias depois do bombardeamento de Nagasaki e da declaração de guerra da União Soviética, o Japão anunciou a sua rendição aos Aliados. Em 2 de setembro, o governo japonês assinou o acordo de rendição, encerrando a Segunda Guerra Mundial. O papel dos bombardeamentos na rendição do Japão e a sua justificação ética ainda são pontos debatidos entre académicos e na sociedade.

A missão foi colocada em prática nos dias 6 e 9 de agosto (a meta inicial era 9 de agosto) - no mapa, as cidades de Hiroshima, Nagasaki e Kokura em destaque

quarta-feira, agosto 05, 2015

Neil Armstrong nasceu há 85 anos

Neil Alden Armstrong (Wapakoneta, 5 de agosto de 1930 - Cincinnati, 25 de agosto de 2012) foi um astronauta dos Estados Unidos, piloto de testes e aviador naval que escreveu o seu nome na história do século XX e da Humanidade ao ser o primeiro homem a pisar na Lua, como comandante da missão Apollo XI, em 20 de julho de 1969.
Antes de se tornar astronauta, Armstrong serviu na Marinha dos Estados Unidos combatendo na Guerra da Coreia como piloto de caça. Após a guerra, graduou-se como piloto de testes e serviu na Estação de Voo do Comité Consultivo Nacional para a Aeronáutica (NACA) de alta velocidade, onde acumulou mais de 900 voos em uma variedade de aeronaves.
Entrou para a NASA em 1962, integrando o segundo grupo de astronautas da agência espacial, indo ao espaço pela primeira vez em 1965, como comandante da missão Gemini VIII, três anos antes do voo que o colocaria na História. Condecorado com a Medalha Presidencial da Liberdade, a maior condecoração civil do país, e a Medalha de Honra Espacial do Congresso, manteve uma vida discreta e longe dos olhos da opinião pública até sua morte, aos 82 anos. Dele, o presidente dos Estados Unidos , Barack Obama, disse ser " um dos maiores heróis americanos, não apenas da sua época, mas de todos os tempos".

Carmen Miranda morreu há 60 anos

Maria do Carmo Miranda da Cunha (Marco de Canaveses, 9 de fevereiro de 1909 - Los Angeles, 5 de agosto de 1955), mais conhecida como Carmen Miranda, foi uma cantora e atriz luso-brasileira. A sua carreira artística transcorreu no Brasil e Estados Unidos entre as décadas de 30 e 50. Trabalhou no rádio, no teatro de revista, no cinema e na televisão. Foi considerada pela revista Rolling Stone como a 15ª maior voz da música brasileira, sendo considerada um ícone e símbolo internacional do país no exterior.
O primeiro grande sucesso veio com Ta-hí, de Joubert de Carvalho lançada em 1930 e que foi record de vendas, ultrapassando a marca de 36 mil cópias, a música alcançou uma popularidade tão grande que, em menos de seis meses, Carmen Miranda já era a cantora mais famosa do Brasil. No ano seguinte, ela fez sua primeira turnê internacional, já como uma artista renomada, quando foi para a Argentina com os cantores Francisco Alves, Mário Reis e com o bandolinista Luperce Miranda. Ela retornou à Argentina mais oito vezes, entre os anos de 1933 e 1938. Carmen se tornou a primeira artista de rádio a assinar contrato com uma emissora, quando na época todos recebiam somente cachês.
Em 1939, na comédia musical Banana da Terra, Carmen Miranda apareceu pela primeira vez caracterizada de baiana, personagem que a lançou internacionalmente. O filme apresentava clássicos como O que é que a baiana tem, que lançou Dorival Caymmi no cinema. Quando estava em temporada no Cassino da Urca, foi contratada pelo o magnata do show business Lee Shubert, para ser uma das atrações do seu espetáculo The Streets of Paris, que estrearia na Broadway. Este foi o episódio que transformou a vida de quem mais tarde viria a ser conhecida como "The Brazilian Bombshell".
Em 1940, Carmen fez sua estreia no cinema dos Estados Unidos no filme Serenata Tropical, com Don Ameche e Betty Grable, suas roupas exóticas e sotaque latino tornou-se sua marca registrada. No mesmo ano, foi eleita a terceira personalidade mais popular nos Estados Unidos, e foi convidada para se apresentar junto com seu grupo, o Bando da Lua, para o presidente Franklin Roosevelt na Casa Branca. Carmen Miranda é conhecida pelos penduricalhos ao pescoço e às frutas tropicais que lhe ornamentavam a cabeça.
Em junho de 1946, o Tesouro americano divulgou as suas coletas do ano fiscal de 1945, referentes aos ganhos dos contribuintes em 1944. Com os $201.458 dólares que lhe tinham sido pagos pela Fox “em salários, bónus e outras compensações”, Carmen Miranda era a mulher mais bem paga dos Estados Unidos - talvez no mundo - aquele ano. A sua fortuna foi estimada como algo equivalente a cerca de $2 milhões de dólares pelo Los Angeles Times.
Fez um total de catorze filmes em Hollywood entre 1940 e 1953, nove deles somente na 20th Century Fox. Embora aclamada como uma artista talentosa, sua popularidade diminuiu até o final da Segunda Guerra Mundial. O seu talento como cantora e performer, porém, muitas vezes foi ofuscado pelo caráter exótico das suas apresentações. Carmen tentou reconstruir sua identidade e fugir do enquadramento que seus produtores e a indústria tentavam lhe impor, mas sem conseguir grandes avanços. De facto, por todos os estereótipos que enfrentou ao longo de sua carreira, as  suas performances fizeram grandes avanços na popularização da música brasileira, ao mesmo tempo, abrindo o caminho para o aumento da consciência de toda a cultura Latina.
Carmen Miranda foi a primeira artista latino-americana a ser convidada a imprimir suas mãos e pés no pátio do Grauman's Chinese Theatre, em 1941. Ela também se tornou a primeira sul-americana a ser homenageada com uma estrela na Calçada da Fama. Carmen é considerada a precursora do Tropicalismo no Brasil, movimento cultural da década de 1960.
Em 20 anos de carreira deixou a sua voz registada em 279 gravações somente no Brasil e mais 34 nos EUA, num total de 313 gravações. Um museu foi construído mais tarde no Rio de Janeiro, em sua homenagem. Em 1995, ela foi tema do aclamado documentário Carmen Miranda: Bananas is my Business, dirigido por Helena Solberg, uma intersecção no cruzamento da Hollywood Boulevard e Orange Drive em frente ao Teatro Chinês em Hollywood foi oficialmente nomeada Carmen Miranda Square, em setembro de 1998. Até hoje, nenhum artista brasileiro teve tanta projeção internacional como ela.

