Filho segundo do selador-mor da Alfândega do Porto, acompanhou a
família quando esta se refugiou nos Açores, onde tinha propriedades,
fugindo da segunda invasão francesa, realizada pelo exército comandado
pelo marechal Soult que entrando em Portugal por Chaves se dirigiu para o
Porto, ocupando-o.
Passou a adolescência na ilha Terceira, onde foi criado por familiares,
tendo sido destinado à vida eclesiástica, devendo entrar na Ordem de
Cristo, por sugestão do tio paterno, frei Alexandre da Sagrada Família,
bispo de Malaca e depois de Angra.
Em 1816, tendo regressado a Portugal, inscreveu-se na Universidade, na
Faculdade de Leis, sendo aí que entrou em contacto com os ideais
liberais. Em Coimbra, organiza uma loja maçónica, que será frequentada
por alunos da Universidade como Manuel Passos. Em 1818, começa a usar o
apelido Almeida Garrett, assim como toda a sua família.
Participa entusiasticamente na revolução de 1820, de que parece ter
tido conhecimento atempado, como parece provar a poesia As férias no
campo, escrita em 1819. Enquanto dirigente estudantil e orador defende o
vintismo com ardor escrevendo um Hino Patriótico recitado no
Teatro de São João. Em 1821, funda a Sociedade dos Jardineiros, e volta
aos Açores numa viagem de possível motivação maçónica. De regresso ao
Continente, estabelece-se em Lisboa, onde continua a publicar escritos
patrióticos e concluindo a Licenciatura em novembro deste ano.
Em Coimbra publica o poema libertino O Retrato de Vénus, que lhe
vale ser acusado de materialista e ateu, assim como de «abuso da
liberdade de imprensa», de que será absolvido em 1822. Torna-se
secretário particular de Silva Carvalho, secretário de estado dos
Negócios do Reino, ingressando em agosto na respetiva secretaria, com o
lugar de chefe de repartição da instrução pública. No fim do ano, em
11 de novembro, casa com Luísa Midosi.
A Vilafrancada, o golpe militar de D. Miguel que, em 1823, acaba
com a primeira experiência liberal em Portugal, leva-o para o exílio.
Estabelece-se em março de 1824 em Le Havre, cidade portuária francesa na
foz do Sena, mas em dezembro está desempregado, o que o leva a ir
viver para Paris. Não lhe sendo permitido o regresso a Portugal, volta
ao seu antigo emprego no Havre. Em 1826 está de volta a Paris, para ir
trabalhar na livraria Aillaud. A mulher regressa a Portugal.
É amnistiado após a morte de D. João VI, regressando com os últimos
emigrados, após a outorga da Carta Constitucional, reocupando em agosto o
seu lugar na Secretaria de Estado. Em outubro começa a editar «O
Português, diário político, literário e comercial», sendo preso em
finais do ano seguinte. Libertado, volta ao exílio em junho de 1828,
devido ao restabelecimento do regime absoluto por D. Miguel. De 1828 a
Dezembro de 1831 vive em Inglaterra, indo depois para França, onde se
integra num batalhão de caçadores, e mais tarde, em 1832, para os Açores
integrado na expedição comandada por D. Pedro IV. Nos Açores
transfere-se para o corpo académico, sendo mais tarde chamado, por
Mouzinho da Silveira, para a Secretaria de Estado do Reino.
Participa na expedição liberal que desembarca no Mindelo e ocupa o
Porto em julho de 1832. No Porto, é reintegrado como oficial na
secretaria de estado do Reino, acumulando com o trabalho na comissão
encarregada do projeto de criação do Códigos Criminal e Comercial. Em
novembro parte com Palmela para uma missão a várias cortes europeias,
mas a missão é dissolvida em janeiro e Almeida Garrett vê-se abandonado
em Inglaterra, indo para Paris onde se encontra com a mulher. Só com a
ocupação de Lisboa em julho de 1834, consegue apoio para o seu
regresso, que acontece em outubro. Em novembro é nomeado secretário da
comissão de reforma geral dos estudos. Em fevereiro do ano seguinte é
nomeado cônsul-geral e encarregado de negócios na Bélgica, onde chega
em Junho, mas é de novo abandonado pelo governo. Regressa a Portugal em
princípios de 1835, regressando ao seu posto em maio. Estava em Paris,
em tratamento, quando foi substituído sem aviso prévio na embaixada
belga. Nomeado embaixador na Dinamarca, é demitido antes mesmo de
abandonar a Bélgica.
