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segunda-feira, julho 15, 2024

A crosta continental primitiva pode ser mais antiga do que se pensava...

Descobertos vestígios de uma parte antiga da crosta terrestre com 3,75 mil milhões de anos

 

 

A pesquisa também desafia as crenças científicas atuais e aponta que a crosta continental pode ter-se formado mais de mil milhões de anos depois da formação da própria Terra.

Uma descoberta pioneira da Universidade de Copenhaga revela que o mais antigo leito rochoso escandinavo tem origem na Gronelândia, lançando luz sobre a formação dos continentes e a vida na Terra.

Este estudo, publicado por cientistas do Departamento de Geociências e Gestão de Recursos Naturais na Geology, baseia-se em análises químicas de minerais de zircão encontrados em afloramentos finlandeses, apontando para uma origem comum com rochas da Gronelândia de há cerca de 3,75 mil milhões de anos.

Estas análises, incluindo três testes isotópicos independentes, sugerem que o leito rochoso da Escandinávia é significativamente mais antigo do que se pensava anteriormente, remontando a sua origem a um “fragmento” da Gronelândia.

Este fragmento, ao longo de centenas de milhões de anos, deslocou-se e eventualmente “enraizou-se” onde hoje se encontra a Finlândia.

O período em questão, quando a crosta da Terra se separou da Gronelândia, apresentava um planeta muito diferente, possivelmente coberto por água, mas sem oxigénio na atmosfera.

Esta fase primitiva da Terra é crucial para entendermos a singularidade do nosso planeta, especialmente no que diz respeito à presença de água líquida e crosta continental de granito, fatores considerados essenciais na busca por exoplanetas habitáveis e vida fora da Terra.

Os continentes, segundo os investigadores, desempenham um papel fundamental na sustentação da vida, influenciando as correntes oceânicas e o clima.

Além disso, este estudo desafia os modelos frequentemente utilizados para calcular o crescimento dos continentes, sugerindo que a crosta continental pode ter começado a formar-se cerca mil milhões de anos após a formação do planeta, e não simultaneamente, como previamente assumido, aponta o SciTech Daily.

Este trabalho também abre caminho para futuras investigações sobre se os “fragmentos” antigos da crosta encontrados noutras partes do mundo, como Austrália, África do Sul e Índia, partilham uma origem comum ou se se formaram independentemente.

 

in ZAP

A vida na Terra pode ser mais antiga do que pensávamos...

O último ancestral de todas as formas de vida surgiu muito antes do que se pensava

 

 

O organismo que deu origem a todas as formas de vida atuais na Terra – LUCA – pode ter aparecido muito mais cedo do que se pensava. O novo estudo revelou que esta forma de vida era, afinal, bastante sofisticada.

LUCA foi o último antepassado comum universal. Ou seja, foi a entidade que deu origem a todas as formas de vida atuais.

Um novo estudo, publicado esta sexta-feira na Nature Ecology & Evolution, teoriza que o LUCA surgiu muito mais cedo do que se pensava.

A nova estimativa acredita que este organismo viveu cerca de 4,2 mil milhões de anos atrás, logo após a formação da Terra, que data de 4,5 mil milhões de anos.

Conceções anteriores apontavam para o aparecimento de LUCA após o bombardeamento pesado tardio, um período de intensa colisão de meteoritos há aproximadamente 3,8 mil milhões de anos.

O estudo analisou a continuidade genética das várias formas de vida atuais.

Cerca de 2600 genes codificadores de proteínas (um número muito superior às estimativas anteriores de apenas 80) foram rastreados até LUCA. Isto sugere que este ancestral possuía uma complexidade biológica significativamente maior do que se pensava.

 

Mais sofisticado do que se pensava

Os genes estudados indicam que LUCA possuía mecanismos de defesa contra raios UV, sugerindo que habitava à superfície dos oceanos, e se alimentava primariamente de hidrogénio. Estes genes, juntamente com outros, indicam a presença de um ecossistema de células primitivas ao redor de LUCA, contrariando a ideia de que este antepassado existia isoladamente.

Surpreendentemente, os resultados também apontam para a presença de uma versão primitiva do sistema de defesa bacteriano CRISPR em LUCA, indicativo de que já há 4,2 mil milhões de anos, os organismos já enfrentavam ameaças virais.