Marilyn Monroe morreu há 53 anos

Marilyn Monroe, nascida Norma Jeane Mortenson (Los Angeles, 1 de junho de 1926 - Los Angeles, 5 de agosto de 1962) foi uma atriz, cantora e modelo norte-americana.
Depois de passar boa parte da sua infância morando em lares adotivos, Monroe começou uma carreira como modelo, o que a rendeu um contrato no cinema em 1946, com a 20th Century-Fox. As suas aparições nos seus primeiros filmes eram pequenas, mas as suas interpretações em The Asphalt Jungle e All About Eve, além do facto de ser a primeira mulher a posar nua para a Playboy, chamou a atenção do público. Em 1952 conquistou o seu primeiro papel principal em Don't Bother to Knock, repetindo em Niagara, um filme melodramático que geria o seu poder de sedução. A sua personalidade cómica como "loira burra" foi usada para filmes posteriores como Gentlemen Prefer Blondes (1953), How to Marry a Millionaire (1953) e The Seven Year Itch (1955). Monroe estudou na Actors Studio para ampliar o seu alcance na atuação no filme dramático Bus Stop (1956), que foi aclamado pela crítica e recebeu uma indicação para o Globo de Ouro. A sua produtora, "Marilyn Monroe Productions", lançou The Prince and the Showgirl (1957), pelo qual recebeu uma indicação ao BAFTA e ganhou o prêmio italiano David di Donatello. Ela recebeu um Globo de Ouro por sua interpretação em Some Like It Hot (1958). O último filme concluído de Monroe foi The Misfits (1961), onde ela estrelava ao lado de Clark Gable, cujo roteiro ficou por conta do seu então marido, Arthur Miller.
As circunstâncias da sua morte indicam para uma overdose de barbitúricos, e têm sido objeto de especulação. Embora oficialmente classificado como um "provável suicídio", a possibilidade de uma overdose acidental, bem como de homicídio, não foram descartadas. Em 1999 Monroe foi classificada como a sexta maior estrela feminina de todos os tempos pela American Film Institute. Frequentemente é citada como um ícone pop e cultural, bem como símbolo sexual por excelência americana. Em 2009, um canal americano nomeou-a na 1ª posição das mulheres mais sexy de todos os tempos.