Estes sucessivos abandonos por parte dos governos cartistas, levam-no a envolver-se com o Setembrismo,
dando assim origem à sua carreira parlamentar. Logo em 28 de setembro
de 1837 é incumbido de apresentar uma proposta para o teatro nacional, o
que faz propondo a organização de uma Inspecção-Geral dos Teatros, a
edificação do Teatro D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte
Dramática. Os anos de 1838 e 1838, são preenchidos nas discussões
políticas que levarão à aprovação da Constituição de 1838, e na
renovação do teatro nacional.
Em 20 de dezembro é nomeado cronista-mor do Reino, organizando logo no
princípio de 1839 um curso de leituras públicas de História. No ano
seguinte o curso versa a «história política, literária e científica de
Portugal no século XVI».
Em 15 de julho de 1841 ataca violentamente o ministro António José d'Ávila, num discurso a propósito da Lei da Décima,
o que implica a sua passagem para a oposição, e o leva à demissão de
todos os seus cargos públicos. Em 1842, opõem-se à restauração da Carta
proclamada no Porto por Costa Cabral. Eleito deputado nas eleições
para a nova Câmara dos Deputados cartista, recusa qualquer nomeação
para as comissões parlamentares, como toda a esquerda parlamentar. No
ano seguinte ataca violentamente o governo cabralista, que compara ao
absolutista.
É neste ano de 1843 que começou a publicar, na Revista Universal
Scalabitana, as Viagens na Minha Terra, descrevendo a viagem ao vale de
Santarém começada em 17 de julho. Anteriormente, em 6 de maio, tinha
lido no Conservatório Nacional uma memória em que apresentou a peça de
teatro Frei Luís de Sousa, fazendo a primeira leitura do drama.
Continuando a sua oposição ao Cabralismo, participa na Associação
Eleitoral, dirigida por Sá da Bandeira, assim como nas eleições de 1845,
onde foi um dos 15 membros da minoria da oposição na nova Câmara. Em
17 de janeiro de 1846, proferiu um discurso em que considerava a
minoria como representante da «grande nação dos oprimidos», pedido em 7
de maio a demissão do governo, e em Junho a convocação de novas
Cortes.
Com o despoletar da revolução da Maria da Fonte, e da Guerra Civil da
Patuleia, Almeida Garrett que apoia o movimento, tem que passar a andar
escondido, reaparecendo em junho, com a assinatura da Convenção do
Gramido.
Com a vitória cartista e o regresso de Costa Cabral ao governo, Almeida
Garrett é afastado da vida política, até 1852. Em 1849, passa uma
breve temporada em casa de Alexandre Herculano, na Ajuda. Em 1850,
subscreve com mais de 50 outras personalidades um Protesto contra a
Proposta sobre a Liberdade de Imprensa, mais conhecida por «lei das
rolhas». Costa Cabral nomeia-o, em dezembro, para a comissão do
monumento a D. Pedro IV.
Com o fim do Cabralismo e o começo da Regeneração, em 1851, Almeida
Garrett é consagrado oficialmente. É nomeado sucessivamente para a
redação das instruções ao projeto da lei eleitoral, como
plenipotenciário nas negociações com a Santa Sé, para a comissão de
reforma da Academia das Ciências, vogal na comissão das bases da lei
eleitoral, e na comissão de reorganização dos serviços públicos, para
além de vogal do Conselho Ultramarino, e de estar encarregado da
redação do que irá ser o Ato Adicional à Carta.
Brasão do Visconde de Almeida Garrett (daqui)
Por decreto do El-Rei D.
Pedro V, datado de
25 de junho de
1851, o poeta é feito
visconde de Almeida Garrett em vida (tendo o título sido posteriormente renovado por 5 vezes).
Em 1852 é eleito novamente deputado, e de 4 a 17 de agosto será ministro dos Negócios Estrangeiros (em governo presidido pelo
Duque de Saldanha).
A sua última intervenção no Parlamento será em março de 1854, em que
ataca o governo na pessoa de Rodrigo de Fonseca Magalhães.
Falece em
1854, vítima de problemas intestinais, na sua casa situada na atual Rua Saraiva de Carvalho, em
Campo de Ourique, Lisboa. Foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, tendo sido
trasladado em 8 de março de 1926 para o Panteão Nacional, à data no Mosteiro dos Jerónimos. Encontra-se atualmente no
Panteão Nacional, na Igreja de Santa Engrácia.
Seus olhos
Seus olhos - que eu sei pintar
O que os meus olhos cegou –
Não tinham luz de brilhar,
Era chama de queimar;
E o fogo que a ateou
Vivaz, eterno, divino,
Como facho do Destino.
Divino, eterno! - e suave
Ao mesmo tempo: mas grave
E de tão fatal poder,
Que, um só momento que a vi,
Queimar toda a alma senti...
Nem ficou mais de meu ser,
Senão a cinza em que ardi.
in Folhas Caídas (1853) - Almeida Garrett