“Mesmo há 4,2 mil milhões de anos, os nossos antepassados mais antigos lutam contra os vírus”, disse o líder da investigação, Edmund Moody, da Universidade de Bristol, à New Scientist.

Patrick Forterre, do Instituto Pasteur em Paris, França, criador do termo LUCA, considera esta teoria irrealista: “A afirmação de que o LUCA estava a viver antes do bombardeamento tardio há 3,9 mil milhões de anos é completamente irrealista para mim. Tenho a certeza de que a sua estratégia para determinar a idade e o conteúdo genético do LUCA tem algumas falhas”, disse, citado pela mesma revista.

 

in ZAP

 

NOTA - LUCA é um acrónimo - significa Last Universal Common Ancestor...

sábado, setembro 22, 2018

Notícia de paleontologia interessante

Enigma finalmente resolvido: Dickinsonia é o animal mais antigo já descoberto 

Dickinsonia encontrado perto do mar Branco, na Rússia

Vestígios moleculares de colesterol descobertos num fóssil revelaram a cientistas australianos o animal mais antigo já descoberto, que terá vivido há 558 milhões de anos, resolvendo um enigma de décadas.
Batizado de Dickinsonia, este animal tinha cerca de 140 centímetros de comprimento e forma oval, com segmentos semelhantes a costelas ao longo do corpo, segundo o estudo publicado, esta sexta-feira, na revista Science.
O fóssil perfeitamente preservado numa área remota no noroeste da Rússia continha moléculas de colesterol, uma forma de gordura característica do reino animal. “A gordura é uma espécie de carimbo da vida animal”, escreveram os autores do estudo, citados pela BBC.
“As moléculas de gordura fóssil que encontrámos provam que os ‘Dickinsonia’ eram grandes e abundantes há 558 milhões de anos, milhões de anos antes do que se pensava”, afirmou Jochen Brocks, investigador da Universidade Nacional Australiana.
Há mais de 75 anos que os cientistas debatiam o que seria o “Dickinsonia” e outros fósseis que ainda não tinham conseguido identificar no período anterior ao Câmbrico, que, há 540 milhões de anos, representou uma explosão da diversidade de formas de vida, com o aparecimento das formas modernas de vida prevalecentes nos fósseis: moluscos, vermes, artrópodes e esponjas.
“Esse fóssil confirma agora que o ‘Dickinsonia’ é o animal mais antigo já descoberto, resolvendo um mistério de décadas que tem sido  o Santo Graal da Paleontologia“, acrescenta Brocks, citado pelo Independent.
O problema dos investigadores tinha sido encontrar fósseis de “Dickinsonia” com restos de matéria orgânica, uma vez que a maior parte das rochas onde foram descobertos tinham sofrido milhões de anos de desgaste.
A matéria orgânica acabou por ser encontrada em amostras de rochas na Rússia, em áreas que só são acessíveis de helicóptero.
“Estes fósseis estavam no meio de falésias no Mar Branco, a 60 e 100 metros de altura. Tive que me pendurar numa corda e escavar pedaços enormes de rocha, lavá-los e repetir até encontrar fósseis como os que procurava”, afirmou o investigador Ilya Bobrovskiy.
Além dos australianos, também colaboraram na investigação cientistas da Academia das Ciências Russa e do Instituto Max Planck para a Biogeoquímica e da universidade alemã de Bremen.

in ZAP

quarta-feira, agosto 05, 2015

A fauna (ou flora...) de Ediacara e a reprodução no Pré-Câmbrico

Como era a reprodução das estranhas formas de vida há 565 milhões de anos

Ilustração dos Fractofusus no fundo do mar
 

Fósseis de Fractofusus encontrados em Mistaken Point, no litoral da Terra Nova

Mistaken Point, no litoral da Terra Nova

Durante o período geológico do Ediacarano havia jardins no fundo do mar com organismos diferentes de tudo o que conhecemos hoje. Um estudo revelou as formas de reprodução dos Fractofusus, que não eram nem animais nem plantas.