A fauna (ou flora...) de Ediacara e a reprodução no Pré-Câmbrico

Como era a reprodução das estranhas formas de vida há 565 milhões de anos

Ilustração dos Fractofusus no fundo do mar
 

Fósseis de Fractofusus encontrados em Mistaken Point, no litoral da Terra Nova

Mistaken Point, no litoral da Terra Nova

Durante o período geológico do Ediacarano havia jardins no fundo do mar com organismos diferentes de tudo o que conhecemos hoje. Um estudo revelou as formas de reprodução dos Fractofusus, que não eram nem animais nem plantas.

De forma ovalada, com algumas dezenas de centímetros de comprimento, as duas espécies conhecidas de Fractofusus viviam coladas ao leito do mar na escuridão total, entre um a dois quilómetros de profundidade, há 565 milhões de anos. Naquela altura, a Terra era completamente diferente, os continentes tinham uma conformação distinta da que conhecemos hoje, e eram nus de vida. O movimento passava-se todo nos oceanos, mas noutros molde. A meio do período Ediacarano, entre há 635 a 540 milhões de anos, a evolução dos animais estava na sua mais tenra infância. No local onde se encontraram os fósseis de Fractofusus, na ilha da Terra Nova, no Nordeste do Canadá, não há qualquer marca de plantas ou animais. Mas a disposição de dezenas de fósseis daqueles organismos – que não são considerados nem animais nem plantas – mostrou aos cientistas que estas criaturas tinham dois tipos de reprodução: uma que permitia colonizar novos lugares e outra que permitia ocupar rapidamente o novo território.

Publicado esta segunda feira no site da revista Nature, o artigo com esta descoberta pode ajudar a compreender o lugar destas estranhas formas de vida na árvore da evolução.
Na transição para o período Câmbrico, primeiro período da era Paleozóica, há 540 milhões de anos, já não há nenhuma prova fóssil conhecida dos “jardins do Ediacarano”, o nome dado a estes ecossistemas. “Ediacarano” vem de Ediacara, uma cordilheira de montanhas no Sul da Austrália. Em 1946, foram encontrados fósseis nestas montanhas que revelaram a existência deste antigo ecossistema. O termo foi também aproveitado para dar nome ao último período da era Neoproterozóica, entre há 1000 a 540 milhões de anos.
A ideia de “jardins” está associada a uma placidez e a uma constância que parece ter-se vivido nestes universos marinhos que não tinham predadores, nem animais que escavavam a areia. Por isso, o leito do mar estava coberto por uma camada de bactérias. Era por cima desta camada que viviam as espécies ediacaranas. Havia organismos que tinham a forma de uma folha e prendiam-se ao leito com um pedúnculo. Já as espécies do género Fractofusus, que pertence ao grupo dos Rangeomorpha, estavam coladas ao chão.
“Os Fractofusus não se parecem com nada que esteja vivo hoje”, explica ao PÚBLICO Emily Mitchell, investigadora da Universidade de Cambridge, e uma das autoras do artigo que junta ainda a contribuição de outros cientistas do Reino Unido.
“Têm uma forma oval, com segmentos que se ramificam, e que por sua vez se vão ramificando em novos segmentos. A maioria dos organismos tem cerca de dez centímetros de comprimento, mas os maiores cresciam até aos 40 centímetros. Eram bastante achatados, os maiores tinham uma altura de três a quatro centímetros”, descreve a cientista. “Não há indícios de que eles se movessem, em vez disso viviam directamente no tapete de bactérias que cobria o chão do mar nas zonas de profundidade. Pensa-se que se alimentavam absorvendo nutrientes [da água] através das suas paredes membranares – não há nenhum indício de nenhum tipo de abertura bucal.”
Durante milhões de anos, estas formas de vida floresceram. Depois, a evolução deu um salto e o mundo mudou. Os primeiros animais surgiram ainda no Ediacarano, passaram a conseguir escavar o leito marinho, destruindo o tapete de bactérias e surgiram predadores. Estes jardins acabaram por desaparecer. “O mais provável é que os animais do Câmbrico rapidamente se tenham sobreposto na procura de nutrientes e de espaço em relação aos seus pares ediacaranos”, especula a cientista.
No Câmbrico, surgem no registo fóssil os principais filos dos animais, como os moluscos, os artrópodes ou os vertebrados. A esta aparente e rápida diversificação dos animais dá-se o nome de explosão do Câmbrico.
O mundo ainda mudou muito com a colonização dos continentes feita pelas plantas e pelos animais. Só há menos de 400 milhões de anos, no período Devónico, é que os primeiros tetrápodes começaram a caminhar em terra, originando os anfíbios e os répteis. Há 252 milhões de anos iniciou-se o Mesozóico, a era dos dinossauros, onde apareceram os mamíferos e as aves, e que durou até há 66 milhões de anos, quando se deu a grande extinção dos grandes répteis. O vazio permitiu a diversificação dos mamíferos que dominam agora os continentes.

