Biografia
Camille era filha de Louis Prosper, um hipotecário, e Louise Athanaïse Cécile Cerveaux. Camille passou toda sua infância em
Villeneuve-sur-Fère, morando em um
presbitério
que o seu avô materno, doutor Athanaïse Cerveaux, havia adquirido. Foi a
primeira filha do casal, sendo quatro anos mais velha que
Paul Claudel.
Ela impõe ao seu irmão, assim como à sua irmã mais nova Louise, a sua forte
personalidade. Ela comandava os dois desde pequena. Segundo Paul, o seu
irmão, ela declarou desde cedo o seu desejo de ser escultora. Camille
também tinha certas premonições e previu também que o seu irmão se
tornaria
escritor e a sua irmã Louise seria
música.
O seu pai, maravilhado com o seu estupendo e precoce talento que, ainda na infância, produziu esculturas de
ossos e
esqueletos
com impressionante verosimilhança, oferta-lhe todos os meios de
desenvolver as suas potencialidades, colocando-a em escolas e cursos de
primeira linha. A sua mãe, por outro lado, não vê com bons olhos,
colocando-se sempre contra todo aquele empreendimento, reagindo muitas
vezes violentamente no sentido de reprovar a filha que traz incómodos e
custos excessivos para a manutenção do seu "capricho". O sonho de
Camille é ser uma escultora de sucesso e vê essa vontade ameaçada pela
mãe, que acha que ocorrem muitos gastos com a educação da menina.
Em
1881, já com 17 anos, sai de casa para ir em busca do seu grande sonho. Parte para
Paris e ingressa na Academia Colarossi, uma escola que forma artistas escultores. Ela teve por mestre primeiramente
Alfred Boucher e depois
Auguste Rodin. É desta época que datam suas primeiras obras que nos são conhecidas:
A Velha Helena (
La Vieille Hélène - coleção particular) ou
Paul aos treze anos (Paul à treize ans - Châteauroux).
O tempo passa, e o seu professor Rodin, impressionado pela solidez e
tamanha beleza de seu trabalho, admite-a como aprendiz de seu ateliê, na
rua da Universidade, em
1885 e é nesse momento que ela colaborará na execução das
Portas do Inferno (
Les Portes de l'Enfer) e do monumento
Os Burgueses de Calais (
Les Bourgeois de Calais).
Tendo deixado a sua família pelo amor a escultura, ela trabalha vários
anos a serviço do seu mestre, por quem está secretamente apaixonada, e
ela mantém-se à custa da sua própria criação, pois ela ganha salário
como
aprendiz. Por vezes, a obra de um e de outro são tão próximas que não se
sabe qual obra de seu professor ou da aluna. Às vezes se confunde em
quem inspirou um ou copiou o outro, pois Camille faz tão bem seu
trabalho que parece que há anos ela trabalha com arte. As suas
esculturas e
as de Rodin são muito idênticas, facto que aproxima os dois.
O tempo passa e Camille e Rodin se envolvem, e têm um caso ardente de
amor. Porém Camille Claudel enfrenta muito rapidamente duas grandes
dificuldades: de um lado, Rodin não consegue decidir-se em deixar Rose
Beuret, a sua namorada desde os primeiros anos difíceis, e de outro
lado,
alguns afirmam que as suas obras seriam executadas pelo seu próprio mestre,
ou seja, acusam Camille de ter copiado todos os trabalhos de seu
professor em vez dela mesma fazer. Muito triste e depressiva pelas
acusações e por Rodin ainda ter outra mulher, Camille tentará
distanciar-se de Rodin e a fazer as suas obras de arte sozinha.
Percebe-se
muito claramente essa tentativa de autonomia na sua obra (1880-94),
tanto na escolha dos temas como no tratamento: A Valsa (La Valse, Museu Rodin) ou A Pequena Castelã (La Petite Châtelaine,
Museu Rodin). Esse distanciamento segue até ao rompimento definitivo, em
1898. A rutura é marcada e contada pela famosa obra de título preciso: A Idade Madura (L’Age Mûr – Museu d'Orsay).
Ferida e desorientada, ainda mais por descobrir que o seu o romance com
Rodin não passou de uma aventura para ele e que ele preferiu a namorada,
Camille Claudel passa a nutrir por Rodin um estranho amor-ódio que a
levará à
paranoia e a
loucura. Ela instala-se então no número 19 do hotel
Quai Bourbon
e continua a sua busca artística em grande solidão, pois ama loucamente
Rodin, mas ao mesmo tempo odeia-o por tê-la abandonado. Ela
entregou-se a esse homem de corpo e alma e em troca só teve ingratidão e
abandono. Apesar do apoio de críticos como
Octave Mirbeau,
Mathias Morhardt, Louis Vauxcelles e do fundidor Eugène Blot, seus
amigos, ela não consegue superar a dor da saudade. Eugène Blot organiza
duas grandes exposições, esperando o reconhecimento e assim um benefício
sentimental e financeiro para Camille Claudel, pois ele quer ajudar a
amiga em dificuldade. As suas exposições têm grande sucesso de crítica, mas
Camille já está doente demais para se reconfortar com os elogios. Ela
passa a ficar estranha e obsessiva, querendo a morte de Rodin. Ela passa
a se lembrar de seu passado, a mãe a impedi-la de ser uma artista e as
lembranças más da infância passam a sufocá-la cada vez mais.
Depois de
1905,
os períodos paranoicos de Camille multiplicam-se e acentuam-se. Ela crê
nos seus delírios. Entre seus sonhos doentes, ela acredita que Rodin
roubará as suas obras de arte para moldá-las e expô-las como suas, ou seja,
ela acha que Rodin roubará as esculturas e falará que foi ele quem as fez.
Ela passa a achar que o inspetor do Ministério das Belas-Artes está em
conluio com Rodin, e que desconhecidos querem entrar em sua casa para
lhe furtar suas obras de arte. Nessa fase ela passa a falar sozinha e já
adquiriu a
esquizofrenia.
Também chora muito, e passa a ter ideias de suicídio. Camille cria
histórias imaginárias que ela passa a achar que são puramente verdade.
Nessa terrível época que suas crises de loucura aumentam, vive um grande
abatimento físico e psicológico, não se alimentando mais e desconfiando
de todas as pessoas, achando que todos a matarão. Ela isola-se e como
mora sozinha no hotel, ninguém sabe da sua condição, pois ela rompe a
amizade com os amigos e passa a querer ficar e viver sozinha em seu
quarto. Ela mantém-se vendendo as poucas obras que ainda lhe restam.
O seu pai, o seu
porto-seguro, a única pessoa que a mais entendeu na sua vida, morre em
3 de março de
1913,
o que piora por completo a sua depressão e a faz sair da realidade mais
ainda. Ela entra numa crise violenta, quebrando tudo e gritando, e, em
10 de março, é internada no
manicómio de Ville-Evrard. A eclosão da
Primeira Guerra Mundial levou-a a ser transferida para
Villeneuve-lès-Avignon
onde morre, após trinta anos de internamento e desespero, passando todo
esse tempo amarrada e sedada. Morreu em 19 de outubro de 1943, com 79
anos incompletos.
Camille Claudel, Sakountala, escultura em mármore, 1905, Museu Rodin, Paris