De forma ovalada, com algumas dezenas de centímetros de comprimento, as duas espécies conhecidas de Fractofusus viviam coladas ao leito do mar na escuridão total, entre um a dois quilómetros de profundidade, há 565 milhões de anos. Naquela altura, a Terra era completamente diferente, os continentes tinham uma conformação distinta da que conhecemos hoje, e eram nus de vida. O movimento passava-se todo nos oceanos, mas noutros molde. A meio do período Ediacarano, entre há 635 a 540 milhões de anos, a evolução dos animais estava na sua mais tenra infância. No local onde se encontraram os fósseis de Fractofusus, na ilha da Terra Nova, no Nordeste do Canadá, não há qualquer marca de plantas ou animais. Mas a disposição de dezenas de fósseis daqueles organismos – que não são considerados nem animais nem plantas – mostrou aos cientistas que estas criaturas tinham dois tipos de reprodução: uma que permitia colonizar novos lugares e outra que permitia ocupar rapidamente o novo território.

Publicado esta segunda feira no site da revista Nature, o artigo com esta descoberta pode ajudar a compreender o lugar destas estranhas formas de vida na árvore da evolução.
Na transição para o período Câmbrico, primeiro período da era Paleozóica, há 540 milhões de anos, já não há nenhuma prova fóssil conhecida dos “jardins do Ediacarano”, o nome dado a estes ecossistemas. “Ediacarano” vem de Ediacara, uma cordilheira de montanhas no Sul da Austrália. Em 1946, foram encontrados fósseis nestas montanhas que revelaram a existência deste antigo ecossistema. O termo foi também aproveitado para dar nome ao último período da era Neoproterozóica, entre há 1000 a 540 milhões de anos.
A ideia de “jardins” está associada a uma placidez e a uma constância que parece ter-se vivido nestes universos marinhos que não tinham predadores, nem animais que escavavam a areia. Por isso, o leito do mar estava coberto por uma camada de bactérias. Era por cima desta camada que viviam as espécies ediacaranas. Havia organismos que tinham a forma de uma folha e prendiam-se ao leito com um pedúnculo. Já as espécies do género Fractofusus, que pertence ao grupo dos Rangeomorpha, estavam coladas ao chão.
“Os Fractofusus não se parecem com nada que esteja vivo hoje”, explica ao PÚBLICO Emily Mitchell, investigadora da Universidade de Cambridge, e uma das autoras do artigo que junta ainda a contribuição de outros cientistas do Reino Unido.
“Têm uma forma oval, com segmentos que se ramificam, e que por sua vez se vão ramificando em novos segmentos. A maioria dos organismos tem cerca de dez centímetros de comprimento, mas os maiores cresciam até aos 40 centímetros. Eram bastante achatados, os maiores tinham uma altura de três a quatro centímetros”, descreve a cientista. “Não há indícios de que eles se movessem, em vez disso viviam directamente no tapete de bactérias que cobria o chão do mar nas zonas de profundidade. Pensa-se que se alimentavam absorvendo nutrientes [da água] através das suas paredes membranares – não há nenhum indício de nenhum tipo de abertura bucal.”
Durante milhões de anos, estas formas de vida floresceram. Depois, a evolução deu um salto e o mundo mudou. Os primeiros animais surgiram ainda no Ediacarano, passaram a conseguir escavar o leito marinho, destruindo o tapete de bactérias e surgiram predadores. Estes jardins acabaram por desaparecer. “O mais provável é que os animais do Câmbrico rapidamente se tenham sobreposto na procura de nutrientes e de espaço em relação aos seus pares ediacaranos”, especula a cientista.
No Câmbrico, surgem no registo fóssil os principais filos dos animais, como os moluscos, os artrópodes ou os vertebrados. A esta aparente e rápida diversificação dos animais dá-se o nome de explosão do Câmbrico.
O mundo ainda mudou muito com a colonização dos continentes feita pelas plantas e pelos animais. Só há menos de 400 milhões de anos, no período Devónico, é que os primeiros tetrápodes começaram a caminhar em terra, originando os anfíbios e os répteis. Há 252 milhões de anos iniciou-se o Mesozóico, a era dos dinossauros, onde apareceram os mamíferos e as aves, e que durou até há 66 milhões de anos, quando se deu a grande extinção dos grandes répteis. O vazio permitiu a diversificação dos mamíferos que dominam agora os continentes.