Duas formas de reprodução 
Perante a complexidade actual, os jardins do Ediacarano de há 565 milhões de anos são ecossistemas básicos, constituídos por organismos simples. Se imaginarmos a Terra daquela altura, com os seus continentes vazios, parece um lugar desolador. Mas os Fractofusus são já o resultado de milhares de milhões de anos de evolução. A vida terá surgido na Terra há cerca de 3500 milhões de anos. Os primeiros organismos eram uma célula só. Com o passar do tempo, ficaram mais complexos, formaram seres com muitas células e diferentes tecidos.
“Os macro-organismos do Ediacarano existiram na transição entre a vida microbiana e a explosão do Câmbrico”, contextualiza Emily Mitchell. “É durante esta transição que os animais iniciaram a sua evolução. Se queremos compreender a evolução dos animais, precisamos de compreender a vida no Ediacarano.”
Para isso, a equipa da Universidade de Cambridge estudou a distribuição dos fósseis de três locais diferentes do litoral da Terra Nova: duas em Mistaken Point, na Península de Avalon, e a terceira em Catalina Dome, na Península de Bonavista. Descobertos em 1967, os fósseis de Mistaken Point foram produzidos graças a uma erupção vulcânica com uma grande queda de cinzas, semelhante à que se abateu sobre a cidade de Pompeia, e conservou as estruturas daqueles antigos organismos. Num dos locais, os fósseis dos Fractofusus, género descrito em 2007, convivem com os fósseis de outras sete espécies de ediacaranos, noutro convivem com quatro.
“Nestes ecossistemas preservados [no registo fóssil] há informação que nos permite tentar responder a perguntas biológicas e ecológicas complexas, como o modo de reprodução”, diz Emily Mitchell. A equipa fez um mapa da distribuição dos fósseis de Fractofusus nos três locais e descobriu que estes organismos estavam agrupados. Em cada agrupamento, havia ainda grupos mais densos destas criaturas.
“Estes [antigos] padrões foram comparados com padrões ambientais e reprodutivos de organismos modernos. Esta comparação mostrou que aquele padrão resultava do modo de reprodução”, explicou a investigadora. A cientista descobriu ainda que a distribuição dos Fractofusus era semelhante à de plantas como o morangueiro. Esta planta lança um estolho, um caule que cresce lateralmente e a dada altura origina um novo morangueiro, que é um clone do morangueiro progenitor.
O Fractofusus terá tido a mesma técnica reprodutiva. “O progenitor Fractofusus produziria um ou vários filamentos, e um bebé Fractofusus iria nascer ao longo do filamento ou no fim”, descreve Emily Mitchell. Nalguns casos, os cientistas contaram 23 agrupamentos de Fractofusus, cada um contendo 12 grupos, e cada um destes subgrupos com três indivíduos. A esta organização está associada uma escala de tamanho, com os organismos “progenitores” a serem maiores do que os “filhos”. Esta forma de reprodução assexuada, em que cada indivíduo é um clone do seu progenitor, serviria para colonizar rapidamente uma região.
Mas os cientistas acreditam que haveria um outro mecanismo de reprodução que permitiria estas espécies colonizarem locais distantes. Para isso, pensa-se que os indivíduos adultos produziriam estruturas que se desprendem deles (propágulos) e que seriam levadas pelas correntes marinhas.
“O propágulo levado pela água permitia ao Fractofusus colonizar novas áreas, e impedir a sua extinção no caso de haver uma grande perturbação. Assim que o Fractofusus encontrasse um lugar bom para crescer, a reprodução por filamento serviria para ele se espalhar nessa área de forma fácil e rápida”, resume a cientista, acrescentando que este é um passo importante para compreender a biologia destes organismos.
O trabalho não vai ficar por aqui, refere Emily Mitchell. A técnica será utilizada para estudar o resto do ecossistema daqueles antigos jardins: “Vamos alargar esta análise a outras espécies ediacaranas para analisar a sua reprodução. Também planeamos usar a análise espacial para compreender como as espécies interagiam entre si.”

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terça-feira, agosto 04, 2015