Duas formas de reprodução 
Perante a complexidade actual, os jardins do Ediacarano de há 565 milhões de anos são ecossistemas básicos, constituídos por organismos simples. Se imaginarmos a Terra daquela altura, com os seus continentes vazios, parece um lugar desolador. Mas os Fractofusus são já o resultado de milhares de milhões de anos de evolução. A vida terá surgido na Terra há cerca de 3500 milhões de anos. Os primeiros organismos eram uma célula só. Com o passar do tempo, ficaram mais complexos, formaram seres com muitas células e diferentes tecidos.
“Os macro-organismos do Ediacarano existiram na transição entre a vida microbiana e a explosão do Câmbrico”, contextualiza Emily Mitchell. “É durante esta transição que os animais iniciaram a sua evolução. Se queremos compreender a evolução dos animais, precisamos de compreender a vida no Ediacarano.”
Para isso, a equipa da Universidade de Cambridge estudou a distribuição dos fósseis de três locais diferentes do litoral da Terra Nova: duas em Mistaken Point, na Península de Avalon, e a terceira em Catalina Dome, na Península de Bonavista. Descobertos em 1967, os fósseis de Mistaken Point foram produzidos graças a uma erupção vulcânica com uma grande queda de cinzas, semelhante à que se abateu sobre a cidade de Pompeia, e conservou as estruturas daqueles antigos organismos. Num dos locais, os fósseis dos Fractofusus, género descrito em 2007, convivem com os fósseis de outras sete espécies de ediacaranos, noutro convivem com quatro.
“Nestes ecossistemas preservados [no registo fóssil] há informação que nos permite tentar responder a perguntas biológicas e ecológicas complexas, como o modo de reprodução”, diz Emily Mitchell. A equipa fez um mapa da distribuição dos fósseis de Fractofusus nos três locais e descobriu que estes organismos estavam agrupados. Em cada agrupamento, havia ainda grupos mais densos destas criaturas.
“Estes [antigos] padrões foram comparados com padrões ambientais e reprodutivos de organismos modernos. Esta comparação mostrou que aquele padrão resultava do modo de reprodução”, explicou a investigadora. A cientista descobriu ainda que a distribuição dos Fractofusus era semelhante à de plantas como o morangueiro. Esta planta lança um estolho, um caule que cresce lateralmente e a dada altura origina um novo morangueiro, que é um clone do morangueiro progenitor.
O Fractofusus terá tido a mesma técnica reprodutiva. “O progenitor Fractofusus produziria um ou vários filamentos, e um bebé Fractofusus iria nascer ao longo do filamento ou no fim”, descreve Emily Mitchell. Nalguns casos, os cientistas contaram 23 agrupamentos de Fractofusus, cada um contendo 12 grupos, e cada um destes subgrupos com três indivíduos. A esta organização está associada uma escala de tamanho, com os organismos “progenitores” a serem maiores do que os “filhos”. Esta forma de reprodução assexuada, em que cada indivíduo é um clone do seu progenitor, serviria para colonizar rapidamente uma região.
Mas os cientistas acreditam que haveria um outro mecanismo de reprodução que permitiria estas espécies colonizarem locais distantes. Para isso, pensa-se que os indivíduos adultos produziriam estruturas que se desprendem deles (propágulos) e que seriam levadas pelas correntes marinhas.
“O propágulo levado pela água permitia ao Fractofusus colonizar novas áreas, e impedir a sua extinção no caso de haver uma grande perturbação. Assim que o Fractofusus encontrasse um lugar bom para crescer, a reprodução por filamento serviria para ele se espalhar nessa área de forma fácil e rápida”, resume a cientista, acrescentando que este é um passo importante para compreender a biologia destes organismos.
O trabalho não vai ficar por aqui, refere Emily Mitchell. A técnica será utilizada para estudar o resto do ecossistema daqueles antigos jardins: “Vamos alargar esta análise a outras espécies ediacaranas para analisar a sua reprodução. Também planeamos usar a análise espacial para compreender como as espécies interagiam entre si.”

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